domingo, 25 de abril de 2010

Será?

Semana de 12 a 18 de abril de 2010


Caro leitor, os números não mentem. O país está se recuperando da crise. A taxa de desemprego já é menor do que no pré-crise (7,1%), a produção industrial atingiu um índice de 126,57 pontos (2002=100) e as vendas no varejo alcançaram 167,36 pontos (2003=100).Dados como estes fazem analistas acreditarem que a economia crescerá em torno de 2%, do último trimestre de 2009, para o primeiro trimestre de 2010, o que corresponderia a uma taxa anualizada de 8,4%. Há quem diga, como o economista chefe da consultora Convenção, Fernando Monteiro, que o PIB vai crescer 7,1%. Já o economista chefe do J. P. Morgan, Fábio Akira, argumenta que, se confirmada essa variação positiva de 2%, o crescimento será de 6,5%. Este é o teto previsto pelo IPEA, que aponta como piso o mesmo valor, o que é também referendado pelo projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias. Um dos diretores do IPEA, João Sicsú, afirmou que o consumo das famílias e o aumento do emprego, da renda e do crédito servirão como motor deste crescimento. Sicsú apresentou esta previsão ao justificar o erro de previsão cometido pelo Instituto, em 2009, quando previu uma taxa de crescimento do PIB entre 0,2% e 1,2%. Na verdade esta taxa mostrou um decrescimento de -0,2%).
Tudo isso é reflexo das condições de produção e circulação dos produtos no mercado interno, visto que neste ano o saldo comercial já é 65,7% menor do que no ano passado. A média diária de exportações e importações, entre janeiro e abril de 2010, ante o mesmo período de 2009, cresceu 25,4% e 38,1%, respectivamente.
Apesar do fim da redução do IPI, o levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica afirma que 82% das empresas aumentaram suas vendas e o número de empregos atingiu 165,2 mil postos (nível pré-crise). A expectativa é de que o crescimento seja 11% maior do que o de 2009. Já a Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos prevê que, mesmo com o fim do estímulo fiscal, ocorrerá um crescimento de 20% de encomendas no varejo, sendo que na linha branca esse aumento será de 25%, no primeiro trimestre de 2010, quando comparado com 2009. Já o Instituto Nacional de Distribuição de Aço, registrou um crescimento de 34% nas vendas de aço plano, no primeiro trimestre de 2010, quando comparado com o mesmo período de 2009. No setor têxtil a aposta é de crescimento de 4% a 5% em 2010.
Em conjunto com isso temos o aumento do número de horas pagas na indústria, que cresceu 1,5%, entre fevereiro e janeiro de 2010. No bimestre a alta foi de 0,7%. Isto denota que, antes de investir em expansão da capacidade produtiva, os empresários preferem aumentar a jornada, diante das perspectivas incertas quanto à robustez da atual recuperação. A Fiat, por exemplo, bateu o recorde de vendas de automóveis no início deste ano, com um total de 167,5 mil veículos, ante a cifra de 155 mil, em 2008. Mas, a produção da montadora até aqui ficou longe dos 190,3 mil carros produzidos em 2008, com um total de 171,8 mil em 2010. Isso é atribuído à antecipação do consumo, causada pelo IPI zero. "Para diminuir o uso de horas extras, que chegou a 52 horas semanais, segundo avaliação do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, a Fiat fechou no mês passado um acordo para admitir mil empregados definitivos até o fim de maio" (Valor Econômico, 13/04/2010).
O que dizem alguns é que esta cautela tem fundamento. O National Bureau of Economic Analysis (NBER), responsável pela datação do ciclo econômico norte americano, afirma que é muito cedo para comemorar o fim da depressão naquele país. Para ele "embora muitos indicadores tenham melhorado, ... seria prematuro afirmar que os dados já chegaram ao fundo do poço". O NBER define recessão como "uma redução significativa na atividade econômica por um período sustentável. O declínio seria visível no PIB, no mercado de trabalho, na produção industrial, no comércio e nos salários". São visíveis os motivos dessa preocupação: a economia conseguirá andar sem segurar a mão do governo? Lembremos que o BNDES aumentou em 37% o desembolso de recursos, atingindo R$25,497 bilhões, sendo que destes, R$9,9 bilhões (40%) foram para a infraestrutura (PAC) e R$7,7 bilhões para a indústria (30%).
Diante dos fatos, o que dizer da superação da crise? Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que tudo isso é fogo de palha?
Nos próximos meses saberemos as respostas.


Texto escrito por:

Lucas Milanez de Lima Almeida: Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB, Mestrando em Economia pelo CME-UFPB e membro do Progeb.
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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Avatar, um sonho quase impossível ou simplesmente adiado?

Semana de 05 a 11 de abril de 2010



Será possível realizar a mais básica aspiração dos seres humanos que é a satisfação das suas necessidades de forma sustentável, em harmonia, equilíbrio e estabilidade?
No cenário internacional alguns destaques merecem a atenção do leitor. Nos Estados Unidos, continua débil a tendência para a recuperação do mercado de trabalho. Segundo pesquisa do Business Roundtable, entidade que reúne presidentes das grandes empresas note americanas, 29% dos associados revelam que pretendem aumentar seus quadros; 21% dizem que os vão reduzir e a metade pretende manter o número de empregados. A economia daquele país tem encontrado obstáculos significativos à sua retomada, dentre os quais a estagnação do setor imobiliário. Segundo o Presidente do Banco Central americano Ben Bernanke, numa situação ainda de estagnação, não há pressa para elevação da taxa de juro. Na economia européia, a retomada é morna, mantendo-se estável o crescimento do PIB, nos dois últimos trimestres, enquanto o Euro vem sofrendo pressões para desvalorização, um pouco por todo o mundo. Na semana em análise, sua cotação foi de R$ 2,3692, segundo as notícias veiculadas pela mídia, desde maio de 2002, foi alcançada. Na China, o terceiro maior banco em ativos, Banco Agrícola da China prepara-se para abrir o seu capital através de uma operação que poderá levantar US$ 29 bilhões e que será a maior do gênero já alguma vez registrada no mundo. Em 2009, aquela empresa financeira gerou um lucro líquido de US$ 9,5 bilhões. Até Cuba não consegue ficar alheia ao movimento de abertura que comanda a generalidade das economias do planeta. O setor açucareiro, deixará de ser estatal, para tornar-se de economia mista tentando atrair investidores.
Tudo que foge a essa regra permanece no mundo da ficção, como Avatar!
Quanto ao crescimento econômico, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE prevê para os países do G7 (EUA, Japão,Alemanha, Reino Unido,França Itália e Canadá), um crescimento fraco no PIB, nesse primeiro trimestre, de 1,95%. Para a economia dos Estados Unidos projeta-se uma taxa de 2,4%, no acumulado de janeiro a março, e de 2,3%, entre abril e junho. A maior parte do crescimento da economia mundial desse ano deverá decorrer do crescimento de países, que não constaram do relatório da OCDE, como o Brasil, a China e a Índia.
China e Brasil continuam a travar forte disputa por mercados. Em 2006, o Brasil exportou para o Chile US$ 207 milhões de dólares em telefones móveis e a China, US$24,6 milhões. No ano passado as exportações brasileiras caíram para US$84 milhões, enquanto as dos chineses subiram para US$ 217 milhões. No setor agrícola, finalmente, o Brasil conseguiu a redução de subsídios do governo americano aos seus produtores de algodão.
Internamente, no senado, foi aprovado o aumento da cota de participação brasileira no Fundo Monetário Internacional - FMI, e, consequentemente, o seu poder de voto naquele organismo internacional. No campo econômico a Ford no Brasil manifestou o propósito de investir um montante de R$ 4 bilhões, entre 2011 e 2015. Foi decidido o reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras com efeitos positivos para a EMBRAER. As vendas de Pcs cresceram 33%, nesse trimestre e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADES aprovou a compra da Kaiser pela holandesa Heineken.
Em meio a isso tudo, o único elemento novo que pode alimentar um sonho de Avatar é a presença do autor da superprodução, o realizador canadense James Cameron, que veio ao Brasil e pediu ao presidente brasileiro que assuma o papel de "herói", anulando a construção, na Amazônia, da terceira maior barragem hidroelétrica do mundo, que, apesar de envolver riscos ambientais recebeu, no início de fevereiro, o aval do ministério do Ambiente.
Mas, lamentavelmente, o almejado mundo nos moldes de Avatar continua a ser um sonho quase impossível e somente alguns utopistas como o Sting, os ecologistas, além de naturalmente os índios das margens do Xingu, estão neste momento em sintonia com aquela petição.


Texto escrito por:

Elivan Gonçalves Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br.
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domingo, 18 de abril de 2010

O Brasil às Vésperas das Eleições

Semana de 29 de março a 04 de abril de 2010



A euforia política e partidária já começa a tomar conta do cenário nacional, puxada pelas velhas estratégias preliminares de troca de acusações entre candidatos, inaugurações de obras de caráter eleitoreiro, denúncias e manipulação de dados e pesquisas.
No jogo político, os indicadores econômicos e sociais são muito utilizados, seja como meios de angariar votos, seja como armas para a crítica da oposição, e não ocorrerá de maneira diferente nas eleições que se aproximam. Mais uma vez os problemas econômicos estarão no centro do debate político. Situação e oposição já começam a preparar os argumentos que serão usados em seus discursos.
Não foi a toa, portanto, que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ganhou uma segunda versão chamada de PAC 2, formado por um conjunto de ações e medidas que, em sua grande maioria, já estavam previstas em sua primeira versão, mas que devido ao contingenciamento de recursos, e a incapacidade do governo, não foram realizadas. Dos 913 projetos previstos na nova etapa do programa para os setores de energia, transportes e recursos hídricos, 64% são provenientes da primeira fase, lançada em 2007. O PAC 1 estipulou investimentos da ordem de R$ 638 bilhões, até o final de 2010, mas, de acordo com o próprio governo, até final de 2009, apenas 40,3% das ações foram concluídas. Isto significa que em três anos, não se conseguiu realizar nem a metade daquilo que estava previsto para ser realizado em quatro anos.
Agora, no último ano, não por acaso ano de eleições, o governo lança o PAC 2 e começa a liberar de forma bem rápida os recursos que haviam sido contingenciados, em mais uma de suas estratégias de marketing político.
O afrouxamento dos gastos públicos, porém, é fonte de preocupação para o Banco Central (BC), que já espera uma taxa de inflação anual, acima do centro da meta de 4,5%, para 2010. A expectativa do BC já passou para uma taxa de inflação de 5,2%, neste ano, puxada pela demanda interna e elevação nas operações de crédito. Com isso espera-se também um aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 8,45%. De acordo com o próprio BC, ela deve encerrar o ano em 11,75%.
O setor de construção civil, por sua vez, vê com grande otimismo esse crescimento da demanda. O indicador do nível de atividade do setor registrou 53,2 pontos, em fevereiro. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), índices acima de 50 pontos indicam aumento no nível de atividade. Em janeiro a construção civil contratou 62.755 trabalhadores formais. Nos últimos 12 meses o nível de emprego no setor cresceu 11,57%.
Já os demais ramos industriais, não estão satisfeitos com os processos de fusões e aquisições no varejo brasileiro, os fabricantes temem perder seu poder de negociação com a criação de gigantes varejistas, como a que resultou da união entre o Pão de Açúcar, o Ponto Frio e as Casas Bahia. Para representantes da indústria, o aumento da concentração no varejo, deverá resultar em acordos de venda exclusiva entre indústrias e redes de lojas.
Às vésperas das eleições e em ano de copa de mundo, é provável que os problemas econômicos percam o foco e sejam tratados do ponto de vista político e eleitoreiro. Mas, enquanto isto ocorre, a economia continuará funcionando, a concorrência continuará atuando e novos fatos surgirão neste complexo processo que é o desenvolvimento, mesmo que, momentaneamente, esses problemas sejam esquecidos ou tenham a sua natureza desviada, durante este ano de acontecimentos extraordinários.



Texto escrito por:

Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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terça-feira, 13 de abril de 2010

Os Sinais da Mudança de Fase do Ciclo Econômico Brasileiro

Semana de 22 a 28 de março de 2010



Em análises anteriores, estivemos acompanhando o surgimento de forças capazes de gerar uma crise complementar que, mesmo sendo deflagrada na Zona do Euro, afetaria todo o mundo, com diferenças de intensidade nos impactos causados em cada país. Até agora, entretanto, não surgiu o agente deflagrador do “novo mergulho”, o que não significa dizer que a situação de instabilidade foi ultrapassada.
A situação da Grécia continua má, com os agentes dos mercados de títulos perdendo gradualmente a confiança no país. Isto por que ela tem pouco tempo e muitos recursos para captar: € 11 bilhões até o fim de abril, para financiar dívidas vencidas e o déficit orçamentário. Neste cenário, o banco central grego prevê uma retração de 2% de seu Produto Interno Bruto este ano, mesmo nível de retração que se prevê para 2009. Tudo isto acabou refletindo, na bolsa de valores do país, que caiu 3% na segunda-feira passada.
Na Itália, por sua vez, a situação também preocupa. A Fiat, por exemplo, planeja demitir mais do que o esperado, eliminando 5 mil postos de trabalho no país, segundo a imprensa italiana. Além disso, o Banco da Itália estima que as autoridades locais possam estar expostas a perdas de € 1 bilhão em virtude de fraudes na emissão de derivativos complexos. Tal situação da economia italiana não é nada animadora, sabendo-se que sua razão Dívida/PIB é estimada em 116,9% pelo seu Ministério das Finanças. Ou seja, nem todo Produto Interno Bruto anual deste país é suficiente para o pagamento de suas dívidas.
Todavia, apesar de tudo o que foi exposto, como já dissemos, a crise complementar não foi deflagrada. E, sem esta restrição externa, o caminho da recuperação está livre para a economia brasileira. Com isto, os sinais desta recuperação, para a qual o país já se encaminhava, tornam-se cada vez mais claros.
Em janeiro deste ano, o crédito na economia brasileira teve uma expansão de 16,8% em relação a janeiro do ano passado. Em destaque está o crédito para pessoa física. Para se ter uma idéia, no Banco do Brasil, por exemplo, esta linha de crédito foi elevada em R$ 8,2 bilhões para atender à procura, que já atingiu os níveis do período pré-crise. Corroborando com o estímulo do crédito ao consumo, as taxas de juros para o consumidor atingiram o menor patamar desde o início da série histórica em 1994, 41,9% ao ano. Neste cenário, o Banco Central do Brasil prevê um crescimento de 18% do crédito este ano, sendo puxado por um crescimento de 21% do crédito à pessoa física.
No cenário produtivo, o consumo de energia da indústria, em fevereiro, cresceu 14,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, atingindo um consumo de 14,438 GW/h, patamar de consumo do período pré-crise. Em virtude da recuperação da atividade econômica nos últimos meses, os pedidos de seguro desemprego caíram 33%, de agosto de 2009 a janeiro deste ano, mostrando que as demissões estão reduzindo seu ritmo. Não é a toa que, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional das Indústrias, CNI, o medo de perder o emprego por parte dos brasileiros teve queda de 4,1%, no primeiro trimestre do ano, em comparação com o último do ano anterior.
Ao que tudo indica, portanto, estão se preparando as condições necessárias para a retomada dos investimentos. Confirmando esta idéia, uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela Fundação Getúlio Vargas, FGV, mostra que o setor industrial planeja investimentos, contratações e reorganizações produtivas capazes de ampliar seu potencial produtivo em 14,6%, em média, tratando-se do maior percentual apurado nos últimos anos, segundo a instituição.
Concluímos, em virtude disto, que a retomada de confiança do setor financeiro, o aumento da produção e o vislumbre do início da retomada dos investimentos da economia brasileira indicam que o ciclo econômico desta economia encontra-se, atualmente, no limiar que divide a fase de depressão da fase de reanimação. Só a concretização dos planos de investimento poderá nos dar a certeza desta transição. Contudo, chamamos a atenção para o fato de que não só é possível que o aparecimento de um agente deflagrador de um novo mergulho deforme a fase de reanimação do ciclo econômico brasileiro, como também é possível o impedimento da transição, embora a probabilidade de ocorrência deste último seja, ao nosso ver, bastante reduzida.


Texto escrito por:
Antonio Carneiro de Almeida Júnior: Economista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR, PPGDE/UFPR, e pesquisador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.

Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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Entrevista do professor Nelson Rosas Ribeiro, coordenador do PROGEB, ao JPB

No Programa de 07/04/2010 do JPB, na TV Cabo Branco, o Prof. Dr. Nelson Rosas falou sobre o preço da cesta básica na cidade de João Pessoa. Confira no link abaixo:


http://jpb2.cabobranco.tv.br/index.php?ev=1&d=2010-04-07

[Aumento de preço]
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Participação do PROGEB no 2º ENECOST

O PROGEB participará a partir de amanhã, 14, do 2º Encontro de Economia de Serra Talhada, na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UAST/UFRPE. O evento ocorrerá de 14 a 16 de Abril, tendo a participação de 4 membros do PROGEB, dois professores conferencistas e dois pesquisadores em apresentação de trabalhos científicos. As conferências apresentadas será a de abertura, pela Professora Drª Elivan Ribeiro, com o tema "As mudanças socioeconômicas recentes da economia mundial e a dinâmica brasileira: desafios e perspectivas"; e o Prof. Dr. Nelson Rosas Ribeiro, participando da mesa de encerramento sobre "Recuperação da Economia Mundial e o Contexto Brasileiro". Os pesquisadores Lucas Milanez e Eric Gil apresentarão os artigos "A balança comercial brasileira de 1980 a 2009: uma análise baseada na teoria marxiana do ciclo econômico" e "A renda fundiária na visão de Marx", respectivamente.


Site do evento: http://www.2enecost.com.br

Sigam o PROGEB no Twitter: @progeb
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quinta-feira, 8 de abril de 2010

A contenção do déficit orçamentário: missão impossível?

Semana de 15 a 21 de março de 2010

Não há grandes novidades a referir quanto ao momento que a economia mundial está atravessando. Continuamos na marcha lenta, sofrida, contraditória, de uma fase de recuperação muito especial. Já alertamos os leitores para isto e o quadro atual confirma as nossas previsões. O desemprego permanece estável. A Organização Mundial do Trabalho divulgou um estudo mostrando que, entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2009, sem considerar a Índia e a China, desapareceram 16 milhões de empregos no mundo. O estudo cobriu 56 países, que respondem por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Deste total de desempregados, 9,4 milhões corresponderam ao setor industrial. Mas não é só isso. As empresas estão descapitalizadas, os bancos ainda amargam os prejuízos decorrentes de suas aventuras especulativas e os governos estão falidos. A avalanche de recursos que se espalhou na tentativa de salvar o sistema financeiro teve um efeito extremamente perverso: impediu que a crise cumprisse integralmente o seu papel de sanear as economias e destruir o capital excedente incapaz de produzir lucro. O que fazer agora?
A Comissão Européia (CE), órgão executivo da União Européia (UE), vem tentando desesperadamente por ordem na casa. Vários alertas têm sido emitidos na tentativa de controlar os déficits orçamentários e mantê-los dentro do limite de 3% do PIB, como está determinado por todos os países da UE. A tarefa torna-se inglória, pois a própria Alemanha, principal defensora da restrição, vem lutando, sem sucesso, para controlar o seu déficit, que está estimado em 5,5%, para o ano de 2010. Eles já falam até em cortar os gastos com a defesa. A CE expressa suas desconfianças em relação aos cálculos feitos para as previsões de crescimento do PIB de países como Alemanha, França, Itália e Espanha. Indaga também como a Espanha conseguirá reduzir o seu déficit, que é estimado em 11,4% do PIB em 2010, para 3% em 2013. Além disso, questiona as medidas propostas pela Áustria, Bélgica, Irlanda e Holanda para ajustar seus “rombos” aos 3% permitidos. E isto para não falar na Grécia, caso mais grave do bloco. E não é para menos. A desconfiança espalha-se, e todos procuram esconder seus déficits manipulando as contas nacionais, enquanto procuram cortar despesas. Alguns, como Portugal e Grécia, já decidiram congelar os salários dos funcionários e agora enfrentam os movimentos sociais de protesto. O pânico do rombo dos orçamentos levou os 27 países membros da UE a decidir retirar gradualmente, a partir da segunda metade deste ano, os estímulos fiscais de emergência adotados nos anos de crise, mesmo correndo o risco do duplo mergulho.
Por seu lado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) sugere, aos países do G-20, um ajuste fiscal através do corte de despesas e de um aumento de receitas de 6% ao ano durante os próximos 20 anos. O objetivo é passar de um déficit de 3,5% do PIB, em 2010, para um superávit de 4,5% em 2020. Preocupado, o presidente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, lamentou-se, em um pronunciamento feito no Parlamento Europeu, dizendo que, 18 meses após o início da crise, “estamos em um crítico momento da história”.
Para aumentar as receitas, outra fonte vem sendo sugerida: a venda das participações que os governos têm em empresas nacionais. Prevê-se uma nova onda de privatizações no desespero da busca do equilíbrio orçamentário.
Nos EUA, voltam a surgir notícias de recuperação da economia, mas apenas com estabilização do desemprego e algum aumento dos gastos das empresas com equipamentos. Apesar desses sinais, o Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, resolveu manter a taxa de juros básica no mesmo nível atual, isto é, entre zero e 0,25%. No entanto, a economia enfrenta novas dificuldades diante do deslocamento de setores de alta tecnologia para a China, como a Applied Materials, uma importante empresa do Vale do Silício que está se transferindo para lá com os olhos no novo mercado e à procura de vantagens como o os baixos salários e os subsídios oferecidos pelo governo. Este é o caso também da NatCore Technology de Nova Jersey, que trabalha com energias alternativas.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a taxa de decrescimento do PIB do país ou, eufemisticamente, a taxa de “crescimento negativo” (como rabo de cavalo), de -0,2% para 2009. Nenhuma autoridade do país veio a público pedir desculpas por terem iludido todo o povo prometendo uma taxa de crescimento do PIB de 4% ou 5% para o ano. Onde se esconderam os Mantegas, Bernardos, Meirelles, Lulas e instituições como o próprio Ipea?
Ainda sob o impacto do fiasco, a contragosto, o Banco Central do Brasil (BCB), na reunião do Copom, por apertada maioria, resolveu imitar o Fed americano e manter a taxa de juros básica (Selic). A pequena diferença é que o Fed manteve os 0,25%, e o nosso BC, os aberrantes 8,75%.
Mas o ambiente econômico apresenta-se otimista. Os estímulos dados pelo governo estão cumprindo sua função. O mês de março caminha para bater o record na venda de carros, pois é o último mês de IPI reduzido, e as empresas automobilísticas estão fazendo todo tipo de promoção. A Fiat ampliou os prazos de financiamento de seus veículos para 72 meses. A Ford resolveu não cobrar entrada e adiar o pagamento da primeira prestação para depois da Copa, no que foi imitada pela Voskswagen, e a GM promete reduzir o IPI em dobro. A sobretaxa de US$ 13,80 para cada par de sapatos importados da China, criada pelo governo, animou a indústria de calçados a voltar a investir visando as exportações. Já a agroindústria não teve a mesma felicidade. A lei Kandir que isenta de ICMS apenas os produtos primários para exportação, facilita os exportadores de grãos e pune a agroindústria, que perde a competitividade.
O BNDES, por seu lado, cumprindo as determinações do governo, esforça-se despejando R$ 18,2 bilhões nos estaleiros, financiando a produção de navios para apoio à exploração de petróleo e gás. O desembolso total do BNDES, em 12 meses encerrados em fevereiro, chegou a R$ 143,3 bilhões, 53% a mais que no mesmo período anterior. A construção civil, com a ajuda dos financiamentos da Caixa e do Banco do Brasil, está em grande expansão, estimulando os setores a ela ligados e assumindo a liderança na criação de empregos.
Com este embalo, o problema é saber até quando o orçamento do país suportará manter os estímulos e se eles continuarão a produzir os efeitos desejados pelo menos até as eleições.

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
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sexta-feira, 2 de abril de 2010

O Brasil, o mundo e a crise

Semana de 08 a 14 de março de 2010

Em matéria publicada na edição de fim de semana dos dias 12, 13 e 14 deste mês, o Jornal Valor Econômico, referindo-se à situação do Brasil no período de 1993 a 2008, trouxe a seguinte manchete: "País vivia seu 2° maior ciclo de crescimento".
Em termos de anos seguidos de crescimento positivo esses 16 anos só perdem para o período entre 1943 e 1980. No entanto, outras comparações mostram resultados não tão animadores.
Nos 38 anos que vão de 1943 a 1980, o país teve um crescimento médio de 7,3%, enquanto que, nos 16 anos entre 1993 e 2008, o crescimento do PIB foi, em média, 3,3%.
João Villaverde afirma na referida notícia que este "ciclo" de 16 anos terminou como uma conseqüência do que "pode ser entendido como uma interiorização das turbulências mundiais eclodidas no fim de 2008".
Se este tipo de observação for generalizado poderemos chegar à conclusão que, desde o fim do “milagre brasileiro”, o Brasil vive sofrendo "interiorizações de turbulências mundiais". Podem ser apontadas turbulências como o chamado choque do petróleo (1974), a crise da dívida externa (1981-83) e a crise da bolha pontocom/atentado ao World Trade Center (2000-02), fatos que nada têm a ver uns com os outros. A ser válido este raciocínio, temos de concluir que o país é perseguido por uma série de circunstâncias puramente ocasionais, um terrível azar, que vem prejudicando o seu crescimento.
Mas isso é só a aparência.
O que ocorre há mais de 150 anos no mundo e, desde 1962-64, no Brasil é a manifestação periódica de uma lei: a lei das Crises Cíclicas de Superprodução. O processo de acumulação capitalista provoca inevitavelmente a crise que se manifesta através do desequilíbrio entre a oferta de produtos (sejam eles financeiros ou materiais) e a demanda solvente.
A obtenção de lucro como objetivo da produção e a sua apropriação privada pelos capitalistas chocam-se inevitavelmente com o caráter social do processo produtivo e as necessidades da sociedade. Esta contradição manifesta-se de várias formas, através da anarquia da produção, da concorrência, dos efeitos do progresso tecnológico sobre a mão de obra, com o conseqüente aumento do desemprego, etc. Isto ocorre de forma periódica. Esta periodicidade é determinada pelos investimentos em máquinas e equipamentos que se dão através de encomendas por pacotes. Estas encomendas ocorrem assim que o nível de utilização da capacidade instalada (nuci) deixa de ser seguro. É tecnicamente impossível se comprar máquinas aos poucos, como se fossem matérias primas.
Os estímulos ao setor produtor de bens de capital (setor I) trazem um efeito de arrastamento sobre toda a economia, visto que este setor produz máquinas, mas os trabalhadores por ele contratados precisam de bens de consumo que são produzidos no setor II.
Na medida em que são entregues e instalados os novos maquinários, a demanda no setor I se reduz. Conseqüentemente, ocorrerão demissões e diminuição na produção. O efeito sobre o resto da economia é o da queda considerável do número de consumidores finais. Mas, como as máquinas no setor II já estão roduzindo, ocorrerá um excesso de oferta, dada a redução na quantidade de demandantes. Os estoques se elevam, ocorrem demissões, e a produção se reduz. Em São Paulo, por exemplo, apesar de todos os stímulos, ainda há um déficit de 180 mil vagas de empregos, entre o último trimestre de 2008 e fevereiro e 2010. O vice-presidente da fabricante de caminhões Scania, Martin Lundstedt, admite que a indústria automotiva ainda vai demorar alguns anos para retomar os antigos planos de investimentos.
O objetivo dos governos ao fazerem políticas econômicas é exatamente impedir esse arrefecimento da demanda. Na Alemanha, foi dado um pacote de € 5 bilhões para os consumidores trocarem os carros velhos por novos. A China e os EUA tomaram medidas semelhantes. Na China, apesar das pressões, o governo declarou que irá flexibilizar o câmbio lentamente, na medida em que o setor exportador retomar o fôlego. Na Europa, Alemanha e França planejam criar um Fundo Monetário Europeu, para reforçar a cooperação e a vigilância aos países da Zona do Euro. No entanto, o caso mais falado do momento é a crise orçamentária da Grécia, com um déficit de 12,7% do PIB em 2009. Estima-se que seja necessário, este ano, um montante de € 54 bi em captação para o país, dos quais apenas de € 5 bilhões foram obtidos com a venda de títulos.
No Brasil, o PAC 2 prevê um investimento de R$ 15 bi só no Plano Nacional de Banda Larga. Enquanto isso, o setor de autopeças está comemorando o que se espera ser o ano de maior volume de encomendas.
Historicamente, foi o Plano de Metas de JK, entre 1956-61, que garantiu o montante de investimento para que, em 1962-64, ocorresse a primeira crise cíclica de superprodução no Brasil. Esta foi uma exclusividade nossa, na medida em que o mundo vivia ainda os "30 anos gloriosos", os 30 anos que sucederam a 2ª Guerra Mundial, durante o qual predominou o Welfare State. Daí em diante, o Brasil seguiu esta lei que rege o capitalismo.
Assim, em 1974, o choque do petróleo não foi a causa do fim do milagre, nem na década de 80 a crise da dívida causou a superprodução, ou no início dos anos 2000 a bolha pontocom/Bin Laden causaram a crise. Estas apenas foram as formas deflagradoras do fenômeno da superprodução que já se anunciava como necessário.


Texto escrito por:

Lucas Milanez de Lima Almeida: Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB, mestrando em Economia pelo CME-UFPB e membro do Progeb.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br


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