segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A flutuação suja do câmbio e a livre atuação do Estado na Economia

Semana de 19 a 25 de outubro de 2009


A taxa de câmbio representa o valor da moeda de um país em termos da moeda de outro país. Esta taxa varia de acordo com as condições econômicas internacionais, saída e entrada de moeda estrangeira na economia e medidas de política econômica. Nos últimos anos, o regime cambial predominantemente adotado na maioria dos países tem sido a flutuação suja, que consiste na flutuação da taxa de câmbio, mas sempre dentro de certos limites, normalmente estabelecidos pela autoridade monetária de cada país (Banco Central), que, quando necessário, intervém no mercado, geralmente comprando ou vendendo moeda estrangeira (leia-se dólares), para assegurar que não haja desvalorização nem sobrevalorização “excessiva” da moeda nacional. Atualmente, porém, a flutuação do câmbio tem sido cada vez menos livre e cada vez mais suja, isto é, determinada pela intervenção dos bancos centrais nos mercados de câmbio, não refletindo, frequentemente, as reais condições econômicas de um país.
A esse respeito, muito se tem falado da moeda chinesa, o yuan. Uma das principais críticas é a manutenção, por parte da autoridade monetária chinesa, de uma taxa de câmbio artificialmente desvalorizada em relação ao dólar, o que, juntamente com o aumento da produtividade da indústria do país e com os baixos salários, tem elevado significativamente o grau de competitividade dos produtos chineses no mercado internacional. Como consequência, os produtos dos demais países emergentes, como o Brasil, estão perdendo espaço no comércio internacional. Ao contrário do que vem ocorrendo na China, a intervenção do banco central brasileiro no mercado de câmbio não tem sido suficiente para manter o real desvalorizado, o que está prejudicando o setor exportador, já que a apreciação do real frente ao dólar torna os produtos brasileiros mais caros no mercado externo.
Este movimento de valorização do real se deve, em grande medida, ao enorme volume de capitais que tem entrado no país para compra de ações e outros ativos financeiros. De acordo com o banco central brasileiro, o investimento estrangeiro em ações de empresas brasileiras atingiu, em outubro, o seu nível mais elevado em 60 anos, chegando a um total de mais de US$ 13 bilhões. Se considerados ainda os investimentos externos em ativos de renda fixa, como os títulos públicos, esta cifra chega a quase US$ 40 bilhões. O fato curioso é que cerca de um terço deste dinheiro sequer chegou a entrar no país, já que se refere à compra de papéis de empresas brasileiras negociados na bolsa de Nova York. Ou seja, apenas os outros dois terços atuaram no sentido de pressionar o dólar.
Para tentar controlar o crescimento no fluxo de dólares, para esse tipo de “investimento”, o governo brasileiro passou a taxar, desde o dia 20 deste mês, as operações com ações e títulos. A partir de agora, elas irão pagar 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Segundo o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, caso essa medida não tivesse sido tomada, o dólar já estaria abaixo de R$ 1,50. Nas três primeiras semanas de outubro, as transações comerciais e financeiras internacionais já trouxeram para o país US$ 13,7 bilhões. Desse total, o banco central comprou quase a metade na tentativa de evitar uma queda ainda maior do dólar.
O câmbio valorizado também está afetando o investimento no setor produtivo. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), este ano, a formação bruta de capital fixo, que mede os investimentos realizados em máquinas, equipamentos e na construção civil, cairá de 15% a 17%, em relação a 2008. Com o real apreciado, aumentam as importações de bens de capital, diminuindo a demanda e a produção internas desse tipo de produto. Assim, os produtores brasileiros continuarão protestando e implorando pela desvalorização do real, sob pena de perderem mais competitividade e ficarem em condições desvantajosas em relação aos produtores chineses e dos demais países. Desse mesmo modo, os produtores de cada país continuarão solicitando aos seus governos medidas no mesmo sentido, o que nos leva a concluir que, em se tratando de comércio internacional, a intervenção do Estado continuará ocorrendo ativamente.
No estágio atual do desenvolvimento do capitalismo mundial, essa intervenção, porém, não se restringe apenas ao comércio internacional, estando direcionada a diversas esferas da economia. Mais uma vez, a China é um exemplo notório disto. O programa de estímulo à produção executado pelo governo chinês aplicou quatro trilhões de yuans, o equivalente a US$ 586 bilhões, em ferrovias, rodovias, usinas de energia elétrica e habitação pública. A preocupação de alguns analistas agora é como manter o ritmo de crescimento da economia chinesa com o fim do programa, que termina no próximo ano. Mas esta intervenção do Estado na economia não se restringe apenas a países em desenvolvimento. Países economicamente avançados, como Estados Unidos e Inglaterra, também estão realizando grandes intervenções em suas economias, principalmente depois da destruição financeira e das falências de empresas provocadas pela crise.
No Brasil, os economistas do mercado financeiro esperam uma elevação na taxa básica de juros, a Selic, em 2010, de acordo com pesquisa realizada pelo banco central. Atualmente, em 8,75% ao ano, a aposta dos analistas é que suba para 10,5% até o final do próximo ano. Dentre os fatores que contribuíram para essa expectativa de elevação da Selic, estão os incentivos fiscais e a elevação dos gastos com a proximidade das eleições presidenciais. A preocupação com a inflação continua sendo bem maior que a preocupação com o desemprego. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego caiu para 7,7% em setembro, mas, em contrapartida, houve uma piora na criação de empregos formais. Conforme os dados do instituto, os empregos com carteira assinada atingiram 54,9% da população ocupada, o menor nível do ano. Em setembro, os empregos com carteira assinada tiveram uma redução de 29 mil postos, o que significa uma piora na qualidade dos empregos criados no país.
A busca incessante do governo para conseguir manter a inflação sob controle é algo que já se tornou marcante na política econômica brasileira, tendo sido o seu principal objetivo nos últimos anos. Entretanto, a redução do desemprego não tem se mostrado, nem de longe, uma meta que a política econômica persistentemente busque alcançar. A intervenção nesse sentido parece não ser tão importante dentro do jogo de interesses políticos, ainda mais num país em que o assistencialismo social constitui uma arma importante para a obtenção de votos e para a promoção de candidatos em campanhas eleitorais.




Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br 

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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Um copo meio cheio ou meio vazio?

Semana de 12 a 18 de outubro de 2009

Dados econômicos divulgados na primeira quinzena deste mês mostraram uma realidade complexa acerca da recuperação e do crescimento da economia brasileira. Tais informações criam uma situação similar à da visão de um copo cheio até a metade, que uns podem considerar meio cheio e outros, meio vazio.
A produção industrial continua a se recuperar, mas ainda se encontra em um nível 10% abaixo do que se encontrava em agosto de 2008. Alguns setores conseguem avançar mais rápido do que outros: é o caso dos setores de material de construção, papel e celulose, além das indústrias automobilísticas e de eletrodomésticos. A recuperação destes segmentos foi fortemente apoiada pelos incentivos do governo, como o programa “Minha Casa, Minha Vida”, a ampliação do crédito imobiliário de bancos públicos e a isenção de IPI para carros e eletrodomésticos (linha branca).
Outros setores, como o da metalurgia e de bens de capital, que sofreram as maiores quedas no uso da capacidade instalada, 19,2% e 29,3%, respectivamente, caminham a passos mais lentos. E há ainda aqueles mais preocupantes, como os setores de calçados e vestuário, setores tradicionalmente exportadores que, além da restrição de crédito externo e interno, sofrem com a competitividade dos produtos importados, especialmente chineses, devido à valorização do real nos últimos meses.
Mesmo que o setor produtivo celebre o termino da fase “fundo do poço”, e que tenha conseguido criar 123.318 postos de trabalho em setembro, foi o setor de serviços quem mais contratou trabalhadores nos primeiros oito meses do ano, seguido pela construção civil, agricultura e comércio. Enquanto o setor de serviços gerou 411.426 postos de trabalho, o industrial criou 62.759, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Sabemos que estes dados falseiam a realidade, pois, por imprecisão e pouco rigor científico das Contas Nacionais, o chamado setor de serviços esconde  muitas atividades industriais que, por falta de critérios científicos aí são classificadas.
O IBGE informa que a folha de pagamento na indústria, no acumulado dos oito primeiro meses do ano, caiu de 2,2% em comparação ao mesmo período de 2008.
Como comentamos em análises passadas, o que está surpreendendo o governo é a queda da arrecadação da Receita Federal. Para os especialistas, está ocorrendo o chamado “financiamento tributário”, ou seja, as empresas que ainda estão com insuficiência de caixa preferem atrasar o pagamento de impostos a pedir empréstimos para tapar os buracos nos seus balanços.
Analistas do governo avaliam que o Ministério da Fazenda esperava que o crescimento na economia tivesse reflexo positivo sobre a receita tributária já neste terceiro trimestre, o que, de fato, não ocorreu. Com isso, a equipe econômica tende a não conceder novas reduções de impostos ou prorrogar as existentes. Algumas empresas do setor de eletrodoméstico, por exemplo, já reivindicam a extensão do prazo de redução do IPI até o final do ano. Além disso, o governo reduziu, de R$ 522 milhões, para R$ 466 milhões, o seu orçamento anual.
O Banco Central (Bacen) prevê aceleração do déficit em conta corrente entre 2009 e 2010. A maior parte deste déficit decorre exatamente do resultado da balança comercial, com importações crescendo mais do que as exportações, como também da entrada de capital especulativo, o chamado “hot money”, voltado para os mercados de ações e de títulos da dívida.
Além disso, o Bacen, em apenas sete dias deste mês, realizou uma série de compras de dólares no mercado doméstico interbancário. Estas compras giraram em torno de US$ 5,3 bilhões. Embora não seja revelado, o objetivo principal de tal ação foi impedir uma valorização maior do real diante o dólar, com o conseqüente aumento do montante das famosas reservas nacionais. O que não se costuma revelar é o custo dessas transações para a dívida pública brasileira. O Banco Central, ao comprar grande quantidade de dólares, lança, no mercado, uma quantidade correspondente de reais. Para fugir à pressão que estas emissões possam causar sobre as taxas de inflação, ele é obrigado a “enxugar” este excesso, o que tem feito através do lançamento de títulos da dívida pública, em geral, atrelados à taxa Selic. O resultado é o aumento da dívida e do volume dos juros que já não se consegue pagar, abalando a credibilidade do governo.
Na economia dos Estados Unidos, por sua vez, o Federal Reserve, Banco Central do país, informou que o programa de compras de títulos atrelados a hipotecas e de títulos públicos de longo prazo, que seria encerrado em 31 de dezembro próximo, será estendido até março de 2010. Receosos quanto à fragilidadeda economia norte-americana, a equipe do Fed sinaliza que poderá expandir as compras de ativos, caso asperspectivas não melhorem. O Fed também resolveu manter a taxa básica de juros próxima a zero.
Além disso, ao longo dos últimos tempos, o dólar vem se desvalorizando em relação ao euro e às outras moedas, como o iene e o real. Tal tendência tem causado sérias dificuldades para a recuperação do comércio internacional. O que tem ocorrido é a redução ou o adiamento de pedidos dos varejistas das nações ricas aos países tradicionalmente exportadores, como Japão, Coréia do Sul e China. Conforme o Fundo Monetário Comercial, o volume de comércio mundial vai cair 11% este ano, e crescerá apenas 2,5% no ano que vem.
Na União Européia, a situação também causa preocupações. O Banco Central europeu (BCE) decidiu manter a taxa de juros em 1%, a mais baixa em sua história. Em pronunciamento, Jean-Claude Trichet anunciou que a zona do euro continua a se recuperar economicamente e que a fase de queda livre acabou. Contudo, ponderou sobre uma rápida recuperação ao afirmar: “Em geral, a recuperação deverá se manter bastante irregular”.
Como estamos vendo, tudo aponta para um processo de recuperação lento e cheio de tropeços.

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestre em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br 

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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A taxa de juros nos ameaça novamente

Semana de 05 a 11 de outubro de 2009

A previsão que fizemos acerca da recuperação da economia vai cada vez mais sendo confirmada. Podemos afirmar que a fase de crise do ciclo econômico já foi ultrapassada e estamos em plena fase de depressão. Como se sabe, o ciclo econômico é composto por quatro fases: crise, depressão, reanimação e auge. Com certeza, dentro de algum tempo, passaremos para a fase de reanimação, mas, segundo nossa opinião, ela ainda não começou. Talvez já tenhamos ultrapassado o fundo do poço, mas isso não significa que tenhamos entrado na fase seguinte. Os dados que surgem confirmam estas previsões.
O mercado já alterou suas estimativas para o crescimento do PIB, no ano, sugerindo o número muito preciso de 0,001%. Há informações sobre alguma recuperação da produção do setor de máquinas e equipamentos, mas os analistas atribuem isto a necessidade de reposição de equipamentos. Segundo Thaís Marzola Zara, economista sócia da Rosemberg & Associados, o fato se deve à “reposição de peças”. “A retomada de investimentos deve ocorrer mesmo em 2010.” Para Mário Bernardini, diretor de economia da Abimaq entidade que representa a indústria de máquinas, o movimento “está longe do que pode ser considerado uma retomada”. A indústria de bens de consumo duráveis também dá alguns sinais positivos, apoiada pela redução do IPI que o governo já pensa em prorrogar. 


Classes e gêneros de indústrias selecionados - Set. 09
Variação acumulada no ano(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.



 Indicadores conjunturais do setor de bens de capital - Set. 09(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
 Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Mensal, disponível em  http://www.iedi.org.br



Com efeito, a recuperação é observada nos estados ligados à produção de automóveis e eletrodomésticos. No setor exportador, a Vale tem se mostrado otimista com o volume de suas vendas. No mês de setembro, em comparação com agosto, as exportações de aços planos aumentaram 69,5%, e as de fio-máquina, 36,6%. As exportações de celulares cresceram 32% e, no total, o volume de produtos manufaturados teve um aumento de 10,3% em setembro, em relação a agosto, embora ainda esteja 30,5% abaixo dos valores de setembro do ano passado. 
No resto do mundo, a situação segue no mesmo ritmo. Os indicadores publicados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) mostram que a retomada do setor produtivo é lenta e difícil. Na zona do euro, apenas a Itália e a França vêm apresentando uma recuperação mais forte. Nos EUA, a situação ainda é preocupante. Não há sinais de recuperação do volume de crédito para os consumidores. Em julho, por exemplo, a queda do crédito atingiu uma taxa anualizada de 10,4%, a maior desde o começo da crise. A Delphi, a maior fabricante de autopeças americana, conseguiu sair da concordata em que se encontrava, mas teve de encerrar 21 das 29 fábricas que possuía, cortar 50% da mão de obra empregada e 40% dos trabalhadores administrativos. O desemprego subiu para 9,8%, a maior taxa desde 1983. Além disso, os pacotes de ajuda às empresas falidas estão contribuindo para atingir o recorde do déficit público federal, que é de US$ 1,6 trilhão. Em relação aos outros países capitalistas desenvolvidos, o desemprego é também o problema para o qual não se encontra solução, e o máximo que se tem conseguido é uma certa estabilização.



Brasil e países selecionados: variação da produção industrial
Variação no mês em relação ao mês anterior - com ajuste sazonal - %(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
  Fonte: IBGE e Órgãos Nacionais de Estatísticas, disponível em http://www.iedi.org.br


Brasil e países selecionados: produção da indústria de transformação
Variação em relação ao mesmo período do ano anterior(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Fonte: IBGE-PIM (Brasil) e OCDE - Main Economic Indicator, disponível em http://www.iedi.org.br


Ao que parece, todo o berreiro dos dirigentes mundiais nas diversas reuniões para encontrar uma saída para a situação não se está transformando em medidas práticas minimamente credíveis, o que tem provocado protestos e desabafos. Em Istambul, por ocasião da reunião do FMI e do Banco Mundial, o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz propôs a criação de um imposto sobre transações financeiras para cobrir os danos causados aos países pobres, “vítimas inocentes”, culpando o setor financeiro pela catástrofe. Segundo ele, “o setor financeiro contaminou a economia global com ativos podres e agora precisa limpa-la”. Ele lembrou que, no começo do ano, em uma hora, Washington aprovou uma ajuda, aos banqueiros, de US$ 700 bilhões, o equivalente a toda ajuda externa global, de uma década, aos países atrasados, o que invalida o argumento de que não há dinheiro para o desenvolvimento.
Diante da situação de indefinição geral, causou impacto a notícia de que o banco central da Austrália subiu suas taxas de juros para 3,25%, com um aumento de 0,25%. A repercussão foi imediata nas bolsas de valores e mercadorias, provocando o nervosismo do sobe e desce.
No Brasil, a notícia também teve repercussões. Enquanto o presidente do Banco Central, HenriqueMeirelles, prepara aceleradamente a sua sucessão, na iminência de sua candidatura nas próximas eleições,procura garantir as bases que permitam a continuação da política de taxas de juros altas, por ele defendida.Diferentemente do que se poderia pensar, a escolha não é feita pelo presidente da República, mas por ele.Os jornais já especulam com o nome do diretor de normas, Alexandre Tombini, como o possível sucessor.Em relação a política monetária do banco, temos que a análise do último boletim do BC deixa insinuações de elevação da Selic para o próximo ano, além de fazer críticas às medidas tomadas pelo governo de aumento dos gastos públicos. O nervosismo do Meirelles provocou a desconfiança do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Aterrorizado com a possibilidade de elevação da Selic, apressou-se a afirmar que a economia não está aquecida e o crescimento no próximo ano não ultrapassará os 5%. Também presente na reunião do FMI de Istambul, continuou a contar bravatas sobre o empréstimo de US$ 10 bilhões que o Brasil fará a essa instituição, empréstimo que renderá juros de 0,25% ao ano. O negócio feito pelo BC é um pouco mais “inteligente”, pois, na atual situação, os dólares das reservas ou nada rendem, ou têm rendimentos próximos de zero, que são os juros pagos pelos títulos do tesouro dos EUA, onde eles estão aplicados. Não disse, porém, uma única palavra sobre a dívida pública interna, que já bateu todos os recordes.
Para tornar mais complicada a situação do país, a semana assistiu ao disparo do real, frente às principais moedas. No ano, a moeda nacional já se valorizou 34,42% em relação ao dólar, 29,10%, em relação ao euro, 49,35% em relação ao peso argentino e 33,73% em relação ao iene. Embora isto represente um sinal positivo para a economia, traz péssimas conseqüências para o setor exportador de produtos industrializados, que já se encontra em grandes dificuldades. Com certeza, teremos grandes novidades nos próximos meses de um ano pré-eleitoral.


Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br 

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

As seqüelas da crise entravam a recuperação

Semana de 28 de setembro a 04 de outubro de 2009

Na Grande Depressão de 1929, configurada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, a economia norte-americana, após uma curta recuperação, sofreu uma nova crise em 1937 e foi atingida pelas conseqüências da guerra em 1939, o que provocou oscilações bruscas do PIB do país por mais de uma década. Na crise atual, excluída a guerra, a história poderá repetir-se. Depois da quebra do Lemhan Brothers e do escandaloso socorro governamental para que outros grandes bancos não quebrassem, a economia mundial passou por mais momentos de pânico. Os PIB´s da maior parte das economias capitalistas, principalmente das desenvolvidas, registraram retrações acentuadas durante vários trimestres consecutivos.
Contudo, nos últimos dois trimestres, houve uma trégua, de modo que algumas economias pararam de sofrer “queda livre”, e outras vêm registrando resultados positivos em suas taxas de crescimento, embora este sejam modestos. Observa-se, ainda, aumento nas exportações de alguns países.
A falta de perspectiva histórica e do devido conhecimento acerca do fenômeno crise no capitalismo têm levado a grande maioria dos analistas de mercado e os governos a acreditarem que a recuperação já começou e que, daqui para frente, é só melhora. Mas, não querendo decepcionar ninguém, nem tão pouco afirmar que o fim está por vir, acho importante esclarecer aos que fazem parte do grupo que vê a crise como coisa do passado que esta é uma conclusão precipitada. Pelo contrário, a crise é coisa do presente e continuará a fazer parte da história do capitalismo neste inicio de século.
Quem conhece o fenômeno em sua essência, sabe que são necessárias determinadas evidências empíricas muito claras para comprovar uma mudança no movimento cíclico. Com efeito, há indicadores que demonstram a fragilidade de uma possível recuperação.
Alguns dados são suficientes para comprovar esta afirmação. Um relatório sobre a saúde financeira global divulgado pelo FMI mostrou que o sistema bancário mundial ainda não percorreu metade do caminho para levantar o capital necessário para cobrir as perdas relacionadas à crise global. Estima-se que, até o final de 2010, os bancos terão de obter mais de US$ 1,5 trilhão para limpar seus balanços dos déficits resultantes dos calotes nos empréstimos concedidos e para efetuar as baixas contábeis provocadas pela perda quase total no valor de parte dos seus ativos, os tais “ativos podres”. O montante a ser levantado é maior que o PIB da maioria dos países capitalistas existentes.
De acordo com o FMI, os bancos já cobriram perdas relacionadas à crise equivalentes a US$ 1,3 trilhão. Esta cifra foi estimada considerando-se a valorização das ações dos bancos, os lucros auferidos e os capitais que levantaram no mercado com a ajuda de dinheiro público. O problema é que agora os governos já estão suspendendo os pacotes de ajuda, pressionados pelo aumento acelerado de seus déficits e devido à crença de que o processo de recuperação das economias já começou.
Mas, segundo José Vinals, do FMI, “os bancos ainda precisarão do suporte dos governos, tanto para cobrir rombos, como para oferecer mais crédito a consumidores e empresas, na medida em que a atividade econômica ganhar mais força”. Ele completa: “os governos ainda terão de continuar sustentando o sistema e o processo de desendividamento dos bancos, para que eles tenham fôlego para oferecer crédito ao mercado”.
Neste caso, pelo menos dois problemas podem ser identificados: o primeiro diz respeito à capacidade dos governos de assegurarem, ao mercado, toda a liquidez que ele necessita para evitar uma crise de insolvência generalizada. O segundo vai além da ação dos governos, constituindo-se em um comportamento espontâneo dos agentes em um momento como este. Tal comportamento é denominado de “desalavancagem” e representa o período no qual tais agentes (empresas e famílias) precisam conter seus gastos a fim de alinhar seus ativos com seus passivos. Com exceção do governo, é esta a postura assumida pela maior parte das empresas, bancos e famílias norte-americanas. Sendo assim, enquanto esta atitude predominar, existirão, ainda, grandes entraves à recuperação, mesmo que o Estado seja capaz de continuar gastando demasiadamente.
Os relatórios do FED, por sua vez, demonstram que o processo de desalavancagem está apenascomeçando. Isto é evidenciado, de um lado, pelas quedas acentuadas nos níveis de captação dos bancos e  empresas e pelos gastos das famílias. De outro, pelo imenso tamanho de suas dívidas. Ao contrário do queparece, ou do querem demonstrar, há grandes dúvidas sobre o fim da atual crise, que ainda pode estar longe!
A taxa de desemprego dos Estados Unidos continua a aumentar. No mês de setembro foram fechados 263 mil postos de trabalhos, o que elevou a taxa de desemprego da população economicamente ativa, de 9,7%, para 9,8%. Segundo o Departamento de Trabalho, esta foi a taxa mais alta desde junho de 1983, com o número de empregos caindo pelo vigésimo primeiro mês consecutivo.





Taxa mensal de desemprego para os Estados Unidos - Jan.99/Sep.09(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.


Para se ter uma idéia do tamanho do prejuízo, desde o início da crise, o número de pessoas desempregadas praticamente dobrou, passando, de 7,6 milhões, para 15,1 milhões.
Na Zona do Euro, a situação do emprego também é complicada, tendo a taxa de desemprego, que era de 9,5% em julho, subido para 9,6% em agosto, o maior patamar dos últimos 10 anos. As empresas continuam a eliminar postos de trabalho, apesar das duas maiores economias do bloco (França e Alemanha) terem registrado resultados positivos no PIB no segundo trimestre do ano. A previsão do FMI é que o desemprego no bloco atinja uma taxa de 11,7%.



Taxa de desemprego para a União Europeia - Set.09(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

A crise atual fez com que as taxas de desemprego das economias desenvolvidas suplantassem aquelas registradas nas economias subdesenvolvidas. Atualmente, enquanto a taxa de desemprego no Brasil, historicamente elevada, está em 8%, nos Estados Unidos e na Zona do Euro, ela aproxima-se de uma taxa de dois dígitos.
O G-20, criado com a missão de impor rédeas ao mercado financeiro mundial e meios de coordenação de política econômica num mundo globalizado, continua com muitas dificuldades em criar as normas necessárias para tanto. Até agora, o G-20 sabe o que quer fazer, mas o grande problema é como operar.
Em sua última reunião, concluiu-se que é necessário aumentar o tamanho das reservas em capital por parte dos bancos e controlar o pagamento de bônus aos executivos das finanças. No entanto, tudo se complica no momento de definir como fazer isto.
Durante o encontro do G-20 em Pittsburgh, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, demonstrou muita revolta contra os banqueiros. Sarkozy acusou-os de terem contado “duas grandes mentiras” aos governos. Segundo ele, os banqueiros mentiram quando argumentaram contra a necessidade de regulamentação, para ajudar na integração econômica global, e quando insistiram que sempre administraram os recursos de modo mais prudente que os governos. Ele disse ainda que estava farto de ouvir mentiras dos banqueiros e conclamou os outros líderes a não deixarem passar a ocasião para endurecer a regulamentação do sistema bancário e o controle dos bônus de executivos financeiros. Apesar da revolta do presidente francês, até o momento, o G-20 não conseguiu estabelecer marco regulatório nenhum.
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, tem demonstrado preocupação neste sentido. Segundo ele, o risco, neste momento, não é mais de um “colapso na economia mundial”, mas o da “autocomplacência”. Afirmou que “se a crise melhorar, haverá uma tendência natural de as coisas voltarem a ser feitas como antes e será mais difícil convencer os países a cooperarem na solução de muitos dos problemas que provocaram esse colapso”.
Zoellick afirmou ainda que esses problemas puseram em perigo as vidas de milhões de pessoas, destacando a importância de aproveitar o momento para promover todas as reformas necessárias. Na visão dele, um dos legados desta crise foi o de demonstrar a importância de uma mudança na estrutura econômica global do poder.
Finalmente, concluiu que a importância de várias economias emergentes na atual recuperação aponta para a necessidade da construção de uma economia multipolar, menos dependente do consumidor americano.


Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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