terça-feira, 31 de março de 2009

Charge

"Em uma entrevista coletiva, Lula e Brown analisavam o alcance da crise financeira global, quando o presidente brasileiro afirmou: 'a crise foi causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis que antes da crise parecia que sabia de tudo e agora demonstra não saber nada' ".
Trecho retirado de: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u541712.shtml

Esta charge do J. Bosco foi feita originalmente para o
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quarta-feira, 25 de março de 2009

Eu já sabia!

Semana de 09 a 15 de março de 2009


A divulgação das estatísticas, do quarto trimestre de 2008, causou espanto geral nas autoridades do governo. Os dados são aterradores. O Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 3,6%, o que significa que, no quarto trimestre do ano passado, o país produziu 3,6% menos do que no trimestre anterior. Esta queda foi a maior desde 1996. A produção industrial despencou 7,4%. Só não foi pior por que a agropecuária caiu 0,5%. Constata o IBGE que todos os setores tiveram uma redução da produção. Considere-se que nos três trimestres anteriores a economia vinha crescendo aceleradamente o que fez que a taxa anual, para todo o ano de 2008, ficasse em 5,1%, apesar do tombo do final do ano.
Todos se mostraram surpreendidos. Onde está a blindagem dos países em desenvolvimento? E os BRIC's? Onde estão os sólidos fundamentos macroeconômicos e as reservas do país? Ninguém sabia que o desastre estava em marcha?

Eu sabia, juntamente com todos os leitores que acompanham as análises publicadas em nosso blog e na coluna Análise de Conjuntura Econômica no jornal Contraponto. E não temos bola de cristal.

Há uma exceção. Desta vez o Presidente Lula sabia. O decrescimento “já era esperado pela equipe econômica”, disse ele.

E por que não avisaram? E por que mentiram e enganaram a população? Diante da dura realidade, quem falava em crescimento de 5%, em 2009, agora baixou a mira para “próximo de zero” e, mesmo assim, ainda contando vantagem: “Mesmo que ele (o PIB) seja próximo de zero, o Brasil será um dos poucos países do mundo, dos emergentes e dos grandes, que não terá uma recessão”,disse o presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Por seu lado, a Ministra Dilma foi obrigada a reconhecer que “o impacto foi violento” e que oprimeiro semestre de 2009 será difícil. O otimista Ministro Mantega, finalmente reconheceu que está “difícil atingir a meta de 4%”, mas acredita que o país crescerá mais de 1,5%, como pensa o mercado e que o primeiro trimestre deste ano já será de recuperação. O Ministro Paulo Bernardo tem outra opinião e considera que o trimestre pode ainda ser negativo o que enquadraria o país na definição de “recessão técnica”, o famoso decreto de que já falamos em outras análises anteriores.

Mais otimista está o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), MarcioPorchman. Para ele, em 2009, não haverá recessão e mesmo, o primeiro trimestre do ano, dificilmente será negativo. Ele justifica sua posição alegando que o mau resultado observado foi conseqüência de “fatores pontuais” e do efeito retardado da alta taxa de juros. Disse ainda que estes fatores agora não existem mais.

Bela teoria econômica a que inspira a declaração do presidente do Ipea e que norteia a atividade de acessória econômica do Instituto. Em pouco tempo ela será posta à prova.

Os dados que continuam a ser divulgados não apóiam estas conclusões otimistas. Em 5 meses, de outubro a fevereiro, a indústria de São Paulo demitiu 237 mil trabalhadores, o que nos coloca no nível de fevereiro de 2007. Só em fevereiro desapareceram 43 mil empregos. O seguro-desemprego bateu recordes de requerimentos, em Janeiro, e de pagamentos, em fevereiro. Nos dois meses o volume de pagamentos foi 25% maior que no mesmo período do ano passado. O número de horas pagas, em janeiro, caiu 1,8%, em relação à dezembro. No mesmo período, a ocupação na indústria reduziu-se 1,3%, o pior desempenho desde o começo da série histórica.



Pessoal empregado na indústria: índice dessazonalizado - Brasil(média 2006 = 100) (*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

O faturamento da indústria caiu pelo terceiro mês consecutivo. Em comparação com dezembro, a queda foi de 4,3%. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 80% dos empresários consideram que a situação vai piorar, no primeiro trimestre deste ano. Para todo o ano, o gerente-executivo da unidade de política econômica da CNI pensa que “A tendência é que o crescimento do PIB fique próximo de zero”. A pesquisa do IBGE observou ainda que, no último trimestre de 2008, após 21 trimestres de expansão, o consumo das famílias recuou 2% somando-se negativamente ao setor externo. A resposta dos investimentos foi imediata. Eles caíram 9,8%. Por seu lado a Serasa divulgou que no primeiro bimestre deste ano a inadimplência dos consumidores cresceu 8,6%, ótimo pretexto para que os bancos mantenham os altos spreads que praticam.


Transações correntes: saldo - Brasil (*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.


Aliás, dentro de toda a desgraça, o sistema bancário continua a apresentar elevados lucros o que justifica a denominação do governo Lula como o governo dos banqueiros. Com efeito, afirma com orgulho, a Gazeta Mercantil, que 2008 foi o ano dos bancos públicos. “Os ganhos do ano mostram a solidez do sistema financeiro brasileiro”. Os cinco maiores bancos públicos do país (BB, Caixa Econômica Federal, Nossa Caixa, Banco do Estado do Rio Grande do Sul e Banco do Nordeste), juntos tiveram um lucro líquido de R$ 14,34 bilhões, 61,9% maior que o de 2007. Até o Banco Central, apenas no segundo semestre, transferiu para o Tesouro Nacional R$ 185,35 bilhões, resultado obtido com as suas operações o que incluiu um lucro de R$ 10,2 bilhões.

No resto do mundo, porém, a situação continua a se deteriorar. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) considera que todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, estão sofrendo uma forte desaceleração e inclui na lista o Brasil. O desemprego nos EUA atingiu 8,1%, o maior nível em 25 anos. Entre dezembro e fevereiro, desapareceram no país 4,4 milhões de empregos. Estima-se que as famílias americanas já perderam US$ 16,5 trilhões, o que corresponde a um PIB dos EUA. Em 2009, o Banco Mundial prevê que serão atirados ao desemprego, na América Latina, 6 milhões de pessoas. O diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que “O FMI prevê um crescimento mundial abaixo de zero para este ano, o pior resultado na maior parte de nossasvidas”. O Banco Mundial (BIRD) também prevê que, este ano, a economia mundial se contrairá pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Depois da Hungria e da Letônia agora a Romênia apela à União Européia pedindo ajuda para suportar a crise. O Banco da Inglaterra, por seu lado teme que o Reino Unido entre em uma grave depressão com a paralisação da economia.
As estimativas globais que surgem são preocupantes. Um relatório do Banco de Desenvolvimento da Ásia (BDA), preparado por Cláudio Loser, ex-diretor do FMI, estimou que o mundo perdeu, em 2008, US$ 50 trilhões, o equivalente a um PIB mundial. A Ásia, excluindo o Japão, perdeu US$ 9,6 trilhões e a América Latina, US$ 2.1 trilhões. As bolsas de todo o mundo perderam US$ 28,7 trilhões. Até os coitados dos bilionários perderam 45% da sua fortuna, ou seja, US$ 2 trilhões, o equivalente a um PIB da Itália.



Produção industrial,capacidade instalada e utilização da capacidade instalada - Estados Unidos (*)

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Como as estimativas anteriores eram de que o dinheiro fictício mundial representava 5 vezes a riqueza material produzida no planeta, para que a crise complete a sua nobre função saneadora torna-se necessário ainda a destruição de mais cerca de US$ 200 trilhões. Isto se os BCs do mundo o permitirem. Caso contrário, a recuperação vai arrastar-se lentamente e será necessária uma crise complementar para concluir o saneamento. Estas são as nossas previsões.

E, por enquanto, continuamos em direção ao fundo do poço. Só não vê quem é teoricamente cego ou charlatão que prepara relatórios por encomenda para servir aos interesses de partidos, políticos ou governos.

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro
: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)


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segunda-feira, 23 de março de 2009

Charge


"Como já havia anunciado em fevereiro, o Tesouro espera dedicar em um primeiro momento de US$ 75 bilhões a US$ 100 bilhões de fundos públicos para mobilizar com o setor privado até US$ 500 bilhões de "poder de compra" para adquirir os ativos herdados da última bolha imobiliária. Segundo o Tesouro, o programa pode chegar a US$ 1 trilhão. 'Em nossa opinião, a melhor maneira de sair disso é trabalhar junto com os mercados', afirmou Timothy Geithner, secretário do Tesouro dos Estados Unidos".
Trecho retirado de: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u539032.shtml

Esta charge do Junião foi feita originalmente para o
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quarta-feira, 18 de março de 2009

Quem te viu, quem te vê

Semana de 02 a 08 de março de 2009


Não estamos nos referindo à famosa letra de música de Chico Buarque, mas, sim, a uma das últimas afirmações do presidente do Banco Central (Bacen), Henrique Meireles. Após passar meses apregoando os “sólidos fundamentos da economia brasileira”, agora alerta a todos que a crise afetará todos os países emergentes, incluindo o Brasil. Meireles afirmou, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no último sete de março: “Não temos dúvida de que a segunda rodada da crise será nos países em desenvolvimento”. Jura! (dizem os brasileiros). Really! (dizem os ingleses e norte-americanos). Parece que o presidente do Bacen foi mesmo o último a saber.
Como vínhamos relatando em nossas análises, a falsa tese do descolamento dos países emergentes, das nações desenvolvidas, finalmente desabou. As autoridades do país, que teimavam em negar que a economia brasileira estava entrando em crise, desde setembro do ano passado, agora reconhecem que a marolinha virou tsunami.


Índice de produção Industrial(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Nos primeiros meses de 2009 verificou-se queda da produção industrial brasileira. No mês de janeiro, a produção caiu 17,2% em relação ao mesmo período do ano passado. O consumo de energia da indústria caiu 14,9%, em janeiro deste ano, em relação ao mesmo período de 2008, de acordo com os dados do Ministério de Minas e Energia.


Consumo de energia elétrica para a indústria - 2008(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Consulta realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 80% das empresas adotaram alguma ação em relação a seus trabalhadores em razão da crise internacional. Em 54% dessas empresas houve demissão de funcionários, 32% concederam férias coletivas; 27% adotaram banco de horas; e 9% reduziram a jornada de trabalho e salários.
Com relação às ações governamentais, para contornar os efeitos da crise, 63% dos empresários da indústria assinalaram que o foco seria a redução de tributos; outros 51% marcaram corte de juros e do spread bancário. Em terceiro lugar, ficou a necessidade de aumentar a oferta de financiamento para capital de giro (30%).
Com a restrição do crédito, as vendas de máquinas e implementos agrícolas no país despencaram
25%, no último bimestre, seguidas também pela retração de 27% na venda de colheitadeiras. Apenas os veículos agrícolas de pequeno porte conseguiram sustentar as vendas devido, principalmente, aos programas estaduais e federais (“Mais Alimento”) de crédito a pequenos produtores, que permitiram o prolongamento da dívida do produtor, por um período maior.
O Ministério do Trabalho e Emprego registrou um saldo de aproximadamente 750 mil postos detrabalho fechados nos últimos meses de dezembro e janeiro. Para o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Milton de Moura França, o país poderá enfrentar o período mais crítico das relações de trabalho no Brasil, desde os anos noventa, devido à avalanche de processos trabalhistas. Dados do TST informam que 223 mil processos foram julgados em 2008, e o número de novos processos abertos foi 13% maior do que em 2007.

O setor que continua de vento em popa é o bancário. O resultado de bancos internacionais, no país, vai na contramão dos resultados negativos globais. O HSBC, por exemplo, que, diante dos prejuízos, está encerando suas atividades nos EUA, registrou um crescimento de 9% no seu lucro líquido anual, o maior resultado desde o início de suas operações no Brasil, há 12 anos.

Para dar mais uma injeçãozinha de ânimo no setor, o Banco Central, do Meirelles, autorizou o acesso dos bancos ao dinheiro das reservas internacionais, para pagar suas dívidas. De acordo com a Gazeta Mercantil, ficaram autorizadas as operações de empréstimos, em moeda estrangeira, para o pagamento de obrigações das instituições financeiras. Antes, era preciso comprovar que o dinheiro emprestado era para socorrer as empresas brasileiras. Liberou geral!
Para justificar tal medida, o Bacen explicou que os bancos terão mais folga, e com isso, podem aumentar a oferta de crédito internamente. Entidades como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, lembrando do ditado “de boas intenções o inferno está cheio”, considera que a oferta de crédito não significa que o dinheiro vai chegar até as empresas, devido aos custos dos empréstimos. “O que pode ocorrer é que, novamente os bancos sejam os únicos beneficiados”, afirma Ricardo Martins, um dos diretores da Fiesp.
Uma sugestão para enfrentar a crise financeira foi feita pelo Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada, Ipea: o corte na taxa básica de juros de 12,75%, ao ano, para 7%, ao ano, até outubro. Dessa maneira, conforme o Instituto, o governo reduziria as suas despesas com juros em R$ 30 milhões, e não causaria impacto na inflação. Tal idéia, porém, não estaria de acordo com os interesses do setor bancário, o principal beneficiado pela elevada taxa de juros do Brasil.
A iminência de uma recessão, entretanto, fez o Comitê de Política Econômica (Copom) reduzir ataxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto porcentual. A taxa, que era de 12,75, passou a 11,25% ao ano. A decisão, tomada no dia 11 de março, foi considerada acertada, porém, ainda muito tímida pela esmagadora maioria das entidades trabalhistas e patronais. Para o Sindicato de Metalúrgicos de São Paulo a decisão foi irrisória. Para a CNI, foi frustrante. Conforme o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e de Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, havia espaço para um corte maior. “O temor de que isso pudesse afetar o comportamento da inflação não era verdadeiro”, completa Godoy.

Como era de se esperar, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), por seu lado, considerou a decisão correta e adequada para o atual momento.

Por todo o mundo as más notícias não param de surgir. A dependência das exportações faz comque as economias asiáticas enfrentem grandes desafios. No Japão, as exportações desabaram 45,7%, no início de 2008. Na China, fábricas têxteis e de vestuário foram fechadas. Existem relatos de patrões que fugiram, deixando os operários no abandono. Foi o caso do diretor da Jianglong Group, importante fábrica de tingimento da cidade de Shaoxing, que fugiu em novembro, deixando uma dívida de 200 milhões de dólares e quatro mil funcionários sem trabalho.
Nos Estados Unidos, um dos principais destinos dos produtos asiáticos, continuam a cair os níveis
de produção e de emprego, fortes indicadores de que a crise ainda não chegou ao fim. O PIB norte-americano, no último trimestre de 2008, teve uma contração de 6,2%, em relação aos trimestres anteriores. A queda foi reflexo da redução dos gastos dos consumidores, responsáveis por 70% da economia do país. O produto estadunidense, para todo o ano de 2008, expandiu apenas 1,1%, e não foi pior por causa das exportações e das restituições de tributos que ajudaram a contrabalançar a redução do nível de consumo.


Produção Industrial para países selecionados(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.


O setor automobilístico foi o mais abalado por esta queda. A venda de carros e caminhões caiu 39,4%, em 2008. As empresas mais afetadas foram a Ford, General Motors, Chrysler, Nissan, Toyota e Honda.
Diante do cenário pessimista do consumo, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, anunciou no início deste mês mais um plano de ajuda financeira. Trata-se de um plano de estímulo ao consumo de 200 bilhões de dólares. Será permitido que o Fed compre papéis ligados a cartas de crédito e de empréstimos para automóveis. A preocupação dos especialistas é saber se os pacotes de ajuda como este podem contribuir para o aumento da dívida pública norte-americana, que já bateu recordes no final do governo Bush.
É esperar para ver!


Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 17 de março de 2009

Se tivessem lido O Capital...

Semana de 23 de fevereiro a 01 de março de 2009


Foi interagindo com a natureza e utilizando suas aptidões físicas e mentais que o homem se perpetuou no planeta Terra e tem conseguido superar todas as adversidades. Contudo, diferentemente de qualquer espécie viva existente, o homem foi muito além de lutar pela sobrevivência, foi capaz de criar um excedente. Em civilizações anteriores ao capitalismo já se observava excedente econômico. A possibilidade de produzir além do necessário à subsistência está vinculada ao aumento da produtividade do trabalho. No entanto, a expropriação deste excedente só passa a ser possível com o desenvolvimento de instrumentos de guerra que, dominados por uma minoria, possibilitam a submissão da maioria dos indivíduos.
O excedente econômico no modo capitalista de produção é função de ambos os mecanismos. Aoexpropriar os meios de produção da maior parcela dos indivíduos, o sistema forçou-os a vender sua força de trabalho como única saída. A partir de então, e utilizando as palavras de Marx, pode-se dizer que “o trabalhador é livre para escolher entre vender sua força de trabalho ao capitalista ou morrer de fome”. Isto torna claro que a escravidão do trabalhador, no capitalismo, é mistificada, escondida, sutil, ou seja, os “grilhões são invisíveis”.
No capitalismo, graças à divisão social e técnica do trabalho e ao desenvolvimento tecnológico, aprodutividade alcançou uma magnitude nunca vista antes. A busca incessante pelo lucro levou a criatividade humana a ultrapassar todos os limites do imaginável e do que se pensou que fosse possível. Atualmente, nos encontramos “afogados” dentro de um volume imenso de mercadorias: são cores, formatos, tamanhos, estados físicos e funções as mais diversas possíveis.
Graças às relações de classe impostas pelo sistema, uma parcela se apropria destes ganhos de produtividade em detrimento dos demais.

Embora as mercadorias sejam vendidas no mercado, possibilitando a apropriação de lucros pelo capitalista, a geração de riqueza e excedente se dá no processo produtivo. É ao longo do processo de produção e, por meio do trabalho humano, que o valor é criado. O desenvolvimento das forças produtivas foi imenso, mas incapaz de produzir o milagre de gerar riqueza sem trabalho, nem esforço. Em meio à “farra” financeira, os especuladores acharam que este milagre finalmente tinha ocorrido e, que não era mais preciso correr os riscos da produção, abrindo mão do capital em sua forma sublime (de dinheiro) para acumularem mais riqueza.
Como, certamente não tinham lido ""O Capital", ou o lendo, tinham achado que Marx era um chato,ultrapassado e limitado, até 2007, estes especuladores riram do Estado e das profecias do cientista revolucionário. Mas, como quem ri por último, ri melhor, aqueles que conhecem o capitalismo ficaram tranqüilos, pois sabiam que a brincadeira tinha prazo de validade. Certamente, só lamentariam pela socialização dos prejuízos, quando a “bomba” estourasse.

Pois é, a “bomba” de fato estourou e os prejuízos já estão sendo divididos entre todos, embora durante a “festa”, apenas alguns poucos se tenham beneficiado. Agora, a situação é a seguinte: o mundo globalizado está no meio de uma profunda e grave crise também global, sem previsão de término e, muito pior, sem Keynes para ajudar.

Aqueles que conhecem profundamente o capitalismo e o cenário atual, não têm dúvidas de que esta é a maior crise já vivida pelo capital desde os seus primórdios. Alguns economistas até arriscam afirmar que esta crise representa o fim do capitalismo.

Para o economista argentino, Jorge Beinstein, professor da Universidade de Buenos Aires, em artigo publicado na revista espanhola El Viejo Topo, em 18 de fevereiro passado, esta não é mais uma crise, mas a última. Depois dela, o capitalismo não se sustentará. O artigo é realmente assustador, pois as conclusões são baseadas em fatos e argumentos concretos e verdadeiros. Segundo ele, são vários os indícios de esgotamento das forças produtivas sob o capitalismo: a hipertrofia financeira; a desaceleração da economia mundial no longo prazo; as crises energética e alimentar, como mero efeito da incapacidade tecnológica do sistema em superar o esgotamento dos recursos naturais não renováveis; a decadência dos Estados Unidos e a sua degradação estatal-militar (evidenciada pelo fracasso da aventura dos falcões norte-americanos).
Também o economista Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York, continua com suas previsões. Diferentemente do Jorge Beinstein, não concluiu que o capitalismo caminha para o fim mas vislumbra um quadro bastante difícil.
Segundo Roubini, um novo banco, respaldado pelo Governo, poderá quebrar, apesar da socialização das perdas privadas já terem transferido muito do seu passivo financeiro para as contas soberanas. Ele acredita que existe uma probabilidade de 30% de ocorrer uma “quase depressão em forma de L se não houver uma ação adequada e agressiva”, por parte do governo dos Estados Unidos e de outras economias de relevância, para evitar a quebra de um banco. Para Roubini “a economia mundial está agora literalmente em queda livre, uma vez que a contração do consumo, dos investimentos em bens de capital, dos investimentos residenciais, do nível de emprego na produção, das exportações e importações está se acelerando, e não desacelerando”.
Os números continuam piorando e deixando claro que a crise é muito mais séria do que pensavam, mesmo os mais pessimistas. O Japão, até o momento, é a maior vítima do estrago. O seu PIB foi o mais afetado, no quarto trimestre de 2008, sofrendo uma retração de 12,7%, o pior resultado desde 1974. Em janeiro deste ano (comparado a janeiro de 2008), as exportações japonesas caíram 45,7%, devido à queda nas vendas para as economias da China, Estados Unidos, União Européia e Rússia, principalmente. As importações também sofreram retração significativa de 31,7%, provocada, em grande medida, pelo recuo das compras de petróleo.

O economista chefe, para o Japão, do Barclays Capital, Kyohei Morita, pensa que, “com a crise econômica mundial, o modelo japonês de dependência das exportações não funciona mais”.
Na União Européia, o quadro também é grave, tendo em vista que a maior economia do bloco e da Zona do Euro registra retração no produto. A Alemanha sofreu, no último trimestre de 2008, uma queda de 2,1% no seu PIB, o pior resultado em 22 anos e a terceira queda trimestral registrada. Suas exportações caíram 7,3%, no mesmo período, em relação ao trimestre imediatamente anterior, e os investimentos das empresas em instalações e máquinas se reduziram 4,9%.

PIB do quarto trimestre de 2008 para União Européia,Japão e Estados unidos (*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Numa declaração semelhante à do economista japonês, anteriormente citado, Alexander Koch,economista do UniCredit MIV, em Munique, desabafou: “quando a economia mundial entra em recessão, existem conseqüências consideráveis para um país orientado para as exportações, como a Alemanha”. Em seguida ele completou: “o declínio nos investimentos e nas exportações é impressionante e os dados que estão chegando mostram que as perspectivas para este primeiro trimestre não são melhores”.
Até o presente, a solução mais apontada para a situação atual é a estatização do sistema financeiro; mas os donos das instituições (agora em derrocada) não querem abrir mão do que possuem (ou possuíam). Querem que o Estado os capitalize, para que possam continuar na mesma “brincadeira” de antes. O anúncio do Tesouro norte-americano de que vai comprar ações preferenciais conversíveis dos 19 maiores bancos norte-americanos se os testes de estresse determinarem que eles necessitam de mais capital para um cenário de recessão ainda mais profunda, deixou as bolsas de valores mundiais em pânico. Com muito cuidado, o presidente do FED argumentou que as ações preferenciais só irão ser convertidas, em ordinárias, se as perdas extraordinárias se materializarem, descartando a idéia de que o Governo planeja assumir o controle das principais instituições financeiras do país.
Ao se pronunciar sobre o assunto Ben Bernanke, presidente do Banco Central dos Estados Unidos (FED), afirmou: “não vejo nenhuma razão para destruir o valor das marcas ou criar grandes incertezas legais em uma tentativa de nacionalizar um banco quando não for necessário”. A questão é saber os parâmetros que determinarão se e quando é ou não é necessário!

É importante ressaltar que as ações preferenciais constituem papéis que não dão poder de decisão aos compradores, funcionando assim como mera injeção de capital. As ações com poder de voto na companhia são as ordinárias, justamente as tais que o Governo justificou que só comprará em última instância. Última instância, neste caso, diz respeito à situação em que o banco estará valendo menos do que qualquer mercadoria na xepa e, por isso o seu próprio dono não o vai querer mais.

No Brasil, a crise também mostra a sua gravidade. Depois da perda de mais de 600 mil empregos, em dezembro, o ano começou com uma perda de 101,7 mil postos de trabalho, em janeiro, o que significou uma retração de 0,32% no estoque de empregos, em relação a dezembro. Numa afirmação nada convincente o ministro do Trabalho e do Emprego, Carlos Lupi, declarou: “a perda de 102 mil empregos não é boa para o país, mas há sinais inequívocos de melhora”.

O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos – Abimaq, Luiz Aubert Neto foi muito claro em suas declarações e se mostrou bastante temeroso com a situação: “esperávamos queda, mas o resultado negativo foi muito além do imaginado. Posso caracterizá-lo como assustador. Os investimentos estão paralisados e não sabemos quando isso mudará”.



Índice de utilização da capacidade instalada para a indústria brasileira (*)
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O faturamento nominal da indústria de máquinas e equipamentos sofreu uma queda de 38,6%, em janeiro de 2009, em relação a dezembro de 2008, e de 34,7%, quando comparado com o mesmo mês, em 2008. As exportações do setor também se reduziram em 23,6%, em janeiro de 2009, em relação ao mesmo período de 2008.

Exportações e Importações para o Brasil (*)
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Se os resultados fracos reportados pela indústria persistirem em fevereiro e março, o setor deverá fechar cerca de 50 mil postos de trabalho, no primeiro semestre deste ano, afirmou o presidente da associação, anteriormente mencionado. “A situação é crítica. Se continuar como está, e os sinais são de continuidade, não terá como segurar as demissões... no patamar que estamos chegando, férias coletivas ou paradas técnicas já não adiantam”.
Diante dos fatos espera-se que o futuro próximo seja muito ruim. Resta-nos saber se esta será apenas a maior crise do capitalismo ou o seu próprio fim. Para os ainda otimistas, é melhor acordar, encarar a realidade para minimizar as decepções e se preparar para o que vem por aí.


Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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sexta-feira, 13 de março de 2009

Mas, é carnaval…

Semana de 16 a 22 de fevereiro de 2009


A economia do Japão está a ser considerada a mais afetada pela crise do sistema econômicomundial. Nota-se isso através da observação dos principais indicadores econômicos. O Produto Interno Bruto - PIB do Japão sofreu queda de 12,7%, no quarto trimestre de 2008, em comparação com 2007 e de 3,3%, face ao trimestre anterior. Esse retrocesso do PIB na segunda economia mundial, que é a primeira da Ásia, foi o mais forte, desde a retração em ritmo anual ocorrida no primeiro trimestre de 1974, na “crise mundial do petróleo”. O recuo do PIB tem correspondência no setor industrial, que caiu de 9,8% em dezembro, após um recuo de 8,5% em novembro. Com a desaceleração do setor industrial, a taxa de desemprego atingiu os 4,4% e o índice de confiança do consumidor que, em novembro, era de 28,4 pontos, caiu para 26,2, em dezembro de 2008.
Já a zona do euro experimentou, no quarto trimestre do ano passado, a maior contração dos últimos 13 anos, e o PIB caiu 1,5%, face aos tres meses anteriores, e 1,25%, em relação ao ano passado, crescendo a pressão, para a baixa da taxa de juros.

Consequentemente, as filas de desempregados também vêm crescendo por todo o globo. Dosadvogados em Paris, aos operários na China, passando pelos guarda-costas na Colômbia, acentuam-se as altas taxas de desemprego. Desemprego, que atinge principalmente trabalhadores jovens, acarretando por sua vez muitas consequências para a sociedade, que num clima de extrema instabilidade, produz um aquecimento dos movimentos de protestos em diversos países do globo, como Letônia, Chile, Grécia, Bulgária e Islândia e mesmo movimentos grevistas, como foram os casos na Grã Bretanha e da França.


Taxa de desemprego para a União Européia

Enquanto nisso acontece, um pouco por todo o mundo, nos Estados Unidos, o Presidente Obama,prosseguindo com a política anti-crise, promete agir com celeridade após aprovação do pacote. Segundo ele, um mês após a data da aprovação, o dinheiro começará a ser injetado na economia e, num prazo de dois anos, ele espera que o seu plano salve ou crie mais 3,5 milhões de empregos e assentará as bases de uma nova economia, que será alimentada pelo desenvolvimento sustentável. O grande pacote de incentivo econômico já foi aprovado na sexta-feira 13, pelo Congresso norte-americano, e foi de US$ 787 bilhões, que deverá ser todo usado no combate a recessão.

Taxa de desemprego para os Estados Unidos

Mais, uma consequência da crise que se processa a nível mundial, cairá diretamente nas economias menos dinâmicas. Fala-se na imprensa “que ela pode gerar um tsunami de imigrantes voltando para casa”, com todas as implicações nefastas desse regresso em massa, como a pressão sobre o mercado de trabalho e o fim das simpáticas remessas, por eles efetuadas, para seus países de origem.
O empresariado ressente-se no mundo todo. O etanol perde força nos Estados Unidos, a Vera Sun Energy, uma das maiores produtoras americanas de etanol, suspendeu a produção em 12 das 16 plantas e planeja vender algumas das suas instalações.
Da indústria automobilística chega-nos a notícia de que a General Motors e a Chrysler, quetentaram obter ajuda adicional do governo americano, no montante de US$ 21,6 bilhões, estão em vias de concordata, o que custará seis vezes mais aos Estados Unidos.

A Fiat, a maior montadora da Itália, está sondando bancos sobre planos para emissão de ações com direito preferencial de subscrição no valor de US$ 2,5 bilhões, em meio a uma queda acentuada da demanda por veículos.

Segundo o Presidente da General Motors do Brasil, Jaime Ardila, a perspectiva, para 2009, é daqueda de até 15% nas vendas de veículos daquela marca.
Na Alemanha a THYSSENKRUPP prevê mais cortes na produção do aço. A empresa informouque as encomendas caíram em 3%.

A companhia de serviços financeiros holandeses, ING, sócia da Sul América, no Brasil, registrouum prejuízo de € 729 milhões em 2008. Em 2007 a organização tinha obtido um lucro de € 9,2 bilhões.
No Brasil, a evolução da crise segue o seu curso inexorável. O desemprego em Janeiro deu o seumaior salto desde 2002. A taxa divulgada, no dia 20 de Fevereiro, subiu para 7,8%, em relação a Dezembro do ano passado, quando foi de 6,8%. Segundo o economista chefe do BNP Paribas, para o Brasil, o congelamento das contratações continuará e o desemprego atingirá o seu pico de 10,5%, em Março de 2010. O setor automotivo lidera os cortes. O desemprego, convenientemente apelidado de “ajustes”, vai se prolongar e aprofundar durante o ano de 2009. A indústria do Estado de São Paulo, somente durante o mês de Janeiro, fechou mais de 32,5 mil postos de trabalho. Nos últimos 12 meses, o setor já acumula 54,5 mil postos fechados.

Apesar de toda a turbulência e desestabilização provocadas pela crise, a oferta de crédito no Brasil ainda se mantêm com alguma normalidade. Prevê-se que o desemprego caminha em direção à sua maior alta, desde 2002.
Os dados anuais ainda escondem a gravidade da crise, no comércio de automóveis, no últimotrimestre do ano passado. Em milhões de unidades, os licenciamentos de autos passaram de 2,46 em 2007 para 2,82 em 2008. No entanto, por todos os lados, os ajustes estão sendo feitos através da eliminação de postos de trabalhos, de férias coletivas para os trabalhadores e outras modalidades ainda em negociação, entre as entidades patronais e laborais. Contraditórios com esses movimentos são os comportamentos ascendentes da carga tributária, no Brasil, que cresceu de 36,58% do PIB em 2007, para 37,8%, em 2998 e o lucro do Banco do Brasil, que de 2007 para 2008 cresceu em 74%, ficando em R$ 8,8 bilhões. Aqui é interessante notar, que no BNDES, que financia as grandes empresas, a crise provocou perdas de R$28 bilhões em valor de ativos. Por seu lado, com excessivo otimismo, o IPEA avalia que “o pior da crise da indústria já passou”.Marcio Wohlers, diretor de Estudos Sociais daquela instituição, afirmou com todas as letras que “o péssimo desempenho em Dezembro passado ocorreu devido a uma conjugação de fatores que dificilmente se repetirá nos próximos meses”… (Gazeta Mercantil,19.02.2009). À sua maneira, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, partilha do otimismo ao descartar a idéia de PIB negativo e reiterar a meta do governo para crescer 4%, nesse ano.
O Presidente mais que otimista, mostra-se confiante na superação da crise, pois, admitindo ou não, ele aborda o fenômeno com uma forte subjetividade como se dependesse das vontades do governo e dos empresários brasileiros.
Nas suas compungentes palavras, na reunião com empresários da indústria automobilística, eleafirmou que eles, os empresários, “brecaram rápido demais quando,na verdade, deveria ter sido uma paralisada muito paulatina, com férias coletivas, tentativas de acordo com movimento sindical. Exageraram nas demissões.”… “Quase todas as empresas estão muito capitalizadas, todos ganharam muito dinheiro em 2008. Não era possível que no primeiro mês depois da quebra dos bancos americanos mandassem os trabalhadores embora”. (Gazeta Mercantil 16.02.2009)
Visto dessa forma, tudo levaria a crer que a crise não seria um fenômeno objetivo, necessário e incontornável.
Infelizmente, para os otimistas ingênuos, nada se passa dessa forma. A crise é uma necessidade do sistema e ainda bem que é assim. Ela é um momento de saneamento da economia, uma espécie de pecado original do sistema de mercado, sem o qual não se podem alcançar níveis mais elevados de desempenho econômico. A crise apesar de dolorosa, é reguladora, pois o sistema não tem coração, nem conhece a compaixão e os sentimentos humanos. Não se pode esquecer a sua lógica, nem esperar que, os empresários, mesmo diante dos encarecidos pedidos, vão poder deixar de lutar pelo que constitui a própria essência do sistema: minimização de custos e maximização de lucros. Mesmo que o pedido do Presidente seja feito com as melhores intenções. Seria de desejar que Lula, e seus principais colaboradores na área econômica, soubessem dessas coisas simples da economia como oferta e procura, maximização de lucros e minimização de custos, custos benefícios, etc. Infelizmente parece que o discurso do Presidente é retórica,traduzindo desejos pouco elaborados e mal contidos em momento de exaltação.
De qualquer forma, é carnaval e ninguém leva a mal!


Texto escrito por:
Elivan G. Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 10 de março de 2009

Charge

"Mesmo que ele [o PIB] seja próximo de zero, o Brasil será um dos poucos países do mundo, dos emergentes e dos grandes, que não terá uma recessão como terão os países ricos", disse o presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Trecho retirado de: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u532451.shtml

Esta charge do Lute foi feita originalmente para o

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sábado, 7 de março de 2009

Charge


Novo espaço do progeb.blogspot.com, com exposição de charges referente aos acontecimentos ocorridos durante a semana no Brasil e no mundo.

Esta charge do Iotti foi feita originalmente para o
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quarta-feira, 4 de março de 2009

Batom: antídoto para a crise econômica

Semana de 09 a 15 de fevereiro de 2009


O déficit comercial dos EUA diminuiu, em dezembro, menos do que o previsto, atingindo o menor patamar em quase seis anos. O aumento das demissões, a falta de crédito e a crise mundial indicam que as importações e as exportações deste país, que caíram em dezembro pelo quinto mês consecutivo, devem se contrair ainda mais.
E os efeitos foram sentidos do outro lado do mundo com as exportações chinesas tendo a maior queda em 13 anos, uma vez que a demanda dos EUA e da Europa encolheu. As importações tiveram um declínio recorde, mostrando o agravamento da crise na terceira maior economia do mundo. Os embarques para o exterior declinaram 17,5% em janeiro, em relação ao mesmo período de 2008, e as importações caíram 43,1%. E tinha quem apostasse na China como novo motor da economia mundial, e que sozinha sustentaria o crescimento global. Estavam redondamente enganados.
No Brasil o consumo de eletricidade no segmento industrial, em janeiro deste ano, caiu 15,73%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse forte recuo na demanda demonstra os efeitos da crise sobre a atividade industrial brasileira.
A conseqüência dessa maré ruim é uma onda de demissões. Mas o presidente Lula afirmou que as negociações entre empresas e sindicatos é o caminho para resolver questões de trabalho nesse momento de enfrentamento da crise econômica. Nas suas palavras: “O governo só entra na negociação entre o capital e o trabalho no dia em que uma das partes pedir e as duas concordarem. Eu era dirigente sindical e nunca aceitei que o governo se metesse nas minhas negociações. Tudo o que eu queria era liberdade para negociar”.
Já o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, anunciou ontem três medidas para evitar as demissões no mercado de trabalho, causadas pela crise econômica, que, apenas em dezembro, provocou a perda de emprego para 654 mil trabalhadores, no Brasil. A primeira medida é que o montante inicial da linha de crédito de capital de giro às revendedoras de carros usados, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), será de R$ 200 milhões. Outra medida é o acréscimo de dois meses no limite máximo do pagamento do seguro-desemprego para os trabalhadores que foram demitidos por empresas de setores prejudicados pela crise. O teto agora passa a ser de sete meses. A terceira medida é a regulamentação da Bolsa Qualificação Profissional que estabeleceu a carga horária de 60 horas mensais, no mínimo, para realização dos cursos oferecidos por empresas aos trabalhadores com contrato de trabalho suspenso.
Mesmo sem querer ser pessimista algumas questões tornam-se pertinentes. E se essa linha de crédito for insuficiente para aquecer o mercado de revendedoras de veículos? E se, mesmo com o crédito, não houver quem queira tomá-lo? E se depois que acabar o seguro desemprego o trabalhador não conseguir um novo emprego? E se depois do curso de qualificação o emprego não aparecer?
O presidente Lula já pensou em tudo isso e admitiu que, para impulsionar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – menina dos olhos do governo e plataforma política da candidatura de Dilma Roussef à presidência - se propõe até a cortar gastos do governo. Abusando um pouco da retórica e no entusiasmo do discurso o presidente declarou: “Nós cortaremos o batom da dona Dilma, nós cortaremos o meu corte de unha, mas não cortaremos uma obra do PAC”.
É um excelente exercício para a imaginação estimar quanto o governo gasta com o batom da Ministra Dilma e o corte de unhas do presidente e imaginar como o corte desses gastos, por parte do governo, seria capaz de estimular a economia, através de obras do PAC. Agora continuando no exercício, imagine o tamanho do estímulo que sofreria a economia se o governo, em vez disso, cortasse a taxa de juros Selic e, consequentemente, passasse a pagar menos juros da dívida. O problema é que a ministra pode comprar o batom com seu próprio dinheiro e o presidente pode ficar com as unhas grandes, mas o mercado financeiro, este sim, não pode ficar sem os milhões que lhes são pagos, de juros, todos os anos.

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 3 de março de 2009

A Solidez do Sistema Bancário Nacional

Semana de 02 a 08 de fevereiro de 2009


A crise econômica internacional atingiu a economia brasileira em cheio, no final do ano passado,encerrando o último trimestre com uma redução de 12,4% na produção industrial, entre novembro e dezembro. Foi a maior queda já registrada, desde 1998. No mesmo período, o número de horas trabalhadas na indústria caiu 8% e o nível de emprego foi reduzido em 0,5%. O índice de utilização da capacidade instalada também recuou de 81,4% para 80,2%. Os dados são da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aposta em uma retomada do crescimento econômico somente a partir do segundo trimestre de 2009.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou números que mostramque a produção industrial recuou em doze das quatorze regiões pesquisadas. As maiores quedas foram registradas em Minas Gerias (-16,4%), na Bahia (-15,6%) e em São Paulo (-14,9%).
Paralelamente à redução do nível da atividade econômica, a concessão de férias coletivas e oanúncio de demissões não param de aumentar. A Pirelli, por exemplo, informou, no último dia 04, que vai dar férias coletivas a 2500 trabalhadores da unidade de Santo André, no ABC paulista. Já a General Motors do Brasil anunciou, por meio do seu presidente, Jaime Ardila, que não renovará o contrato de 1.630 trabalhadores temporários de São Caetano do Sul.
Diferentemente da indústria, o setor bancário brasileiro continua praticamente intacto, semnenhuma grande marca da crise e comemora os elevados lucros obtidos em 2008. De acordo com a Austin Rating, agência de classificação de risco, os quatro gigantes do setor, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco, podem ter alcançado ganhos em torno de R$ 29 bilhões, cerca de 15% a mais do que o registrado em 2007. Ainda de acordo com a agência, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, do Bradesco, deve ficar em torno de 22,1%, a do Itaú, em 23,4%, a do Unibanco, em 21,3% e a do Banco do Brasil, em 32,9%. Nenhum outro setor da economia tem uma taxa de retorno tão alta como a dos bancos.
Estes dados demonstram toda a solidez do sistema bancário nacional num momento em que osgrandes bancos norte-americanos e europeus estão enfrentando graves problemas financeiros e arcando com prejuízos volumosos. Esta solidez é alcançada, sobretudo, graças à eficácia da política monetária do Banco Central brasileiro no que diz respeito à manutenção da taxa básica de juros real do país, entre as maiores do mundo, o que garante ao sistema financeiro do Brasil um retorno certo e fácil.
Se a tese do descolamento da economia brasileira, das grandes economias mundiais, amplamentedefendida no início da crise, se mostrou falsa, com a forte queda registrada pela produção industrial nacional, a blindagem dos bancos, criada pela política monetária, vem se mostrando consistente, resistindo até mesmo à crise econômica internacional. Os “sólidos fundamentos” da macroeconomia do país parecem, portanto, beneficiar um único setor, o financeiro, em detrimento dos mais diversos ramos e segmentos do setor produtivo. Este setor, nos últimos anos, vem sendo esmagado pela concorrência estrangeira devido às condições desfavoráveis existentes no Brasil. Por outro lado, ano após ano, o setor bancário vem obtendo lucros recordes, registrando elevada rentabilidade e extraordinário crescimento. Logo, os verdadeiros fundamentos que a política econômica do governo busca incessantemente manter sólidos, são os fundamentos microeconômicos do sistema financeiro. É incontestável que, deste pondo de vista, tal política vem alcançando plenamente os seus objetivos.
O Banco Central, sempre preocupado com a “saúde financeira das empresas”, irá liberar, nopróximo dia 27 deste mês, US$ 20 bilhões para que empresas brasileiras paguem suas dívidas no exterior. Mais uma vez, os recursos serão repassados para os bancos comerciais, que devem ofertar linhas de crédito, em moeda estrangeira, para as companhias brasileiras. O dinheiro será retirado das reservas internacionais. Enquanto isto, o saldo da balança comercial fechou o mês de janeiro com um déficit de US$ 518 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este é o primeiro déficit mensal em oito anos. A maior retração foi registrada na venda de produtos manufaturados, cuja receita caiu 36,76%.
No cenário internacional, a crise continua demonstrando que ainda não chegamos ao fundo dopoço. Que o digam as grandes fabricantes japonesas de eletroeletrônicos. A gigantesca Panasonic prevê um prejuízo de US$ 4,3 bilhões e queda de 15% nas vendas para este ano. A empresa anunciou ainda que deve fechar 27 fábricas, 13 delas no Japão, até o final de março. As demissões de funcionários devem alcançar um total de 15 mil, até março de 2010. Nos Estados Unidos, foram eliminados 522 mil postos de trabalho, somente em janeiro, segundo relatório divulgado pela ADP Employers Services e o primeiroministro britânico, Gordon Brown já trocou a palavra recessão por depressão, que descreve um quadro de recessão profunda e duradoura e que quase sempre é evitada nos discursos das autoridades internacionais, pelo seu tom de gravidade. Assim sendo, dentre todas as grandes corporações capitalistas, sólidos mesmo, são os nossos bancos, pois nem mesmo a crise econômica foi capaz de abalar a sua lucratividade.
Então, temos ou não razão em desconfiar da política econômica?

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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