segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A ameaça da inflação

Semana de 07 a 13 de fevereiro de 2011

Nas últimas análises, destacamos a fé da equipe econômica do governo Dilma em sua “santíssima trindade”: aumentos sucessivos da taxa básica de juros (Selic), uso das “medidas macroprudenciais” (aumento dos depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central - BC e restrição do crédito) e redução dos gastos públicos.

A Selic continuará sua trajetória ascendente, em 2011. Espera-se que, até o final do primeiro semestre, ela suba para 12,25% ao ano. Em janeiro ultimo, a taxa foi elevada de 10,75% para 11,25% ao ano. O governo federal anunciou na semana passada um corte de R$ 50 bilhões nas despesas previstas no projeto da lei orçamentária de 2011. A presidente Dilma acredita que, com esse pacote de ações, se possa controlar a inflação e conseguir honrar os compromissos, como a economia de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o pagamento dos juros da dívida – o superávit primário. Isto, sem reduzir os recursos do PAC e sem a realização de manobras na contabilidade.

Mas, um novo componente surgiu para desafinar o coro dos crentes: a escalada inflacionária dos alimentos. O aumento dos preços das commodities é generalizado, e vem preocupando dirigentes políticos da Europa, Ásia e Américas. Por um lado, o processo inflacionário se deve à queda de produção das safras de bens, como açúcar, milho e trigo, em várias partes do mundo. A Rússia, por exemplo, sofre a pior seca em meio século, e a China passa a considerar a ampliação de importações de açúcar e milho, em decorrência de reflexos climáticos adversos às produções desses grãos. Por outro lado, está diretamente relacionado com a especulação dos mercados financeiros, o que tem levado o primeiro-ministro Sarkozy, na França, a defender a ideia de intervir nos preços das commodities por meio da criação de estoques reguladores.

No Brasil, em pronunciamento numa reunião da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, atribuiu boa parte da alta dos preços à atividade especulativa realizada pelo capital financeiro. Analistas do mercado subscrevem o pensamento do ministro, já que há uma ampla procura pelos mercados futuros por parte dos investidores em busca de rentabilidade em meio a um ambiente de juro baixo na maioria dos países europeus e nos Estados Unidos. “Os preços das commodities são voláteis, mas sobem há vários anos. A percepção é que o mundo está vivendo um super ciclo de aumento de commodities. A inflação veio para ficar e é tema global”, avalia Marcelo Carvalho, analista-chefe do BNP Paribas para a América Latina.

Dados sobre os índices de inflação para o primeiro mês de 2011 indicaram aumento generalizado nos preços. No Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a subida não decorre apenas de sazonalidades, como despesas com mensalidade e material escolar, mas também do aumento das tarifas de ônibus, das bebidas e da alimentação. Este último grupo foi responsável por 32% da alta do IPCA. O índice sofreu a maior variação para o mês (0,83%), desde janeiro de 2003. Em 12 meses subiu 5,99%, já se afastando da meta central de inflação do governo, que é de 4,5%.

Já pelo Índice geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) as maiores altas foram dos produtos agropecuários no atacado, como o algodão (18%), milho em grão (6,59%), café em grão (8,12%). As cotações agropecuárias acumulam variação de 28,4% em 12 meses. Para o coordenador de analises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, estes movimentos refletem a disparada das commodities no mercado internacional. É bastante provável que a alta dos preços produza impactos no varejo nos próximos meses, acabando a alegria gerada pelo aumento do salário mínimo a ser concedido pelo governo Dilma.

Apesar da santíssima trindade, com as medidas de contenção do consumo, persiste a escalada dos preços ameaçando comprometer o nível de vida do trabalhador.

Além de queda, coice! E agora, BC?


Texto escrito por:

Maria Carolina Costa Madeira: Analista do Ministério da Pesca e Aquicultura, mestre em economia pela UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Santíssima Trindade da Política Econômica Pós-Eleições

Semana de 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2011

Após a farra fiscal eleitoralista ocorrida no ano passado as palavras de ordem no controle da política econômica agora são, austeridade, prudência e cautela, termos que têm estado presentes nos discursos oficiais das principais autoridades econômicas do governo Dilma Rousseff, que, desde o início, tem transmitido ao mercado sinais de aperto fiscal e monetário.

Entre essas autoridades está o novo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, que, juntamente com sua equipe, já apontam os instrumentos de política econômica necessários para manter a inflação próxima do centro da meta, que atualmente é de 4,5%. Tais instrumentos podem ser resumidos no que está sendo chamado de santíssima trindade da política econômica do início da era Dilma e que consiste basicamente em: 1) política de elevação da taxa básica de juros, a Selic, que este ano já subiu de 10,75% para 11,25%, após a primeira reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom; 2) utilização de medidas “macroprudenciais”, que são medidas cautelares e preventivas, como o aumento do depósito compulsório e 3) redução dos gastos, que deverão ficar bem abaixo do volume do ano passado, quando sob o apelo das necessidades eleitorais, as despesas do setor público cresceram. Este fato levou o superávit primário (economia de recursos para o pagamento dos juros da dívida), em 2010, a ficar abaixo da meta de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo com a utilização de subterfúgios contábeis, como a operação de capitalização da Petrobrás, o superávit primário foi de apenas 2,78% do PIB.

Mas, apesar do esforço do Banco Central e do apelo a essa espécie de santíssima trindade da política econômica ortodoxa, as expectativas de aumento da taxa de inflação continuam piorando. Segundo o Boletim Focus, do próprio BC, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esperado para 2011 passou de 5,53%, para 5,64%. Além disso, os analistas de mercado não acreditam que o governo conseguirá atingir a meta para o superávit primário este ano, que é de 3% do PIB. Há ainda outro motivo de grande preocupação para os empresários, em particular os da indústria: é a continuidade da apreciação do real frente ao dólar, mesmo depois de todas as intervenções já realizadas pelo BC no mercado cambial, feitas por meio de leilões e contratos de compra de dólares. Estas intervenções não estão surtindo os efeitos esperados, diante da enxurrada de dólares na economia brasileira decorrente da elevada taxa de juros vigente no país. Somente em janeiro, foi registrado um fluxo de US$ 12,3 bilhões. Ademais, as intervenções do BC no mercado têm custado muito caro ao país, algo em torno de US$ 30 bilhões ao ano, segundo Márcio Garcia, professor da PUC-RJ.

O resultado dessa apreciação cambial foi o crescimento do volume de produtos importados a uma taxa quase quatro vezes superior ao volume produzido no país, em 2010. Nesse ano, de acordo com cálculos realizados pela LCA Consultores, enquanto a produção industrial cresceu 10,5%, em relação a 2009, o volume de produtos importados avançou a uma taxa de 37%, no mesmo período. Assim, em cada dez produtos industriais consumidos, dois passaram a ser importados. Este crescimento da participação dos produtos importados na economia brasileira tem sido apontado como uma das principais causas para o fraco desempenho da indústria, que vem apresentando uma desaceleração desde meados de 2010. Além disso, há ainda níveis elevados de estoques em alguns setores, que aproveitaram para elevar a produção durante o período de desoneração de tributos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que vigorou até março do ano passado. No mês de dezembro foi registrada uma queda de 0,7% na produção industrial do país, em relação a novembro.

Parece então, que para retomar o crescimento da produção na indústria, segurar a taxa de câmbio, manter a inflação sob controle e atingir todas as metas fiscais, para 2011, o governo Dilma terá que recorrer não apenas à santíssima trindade da política econômica venerada pelo Banco Central, mas também a todos os santos e anjos que possam ajudar o país a realizar mais um milagre.


Texto escrito por:

Diego Mendes Lyra: Mestre em economia e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Algumas Consequências da Política do Saci Macroeconômico

Semana de 24 a 30 de janeiro de 2010

Já faz algum tempo que estamos chamando a atenção para os perigos da política econômica do governo, a saber, a política do Saci Macroeconômico. Ao invés do tripé, câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação, a política econômica, desde o início do governo do PT, tem um único pé, como um saci: "sustentar" a inflação em um nível determinado.

A meta para a inflação de 2010 era de 4,5%. Porém, o índice oficial do governo para o cálculo da meta inflacionária, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), registrou, no ano passado, um aumento de 5,9%. Para 2011 a meta é a mesma, com a diferença de que este não é um ano de eleições, ou seja, o BC pode adotar políticas econômicas e medidas “macroprudenciais” bem mais restritivas.

O provável crescimento de 7,5% do PIB em 2010 causou, segundo o Comitê de Política Monetária (Copom), uma pressão inflacionária na economia brasileira, na medida em que a demanda aumentou e a oferta não a acompanhou. Por isso, desde dezembro, foram tomadas medidas de restrição do crédito, tais como o aumento do depósito compulsório e do requerimento de capital para realização de alguns empréstimos. Como consequência, ocorreu uma elevação de, em média, 0,2% nas taxas de juros. O resultado da última reunião do Copom, onde se decidiu elevar a Selic para 11,25%, vem somar-se a isso. O motivo para o aumento foi a elevação do IPCA entre 15 de dezembro de 2010 e 15 de janeiro de 2011, que atingiu 0,76%, ante 0,69% entre 15 de novembro e 15 de dezembro de 2010. Este é o "cenário inflacionário" que levou o BC a apostar em um novo aumento dos juros básicos nos próximos meses.

Ao elevar a taxa Selic, o Banco Central estimula a entrada de capital estrangeiro no país, pois lá fora há uma abundância de capitais e uma baixíssima remuneração (nos EUA, por exemplo, a taxa básica de juros está entre 0% e 0,25%). Como boa parte dos títulos brasileiros é cotada em real, para comprá-los, é necessário que se troquem os dólares pela moeda local, aumentando assim a oferta de moeda estrangeira e, consequentemente, reduzindo a taxa de câmbio, isto é, tornando o dólar mais barato. No ano passado, quando a Selic ficou entre 8,75% e 10,25%, o país registrou uma entrada líquida de US$ 24,354 bilhões, 15% menos que em 2009, quando os juros variaram entre 8,75% e 12,75%. Por outro lado, em 2010, o BC comprou US$ 41 bilhões para conter a apreciação do real.

Uma consequência direta disto é o chamado "carry trade", uma operação onde se capta dólar barato no exterior para vender ao BC e, com os reais obtidos, fazer aplicações com retornos maiores. Isto explica o crescimento do crédito externo ao Brasil que foi de 1.447% nos três primeiros trimestres de 2010 em comparação com o mesmo período de 2009. O total de crédito oferecido por instituições financeiras estrangeiras, inclusive em moeda local, chegou a US$ 447,7 bilhões. Das instituições financiadoras, em primeiro lugar estão as espanholas (US$ 168 bi), seguidas das norte-americanas (US$ 79 bi.) e britânicas (US$ 76 bi). As empresas brasileiras também captam diretamente recursos no mercado internacional e, este ano, o total já atingiu US$ 10,3 bilhões.

Mas, o BC parece não aguentar mais esta política. Este ano, até o dia 21 de janeiro, o Brasil apresentou um fluxo líquido positivo de US$ 9,205 bi, enquanto que o BC só comprou US$ 3,927 bi no mercado à vista. O motivo seria o elevado custo de manutenção das reservas cambiais, que estão atualmente em US$ 295,9 bi. Para o país, sai caro devido a diferença entre os juros internos e externos, e estima-se que este custo atualmente gire em torno de 1% do PIB. Se as reservas estiverem saturadas, e o BC não intervir mais no mercado como comprador, não há como "controlar" a taxa de câmbio, que tenderá a cair.

Com a valorização da moeda local surgem os problemas para a balança comercial.

Em termos de volume, o país importou, no ano passado, 13,9% mais do que em 2008, enquanto as exportações caíram 2,2% na mesma comparação. O saldo da balança comercial, porém, só não foi negativo porque o preço médio dos produtos importados caiu (ficaram 8% mais baratos), enquanto aumentou (4,4%) o preço médio dos produtos exportados (em sua maioria commodities).

Esta é a tendência do modelo Saci Macroeconômico. Como toda tendência, é fácil saber onde vai parar. O difícil é mudar sua trajetória.


Texto escrito por:
Lucas Milanez de Lima Almeida: Mestre em Economia, professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)

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