sábado, 27 de agosto de 2011

Como o “paradoxo doloroso” afeta o “double dip”

Semana de 15 a 21 de agosto de 2011

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Se você, caro leitor, não entendeu o título desta Análise, não se preocupe. Você está na mesma situação da esmagadora maioria dos leitores que é diariamente bombardeada e mistificada pelo “economês” que infesta a mídia, cada vez mais enriquecido com termos importados de outros campos da ciência e temperado com palavras estrangeiras, principalmente inglesas. Temos tentado desmontar esta linguagem, desvendar os mistérios e desmistificar o cinismo com que se pretende esconder a realidade e impingir às pessoas falsas verdades. E isto é precisamente um dos objetivos do Progeb, projeto de pesquisa que coordeno no Departamento de Economia da UFPB.

Mas, qual a razão para o título da Análise de hoje?

O “paradoxo doloroso” é uma criação do renomado jornal “Financial Times”, com o qual ele tenta descrever a situação angustiante em que se encontra a economia mundial, particularmente nos países desenvolvidos. Temos mostrado como se vive novamente um processo de desaceleração generalizada deflagrado antes do previsto. Os dados da semana continuam a mostrar a intensificação da queda dos índices de produção que agora atinge os motores da zona do euro, a Alemanha e a França que tiveram no segundo trimestre, em relação ao trimestre anterior, crescimentos de 0,2% e 0,0%, respectivamente. Com a queda na produção cai também a arrecadação dos impostos agravando o déficit dos orçamentos e aumentando a dívida pública, que cresceu à custa da “ajuda” que os governos deram ao sistema financeiro, na crise iniciada em 2008, para evitar as falências e garantir os rendimentos do capital financeiro. A queda das receitas e a dificuldade de aumentá-las obrigam os governos a reduzir as despesas, o que acarreta o agravamento da desaceleração das economias, com menos produção, emprego e renda. Eis o paradoxo. Para solucionar o rombo irresponsável os governos agravam a crise e a situação de sofrimento das populações, o que já está ocorrendo e provocando as revoltas e explosões que já havíamos previsto quando escrevemos a Análise “O pau vai quebrar”.

O agravamento provocado pelas políticas de austeridade impulsiona o “Double dive” das economias, ou seja, o duplo mergulho, fenômeno que já havíamos previsto quando afirmamos que a saída da crise seria em W. Estamos precisamente descendo pela segunda perna do W em direção ao fundo do poço e, portanto, dando um segundo mergulho.

O duplo mergulho que nós previmos hoje não é mais contestado por ninguém. O economista Nouriel Roubine, considerado o primeiro a prever a aproximação da crise de 2008, já se pronunciou confirmando o “double dive”.

O planeta está entalado. Se correr ou se ficar o bicho pega e come. Tudo pode acontecer menos sacrificar os rendimentos do capital financeiro, que nada produz e que suga, sob a forma de juros e dividendos, todo o esforço de produção da humanidade. E os nossos ilustres comentaristas econômicos continuam a chamar de “investidores” os especuladores que se alimentam no jogo viciado das bolsas de valores e mercadorias, o chamado “mercado financeiro”, onde os mega-especuladores sempre ganham.

No Brasil a situação é um pouco diferente. Enquanto os desenvolvidos, inclusive os EUA, batalham para estimular suas economias e aumentar a produção, a presidente Dilma, sufocada pelos casos de corrupção que se espalham no seu governo, mais uma vez, sob a batuta do Banco Central (BC), busca desesperadamente desacelerar a economia considerada superaquecida. Afinal, conseguiram e estão exultantes.

Os dados da semana já comprovam a queda na produção. O IBC-BR, índice calculado pelo BC e considerado bom indicador de crescimento do PIB, em junho, em relação a maio, caiu 0,26%. As estimativas do governo para o crescimento do PIB caíram de 5%, para valores em torno de 4,0% e as do mercado para 3,8%. Por seu lado, as empresas montadoras Volks e GM iniciaram os cortes na produção reduzindo dias de trabalho aos sábados, por causa do acúmulo de estoques considerados incômodos.

Viva a depressão!




[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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sábado, 20 de agosto de 2011

Começou! E nem os emergentes escapam!

Semana de 08 a 14 de agosto de 2011

Tatiana Losano de Abreu [i]

Antes era apenas a nossa Análise que alertava os leitores sobre o retorno inevitável da crise econômica e que sua propagação atravessaria o Atlântico. Agora, as notícias da semana são repletas de constatações do que para nós já era inevitável. A crise está rebatizada de uma crise de endividamento público. Para nós, apesar desta nova forma de manifestação, o conteúdo da crise é o mesmo e, como sempre, os proletários que se cuidem, pois as consequências para o povo serão também inevitáveis. As medidas desesperadas dos governos europeus, para evitar maiores efeitos negativos ao sistema financeiro internacional, colocam nos ombros da população a contenção do déficit público através da radicalização das “medidas de austeridade”.

A Espanha anunciou aumento da arrecadação em 2,5 bilhões de euros através da elevação dos impostos e cortes em cerca de 2,4 bilhões de euros, principalmente com medicamentos (agora só comprará genéricos!). O governo italiano decidiu acelerar o programa de austeridade, através, também, do aumentando de impostos, como de praxe, além de flexibilizar as leis do mercado de força de trabalho e liberalizar os serviços públicos. Como conseqüência, o governo italiano já espera o sufocamento da fraca e hesitante recuperação do país, o que não vai demorar muito, pois a maioria dos setores da indústria ainda está produzindo abaixo do nível pré-recessão e alguns analistas estão alertando para uma contração do PIB no terceiro trimestre. Estas são as condições impostas pelo Banco Central Europeu (BCE) para garantir, através da intervenção no mercado, o financiamento de 245 bilhões de euros (equivalente a 347 bilhões de dólares) necessários para pagar os títulos da dívida soberana dos dois países que estão vencendo entre agosto e setembro deste ano.

De fato, o desaquecimento da economia global não é uma suposição, mas uma realidade. Os Indicadores da OCDE apontam que os picos nas atividades econômicas dos EUA, Japão e Rússia aconteceram no mês passado. E depois do pico, o fatal é a queda!

A situação da Rússia não é novidade. No segundo trimestre a economia apresentou um crescimento muito aquém das expectativas, equivalente a 3,4%, em relação ao mesmo período de 2010, o crescimento da produção industrial perdeu fôlego e a inflação corroeu o poder de compra dos consumidores.

Nos EUA, os consumidores continuam a cortar gastos com medo do que virá no futuro. O crescimento do país, no primeiro semestre, foi menor que 1% (índice anualizado) e as previsões de crescimento para o acumulado do ano diminuíram para 1,6%. Os analistas prevêem que o desemprego, no fim do ano, será de 9% e que a construção civil continuará apresentando crescimento moribundo até 2012. Os dados são tão alarmantes que, para alguns economistas entrevistados pelo The Wall Street Journal, a diferença entre a recessão e o crescimento extremamente lento, registrado até agora, nos EUA, é insignificante.

A recessão já começou e, desta vez, nem os emergentes escapam!

A China, mercado que mais cresce e absorve a produção dos emergentes, já apresenta desaquecimento. Os dados de crescimento da produção industrial, das vendas no varejo e dos investimentos, referentes ao mês passado, estão abaixo das expectativas e a inflação continua persistente, impedindo o afrouxamento da política monetária. Para completar, o governo chinês declarou mudanças na política cambial para manter o yuan valorizado.

Diante deste cenário, o Brasil que se cuide, pois, além de não ter mais a garantia da demanda chinesa por commodities, a atividade econômica não está tão vigorosa como alguns desavisados imaginam. O setor industrial está problemático, apresentando aumento dos estoques indesejados e redução do emprego industrial.

Não restam dúvidas que o Banco Central Brasileiro terá que conter o aperto monetário se quiser amenizar a queda da economia brasileira. Mas, o “mercado” (seja lá quem for), com o pretexto da ameaça da inflação, já “cantou a bola”: é aceitável não aumentar mais a taxa de juros, até o fim do ano, mas reduzi-la, é inadmissível!




[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Seminário Permanente





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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

As ratazanas abandonam o navio

Semana de 01 a 07 de agosto de 2011

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, o mar continua a não estar para peixe. A situação que estamos vivendo atualmente só confirma as previsões já apresentadas nesta coluna. A crise anunciada da economia norte-americana ocupou todas as manchetes. Nem o Plano Brasil Maior, política para a indústria lançada pelo governo brasileiro, nem os escândalos políticos que continuam a derrubar ministros, desta vez o da Defesa, Nelson Jobim, chamaram mais a atenção.

As perspectivas de uma nova crise mundial já vinham crescendo com a crise da dívida grega que continua a contagiar a economia européia. A Espanha e a Itália, terceira e quarta maiores economias da União Européia, vieram em seguida, também com dificuldades de rolar suas dívidas que são imensamente maiores que a da Grécia. As próprias economias da França e da Alemanha não estão imunes ao mesmo tipo de problema. O temor é que o calote de qualquer país provoque uma quebra dos bancos que possuem os títulos de dívida soberana destes países e, através da globalização financeira, a quebradeira geral seja desencadeada.

A tensão mundial se acentuou com os rumores de uma possível moratória norte-americana. A negociação travada no Congresso, para aumentar o teto da dívida, gerou um acordo que aparentemente resolveu a questão. Mas, a calmaria que se esperava com o fato não aconteceu. O impacto causado pela divulgação de alguns índices da economia dos EUA foi maior. O indicador que mede a atividade industrial caiu como uma bomba, recuando mais de 2% em junho e registrando o nível mais baixo em dois anos. Os gastos dos consumidores caíram 0,2% e as rendas aumentaram apenas 0,1%, o menor crescimento desde setembro do ano passado. A tendência é que o PIB do semestre feche com uma taxa menor que 1% e que a taxa de desemprego continue acima dos 9%. Além disso, o acordo que foi negociado tem embutido um forte corte nos gastos que certamente contribuirá para a piora da situação. Como resultado, generalizou-se o pânico.

Temendo o naufrágio americano, os especuladores atiraram-se, em desespero, às Bolsas de Valores cujas quedas se sucederam pelo mundo afora, seguindo o movimento do astro rei. As ratazanas abandonam o navio. Sell, sell, sell é a palavra de ordem geral. Todos procuram livrar-se dos títulos duvidosos em busca de liquidez, do vil metal, da matéria. Depois dos desabamentos das bolsas na Ásia, consequência inevitável do pânico, em Londres, a queda foi de 8,26% e em Nova York de 6,26%. São os piores resultados registrados desde a crise de 2008. No Brasil, as negociações da Bovespa caíram 10,22%, no acumulado da semana.

Nova notícia agravou ainda mais a situação. Mesmo antes do acordo norte-americano já se falava de um rebaixamento da nota dos Estados Unidos por parte das agências de classificação de risco. A agência avaliadora de riscos Standard & Poor’s concretizou os rumores rebaixando a nota do país que caiu de AAA para AA+. Tal classificação elenca as economias como más ou boas pagadoras e, há muitos anos, os Estados Unidos lideravam o topo da lista com o chamado triplo A. A economia americana era a que oferecia a maior garantia de pagamento da dívida soberana. Agora o número de países premiados com o A triplo foi reduzido para 16 e os investimentos nos títulos norte-americanos, que já rendem muito pouco, só terão um atrativo: a segurança.

E agora o que fazer?

Os passageiros deste navio com destino certo ao fundo do mar tratam, de pular fora.

Mas, para onde ir? Europa? O futuro é incerto. China? O controle cambial por lá é fortíssimo. Prevendo a fuga dos “investidores” para fora dos Estados Unidos em busca de um porto seguro, alguns países já anteciparam as devidas providências: a Suíça reduziu as taxas de juros a zero para deter a valorização do franco suíço. O Japão, com o mesmo objetivo (deter a valorização de sua moeda), injetou US$ 12,5 bilhões em sua economia. O Banco Central Europeu aumentou a liquidez do mercado e a Turquia reduziu sua taxa básica de juros em 0,5%. Na Ásia, Coréia do Sul, Filipinas e Tailândia também tomam medidas para tentar impedir a valorização de suas moedas.

A nova recessão já anunciada está se concretizando. E a crise assume uma nova forma de manifestação, aparecendo agora como crise do endividamento público. Para onde governos, empresas e principalmente os especuladores irão navegar? Nos maremotos europeus? Nas ondas incertas da China? No balanço das economias em desenvolvimento? Ou o melhor seria fazer o caminho de volta?

Vamos aguardar os rumos da nova navegação, pois o inevitável não está mais por vir, como anunciamos. O inevitável já está acontecendo.




[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)

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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Os indicadores não melhoraram, nem vão melhorar

Semana de 25 a 31 de julho de 2011

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Para os que têm esperança de um ano melhor para a atividade econômica, nós temos algumas notícias a dar.

Em 2011, o governo central do Brasil, num esforço conjunto do Banco Central, Tesouro Nacional e Previdência Social (a mesma que está "deficitária"), fez um "ajuste fiscal" de tal forma rigoroso que já economizou, no final do primeiro semestre, um montante correspondente a 67,8% do necessário para garantir o superávit primário de todo o ano. Isto representa um valor de R$ 55,5 bilhões, que não foi gasto e será destinado ao pagamento dos juros da dívida pública. Se formos pensar numa lógica para esta conta, teríamos que partir do pressuposto que, após gastar com tudo o que o país precisa, o governo ainda conseguiu economizar algum dinheiro para pagar o que deve.

Mas quem está satisfeito com os serviços prestados?

E por falar em dinheiro do governo, o recolhimento de tributos por parte da União e dos estados chegou ao maior patamar em 21 anos. Segundo os estudos dos economistas José Roberto Afonso e Márcia Monteiro, quando somamos os últimos 12 meses fechados em junho de 2011 temos uma arrecadação que representa 30,02% do PIB. Isto poderia parecer um bom sinal, se não fosse considerada a origem dos recursos. Segundo Afonso, "o aumento da arrecadação federal é muito concentrado em poucos setores, e são esses os que sustentam um padrão chinês das receitas, enquanto o resto está inserido em um padrão de arrecadação de país que desacelera o ritmo". De janeiro a junho de 2011, a arrecadação dos principais setores foi: 1°) R$ 59,9 bilhões, das Entidades financeiras; 2°) R$ 22,5 bilhões, do Comércio atacadista; 3°) R$ 17,5 bilhões, da Fabricação de veículos; 4°) R$ 11 bilhões, do Comércio varejista; 5°) R$ 9,6 bilhões, dos Seguros e previdência complementar; 6°) R$ 7,3 bilhões, das Atividades auxiliares do setor financeiro. Nada mais justo do que o governo pegar de volta uma pífia parte do que dá ao capital financeiro. Se o setor contribui com R$ 76,8 bilhões, é porque tem receita para isso. E qual a fonte dessa receita? A especulação e os juros.

Mas, na última ata do Copom, o Banco Central deu sinais de que está mudando sua percepção em relação à demanda doméstica. Apesar de ter elevado em 0,25% a Selic, que passou a 12,5%, o BC vê um "ritmo ainda incerto da atividade econômica".

Em São Paulo a desaceleração já chegou. O nível da atividade industrial, em junho, foi 0,1% menor do que em maio de 2011, enquanto o total de salários reais decresceu 0,8% e as vendas reais cresceram apenas 1%, no período. Rogério César de Souza, do Instituto para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirma que o arrefecimento foi além do esperado e que em 2011 a expectativa é de que o crescimento da produção industrial, que em 2010 foi de 10,5%, não passará dos 3%.

Para piorar, o dólar barato degrada a balança comercial brasileira, contribuindo para a desgraça da indústria local. Apesar de todos os setores da indústria terem reduzido o volume das importações, no 1° semestre deste ano em relação ao 1° semestre de 2010, a produção local apresentou um fraco desempenho, perdendo espaço para o produto externo. No ano de 2010, o crescimento das importações totais foi de 37%. Entre janeiro e junho de 2011, em relação ao mesmo período de 2010, este número foi de 13,7%. A importação de bens duráveis teve o crescimento reduzido de 47,7%, em 2010, para 33,7%, em 2011, e a de bens de capital reduziu de 39,8% para 26%. Por outro lado, entre janeiro e maio deste ano, o crescimento da produção de bens de consumo duráveis no Brasil foi de 2,3%, enquanto o crescimento da indústria de bens de capital foi de 6,4%.

Diante desta realidade o governo ameaça uma reação controversa. A primeira a manifestar-se foi a presidente Dilma, dizendo que "medidas contra o câmbio estão descartadas". Logo depois saltou o Ministro Mantega defendendo "medidas importantes neste campo". O problema é que o diagnóstico dele em relação ao câmbio é bem curioso: "Não vamos deixar a guerra cambial nos derrotar com desvalorizações artificiais das taxas de câmbio de outros países". Com as maiores taxas de juros do mundo, que atraem capital externo inundando o mercado brasileiro de dólares, não seria nosso próprio país o causador das "desvalorizações artificiais"?

Deixa pra lá.

Outros indicadores mostram a desaceleração da economia, mas, para não cansar o leitor, ficamos por aqui reafirmando, apesar dos pesares: o que está por vir é inevitável.



[i] Mestre em Economia, professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.).

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