segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Nova/Velha Equipe Econômica de Dilma

Semana de 15 a 21 de novembro de 2010

Há poucos dias, nos debates dos presidenciáveis, eram quase unanimidade as questões que deveriam ser prioritárias para o novo presidente. Educação, saúde e segurança pública eram os grandes temas debatidos. Para variar um pouco, gastavam o tempo falando da Petrobrás. A política econômica era deixada de lado, em boa parte, porque não havia o que discutir, já que, para os três candidatos mais cotados, ela era basicamente a mesma. Outra razão é que a ilusão provocada pelo controle inflacionário e o crescimento econômico dos últimos anos dava uma falsa impressão, aos três candidatos citados, de que a política atualmente em curso é a melhor possível.

Passada a eleição, o que de fato interessa volta à cena: a política econômica. Ninguém na imprensa, ou nos bastidores da política, está preocupado em saber quem será o novo ministro da educação, saúde e segurança. O que querem mesmo saber é quem vai ocupar os cargos de Ministro da Fazenda e Presidente do Banco Central. Pelos rumores que correm, Henrique Meirelles, do Banco Central, deve deixar o cargo, mas a presidente eleita, Dilma Roussef, já garantiu que Guido Mantega fica na Fazenda.

E o que muda e o que permanece na política econômica? É melhor esperar para ver, pois com essa postura, tudo indicaria uma política mais desenvolvimentista. Mas, não sejamos ingênuos, o Brasil precisa de uma conjuntura externa favorável, ou seja, o mundo precisa voltar a crescer e a guerra cambial precisa ter um fim. Isto para não falar da continuidade da política fiscal expansionista e do fim do aperto monetário. Mas, será que os bons ventos vão soprar a favor do Brasil?

Vamos então aos fatos. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera uma desaceleração do crescimento mundial no ano que vem, mas uma recuperação no ano seguinte. A organização afirma, entretanto que os desequilíbrios internacionais continuam severos.

A política do Federal Reserve (Fed), banco central americano, para salvar os Estados Unidos, pode acabar matando a maior fonte de demanda no mundo atual. O Fed toma medidas para estimular a produção dos EUA. Juro zero a perder de vista e dinheiro jogado “de helicóptero” na economia. Assim o dólar perde força apoiando as exportações americanas e dificultando as demais.

Esta ação vai se constituir em mais um agravante para os maus resultados da nossa balança comercial. A participação das importações no consumo interno do Brasil chegou a 22,7% no terceiro trimestre de 2010, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O índice é recorde na série medida pela entidade. Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, a alta do coeficiente de importação foi de 4,6 pontos percentuais. Em relação ao mesmo período de 2008, houve aumento de 2,2 pontos.

Outro resultado da estratégia americana é a corrida para as commodities. Os preços sobem e a inflação nos países emergentes também. Essa estratégia já leva o Brasil a repensar sua política monetária. O aumento da pressão dos alimentos sobre a inflação levou os analistas que respondem ao Boletim Focus do Banco Central (BC) a elevar a expectativa da taxa Selic para o próximo ano, de 11,75% ao ano, na semana passada, para 12% ao ano. Essa é a primeira vez, em dois meses, que os economistas elevam a projeção dos juros para o próximo ano. O ciclo de aperto monetário esperado para 2011 passou, de um ponto percentual, para 1,25 pontos percentuais.

E, quanto à política fiscal, o menino de ouro do Ministério da Fazenda, Guido Mantega, terá sua atuação comprimida por dois preceitos básicos da política econômica do novo governo: reduzir a dívida interna líquida para 30% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014, para “permitir” juros reais de 2% ao ano no fim do mandato da presidente eleita. Nas contas da área técnica da Fazenda, com crescimento da ordem de 5% ao ano e superávit fiscal de 3,3% do PIB, será possível cumprir essa determinação.

Só nos resta desejar boa sorte à presidente Dilma Roussef e a sua equipe.

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Tecnologia e Gestão Pública do CTDR/UFPB, Doutoranda em Economia pelo PIMES/UFPE, Pesquisadora do PROGEB. www.progeb.blogspot.com.
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sábado, 20 de novembro de 2010

O arrocho vem aí!

Semana de 08 a 14 de novembro de 2010

Já em análises anteriores, temos acompanhado a disputa entre as duas correntes econômicas dentro do governo Lula, que se personalizam no conflito entre o Ministro Guido Mantega, que representa a corrente desenvolvimentista com inspiração keynesiana, e o presidente do banco Central (BC), Henrique Meirelles, representando a corrente mais ortodoxa, neoclássica ou consenso de Washington, como melhor se quiser chamar. Em matéria de política monetária, a opinião do Meirelles sempre prevaleceu, ou seja, não é a toa que temos a maior taxa de juros do mundo. No entanto, após o vexame passado pelo Presidente Lula com a tal estória da “marolinha”, que resultou no tsunami do final do ano passado e diante do perigo de se caminhar para as eleições com o país em crise, o bastão foi passado para o Ministro Mantega e sua equipe, que teve autorização de implementar um violento programa anticíclico de estímulo ao consumo.

Ora, a crise que foi deflagrada no setor financeiro é de fato, como temos demonstrado em nossas análises, mais uma crise cíclica de superprodução, evidentemente com características particulares, como costuma ocorrer. A intervenção realizada foi típica e o seu tamanho pode ser mensurado com os números que pouco a pouco vão aparecendo. Além da redução dos impostos de algumas dezenas de produtos, os bancos oficiais abriram os cofres e o crédito tornou-se mais barato e abundante. O lançamento de programas como “Minha Casa, Minha Vida” inundou o mercado de facilidades para a aquisição de casas, o que estimulou a construção civil, conhecida pelo seu grande poder de “arrastamento” e de criação de emprego. A Caixa Econômica Federal (CEF), que já vinha batendo recordes de financiamento, intensificou a sua ação e, em 2010, deve atingir os R$ 70 bilhões, um montante 50% superior ao de 2009 e 14 vezes superior ao de 2003. Só em setembro, foram feitos, em média, 5340 contratos de financiamento por dia, e espera-se o mesmo ritmo para novembro e dezembro. Segundo o Bradesco, no final de 2010, o volume de financiamentos atingirá 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB), bem acima dos 2,9% de 2009. Como no período do “milagre brasileiro”, nos idos de 70, foi mais uma vez o setor da construção civil que deu o grande tranco para reversão do ciclo no Brasil e, com a ajuda das demais medidas tomadas, permitiu o inicio rápido do período de crescimento que estamos vivendo, ou seja, passamos da crise para a depressão e, em seguida, para a fase de reanimação.

No entanto, as nuvens negras continuam a se acumular no horizonte.

Em primeiro lugar, a situação internacional permanece tensa e os sinais de recuperação são pouco convincentes. Neste momento, os membros do G-20, na reunião de Seul, trocam socos e pontapés na tal guerra das moedas tentando desesperadamente equilibrar os saldos das balanças comerciais. Todos querem aumentar as exportações e reduzir as importações na tentativa de estimular a produção interna e com isto o emprego. Os EUA inundam o mundo de dólares para desvalorizar a moeda, mas os chineses acompanham a desvalorização, mantendo sua ofensiva no comércio mundial. O curioso é que as estatísticas mostram que, por ironia do destino, 55% das exportações chinesas são feitas por empresas estrangeiras que para lá se deslocaram e lá fizeram investimentos e criaram empregos em detrimento de seus países de origem. Ou seja, são as próprias empresas que, a procura de maiores lucros, conspiram contra seus países de origem.

As sugestões para o impasse vão desde o retorno ao padrão ouro, proposta pelo presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, até a do atrevido Mantega, que propôs a substituição do dólar como moeda de referência por uma cesta de moedas onde estariam o nosso Real e o Yuan chinês. (Vejam só!)

Se no exterior as perspectivas não são boas, e já dissemos que sem a colaboração externa o nosso voo será um voo de galinha, por cá as possibilidades estão a se esgotar. O sacrifício das finanças públicas já comprometeu irremediavelmente o tal “superávit primário” tão prometido pelo governo, obrigando-o a molecagens contábeis na tentativa de enganar os credores externos, que já perceberam a manobra. Por outro lado, os recursos do BNDES, que custam ao tesouro o lançamento de títulos com a mais alta taxa de juros do mundo, já se esgotam na medida em que a impagável dívida pública ultrapassa um trilhão de reais.

Aguardemos, portanto o arrocho. Ele vem a caminho.

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Antes que o diabo saiba que você está morto

Semana de 01 a 07 de novembro de 2010

Não há dúvida de que o governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, adotou, deliberadamente, uma política de desvalorização competitiva do dólar. A nova tentativa de estimular a economia dos Estados Unidos, através da compra de US$ 600 milhões de bônus do governo até julho de 2011 vem apenas confirmar o que muitos países temiam: uma nova rodada de desvalorização do dólar. E o temor tem suas justificativas. A principal delas é de que esta estratégia do presidente Obama, aprofundando a desvalorização do dólar, cause efeitos deletérios sobre a economia dos demais países. A título de exemplo, utilizarei o caso do Brasil, país que vem sofrendo um processo de desarticulação de suas cadeias produtivas, consequência da forte desvalorização do dólar ante o real.

O governo brasileiro, na tentativa de conter a apreciação continua do câmbio, adotou uma medida de controle de capitais que até agora se mostrou risível: aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras, IOF, de 2% para 4%. A entrada de dólares no país alcançou, em outubro, o patamar de US$ 6, 917 bilhões. Este fluxo cambial do mês de outubro é o maior desde o início de 2009. Ao que parece, a política econômica do governo Lula procura enxugar gelo. De um lado, temos a SELIC, taxa básica de juros da economia, estabelecida em 10,75%, o que gera grande diferencial entre a taxa de juros interna e a taxa de juros externa, provocando uma grande entrada de capital especulativo no país. Do outro lado, o mesmo governo tenta controlar a entrada de capitais por meio de medidas inócuas: aumento do IOF e compra de dólares. De acordo com Vladimir do Vale, economista-chefe do Crédit Agricole, “teremos uma valorização de pelo menos 6,5% independentemente do que o governo faça”.

A conjuntura no setor industrial brasileiro é caótica. Com a progressiva valorização do dólar, a produção interna de Bens de Capital e Bens Intermediários está sendo substituída por importações. Um leitor mais perspicaz pode perguntar: qual a importância destes setores para a economia do país? Estes setores, que compreendem o complexo eletrônico, metal-mecânico e químico, são difusores do progresso técnico e, portanto, possuem efeitos de encadeamento sobre os demais setores da economia. Para a dinâmica de acumulação do capital industrial, a substituição da produção interna por bens importados acaba por estabelecer uma dupla dependência no país. Em primeiro lugar, para repor e expandir a capacidade produtiva, o capital industrial depende da capacidade para importar, que se subordina, por sua vez, aos preços externos. A internalização da produção de bens de capital e bens intermediários assegura endogenamente a reprodução ampliada do capital, permitindo à capacidade produtiva crescer adiante da demanda e, portanto, auto-determinandar o processo de desenvolvimento da indústria. Impedir que a reprodução ampliada do capital se desenvolva de forma endógena deixará a economia brasileira mais vulnerável às oscilações do mercado externo.

De nada vale argumentar que a atual onda de importações de bens de capital e bens intermediários são muito mais complementares da oferta interna que substitutivas dela. Para Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas, FGV, “o salto das importações está desarticulando as cadeias produtivas, uma vez que os setores estão se autodesmontando”. Ainda de acordo com Marconi, as compras ocorrem dentro de uma mesma cadeia produtiva, de modo que o aumento nas importações resulta em uma espécie de “autofagia industrial”, que desarticula toda uma cadeia de produtores. Segundo Pedro Luiz Passos, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, IEDI, “os nossos saldos comerciais na indústria de média e alta tecnologia são alarmantemente negativos. Além da queda das exportações, estamos perdendo também mercado interno para os produtos importados”.

A superação desta situação requer que o governo remova três constrangimentos à produção interna de bens de capital e bens intermediários: i) a elevada taxa de juros, que encarece a tomada de empréstimo, ii) a existência de gargalos na infraestrutura do país, o que aumenta o custo dos bens e, iii) a política cambial que incentiva a importação de bens de capital e intermediários. Sem a remoção destes entraves veremos agravado o processo de desindustrialização atualmente em marcha.

Texto Escrito Por:
Kaio Glauber Vital da Costa: Economista, pesquisador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br; www.progeb.blogspot.com
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