quinta-feira, 28 de maio de 2009

Economia I - Lista de exercício

Deixamos disponível para download, em formato pdf., a lista de exercício dirigida aos alunos de Economia I, turno manhã e noite, período 09.1.

Lista de exercício - Download
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segunda-feira, 25 de maio de 2009

A crise e as mudanças nas relações econômicas

Semana de 04 a 10 de maio de 2009

A economia americana, na perspectiva de Bem Bernanke, presidente do FED – Banco Central dos Estados Unidos, registrará ainda esse ano uma recuperação, embora ela aconteça de forma gradual, mantendo elevada a taxa de desemprego e com alguma inflação. Nas suas palavra, “Os dados recentes pressagiam que o ritmo da contração pode estar se desacelerando e que a demanda final, especialmente a das famílias, pode estar se estabilizando”.
Em que pese o otimismo do presidente de uma das maiores instituições financeiras do planeta, as notícias que nos chegam da América não testemunham a favor da sua ideia. A Microsoft confirma, para breve, um corte de 3 mil funcionários; a GM pressiona os sindicatos para reduzir os gastos; a Chrysler estende as ofertas de indenizações; os preços dos imóveis continuam a cair e prossegue forte o desemprego, que avançou para 8,5%, sendo a taxa mais alta em 25 anos. Desde novembro do ano passado, nos Estados Unidos, desapareceram mais de 3 milhões de postos de trabalho.
Mas, os EUA não estão sozinhos naquilo que se pode considerar uma “travessia do deserto”. Na Europa, prevê-se que a pior fase da crise ainda está por vir, quando se espera, para 2010, uma contração do PIB de 4% e uma taxa de desemprego da ordem de 11,5%. Esta está sendo considerada a pior recessão desde 1945, o que se traduzirá na perda de 8,5 milhões de empregos. Prosseguem as fusões, que são típicas dos tempos de recessão. A Porsche e a Volkswagen discutem a fusão; a FIAT, depois de ter-se fundido com a Chrysler norte-americana, procura uma união pan-europeia adquirindo a unidade europeia da General Motors e incluindo a sueca Saab Automobile. A Opel encontra-se em negociação.
O lucro do grupo petrolífero francês Total, nos três primeiros meses de 2009, sofreu uma queda de 14,8% quando comparado com igual período do ano passado.
A Rússia não fugiu à regra pois, contrariando o otimismo que se tinha criado com as previsões anteriores, também o PIB caiu.
A recessão na América Latina, segundo previsão do FMI, será mais breve e mais suave. O Fundo diz que a região terá contração de 1,5% em 2009, crescendo para 1,6% em 2010.
Nas relações do Brasil com o resto mundo, destacou-se nessa semana a crescente parceria com a China que, em abril, passou a ter a maior ligação comercial com o Brasil, ocupando o lugar dos Estados Unidos (EUA). A corrente do comércio com o país asiático atingiu US$ 3,2 bilhões em abril, enquanto que com os Estados Unidos a cifra foi de US$ 2,8 bilhões. Por conta da crise, o Brasil reverteu o superávit que tinha com os Estados Unidos e o déficit com a China na Balança Comercial. As exportações para a China somaram US$ 5,627 bilhões entre janeiro e abril, sendo que as importações chinesas para o Brasil foram de US$ 4,616 bilhões no mesmo período, gerando superávit de US$ 1 bilhão para os brasileiros. Ao mesmo tempo, as vendas para os Estados Unidos somaram US$ 4,925 bilhões e as importações brasileiras, com origem naquele país, foram de US$ 6,841 bilhões, gerando um déficit de US$ 1,9 bilhões.
Destaca-se também o crescimento das vendas do Brasil aos países árabes, tendo as exportações brasileiras para aqueles países somado US$ 1,873 bilhão no primeiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de 4,1% frente a igual intervalo do ano passado. O saldo da balança comercial no trimestre ficou favorável ao Brasil em US$ 1,1 bilhão. Dentre os países daquela região, o Egito é dos que mais se
destaca no crescimento das compras ao Brasil.
Aqui, o sinal mais preocupante sobre o desenrolar da crise foi o recuo na produção de bens de capital. A queda foi de 14,7%, de janeiro a março deste ano, com relação a igual período de 2008 e, no acumulado de setembro a março, o recuo foi de 16,7%. É de sublinhar que os bens de capital são os que representam a parcela mais importante da formação bruta de capital fixo. Além do recuo na produção, observa-se que houve também um recuo nas importações desse tipo de bens, correspondente a 5,7% em abril, com relação ao mesmo período do ano passado. A queda no consumo aparente de meios de produção atesta a paralisação dos investimentos sem os quais a recuperação da economia não se torna possível. Caiu também o consumo brasileiro de energia elétrica, em 2,9%, em abril, comparando-se com igual período do ano passado, influenciado pelo recuo do setor industrial. Ao mesmo tempo, cresceu a confiança da indústria brasileira pelo quarto mês consecutivo, em 8,75% no mês de abril sobre março, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O índice passou para 84,6 pontos nesse mês, com ajuste sazonal, ante 77,8 pontos no anterior.
Os tempos estão difíceis. O superávit primário recuou para 3,29% do PIB, em março.A queda da Selic, a redução do IPI, o financiamento da casa própria, esses mecanismos foram e estão sendo utilizados na tentativa de superar as dificuldades pelas quais passa a economia brasileira. Mas, em que pese esses apoios e alavancas para a recuperação, lamentavelmente, o fraco desempenho da produção industrial, registrada no primeiro trimestre do ano, dá sinais de que a saída da crise ainda vai longe.
Os lucros da Caixa Econômica Federal cairam 48,22% sendo apontada como causa a cobrança de juros menores. Os do Itaú Unibanco também recuaram 27,7% no trimestre, reduzindo-se para R$ 2 bilhões. O Bank of America (BofA), que se tornou acionista do Itaú Unibanco desde 2006, está proibido de vender as ações que detém deste último.
O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, acredita que o cenário de recuperação não está assegurado e diz que o governo “não pode usar a crise para aumentar desnecessariamente a máquina pública”. Ele afirmou ainda que “ As perspectivas para o PIB deste ano não são boas, pois com a paralisação de investimentos, a economia deve sofrer, entretanto, o varejo pode ser o responsável por amenizar esse efeito”. Quanto à Selic, comentou Guido Mantega, “O crédito está melhorando, não ainda o desejado. Estamos lentamente recuperando o crédito. A taxa de juros está caindo, mas ainda não o necessário. Deverá cair mais pra que o crédito seja alcançado por aqueles que precisam disso”.
Quanto ao IPI, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge afirmou que ele não deve sofrer mais reduções a partir de junho.
A lucratividade das empresas vive período de grande vulnerabilidade. A Comgás, Companhia de Gás Natural de São Paulo, anunciou a queda de 20,1%, em seu lucro líquido do primeiro trimestre desse ano na comparação com os mesmos meses de 2008, totalizando R$ 95,8 milhões. O fabricante de filmes flexíveis Vitopel também registrou uma queda de 11% no primeiro trimestre de 2009.
Em Corumbá, a MMX retomou as suas atividades de mineração, mantendo no entanto paralisada a unidade de metálicos que produz ferro-guza.
São Paulo concentrou a criação de empregos formais em março. A Renault, por sua vez, reintegrou 70% do pessoal. Mas os resultados positivos desse mês ainda não foram suficientes para cobrir as perdas de postos no ano. No primeiro trimestre, o estado de São Paulo acumulou um saldo negativo de 4540 vagas.
Enquanto isso tudo acontece, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está atrasado e o Presidente Lula justifica o atraso responsabilizando o que ele chama de “máquina de fiscalização”. Nas suas palavras, “o país passou anos e anos sem fazer investimentos e fomos criando uma poderosa máquina de fiscalização que agora é superior a de produção”.
Para nossa infelicidade, porém, este gigantismo não consegue deter a corrupção generalizada que continua a corroer as entranhas da nação.

Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Corte na Taxa Básica de Juros e Queda do Superávit Primário

Semana de 27 de abril a 03 de maio de 2009

Em sua última reunião, realizada na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir em um ponto percentual a taxa básica de juros da economia, a Selic. Ela foi reduzida para 10,25% ao ano, o menor patamar da história. Com o corte, o juro real (a taxa nominal descontada a inflação) caiu para 5,88% ao ano. Com isto o Brasil perdeu a posição, que ocupou nos últimos anos, de líder mundial dos juros reais. Segundo o ranking elaborado pela consultoria UpTrend, agora é a China que se encontra no topo, com juros reais de 6,6% ao ano, seguida da Hungria que ocupa o segundo lugar, com 6,4% ao ano. O Brasil passou agora para a terceira posição.
Para as próximas cinco reuniões do Copom previstas até dezembro, o mercado espera novos cortes, principalmente diante da previsão de um crescimento negativo da economia para este ano. Grandes bancos como o Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander e Banco do Brasil anunciaram que também irão reduzir as suas taxas. Para o governo, a redução de um ponto percentual na Selic permitirá uma economia de R$ 7,07 bilhões, de acordo com estimativa da agência Austin Rating.
E por falar em economia, o superávit primário (economia de recursos feita pelo governo central para o pagamento de juros da dívida), que em março totalizou R$ 6,5 bilhões, foi 38,6% inferior ao obtido no mesmo período do ano passado. Isto representou uma queda de 70,1%, no primeiro trimestre de 2009, comparativamente ao primeiro trimestre de 2008. Nos três primeiros meses do ano o superávit primário somou R$ 9,3 bilhões, bem abaixo dos R$ 31,2 bilhões atingidos em igual período do ano anterior.
A combinação destes dois fatos, corte na taxa de juros e redução do superávit primário, evidenciou a gravidade dos efeitos da crise econômica mundial sobre a economia brasileira. Há anos que a política econômica do governo Lula se mostrava extremamente conservadora, tanto no campo monetário, como no campo fiscal. Sempre houve uma grande relutância em reduzir a taxa de juros, sob a justificativa de “combate à inflação”, e com o objetivo de realizar um enorme esforço fiscal, para pagar os juros da dívida. A desculpa era a manutenção da “credibilidade” do país junto ao sistema financeiro. Somente as grandes proporções da crise atual foram capazes de mudar este quadro.
Esta alteração na situação fiscal do governo reflete a diminuição da arrecadação de tributos, com a redução do crescimento econômico e a isenção fiscal em algumas áreas que o governo pretende estimular, como o setor automotivo. Por outro lado, reflete o crescimento dos gastos, que entre 2008 e 2009 foi de 19,6%, com destaque para as despesas de custeio e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que aumentaram com o crescimento do desemprego.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego subiu pelo terceiro mês consecutivo. Nas regiões metropolitanas, atingiu 15,1% da população economicamente ativa, em março. Ainda conforme o Dieese foram eliminadas 143 mil vagas de trabalho, entre fevereiro e março. Mais pessoas passaram a engrossar o já numeroso contingente de desempregados, que gira em torno de 3,010 milhões de trabalhadores.


Nível de ocupação nas regiões metropolitanas (*)
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Não é por acaso que postos de trabalho estão sendo eliminados. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produção industrial caiu para 36 pontos, o pior resultado desde 1999. Na pesquisa da CNI, índices abaixo de 50 sinalizam expectativas negativas dos empresários.


Indústria geral - Brasil(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

produção industrial por categoria de uso- Brasil(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.


Os impactos da crise, portanto, continuam se propagando pela economia, sem data marcada para acabar, e, de tão preocupantes que são, começam a obrigar o governo a tomar medidas que contrariam a política econômica realizada durante os dois mandatos. O presidente Lula está sendo forçado a abandonar tal política a partir do momento em que a as conseqüências da crise para a economia começaram a abalar o seu prestígio e a comprometer suas pretensões políticas futuras.
No cenário internacional a tônica continuou sendo a mesma. Nos Estados Unidos, a economia registrou contração pelo terceiro trimestre consecutivo. Desta vez a redução no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 6,1%, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Com a queda de 6,3% no trimestre anterior, a maior economia do mundo teve o pior semestre dos últimos 50 anos. A General Motors (GM), uma das empresas mais afetadas pela crise, informou que vai demitir mais 21 mil funcionários, fechar 13 fábricas e reduzir sua vasta rede de 6,5 mil distribuidoras quase pela metade. Quando terminar de tomar todas as medidas anunciadas, a GM espera ter apenas 38 mil funcionários sindicalizados e 34 fábricas nos Estados Unidos, uma drástica redução em seu tamanho se compararmos a 1970, quando a empresa possuía 395 mil empregados e 150 fábricas. A montadora que já deve um total de US$ 15,4 bilhões ao governo declarou ainda que precisa tomar emprestado US$ 11,6 bilhões a mais.



Produto Interno Bruto - Estados Unidos (*)
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Na Grã-Bretanha, a recessão também se agravou. Nos três primeiros meses do ano, o PIB registrou uma contração de 1,9%, em relação ao trimestre anterior e 4,1%, em relação ao mesmo período do ano passado, conforme informações do instituto de estatísticas britânico. Este também é o terceiro trimestre consecutivo de contração observado no PIB britânico. O resultado é pior do que o esperado pela maioria dos analistas. Já o governo japonês prevê uma contração de 3,3% para a economia até 2010. A expectativa é que a produção industrial do país recue 23,4% e as exportações caiam 27,6%.
Observa-se, assim, que os efeitos da crise continuam atingindo as principais economias do mundo, mas tais efeitos começam a ter maiores repercussões políticas. Isso é particularmente evidente no caso do Brasil, onde o governo Lula vem tentando executar diversas medidas de política econômica bastante divergentes daquelas que ele vinha praticando e que levaram muitos a classificá-lo como mais um governo de direita, limitado a dar continuidade à política econômica conservadora do governo Fernando Henrique Cardoso.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Charge


"Folha" publica gasto no Senado de R$ 6,2 milhões em horas extras em janeiro, mês de férias. 3.883 funcionários foram beneficiados. Na Câmara, 610 servidores receberam hora extra em janeiro, o que custou à Casa R$ 653 mil.

O que aconteceu?

Alguns gatos pingados devolveram o dinheiro. Ninguém foi punido.
A Câmara não se mexeu.
No Senado, no dia 5.mai.2009, mais de dois meses após o escândalo ser divulgado, houve a publicação de um ato que "veda a realização de serviços extraordinários durante o recesso parlamentar", salvo se for por meio de decisão "fundamentada do primeiro-secretário para atendimento de situações excepcionais."
 Na realidade, segundo reportagem do "Correio Braziliense" de 7.mai.2009, a "decisão do Senado permite que todos os servidores efetivos continuem engordando o salário" com horas extras. A norma do Senado, de fato, determina que só um terço das pessoas lotadas nos gabinetes em cargos de confiança poderá receber pagamento por serviços extraordinários. Mas a regra excluiu os servidores estáveis. Na prática, a brecha significa uma economia de gastos muito mais discreta do que a que fora anunciada, visto que o Senado possui 3,5 mil efetivos e 2,8 mil comissionados.
O ato publicado no último dia 5 proíbe -a não ser em casos extraordinários autorizados pelo primeiro-secretário- o pagamento de horas extras durante o período de recesso parlamentar, a farra durante as férias.

Trecho retirado de: http://noticias.uol.com.br/escandalos-congresso/horas-extras.jhtm

Esta charge do Solda foi feita originalmente para o
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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Crise na economia e crise na política

Semana de 20 a 26 de abril de 2009

Mais uma vez a política roubou a cena à economia. O escândalo das passagens aéreas presenteadas por mais da metade dos 513 deputados a familiares, amigos, apadrinhados, etc., e usadas para destinos turísticos, nacionais e internacionais, abalou a Câmara Federal. As atenções voltaram-se para a degradação da moral pública dos representantes do povo. Os jornais divulgaram dados sobre o custo de cada parlamentar estimando o valor mensal de R$ 119,7 mil para cada senador e 62 mil para cada deputado. As benesses vão de “cafezinho à jatinho” e são extensivas também às famílias. No caso do Senado, qualquer um que ocupar o cargo por seis meses passa a ter o direito a tratamento médico vitalício para toda a família. Atualmente, quase 20% dos 81 senadores são suplentes, isto é, são pessoas que não tiveram nenhum voto e foram escolhidas pelos respectivos titulares, entre parentes, amigos, financiadores, etc.
Mal se recuperava a sociedade do impacto dos escândalos e as televisões transmitiram ao vivo, o bate-boca no Supremo Tribunal Federal (STF), entre os ministros Gilmar Mendes (presidente) e Joaquim Barbosa. Irritado com as afirmações do Presidente Mendes, Barbosa o acusou de destruir a credibilidade do judiciário. Certamente o desentendimento foi causado por razões que a câmaras não captaram, ou seja, há fogo dentro do monturo e o Ministro Barbosa deve ter informações que não pode usar e que justificam sua irritação. Em torno do caso o país se polarizou e Joaquim Barbosa tem recebido manifestações de apoio da população e dos movimentos sociais.
Mas, enquanto a República expõe as suas mazelas, a crise continua.
Nos EUA anuncia-se para a próxima semana o pedido de concordata da Chrysler e sua possível compra pela Fiat. A General Motors comunicou o fechamento de 13 fábricas nos EUA e no México. Em todo o mundo, ela pretende demitir 47 mil trabalhadores e só nos EUA, nesta semana, cortou 1.600 postos de trabalho. A Ford, que desde 2005 não apresenta lucro, em 2008, teve um prejuízo recorde de US$ 14,7 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, ela já perdeu US$ 3,2 bilhões. A Marriot, a maior rede hoteleira dos EUA, anunciou um prejuízo, no primeiro trimestre do ano, de US$ 23 milhões. Até as funerárias sofrem os efeitos da crise. Dos 600 fabricantes de caixões, sobreviveram apenas 150. O número de trabalhadores que pediram seguro desemprego continuou a aumentar, as vendas de moradias usadas caíram e os chamados ativos podres continuam a entupir os bancos. Apesar de toda a injeção de dinheiro do contribuinte, estes ativos ainda são estimados em 4 trilhões e 25 bilhões de dólares. As instituições financeiras e de seguros parecem insaciáveis. Agora a AIG que já recebeu US$ 150 bilhões, solicita mais uma ajuda de US$ 30 bilhões. Em meio à confusão geral, o economista Joseph Stiglitz afirmou que apolítica do governo Obama, para salvar os bancos, “é um caos absoluto” e vai fracassar. Por seu lado, Bem Bernanke, presidente do Fed, Banco Central americano, declarou que o prejuízo patrimonial dos cidadãos será duradouro. Reconhecendo a gravidade da situação, o diretor gerente do Fundo Monetário Internacional afirmou que “a crise econômica e financeira global está longe de ter terminado e a retomada virá dos EUA”.

Taxa de desemprego dessasonalizado - Estados Unidos (abril) (*)
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No resto do mundo as notícias mantêm o mesmo tom. Na Suécia a Volvo anunciou a demissão de mais 1.543 trabalhadores. A Volkswagen informou que, no primeiro trimestre, o seu lucro será 76% menor que no mesmo período do ano passado. A sueco-finlandesa Estora Enso comunicou o prejuízo de 66,1 milhões de libras esterlinas e a demissão de dois mil empregados. No Japão, a Toshiba, que já havia anunciado a extinção de 4,5 mil postos de trabalho, anunciou a liquidação de mais 3,9 mil. A Sony Ericson, com um prejuízo de US 383 milhões, comunicou que demitirá 2.000 trabalhadores. Segundo a empresa, um em cada cinco empregados perderá o emprego durante o ano. A Forbes anunciou que dos 110 bilionários russos existentes no ano passado restaram, até agora, apenas 32. O desemprego na Espanha atingiu 17,4% da população, o maior da Europa. A economia britânica tem a maior queda em 30 anos e o orçamento do país alcançou o maior déficit desde a segunda guerra mundial. O Banco Mundial (Bird) anunciou que a crise poderá jogar na miséria entre 55 a 90 milhões de pessoas. Na América Latina o número de pobres aumentará de 37,6 milhões para 40,3 milhões.

Taxa de desemprego dessasonalizado - União Européia (Março)(*)
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Número de desempregados (em milhões) - União Européia (Março)(*)
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No Brasil, apesar do esforço tardio do governo, os sintomas da crise continuam a se expandir. No primeiro trimestre a produção industrial caiu 4,4%, quando comparada com período igual de 2008. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea aponta como causa a queda de 26% das exportações da indústria de transformação, particularmente os setores de veículos, madeira, petróleo, couro e calçados. A dura realidade obrigou o Ipea, a reconhecer que a economia do país entrará em “recessão técnica”, no primeiro trimestre do ano. Mas, como órgão do governo e, portanto, obrigado a defendê-lo, pelas palavras do Diretor de Estudos Setoriais, Márcio Wohlers de Almeida, o Instituto assegurou que o crescimento da economia será entre zero e 1%, no final do ano. Márcio consegue ainda ver sinais de aquecimento graças às “políticas anticíclicas” do governo. É curioso como o Ipea muda de opinião e de estimativas sendo apenas superado pelo ministro Guido Mantega cujas previsões, para serem levadas a sério, devem ser inicialmente reduzidas à metade. Outra expressão curiosa usada pelo Diretor do Ipea, “política anticíclica” de vez em quando, também é usada pelo Ministro Mantega. No entanto eles não dizem o que entendem por “ciclo” e nunca justificaram anteriormente as políticas adotadas com base neste conceito. Afinal,
senhores ministros, o que é ciclo e o que nós temos a ver com ele?

Produção Industrial - Brasil(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Produção Industrial por categoria de uso - Brasil(*)
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Enquanto isso, o otimismo do governo, na Lei de Diretrizes e Bases, se mantém. Nesta lei esta previsto um crescimento de 2% para o PIB. O mercado não concorda com esta estimativa e aponta um número bem mais modesto: uma queda de 0,49%, ou seja, uma retração. Para o Fundo Monetário Internacional – FMI o desastre será ainda maior: a economia do país terá uma queda de 1,3%.
Enquanto governo e mercado discutem, a inadimplência aumentou atingindo um recorde, em 18 anos, de devolução de cheques (24,6 devolvidos por mil compensados). Nos cartões de crédito, em fevereiro, ela chegou a 27%, para os atrasos superiores a 90 dias. A queda nas exportações fez a Mercedes- Benz e a Scania darem licença remunerada aos empregados de suas fábricas em São Bernardo, em São Paulo. A Mercedes-Benz deu licença remunerada por 15 dias a 1.200 trabalhadores e estendeu o Programa de Demissões Voluntárias – PDV ao pessoal da produção. A empresa deixou de exportar motores para os EUA e suas exportações para a América Latina foram reduzidas de 50%. Em Canoas, (R.G.S.), a fábrica de máquinas agrícolas AGCO demitiu 340 trabalhadores o que provocou uma greve de protesto. O número de desempregados no setor subirá para 1.900, em um ano. Em março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a taxa de desemprego no setor industrial praticamente dobrou, em relação a outubro do ano passado, afetando principalmente os trabalhadores jovens (entre 16 e 24 anos). Nesta faixa a taxa chega a atingir 21,1%. No conjunto do país, ainda segundo o IBGE, a taxa de desemprego subiu para 9%. A Usiminas, que opera com 50% de sua capacidade, lançou um PDV para seus empregados e além das 600 demissões já efetuadas pretende demitir mais 406 trabalhadores.
A dívida pública, que vinha em constante crescimento, com estes resultados econômicos cresceu ainda mais atingindo, no final de março, o acumulado de R$ 1,393 trilhões. Deste total, a Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) representa 90,67%, o que é conseqüência da opção demagógica do governo de trocar a dívida externa, barata e de longo prazo, pela interna, cara e de curto prazo. Em relação ao mês anterior, o aumento foi de 1,25% graças à emissão de novos títulos e à soma de R$ 11,95 bilhões de juros que não se conseguiu pagar. Uma outra observação importante é que, agora, os títulos remunerados pela Selic (que o BC concorda em reduzir) representam apenas 23,1% do total enquanto os com remuneração pré-fixada representam 69,64%. Como temos denunciado, a política do governo Lula, sob o comando do Henrique Meirelles, continua a privilegiar os especuladores financeiros. Agora que o BC conseguiu garantir, através de outros títulos, a remuneração do capital financeiro e dá a estes capitais o devido tempo para se desfazerem dos títulos indexados à Selic, o BC levantou a bandeira da redução desta taxa.
É este o cenário da semana. Como vemos, agora, além da crise na economia, temos uma crise na política. Como diz o ditado popular: além de queda, coice.

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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domingo, 10 de maio de 2009

Charge

O Senado bancou 291 passagens aéreas da cota de 11 ex-senadores, sendo que em dois casos os bilhetes foram usados mesmo depois de os congressistas já terem morrido. A informação é do site Congresso em Foco.
As viagens foram realizadas de 9 de julho de 2007 a 27 de janeiro de 2009. Brasília, São Luís, Belém e Recife foram os principais destinos percorridos.
São os seguintes os ex-senadores de cujas cotas aéreas saíram as 291 passagens:

João Alberto (PMDB-MA) - 98 voos

Rodolpho Tourinho (DEM-BA) - 79 voos

Roberto Saturnino (PT- RJ) - 54 voos

José Jorge (DEM-PE) - 14 voos

Jorge Bornhausen (DEM-SC) - 13 voos

Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL) - 8 voos

Joaquim Roriz (PMDB-DF) - 7 voos

*Ramez Tebet (PMDB-MS) - 7 voos

Heloísa Helena (PSOL-AL) - 6 voos

*Jefferson Peres (PDT-AM) - 3 voos

Alberto Silva (PMDB-PI) - 2 voos

(*) esses 2 senadores já morreram e suas passagens foram usadas por terceiros

Trecho retirado de: http://noticias.uol.com.br/escandalos-congresso/passagens-ex-senadores.jhtm

Esta charge do Frank foi feita originalmente para o
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segunda-feira, 4 de maio de 2009

O poder de mobilização das massas

Semana de 13 a 19 de abril de 2009

Há praticamente duas semanas, um fato ocorrido na economia norte-americana mostrou como, numa sociedade baseada em classes que lutam pela divisão do excedente, a mobilização de uma delas pode trazer-lhe muitos benefícios. O critério para a distribuição deste benefício é a posição desta classe em relação à propriedade dos meios de produção. Como o Estado e o aparelho jurídico que o suporta beneficiam, quase sempre as elites detentoras do poder econômico, aos não-proprietários resta apenas a capacidade da mobilização, na tentativa de melhorar suas condições de vida e sua participação na distribuição do excedente.
Nos dias atuais, verifica-se que no orçamento deste ano, o governo dos EUA tinha uma proposta de cortar US$ 9,7 bilhões de dólares em subsídios aos fazendeiros com faturamento anual superior a US$ 500 mil. Estes subsídios são concedidos para amenizar as oscilações de preço (mesmo que não ocorram), e para enfrentar imprevistos (ainda que não aconteçam). Pois bem, a proposta de Obama sequer foi à votação, pois foi retirada do texto que iria ser submetido ao Senado e à Câmara, por políticos democratas e republicanos de Estados do Meio-Oeste do país, que reúnem grande parte da produção agrícola dos Estados Unidos. Estes parlamentares agiram por pressão dos seus eleitores, mas principalmente por lobby de um sindicato que representa 250 mil famílias de fazendeiros, o National Farmers Union.
O poder desta classe tem por base a existência de um sindicato extremamente representativo e atuante e a capacidade de eleger políticos comprometidos com seus interesses. Veja-se que a retirada do texto que propunha o fim do subsídio foi realizada por políticos republicanos e democratas.
A crise continua e o resultado da indústria brasileira no primeiro bimestre do ano, mostra de forma clara seu agravamento, apesar das medidas já tomadas pelo Governo para contê-la. Em janeiro e fevereiro, a indústria registrou queda no faturamento (10,9%), no emprego (0,9%) e nas horas trabalhadas (7,8%), em relação ao mesmo período de 2008, conforme dados da Confederação Nacional das Indústrias – CNI. Estes resultados são os piores da série histórica da entidade, iniciada em 2003.
Segundo Flávio Castelo Branco, economista-chefe da instituição, a indústria precisa crescer 9,3%, nos próximos 10 meses, para fechar o ano no “zero a zero”: “Não vou dizer que o ano está perdido, pois pode haver uma recuperação no segundo semestre. A situação não está em processo de agravamento, mas está em um nível deprimido, que, se mantido até o fim do ano, será um desastre".
Além do resultado da indústria, o comércio exterior também demonstra enfraquecimento. A queda na demanda externa e a escassez de crédito afetam negativamente as exportações de bens industrializados. Um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro – Firjan concluiu que o percentual exportado da indústria de transformação nacional caiu para 21,9% do volume produzido, no final de 2008. Lembre-se que, no período entre 2003 e 2007, este percentual alcançava 24,1%, chegando ao valor recorde de 25,2%, no ano de 2005.
No mercado de trabalho, a situação também é de quedas sucessivas nos postos de trabalho. Desde setembro, quando a crise decisivamente atingiu a economia brasileira, já foram perdidos quase 800 mil empregos.
Outro indício sinalizador de preocupações consiste no comportamento dos preços, em queda. Da mesma forma que a inflação é um problema, a deflação também denota desequilíbrio. Sendo o preço uma variável crucial para as empresas, tendo em vista que suas receitas são constituídas pelas quantidades vendidas multiplicadas pelo preço cobrado, o que pensar da situação econômica quando as empresas reduzem os preços ou deixam de repassar para estes aumentos nos custos de produção? No mínimo que não estão conseguindo vender. Pois bem, o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) teve deflação de 0,84%, em março, após uma deflação de 0,13%, em fevereiro, conforme divulgou a FGV (Fundação Getulio Vargas). A queda é a maior desde setembro de 1995, quando o índice sofreu retração de 1,08%.
A inflação medida pelo IPCA, no primeiro trimestre de 2009, foi a menor em 9 anos, ficando em 1,23%. Em março, o índice fechou com alta de 0,2%, taxa mensal mais baixa desde setembro de 2007. Segundo o IBGE, o resultado comprova a desaceleração da economia, com uma "influência tímida" do dólar nos eletrodomésticos.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, a inflação foi influenciada pela alta nos preços de ônibus urbanos, em janeiro, pelos reajustes aplicados, em fevereiro, nas matrículas e mensalidades escolares e pela alta sazonal de produtos alimentícios. Por outro lado, produtos de peso como arroz (-3,87%), feijão-carioca (-12,92%) e carnes (-4,70%) ficaram mais baratos no trimestre.
Se, de um lado, a inflação mais baixa abre espaço para mais cortes de juros pelo Banco Central, de outro, analistas destacam que o nível mais baixo dos índices está ligado a uma queda da atividade econômica. Certamente, se o cenário não fosse de crise, a desvalorização cambial teria repercutido de forma significativa sobre os preços.
Diante da situação, o Governo já tomou uma série de medidas de política expansionista, com vistas a manter a demanda e o crédito. Contudo, a divulgação dos dados não demonstra os resultados esperados. Além da isenção de impostos concedida às indústrias automobilística, de motocicletas e de material de construção, o Governo planeja tomar as seguintes medidas no tocante ao enfrentamento da atual crise:
  • Estender a isenção do IPI, reduzindo-o ou zerando-o, para a linha branca (geladeiras, fogões, máquinas de lavar e tanquinhos). Atualmente, as alíquotas cobradas sobre esses produtos vão de 5%, no caso dos fogões, até 20% para máquinas de lavar. Levantamentos preliminares da área econômica mostram que cada ponto percentual de corte no IPI de geladeiras, por exemplo, custará ao governo R$ 39 milhões ao ano;
  • Desonerar a folha de pagamento. As empresas devem cortar até 20% da jornada de trabalho sem redução de salário e em troca teriam uma redução, de 30% para 19%, do recolhimento de tributos cobrados sobre a folha salarial. A queda seria através da cobrança do FGTS e da alíquota do sistema S. Para ser beneficiada com a isenção, a empresa não pode demitir e a fiscalização será feita pelas centrais sindicais. O Governo alega que tal medida custaria menos do que o pagamento de seguro-desemprego, que cresce na medida em que as empresas vão cortando postos de trabalho;
  • Por fim, está em debate a possibilidade de reduzir o superávit primário, que consiste na economia feita pelo Governo para pagar os juros da dívida. De fato, esta é a medida mais surpreendente, pois desde o Governo de Fernando Henrique Cardoso a economia para pagar os juros só vem crescendo e é tida como a prioridade da política econômica. Reduzem-se as verbas para qualquer coisa até para saúde e educação, menos para o pagamento dos juros. Isto demonstra o tamanho da preocupação do Governo com as conseqüências desta crise para a economia do país e, principalmente, para a sua popularidade que já caiu 5 pontos percentuais com o agravamento da situação.
Para reduzir o superávit primário pretende-se, em 2010, retirar a Petrobrás do cálculo. Se isto ocorrer, embora a meta oficial continue em 3,8% do PIB, na prática ela estará sendo reduzida para 2,8%. Para se ter uma idéia da importância da Petrobrás, neste ano de 2009, a empresa deveria colaborar com R$
14,9 bilhões na composição do superávit.
Na verdade, a equipe econômica levanta a possibilidade de excluir todas as estatais do cálculo do superávit, o que o reduziria para 2,3% do PIB, ou seja, uma redução ainda maior.
A gestão da dívida pública no Brasil constitui um dos maiores entraves ao crescimento econômico do país e, no contexto de crise, a situação tende a se agravar. Os elevados superávits primários para pagar os juros, que aumentam em progressão quase geométrica pelo fato do Brasil praticar há muitos anos a maior taxa de juros do mundo, comprometem uma parte significativa da arrecadação. Com as tímidas reduções previstas na Selic em 2009 o Governo economizará em torno de R$ 15 bilhões no pagamento de juros da dívida.
Esta questão do juro no Brasil é muito séria, pois o sistema financeiro nacional promove uma descarada extorsão tanto ao setor privado (empresas e consumidores) quanto ao setor público, em função das taxas de juros que cobra. Um estudo do IPEA revela o problema. O juro praticado por bancos estrangeiros no Brasil chega a ser até dez vezes maior que o juro cobrado por essas mesmas instituições financeiras em seus países de origem. O instituto investigou alguns dos bancos estrangeiros de maior porte estabelecidos no país: HSBC, Santander e Citibank. No caso dos empréstimos pessoais, o britânico HSBC pratica uma taxa de juro de 6,60% ao ano no Reino Unido, enquanto oferece juros de 63,42% ao ano para os brasileiros; o espanhol Santander oferece aos clientes do seu país sede juros de 10,81% ao ano mas pratica juros de 55,74% ao ano por aqui; o americano Citibank empresta a juros de 7,28% ao ano nos Estados Unidos, enquanto opera com taxas de 60,84% ao ano em território brasileiro.
Para chegar a esses números, a equipe de pesquisadores do IPEA levou em conta os juros oferecidos na primeira semana de abril deste ano, bem como os juros agregados aos serviços administrativos, riscos de inadimplência, margem de lucro e tributação.
O lamentável é saber que o Governo está fazendo política de isenção de impostos, para uma série de bens, a fim de estimular o consumo, mas nada faz para baixar os juros contribuindo para a prática desleal dos bancos com a sociedade brasileira.
Para compensar a política de isenção, o Governo planeja elevar impostos em outros produtos. Além do aumento de alíquota para cigarros, já sancionada, planeja-se inflar a cobrança de tributos nas bebidas e cosméticos. A receita do Governo caiu 27%, em fevereiro de 2009, ante o mesmo mês de 2008, em função da queda na arrecadação provocada pela diminuição no ritmo da atividade e pelo efeito das isenções já concedidas.
As medidas de isenção tomadas pelo Governo têm penalizado fortemente os governos e prefeituras, principalmente os de unidades menores, em função da dependência de recursos repassados pelo Governo Federal através dos fundos. Prefeitos e governadores têm desaprovado as medidas e já exigem do Governo Federal uma forma de compensar as perdas obtidas.
As conseqüências negativas do processo de privatização efetuado no país desde o Governo Collor dão mais um de seus sinais. Quando as empresas que produziam bens estratégicos ao crescimento do país como energia, aço, comunicação, etc., eram estatais, em um momento de crise, os aumentos de custos não eram repassados aos preços cobrados a fim de evitar um agravamento na atividade econômica. Mas, com as empresas privatizadas, a lógica da iniciativa privada impera, de modo que as empresas precisam ter a garantia do lucro para continuar ofertando os bens. Como são bens prioritários, que não podem simplesmente deixar de ser ofertados, as agências reguladoras precisam assegurar as margens de lucratividade.
Em função disto, em meio à tragédia nos indicadores econômicos já divulgados neste ano, a energia subiu mais de 20% em São Paulo. Para o consumo residencial, o aumento foi 20,19% e para a indústria chegou a 24,8%. As distribuidoras afirmam que o aumento nos custos foi causado pela alta do dólar e pelo maior uso de termelétricas, que são mais caras, pois necessitam da queima de combustíveis fósseis para produzir energia.
Representantes de grandes consumidores de energia, como indústria e comércio, alegam que o reajuste da energia elétrica aprovado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) diminuirá a competitividade das empresas brasileiras e pode provocar demissões.
De acordo com a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), a economia da América Latina e do Caribe cairá 0,3% em 2009, na primeira recessão após seis anos de crescimento. A previsão da Cepal, que revisou estimativas diante dos maus resultados registrados na região, no último trimestre de 2008, projeta uma taxa de desemprego regional em 9%, neste ano, ante 7,5%, em 2008, elevando a informalidade e a pobreza.
Para a Comissão, o Brasil será um dos mais afetados, com queda de 1% no PIB, atrás apenas do México (-2%). Pela estimativa de dezembro, o país cresceria 2,1%, neste ano, mais do que a média regional, avaliada então em 1,9%.
Para Osvaldo Kacef, diretor de Desenvolvimento Econômico da Cepal, a previsão de baixa de 1% no PIB é otimista, por considerar uma recuperação da economia, no segundo semestre: "Se o Brasil mantiver o ritmo do final de 2008, cairá 1,5% em 2009". O desempenho do PIB no quarto trimestre de 2008 (retração de 3,6% ante o trimestre anterior) foi decisivo para a revisão da estimativa.
A Cepal avalia que a região está mais preparada para os impactos financeiros da crise global, por ter acumulado reservas e reduzido dívidas, só não imaginava que os efeitos reais chegariam tão rápido. De acordo com Osvaldo Kacef: "Normalmente os impactos financeiros se sentem primeiro. Como a região está mais sólida, pensávamos que os efeitos iniciais da crise não seriam fortes, mas a economia real já foi atingida".
Nos Estados Unidos, a crise não dá tréguas e as políticas adotadas, embora não tenham o resultado desejado, continuam elevando o déficit fiscal do Governo. O déficit orçamentário dos Estados Unidos, em março, subiu mais do que o previsto e o acumulado no exercício fiscal em curso, iniciado em outubro do ano passado, atingiu um novo recorde de quase US$ 1 trilhão.
A expectativa dos analistas era de um déficit de US$ 160 bilhões para o mês de março. No primeiro semestre do exercício 2008-2009, o orçamento acumulou seis meses seguidos de déficit, o que não acontecia desde o exercício 2003-2004. O déficit acumulado no período mencionado subiu para US$ 956,799 bilhões, uma quantia duas vezes superior a de um ano atrás, segundo os números publicados pelo departamento do Tesouro.
Enquanto o déficit sofreu aumento recorde, o déficit comercial dos Estados Unidos é o menor em dez anos, puxado por um leve avanço nas exportações e pela sétima queda mensal das importações, por conta do esfriamento da economia. A desvalorização mundial do dólar está prejudicando várias economias e o aumento das exportações norte-americanas evidencia este fato.
Reflexo disto é o desempenho das exportações chinesas. Pelo quinto mês consecutivo as vendas da China ao resto do mundo sofreram retração e caíram 17,1%, em março de 2009, em relação ao mesmo mês, de 2008. Como a queda efetiva foi menor do que a prevista alguns analistas viram o resultado como positivo e sinal de melhora. A questão é saber: melhora de quê? A prova de que o erro na estimativa da queda não representa melhora nenhuma é dada pelo resultado das importações que caíram mais que as exportações, em 25,1%, em relação a março do ano passado, em um movimento mais acentuado do que o previsto, o que resultou na ampliação do superávit de US$ 4,8 bilhões em fevereiro para US$ 18,6 bilhões em março.
A China lançou, no final do ano passado, um pacote de US$ 585 bilhões, reduziu a taxa de juros e induziu bancos estatais a elevarem os níveis de crédito, o que levou a um aumento expressivo no nível dos empréstimos neste ano. Apesar de todo este esforço, a atividade econômica não reagiu conforme se esperava.
De acordo com projeções de economistas independentes, a economia chinesa deve apresentar neste ano crescimento entre 5,5% e 8%. Se confirmado, o resultado ficará bem abaixo dos 9% em 2008 e dos 13% em 2007.
Os dados da semana nos mostram, portanto, que, tanto a nível nacional como internacional, o cenário de crise se mantêm e continua a se expandir.

Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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