quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A carroça grega passa sobre o povo grego

Semana de 22 a 25 de fevereiro de 2012

Tatiana Losano de Abreu [i]

Não é de espantar que a Grécia continue a ser tema recorrente em Análise & Conjuntura, já que a economia grega é uma bomba relógio prestes a explodir sobre toda a zona do euro. Como já era esperado, após 12 horas de negociações entre os ministros de finanças da região, foi aprovado mais um “auxílio” para o país que hoje acumula uma dívida soberana equivalente a 164% do PIB.

O termo “troika” é uma palavra russa que significa três cavalos alinhados lado a lado, reunindo esforços para puxar uma carroça. Este termo é recorrentemente utilizado para designar a aliança entre os três cavalos – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e União Européia (UE) – para mudar a rota da carroça grega que vai em direção ao calote inaceitável, principalmente pela Alemanha. Desta vez, um pacote de 130 bilhões de euros foi aprovado após o comprometimento do governo grego em dobrar a dose de sacrifício exigida do povo grego. Medida semelhante foi tomada no primeiro semestre de 2010, quando foram disponibilizados 110 bilhões de euros ao país. A partir dessa data, o governo grego se dedicou a colocar em prática medidas de austeridade fiscal impostas pela equipe da “troika” na garantia da “ajuda financeira”. O povo grego sentiu o sacrifício na pele através da redução dos salários, dos direitos trabalhistas e da alta taxa de desemprego.

No entanto, os líderes europeus consideram que o governo grego não tem feito a sua parte e o acordo não está sendo cumprido. Desta vez, o segundo pacote financeiro só foi aprovado à custa da soberania do país e será disponibilizado aos poucos, de acordo com as necessidades e a execução do programa de austeridade. A Grécia foi obrigada a submeter os rendimentos do Estado ao pagamento da dívida contraída junto à “troika” e aos credores privados antes de qualquer outra despesa, como o pagamento de salários e aposentadorias. Uma equipe de representantes da “troika” permanecerá na Grécia para assegurar o cumprimento dos termos e condições do pacote. Os anos de austeridade foram ampliados. Lucas Papademos, primeiro ministro grego, prevê desempregar 198 mil funcionários públicos, além de cortar 25% das receitas do orçamento em 2012. Os dois principais partidos políticos, que irão disputar eleições em abril, o Pasok, socialista, e a Nova democracia, de direita, tiveram que se responsabilizar em não mudar os planos, após as eleições. Mesmo com a pressão institucional sobre o governo grego, a “troika” admite a possibilidade de o país chegar a 2020 com uma dívida que ainda representará 160% do PIB. De fato, a austeridade sobre a economia local só irá agravar o cenário recessivo que o país apresenta há cinco anos, empobrecendo a região e diminuindo a receita do Estado, além de agravar a raiva acumulada de inúmeros setores da sociedade que estão nas ruas expressando o descontentamento com a aprovação do acordo que foi baseado nas últimas estimativas da Comissão Europeia. Segundo estas estimativas, o PIB grego encolherá apenas 4,3% este ano, depois da queda acumulada de 6,8% em 2011, e estagnará em 2013. Outra opinião têm as agências de consultoria locais. Para elas, o PIB cairá 8% em 2012 e 7% em 2013.

No que se refere ao cenário internacional, a Comissão Européia mostrou-se menos otimista. Em relação à economia italiana, a previsão é de uma contração de 1,3%, em 2012, depois de uma ligeira recuperação nos dois últimos anos. A Alemanha, depois de apresentar um crescimento de 3,0% em 2011 e 3,7% em 2010, deverá crescer apenas 0,6% em 2012. A economia irlandesa vai crescer apenas 0,5% em 2012, metade do que foi previsto anteriormente.

Para evitar que a instabilidade da Zona do Euro se propague, o Fundo Monetário Internacional precisa de US$600 bilhões. Por enquanto, o fundo possui apenas US$240 bilhões, vindos dos próprios europeus. Brasil, China e Índia já demonstraram a disposição de participar com recursos adicionais, mas cobram que os europeus deixem de bater o pé sobre algumas exigências: a ratificação da reforma de 2010 que ampliou o poder de voto dos emergentes no FMI e a revisão da forma de cálculo para nova redistribuição de cotas, ou seja, a mudança do poder de decisão no Fundo. Mais da metade dos países da UE resiste em aceitar a perda de diretorias executivas do FMI, mas o prazo está se esgotando.

Alguém vai ter que largar o osso.

Enquanto isso, a carroça continuará a esmagar o povo grego, a menos que...



[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Inimigo sem nome e sem rosto

Semana de 13 a 19 de fevereiro de 2012

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Depois de ter declarado que “Meu inimigo é o sistema financeiro”, François Holande, candidato pelo partido socialista ao governo da França, e um dos favoritos nas pesquisas, definiu-o como “inimigo sem nome e sem rosto”. Curiosamente o atual presidente Sarkozy (aquele que faz parelha com Angela Merkel da Alemanha, formando o casal Merkozy) ataca igualmente o sistema financeiro e os bancos prometendo medidas de controle. O clamor do tipo “ocupa Wall Street” espalha-se pelo mundo e preocupa os políticos que têm de enfrentar eleições em tempos próximos. Imerso neste ambiente hostil, os bancos afogam-se em suas próprias dificuldades, fruto das ações especulativas em que se envolveram. Só a situação da Grécia provocou baixas contábeis de 5,4 bilhões de euros, nos quatro maiores bancos franceses, BNP Paribas, Société Génerérale, Crédit Agricole e Groupe BPCE. E, desta vez, o governo francês tem dificuldades de ajudá-los, pois já carrega o compromisso de suas próprias dívidas que atingem 1,69 trilhões de euros, 85% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Não é só a França que está em dificuldades. Segundo dados da Eurostat (agência de estatísticas européia), o PIB do bloco encolheu 0,3%, no quarto trimestre de 2011, em relação ao terceiro trimestre, sendo a primeira contração observada desde 2009. Há a esperança de que se consiga evitar a chamada “recessão técnica”, mas, para alguns analistas, ela já começou.

Nos 17 países da zona do euro, a produção industrial caiu 1,1%, em dezembro, terceira queda em quatro meses e, no quarto trimestre, a produção caiu 1,8%. Alguns países tiveram, nesse trimestre, quedas acentuadas, como a Grécia (7%) e Portugal (2,7%). Mesmo para a Alemanha, carro chefe do bloco, a OCDE espera um crescimento de apenas 0,5%. A comissão européia aponta que dentro do grupo, 12 países estão vulneráveis entre os quais estão incluídos Itália, França, Finlândia, Suécia, Reino Unido, Dinamarca, etc.

Como vemos a conjuntura de crise se mantém e mesmo um caso menor, como o grego, não encontra solução. Apesar de todos os protestos e pancadaria nas ruas do país, o parlamento grego aprovou um pacote de austeridade com um corte de 3,3 bilhões de euros. Mas, isto parece insuficiente, pois se teme que o partido que vença as eleições próximas, não respeite os acordos que condicionam a “ajuda”.

Todos sabem que as medidas restritivas dificultam a recuperação de qualquer economia. Apesar disso, as soluções propostas vão nesta direção. Sempre se recomendam demissões de funcionários públicos, redução nos salários, corte nas pensões, subsídios e programas sociais, aumento das idades para aposentadorias, corte nos gastos públicos e no crédito, ou seja, os trabalhadores devem pagar as contas da ganância dos bancos, das irresponsabilidades dos governos e do luxo dos empresários. A Alemanha é citada como exemplo pela seriedade de seus governantes e pela disciplina de seus trabalhadores que aceitaram salários mais baixos, jornadas de trabalho mais longas, etc. Afirma-se que o padrão de vida dos trabalhadores europeus ficou caro demais para ser mantido. É preciso nivelar por baixo para ser competitivo. Que os trabalhadores se prepararem para duros combates e muitos sofrimentos.

E enquanto economistas, políticos e outros intelectuais divertem-se com discussões bizantinas sobre a relação entre Estado e Mercado, os capitalistas utilizam-se dos dois quando lhes é conveniente. Quando se ganha dinheiro, viva o mercado. Quando se perde dinheiro, que venha o Estado ressarcir os prejuízos e encher os cofres.

Nestas águas revoltas, a duras penas, a economia brasileira ainda continua navegando, se bem que tendo de refazer suas contas. Os 5% de crescimento do PIB previstos pelo ministro Guido Mantega, para 2011, foram reduzidos para 4% e 3,5%. Mas o BC admite agora que ficará apenas em parcos 2,72%. Para 2012 o Ministério da Fazenda já se apressou em corrigir sua previsão anterior de 5% para 4,5%.

Em ano de eleições, em uma conjuntura internacional hostil, o governo Dilma enfrentará grandes dificuldades.

Vamos aguardar as medidas que serão tomadas.



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A insustentável dívida grega

Semana de 06 a 12 de fevereiro de 2012

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Prezado leitor.

Não há como falar na crise atual sem nos referirmos à situação na Grécia. Enquanto os Estados Unidos comemoram a criação, em janeiro, de 243 mil novos empregos, maior alta desde abril de 2011, e também a queda da taxa de desemprego para 8,3%, o que pode indicar um possível descolamento da economia americana, da crise européia, a Grécia rouba a cena novamente.

Lucas Papademos, primeiro-ministro grego, negocia com a União Européia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu, um segundo pacote de ajuda no valor de € 130 bilhões. A Grécia precisa rolar a sua dívida em março, ou seja, pagar os juros no valor de € 14,4 bilhões, e, sem o novo pacote, tal rolagem não acontecerá. Ao mendigar este montante, o governo comprometeu-se com medidas de austeridade adicionais e agora pretende impingir ao povo grego, que deverá pagar a conta. Estas medidas envolvem o corte de 22% no salário mínimo, a demissão de 15 mil servidores públicos, cortes de pensões pagas aos aposentados e uma maior flexibilização do emprego. O objetivo é garantir a redução do déficit público, de 9,5%, para 4,7% do PIB.

Os credores querem garantias de que a Grécia cumprirá o novo acordo. A primeira-ministra alemã recusa-se a aceitar a falência do país. Temendo que o sucessor de Papademos, que será eleito em abril, não cumpra os critérios estabelecidos pelo acordo, o casal Merkozy (Merkel e Sarkozy) está propondo que os pagamentos dos juros sobre a dívida grega sejam depositados em uma conta bloqueada, o que garantiria o serviço da dívida. Como cães bem treinados, as autoridades gregas limitam-se a obedecer. A novidade caiu como uma bomba, e os protestos no país, cada vez mais violentos, paralisaram o transporte público, fecharam bancos, escolas e hospitais.

Será que as autoridades gregas não percebem que estão atirando no próprio pé? O PIB da Grécia caiu 6% em 2011 e a taxa de desemprego é de 20,9%. Como reerguer uma economia completamente destruída se as medidas tomadas provocarão mais desemprego e queda da atividade econômica?

Há mais de dois anos que o problema grego persiste simplesmente porque as medidas tomadas são paliativas e provocam mais retração. Não precisa ser especialista para perceber que as novas medidas de austeridade impostas à Grécia, esta semana, provocarão apenas um alívio momentâneo nos compromissos financeiros do país visando acalmar os credores. Mas, o problema ressurgirá novamente.

Qual seria então a solução?

Um documentário lançado em 2011 intitulado “Dividocracia” e produzido por jornalistas gregos procura entender as causas da crise da dívida soberana. Segundo o levantamento, a dívida grega pode ser atribuída, em grande parte, à forma como foi estipulada a tributação no país e a tomada desenfreada de empréstimos ao longo do tempo. Tal endividamento se acentuou com a entrada da Grécia na União Européia, pois sendo um país periférico, sua economia sofre com a competitividade dos grandes países do bloco, em especial da Alemanha.

A idéia defendida no filme é a de que, se a democracia pressupõe a participação dos cidadãos, a gestão e as decisões relacionadas à dívida soberana deveriam considerar também a participação social. Daí o termo “Dividocracia”. Portanto, se o governo contraiu uma dívida, mas não a discutiu e sequer utilizou-a em favor da sociedade, é injusto que este encargo seja pago pelos cidadãos. A dívida então é uma dívida perversa e ilegítima. É o conceito de “dívida odiosa”. Foi o procedimento que Rafael Correa, presidente do Equador, adotou para não pagar a dívida com o Banco Mundial, FMI e outras organizações financeiras internacionais. A dívida odiosa foi apurada através de uma auditoria.

É sem dúvida uma argumentação interessante e polêmica (polêmica porque vai de encontro à postura dominante). É muito mais cômodo aceitar como verdadeiras as soluções propostas pelas instituições financeiras internacionais.

Até quando a sociedade será subserviente ao capital financeiro?

Até quando o clamor da população grega será abafado?

Em que lei está especificada que aquela população deve pagar, com seus salários, o custo da insustentável dívida grega?



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Economia de mercado

ANÁLISE DE CONJUNTURA ECONÔMICA
(Semana de 30 de janeiro a 05 de fevereiro de 2012)

Lucas Milanez de Lima Almeida(*)

Atualmente, vivemos na chamada economia de mercado, que se caracteriza, dentre outras coisas, pela distribuição da riqueza por meio da troca. Isto quer dizer que, para obter alguns dos produtos necessários a sua sobrevivência, as pessoas precisam trocar o que elas possuem com outras. Se todos tivessem livre acesso aos instrumentos e meios de trabalho, cada um poderia criar seus produtos e, quando necessário, trocá-los, seja por dinheiro ou por outras mercadorias. O problema é que estes objetos necessários à produção, na nossa economia de mercado, são de propriedade de uma pequena parte da população e isto impe-de o livre acesso da grande maioria a eles. O resultado é que temos uma parcela da socie-dade que não pode produzir e, consequentemente, não tem nenhum produto a oferecer. E agora?! Agora, só nos resta recorrer à outra característica desse tipo de economia: a liber-dade do cidadão sobre si mesmo, liberdade de fazer suas próprias escolhas.

Sendo donos do seu destino, os homens podem oferecer às outras pessoas sua capa-cidade de trabalhar. E quem teria tamanha bondade para salvar a vida destes pobres infeli-zes e aceitar esta oferta? Os únicos que podem fazer isto são os empresários, que detêm os meios de produção. E o fazem pagando aos trabalhadores uma quantia em dinheiro sufici-ente para sua sobrevivência: o salário. Mas, sabendo que as coisas se movimentam pela troca, qual seria a recompensa para o bom empresário?

A compensação é a apropriação de tudo aquilo que o trabalhador cria durante a pro-dução. Todas as mercadorias vão para as mãos do empresário, que as vende por um preço maior do que aquele pago pelos meios de produção e pela força de trabalho. É aí que se apresenta o lucro, elemento tido como recompensa do espírito empreendedor do ser huma-no. Existe outro tipo de agente econômico que também tem esse espírito: o banqueiro.

Para ajudar os trabalhadores e lhes dar o que comer, é necessário que se tenha di-nheiro, não apenas para os salários, mas também para as máquinas, equipamentos, aluguéis, etc. Mas, se o empresário passar por um momento de dificuldade e porventura não dispuser de todo o capital, o que deve fazer? Ele pode recorrer ao banco e pegar um empréstimo. Porém, como em toda economia de mercado, esta transação deverá gerar uma recompensa: do lucro que o empresário vai receber, deve-se deduzir uma parte e entregar ao banqueiro como pagamento do capital adiantado, sob a forma de juros.

Mas, se o banco entrar em dificuldade, quem ajudará a mais bondosa de todas as instituições, provedora de fundos para a manutenção da humanidade? Como na Grécia, Itália e Espanha, quem pode ajudar os bancos são os governos democraticamente eleitos.

E, mesmo falando em democracia, vivemos numa economia de mercado. Tudo fun-ciona pelo toma lá da cá. Não é novidade para o nosso leitor a situação atual da economia global e brasileira. Só quem não admite ainda é o ministro Mantega, que está tão ultrapas-sado que suas previsões ganharam uma fórmula: “Se ele disser que vai crescer (o PIB) 4%, cresce 3%. Se disser que vai crescer 3%, dá 2%”. Esta afirmação foi feita por uma fonte que participa da viabilização de um novo pacto pelo crescimento econômico, formado pelo governo e um conjunto dos maiores empresários do país, dentre banqueiros e empresários industriais. O desespero é grande, pois, além de tudo, é ano de eleições municipais.

Mas, por que o governo quer garantir o crescimento e salvar os empresários? Já vi-mos que são eles os bons cidadãos que empregam os pobres trabalhadores. Por outro lado, será que não existe mais algum motivo para este desespero? A resposta pode estar na pres-tação de contas do PT em 2010: dos R$ 212 milhões recebidos, 82% foram doações de pes-soas jurídicas, dentre as quais, empresas públicas e privadas. Só o Itaú Unibanco doou R$ 4 milhões, o Banco BankPar S/A doou R$ 3,2 milhões e as construtoras Queiroz Galvão, Odebrecht e Andrade Gutierrez, pelo menos R$ 1 milhão cada uma.

Diante da generosidade dos empresários, ficou difícil agradar a todos. Como maio-res doadores, os bancos tiveram o maior retorno: em 2011, o Brasil pagou R$ 236,7 bilhões em juros e encargos da dívida pública, o que representou 5,72% do PIB. Imaginem como ficaram os industriais: deixaram de pensar na desindustrialização que o Brasil está sofrendo para imaginar o que poderiam fazer com esta quantia. E os trabalhadores, que desejavam ter um aumento de pelo menos R$ 360 no grandioso salário mínimo.

Fazer o que? É o mercado! Recebe quem tiver mais para oferecer.
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A zona do euro aos trancos e barrancos

Semana de 23 a 29 de janeiro de 2012

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O medo da recessão continua a rondar a União Européia (UE) e particularmente a zona do euro. Os dias passam, medidas tímidas são tomadas, e a crise se mantém e se alastra. O caso grego não está, nem de longe, contornado, e agora Portugal segue o mesmo caminho. O Reino Unido acena com a chamada recessão técnica, que está à vista (crescimento negativo durante 3 meses). No quarto trimestre do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) decresceu 0,2%, e espera-se decrescimento no primeiro trimestre deste ano. Em 2011, o crescimento do PIB foi de apenas 0,9%. A situação econômica mostra um quadro clássico de crise: consumo fraco, empresários desconfiados, falta de crédito, desemprego, salários baixos, etc.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), no relatório Panorama Econômico Mundial, rebaixou suas previsões de crescimento para o PIB mundial estimando um decrescimento de 0,5% para a Zona do Euro e reduzindo, de 4%, para 3.3%, o crescimento mundial. Prevê também decrescimento para a Espanha (-1,7%) e para a Itália (-2,2%). O economista chefe da entidade, Olivier Blanchard, afirmou que “o mundo poderá ser esmagado por outra recessão”. Paradoxalmente, o FMI recomenda moderação nas medidas de austeridade e a disponibilização de mais recursos nos fundos de socorro europeus. Até as previsões para os países emergentes foram rebaixadas, de 6.1%, para 5,4%.

A situação também se agrava nos países asiáticos. O Japão anunciou o seu primeiro déficit na balança comercial desde 1980. A crise no país, a crise mundial, a catástrofe natural do tsunami, o crescimento dos emergentes e o deslocamento de empresas japonesas para o exterior são apontados com os principais fatores.

O socorro, que se esperava vir do BCE, arrasta-se nas discussões e oposição do governo Alemão, que só concorda em aumentar a ajuda se for aumentado o controle sobre os orçamentos dos países, o que significa ainda mais perda da soberania nacional.

No entanto, para ajudar os bancos, o BCE abre rapidamente os cofres. Em dezembro, ele emprestou, a cerca de 500 bancos, 489 bilhões de euros, a juros de 1% ao ano, por um prazo de 3 anos. Parte deste dinheiro está voltando aos governos com a compra de títulos dos países que pagam juros superiores a 4% e que atingem até dois dígitos. E o BCE já está preparando um novo pacote para inundar o “mercado” de “liquidez”.

O problema que se coloca cada vez mais é como enfrentar a crise, que é de superprodução, com medidas de austeridades que reduzem o emprego, os salários, o consumo público e privado, os investimentos, etc.

No que se refere aos juros, os Bancos Centrais têm reduzido as suas taxas de referência. O BCE reduziu sua taxa para 1%, e o Fed (BC americano) manteve a sua no intervalo de 0 a 0,25%. É claro que os especuladores aproveitam-se disto e já efetuam as operações de “carry trade” com as duas moedas. Pedem empréstimos nestas moedas para convertê-las em moedas da Austrália, Brasil, México, África do Sul, Coréia do Sul e etc. para aplicações especulativas nestes países.

No Brasil, sob o comando da presidente Dilma, o BC mudou o comportamento e também voltou a reduzir os juros em 0,5%, atingindo agora 10,5% ao ano. Avisou também que continuará a reduzi-los e que, em 2012, eles chegarão a apenas um dígito.

No nosso caso há certo nervosismo que se instala, mas por razões eleitorais. Em ano de eleições é preciso mostrar serviço. O governo luta contra os escândalos das quedas de ministros e de funcionários do segundo escalão, que continuam, e contra um medíocre crescimento do PIB em 2011. As medidas de austeridade tomadas com medo da inflação contribuíram para a desaceleração da economia A sondagem Industrial de dezembro, feita pela Confederação Nacional da Indústria, mostrou um quadro preocupante. O processo de desindustrialização se agrava, e os empresários protestam. O governo joga suas cartas com desespero. Devemos esperar aumento das despesas, do crédito, das contratações. Está a caminho uma situação semelhante a 2010.

Já veremos.



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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