domingo, 26 de junho de 2011

Os sinais do novo período de recessão

Semana de 13 a 19 de junho de 2011

Tatiana Losano de Abreu [i]

De forma surpreendente para alguns (mas não para nós!), as notícias pouco otimistas se tornaram cotidianas. Depois da Grécia, chegou a vez de Portugal. O novo Primeiro Ministro eleito, Pedro Passos Coelho (líder dos sociais-democratas-PSD, de centro-direita) alertou, esta semana, para os “anos terríveis” que virão, já que o país se depara com uma recessão profunda e um desemprego recorde que impossibilitam o retorno ao crescimento e a reconquista da confiança dos investidores. Com a preocupação de voltar aos mercados financeiros, até 2013, e garantir o compromisso estabelecido com o FMI de reduzir o déficit orçamentário, de 9% do Produto Interno Bruto – PIB, apresentado em 2010, para 3% em 2011, o Primeiro Ministro garante pôr em prática um programa, ainda mais rigoroso, de austeridade e reformas estruturais. O novo governo promete: acelerar e expandir o programa de privatizações, que inclui vender a emissora estatal de mídia, privatizar até 49% das empresas de fornecimento de água e escancarar as portas aos investidores externos. Enquanto isso, manifestantes vão às ruas para contestar o atual sistema político e as medidas de austeridade econômica que o novo governo promete adotar.

Mas Portugal não conseguiu roubar inteiramente a cena à Grécia. Durante a semana o país manteve-se nos noticiários. A despeito das fortes políticas de controle fiscal adotadas, a insegurança aumentou quando o FMI ameaçou reter a parcela do que resta do plano de socorro original de 110 bilhões de euros (equivalente a 159 bilhões de dólares), pondo fim a qualquer possibilidade de estabilização da situação fiscal grega e aumentando consideravelmente as chances de default, o que repercutiria em todos aqueles que carregam uma montanha de títulos da dívida grega em seus balanços, como o Banco Central Europeu. O temor só foi amenizado quando os membros da zona do euro declararam confiar no Parlamento grego para que aprove, nos próximos dias, um plano com as novas medidas de austeridade impostas. Isto feito, o desbloqueio da próxima parcela de empréstimos, com o fim de evitar a bancarrota grega, será realizado. O primeiro-ministro grego, Georges Papandreou declarou que a aprovação das medidas mostrará as intenções do governo de assumir a responsabilidade com o país e com o povo. A população, entretanto, parece discordar do ministro. No último dia 15, cerca de vinte mil gregos, invadiram as ruas de Atenas, numa manifestação para tentar impedir a aprovação deste plano, no Parlamento. Este foi mais um dia de greve geral – a terceira deste ano - que paralisou parcialmente os serviços administrativos, os transportes e os estabelecimentos de comércio.

As más notícias vão além da zona do euro. A China, segunda maior economia do mundo, também está passando por “maus bocados”, com um índice de inflação que atingiu 5,5%, nível mais elevado em quase três anos. O governo reagiu elevando o depósito compulsório dos bancos, o que retirou do mercado 380 bilhões de yuans, equivalente a US$ 60 bilhões e inibindo o crédito. A redução da concessão de empréstimos na China é apenas um dos sinais recentes que sugerem que a super potência está desacelerando ao mesmo tempo em que o governo perde credibilidade com o povo ao ponto de acionar as polícias da tropa de choque, armados com gás lacrimogêneo, para conter os trabalhadores da cidade de Zengcheng, situada ao sul do país, que reclamavam das más condições de trabalho.

E na economia mais rica do mundo? Os últimos indicadores da economia americana foram desapontadores, ao ponto do Laurence Summers, ex-diretor do Conselho Nacional de Economia da Casa Branca, diagnosticar a realidade americana como “a década perdida”. A preocupação maior é o risco de estagflação, ou seja, baixo crescimento acompanhado de altas taxas de inflação. Entre abril e maio, o índice de preços subiu de 0,2%, para 3,6%, entre maio deste ano e do ano passado e a produção industrial cresceu apenas 0,1%, em maio.

Analisando estes fatos, até os mais “otimistas”, como o renomado economista Robert Shiller, confessam que “há uma probabilidade substancial de uma nova recessão”.

Isso já não era previsível?



[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Venceram os desenvolvimentistas!

Semana de 05 a 12 de junho de 2011

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor.

Ao observar a situação atual da nossa economia, é impossível falar sobre outro tema que não a inflação, problema que agora incomoda, não só o Brasil, mas a maioria dos países. Este é um dos assuntos econômicos mais discutidos no momento. A Odisséia Brasileira continua. Com o novo aumento da taxa de juros, o Banco Central declarou adotar “uma nova estratégia” (?) para o controle inflacionário. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, reconheceu que as medidas adotadas nos últimos três meses ainda não surtiram efeito e, por via das dúvidas, resolveu aplicar a velha receita.

Os números demonstram isso. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou alta de 6,51%, no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IBGE. O resultado é maior que os 4,5% (centro da meta) e ultrapassa mesmo o teto de 6,5%. As projeções para o índice de inflação oficial não param de crescer. Pela oitava vez consecutiva, o Boletim Focus, do Banco Central, aponta tendência de alta do indicador que deve fechar o ano em 6,37%.

“A inflação não é de demanda”, disse a presidente. E os representantes do Banco Central passaram a admitir que a inflação é provocada por múltiplos fatores: fatores ligados à pressão da demanda, principalmente através dos preços dos serviços, e outros ligados à alta dos alimentos e da energia. Novamente, os preços administrados voltam a influir. Percebendo isto, a presidente Dilma “convidou” o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e o diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson Hubner, para que explicassem o alto valor das tarifas de energia elétrica e solucionassem o problema.

O governo atira para todos os lados. Encomendou um estudo sobre a indexação, para verificar como a inflação futura é influenciada pela inflação passada. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, num encontro com representantes da iniciativa privada, pediu ajuda para conter o fenômeno, solicitando aos empresários que evitem os aumentos de preços. Mas a resposta que recebeu foi a de que o governo precisa apresentar contrapartidas através da desoneração tributária. Outra proposta foi feita aos bancos: o ministro pediu que as instituições destinassem um total de R$ 2 bilhões, de suas carteiras de crédito, para financiar empreendimentos de pequeno porte.

Neste sufoco, uma outra notícia desagradou o governo. O PIB industrial nos três primeiros meses do ano será de aproximadamente 1%, a atividade da indústria cresceu 2%, em fevereiro, comparado a janeiro, e de 0,5%, em março, em relação a fevereiro. E o crescimento da indústria de bens de capital foi de 2,2%, em fevereiro e 3,4%, em março.

Mas o governo tenta acalmar os agentes econômicos. Segundo Tombini (presidente do BC) é possível crescer com inflação, desde que esta seja domada. Há muito se fala do trade-off entre inflação e crescimento. Delfim Netto, brilhantemente mostra que, quando a realidade se afasta das previsões teóricas feitas por certas correntes de pensamento, os economistas passam a ver, com perplexidade, a não funcionalidade dos modelos macroeconômicos utilizados há mais de 20 anos. Segundo ele, a idéia de que existe um produto potencial é defendida como verdade absoluta e ajustada às funções de produção sob condições tão restritivas e “sempre convenientemente ignoradas”. São as conclusões deste modelo que embasam todas as decisões da política econômica.

Coube a Dilma lidar com esta realidade adversa. Enquanto o governo colhe os frutos amargos da herança maldita, deixada pelo governo anterior, o ex-presidente Lula vive seus momentos de celebridade e colhe (em dinheiro) os doces frutos pós-mandatos. O Bank of America Merril Linch comemorando, na Casa Fasano, em São Paulo, a autorização que lhe foi concedida, pelo Banco Central, para atuar como banco múltiplo no Brasil, convidou o ex-presidente para proferir uma palestra para a nata do empresariado nacional. Ganhando cachê de aproximadamente R$ 200 mil por uma hora de discurso, Lula encantou a platéia que tinha na primeira fila o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. E improvisou, como de praxe... Num desses improvisos desafiou o público: “eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato.”

No meio de tão seleto público, não houve manifestações contrárias numa tácita e unânime concordância.

Saudemos, pois, o governo dos trabalhadores!



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Seminário Permanente

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Inflação ou Desemprego?

Semana de 30 de maio a 05 de junho de 2011

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Em 1958 um neozelandês chamado A. William Phillips publicou um artigo que relacionava de forma inversa duas variáveis: a taxa de desemprego e a taxa de aumento dos salários nominais. O "fator trabalho”, além de fazer parte da estrutura de custos de toda empresa, é considerado como única variável nos principais modelos macroeconômicos ortodoxos. A relação entre as taxas logo foi transformada na relação entre desemprego e inflação dos preços de toda a economia. Segundo esses desenvolvimentos posteriores, tal como registrou Phillips, quando há uma redução no desemprego ocorre um aumento na inflação, e vice-versa. Embriagados com esta ideia, os policy makers do Brasil, já há muitos anos, tomam decisões com base na chamada Curva de Phillips, como ficou conhecida a representação gráfica desta relação. A "teoria" por trás dela defende que, quando há um aumento na demanda por bens, serviços ou "fatores de produção" (em termos ortodoxos: terra, capital e trabalho), há uma consequente elevação nos seus respectivos preços. Isto porque a oferta destas mercadorias, regra geral, não tem um aumento imediato, resultando num excesso de demanda sobre a oferta. Esta seria uma das causas da inflação. Outra causa seria a transferência, para o preço final dos produtos, dos custos maiores, derivados da alta inicial dos preços. Isto causaria um efeito bola de neve, onde o preço maior de uma mercadoria provocaria acréscimo no custo das outras. O resultado é uma elevação de preços em cascata.

Atualmente, nenhum analista duvida que em 2011 a inflação será superior aos 4,5% estabelecidos como meta. Isto porque o crescimento econômico do país está acima do tal “PIB potencial”. Apesar do crescimento do 1° trimestre deste ano ter sido menor do que se esperava, ele atingiu um patamar de 1,3%, quando comparado com o último trimestre de 2010. Relacionado ao mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 4,2%. A expectativa para o restante do ano, por outro lado, é a de que haja uma redução no nível de crescimento. Para o Ministro da Fazendo, Guido Mantega, é certo que isto aconteça. Porém, estudos do seu próprio Ministério afirmam que a economia ainda não está claramente em desaceleração, apesar dos dados divulgados pelo IBGE. Entre abril e março houve redução em todas as áreas da indústria, que em média recuaram 2,1%. Os números são: Bens de Capital (-2,9%), Intermediários (-0,6%), Consumo (-2,9%), Consumo Duráveis (-10,1%) e Consumo semi e não Duráveis (-1,5%). O estudo ainda afirma que 54,9% dos setores pesquisados não cresceram, na comparação entre abril de 2011 e abril de 2010.

O futuro não é promissor. Por parte do setor público, nos quatro primeiros meses do ano, já foi feita 49% da economia necessária para se atingir a meta de superávit primário. Isto representa uma cifra de R$ 117,8 bilhões não gastos por parte de municípios, estados e união. No setor privado o problema também é o governo. Procurando segurar a inflação (diagnosticada como de demanda), a presidente Dilma, e seus fiéis e infiéis escudeiros, já tomaram medidas de contenção do crédito e estão cada vez mais agressivos no aumento da taxa de juros. E há quem diga que já é preciso maneirar nesta política, visto que a economia vai desacelerar e a inflação já começou a cair. Mas a maioria dos bancos projeta mais aumento na taxa básica de juros (Selic) até o fim do ano. O que não é surpresa. O Bradesco e o Itaú Unibanco, por exemplo, tiveram, entre o 1° trimestre deste ano e o último do ano passado, um crescimento maior na receita advinda de aplicações em títulos e valores mobiliários (TVM), majoritariamente títulos públicos, do que na receita advinda de operações de crédito. Quando comparado com o 1° trimestre de 2010, além dos dois bancos, o Banco do Brasil também teve um maior crescimento da receita com TVM.

Por sua vez, analistas preveem um aumento do preço das commodities, que deram uma trégua no mês de maio. Eles afirmam que, além de fatores climáticos, a especulação de "investidores" fará os preços, incluindo o dos alimentos, crescer.

Nestas condições, com base na teoria adotada pelo governo, como evitar a desgraça para o bolso do trabalhador? A resposta é: impedindo o aumento demanda. Mas como impedir este aumento? Só demanda quem tem renda e só tem renda quem trabalha. Logo, para diminuir a inflação, é preciso aumentar o desemprego. Mas, se a inflação é ruim para o trabalhador, o desemprego não é pior? Não seriam melhores as medidas que estimulam a oferta, já que a inflação é causada por um "desequilíbrio" entre ela e a demanda?



[i] Mestre em Economia, professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.).

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Provações do governo Dilma

Semana de 23 a 29 de maio de 2011

Elivan Rosas Ribeiro[i]

Continua a repercutir a sucessão na Diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI), vaga depois da prisão do antigo Diretor. Sarkozy advoga abertamente a vez da França e os Brics tentam impedir nomes alternativos para preenchimento do lugar vago. A economia dos Estados Unidos continua vulnerável a novas crises, por causa principalmente da política do FED, que reforça as bolhas especulativas, e na Europa, uma leve e lenta expansão anuncia-se na zona do Euro, com previsão de turbulência na Espanha e continuação da crise na Grécia e em Portugal.

No Brasil, três notícias continuam a ocupar a mídia.

A primeira trata das tentativas para evitar a entrada de capitais especulativos no país, que agrava a taxa de câmbio. Na visão do Ministro Mantega, no curto prazo, ela não poderá estar sujeita a um sistema flutuante, sistema só aceitável a partir de uma reforma do sistema monetário internacional, com adoção do sistema de câmbio flutuante em todos os países. Na ótica do Ministro Pimentel, a questão relativa a taxa de câmbio é um problema “sem solução”, com o qual o “empresário tem que saber conviver... e se modernizar”. Este problema afeta de maneira aguda a economia, principalmente a indústria.

A segunda notícia é a aprovação, pela Câmara dos Deputados, de um “novo código florestal”, objeto de grande controvérsia. De um lado, posicionaram-se os ruralistas, em clara aliança com uma significativa percentagem do “baixo clero”, filiado ao PMDB e ao PC do B, capitaneado pelo Deputado Aldo Rebelo, conhecido dirigente do “Partido Comunista do Brasil”. Do outro, os ambientalistas e as forças mais conscientes e progressistas da sociedade brasileira. Segundo os críticos, se o novo código for aplicado, as florestas ficarão mais desprotegidas do que estavam em 1934, o que representa um retrocesso histórico. O embate, transformado em uma crise de governação, provocou a intervenção direta da Presidente Dilma Rousseff nas negociações orientando os seus Ministros e Coordenadores políticos a rejeitarem o acordo proposto pelo PMDB e cerrar fileiras em torno de quatro pontos, a saber: “Evitar a “anistia” de derrubadas ilegais; compensar as matas ciliares localizadas em beiras de rios; manter as áreas de reserva legal e dar prioridade à agricultura familiar”. No Senado, a proposta do novo código ainda irá ser avaliada em três diferentes comissões.

A terceira notícia, aparentemente a mais personalizada, mas nem por isso menos importante, é a denúncia do suposto enriquecimento ilícito do Ministro Palocci. O Ministro Antônio Palocci, mais uma vez, encontra-se na berlinda, alvo das críticas da imprensa e da opinião pública em geral. As implicações econômicas e políticas de uma tal acusação são incalculáveis e parece claro, que sinalizariam ao governo a adoção de uma postura de neutralidade, até que um inquérito fosse instalado e os fatos elucidados. Mas, infelizmente, isso não tem acontecido. O Governo vem defendendo, com todas as armas ao seu alcance, a invulnerabilidade do Ministro. Palloci é apontado com selo de garantia dos governos Dilma e Lula, junto à comunidade financeira internacional.

Todas essas notícias dão conta de acontecimentos que desgastam internacionalmente a imagem do Brasil. Em que pese esse fato, o mais preocupante mesmo é o que está por vir internamente. Antes de mais, especula-se sobre o estado de saúde e um possível afastamento das funções governativas da Presidente. Nesse caso, pela ordem constitucional, as funções presidenciais passariam para as mãos de seu vice, que, por acaso, é do PMDB, com ou sem Palloci na chefia da casa Civil. No caso da continuidade de Dilma, se Palloci fosse afastado, especula-se que o próprio Lula viria a ocupar a Casa Civil repetindo a dobradinha invertida Dilma-Lula.

Especulações? O que é fato é que na semana passada, Lula foi a Brasília para pessoalmente dar alento à Presidente Dilma, segurar o intocável Palloci, por ele colocado no posto, (mesmo que em via de morte lenta e gradual) e dar uma tranqüilizada nas lideranças políticas.

Aqui pra nós, já não é hora “do cara enrolar a bandeira, pendurar a chuteira” e deixar a sucessora governar?

Haja paciência!



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br; www.progeb.blogspot.com.

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