terça-feira, 31 de julho de 2012

E o governo continua tentando...


Semana de 23 a 29 de julho de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Discutir a conjuntura econômica atual é como chover no molhado. A situação econômica européia piorou na última semana. A Espanha teve sua “saúde financeira” agravada, e os “investidores” ficaram um pouco mais felizes diante do aumento da remuneração dos títulos do país, de 7%, para 7,57%. Cidadãos espanhóis bateram panelas em frente à sede do Partido Popular em protesto contra os novos aumentos de impostos e cortes de gastos públicos. E os mesmos cidadãos só agora perceberam que os papéis adquiridos, com nomes bastante atrativos, como as “participaciones preferentes”, as “clausulas suelo” e o “swap hipotecario”, rendem coisa nenhuma, já que não podem ser resgatados ou remunerados com as taxas prometidas pelas instituições.
            A Grécia, que rolou sua dívida até agosto, como era mais do que óbvio, será incapaz de honrar os compromissos e precisará receber a segunda parcela do pacote de ajuda internacional já em setembro. A economia da China provavelmente pousará no terceiro trimestre do ano com queda da taxa de crescimento do PIB para 7,4%. Os EUA, por sua vez, estão em recessão segundo alguns analistas, e não há perspectiva para sua recuperação.
            As estatísticas só comprovam a imensa dificuldade da economia internacional em avançar para a nova fase do ciclo econômico. A intervenção econômica provocou um soluço e animou a economia por um curto período de tempo. Agora, endividados, os países não são capazes de injetar mais recursos, e já se fala em um arrastamento, por anos, de um ritmo lento de atividade econômica, o que caracterizaria uma saída da crise em formato de L.
            O Brasil continua a ser afetado pela situação mundial. Um estudo da Associação de Comércio Exterior do Brasil mostrou que, em 2012, o saldo comercial será de US$ 8 bilhões, o que representa uma queda de 76% em relação aos resultados de 2011. O minério de ferro, principal produto da pauta de exportação, apresentará queda de 22% no preço e de 5% na quantidade exportada. Sem grandes novidades, o estudo aponta que nove dos 10 produtos mais exportados pelo Brasil são commodities. E, de uma lista dos 20 produtos, elas são 18. O nosso principal produto “manufaturado” exportado é o óleo combustível, que não deixa de ser uma commodity. Estamos completamente conectados à crise internacional via comércio.
            Mas, é tarefa do governo tentar minimizar os efeitos da crise, inclusive com discursos na mídia. Afinal, o mercado deveria reagir aos bons discursos. Otimista, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declarou que a economia brasileira já começa a dar sinais de reanimação e que, até o fim do ano, o crescimento será acelerado. A taxa anualizada será de 4%, e a taxa de inflação convergirá para a meta.
            Bem, a realidade está um pouco distante do otimismo de Tombini. A redução do IPI para o setor automobilístico, por exemplo, provocou um aumento nas vendas, mas, apesar da queda dos estoques gerais por conta deste aumento, a CNI já declarou que o primeiro semestre do ano está perdido. O desconto no imposto só vigorará até 31 de agosto, e os fabricantes já pedem a prorrogação da medida. Enquanto o governo cogitava a prorrogação em mais dois meses, surgiram rumores de que a GM planeja demitir 1,5 mil trabalhadores da unidade de São José dos Campos. A presidente Dilma Roussef, ao saber da notícia, disse que os incentivos fiscais concedidos deveriam garantir a manutenção do emprego dos brasileiros, o que, aliás, foi um compromisso assumido pelas empresas. O Ministério do Planejamento convocou a Anfavea e exigiu explicações, dizendo que os empregos devem ser mantidos não nesta ou naquela fábrica, mas que, no geral, eles devem ser mantidos. Quem será que ganhará esta queda de braço?
            O Caged (Cadastro geral de Empregados e Desempregados) detectou uma desaceleração no mercado de trabalho. No primeiro trimestre deste ano, o número de empregos criados caiu 24% em relação ao mesmo período do ano passado. No semestre, a queda foi de 25,9%. Pelo visto, esta briga está perdida.
            Outra briga perdida parece ser a da redução dos spreads bancários. Três meses após o governo anunciar a redução dos juros, uma simples observação dos balanços bancários permite detectar a farsa. No Bradesco, de março para junho, o spread caiu, de 11%, para 10,9% e, no Itaú, no mesmo período, a redução foi, de 13,5%, para 13,4%. Queda bastante significativa em três meses, não?
            Sem alternativa, o governo continua tentando. A dúvida é quanto aos resultados.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
Share:

terça-feira, 24 de julho de 2012

Onde estão os lobistas dos trabalhadores?


Semana de 16 a 22 de julho de 2012


Eric Gil Dantas [i]




            Há pouco mais de um século e meio, um polêmico pensador alemão, afirmara que “o poder político do Estado moderno nada mais é do que um comitê para administrar os negócios comuns de toda a classe burguesa”. Até parece que ele estava na Câmara dos Deputados, semana passada.
            Com a votação das medidas provisórias do Plano Brasil Maior na Câmara, o que não faltou foram lobistas. A MP 563, que já tinha chegado com 54 artigos, saiu da casa com 78. Os impostos que afetam vários setores serão reduzidos, podendo chegar a 0%. Os benefícios atingirão setores como os de hotelaria, de transporte rodoviário coletivo de passageiros, de manutenção e reparo de aeronaves, motores e componentes, de transporte aéreo de carga, de navegação, etc. Isto representará uma renúncia de R$ 1 bilhão nas receitas do estado.
            Mas, o lobismo vai mais longe. Em nosso banco de investimento público, os lobbies das grandes empresas atuam há bastante tempo. Quem não se lembra de quando o BNDES quase financiou a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour no ano passado, a qual criaria um grande monopólio varejista? Agora temos um novo exemplo no setor frigorífico. O Valor Data constatou que, se o BNDESPar vendesse, hoje, as ações de sua participação na JBS, Marfrig e BRF-Brasil Foods, a perda seria de R$ 2,56 bilhões, equivalente a 27% do que o banco desembolsou ao financiá-las.
            Já em relação aos bancos (maiores detentores dos títulos da dívida pública), mesmo com a queda da taxa básica de juros, os laços com o governo ainda parecem estar sólidos. Isto se dá, em certa medida, pela grande notícia (para os bancos) de a fatia dos títulos vinculados a taxas flutuantes, como a SELIC, ter atingido o nível mais baixo desde 1997. A participação desses papéis caiu, de 26,77% em maio, para 23,98% em junho. Quem pensou que a queda da taxa básica de juros reduziria a dívida pública se precipitou. O BC “sabiamente” lançou outros papéis com remuneração mais elevada que já estão pagando até 24,08% ao ano (comparável a SELIC paga em 2003)!
            E para a classe trabalhadora? Onde estão os lobistas?
            Na GM, continua a pressão para extinguir a fábrica em São José dos Campos. Mesmo com a redução do IPI dos carros, que, de maio a julho, deve representar uma renúncia de R$ 2,1 bilhões para os cofres públicos, a GM ainda permanece ameaçando a transferência da produção de alguns modelos para outras regiões. Na verdade, já há novos modelos fabricados em São Caetano do Sul e Gravataí, no RS. A GM critica o sindicato, o qual reclama da falta de diálogo nas relações trabalhistas. O resultado poderá ser a demissão de 1,5 mil operários que trabalham diretamente na GM, além de 500 funcionários, em áreas relacionadas à linha, que estariam ameaçados.
            A tendência para os próximos meses é que a situação continue a piorar, pois a crise se aprofunda na indústria. Ilustremos com dois exemplos. Primeiro, os pedidos de falência cresceram mais do que em 2009, auge da crise, quando o Brasil teve uma retração em seu PIB. Conforme a Boa Vista Serviços, de janeiro a junho de 2012, foram feitos 959 requerimentos de falência, 16,5% a mais do que no mesmo período de 2011. Para se ter uma idéia, em 2009, o avanço de pedidos de falência foi de apenas 3,3%. No ramo da indústria, concentrou-se 39% destes pedidos, 2,0% acima de 2011, demonstrando que é o setor mais atingido pela atual crise. Segundo, temos o exemplo do pífio desempenho do crescimento da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços no estado de São Paulo, que foi de 1,5%, de janeiro a maio, em termos reais. Pior foi a arrecadação na indústria, que teve uma redução real de 0,3%, no mesmo período. Se compararmos com 2011, a receita total, referente à indústria, havia crescido 4,5%.
            Por fim, os trabalhadores com necessidades urgentes de contratar lobistas são os funcionários públicos. Além dos professores e servidores das instituições de ensino superior, dentre várias outras categorias em greve, funcionários de dez agências reguladoras e eletricitários de 14 empresas do grupo Eletrobrás também estão paralisando suas atividades parcialmente ou integralmente. Vamos ver se a presidente Dilma negociará desta vez.


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Qual o tamanho do Brasil?


Semana de 09 a 15 de julho de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Inspirada pela 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, a presidente Dilma soltou a infeliz frase: “Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz com as suas crianças e adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e adolescentes. Nós temos de ter um país com jovens, adultos e crianças com grande nível de escolaridade porque nós vamos disputar o que é a economia moderna, que é a economia do conhecimento”.
            Poderíamos aqui dizer que o tamanho do Brasil, segundo o critério da presidente, está tão comprometido quanto os bicheiros e mensaleiros de Brasília: quem é que ainda não ouviu falar da greve dos professores federais? Greve esta que precisou de 57 dias para ser notada pelo governo. Apenas no dia 13 de julho foi apresentada uma proposta arbitrária de aumento nominal dos salários (que varia, de 24,4%, a 45%), deixando de lado todas as outras reivindicações da pauta dos professores. Além disto, quem não ouviu falar do veto presidencial à proposta do Congresso Nacional, que obrigaria a presidência, nos próximos 10 anos, a destinar o equivalente a 10% do PIB para a educação?
            Poderíamos falar disto, mas não vamos. Diante das palavras de Dilma, vamos explicar o porquê deste novo discurso.
            A mudança veio para demonstrar que a queda de braço do governo com a realidade econômica foi perdida, apesar do Ministério da Fazenda manter em 4% a previsão oficial da taxa de crescimento do PIB brasileiro para 2012. Fontes do próprio executivo dão conta de que os 2,7% do ano passado já não podem ser alcançados. Por sua vez, o Banco Central e o FMI estimam um crescimento de 2,5%, enquanto a CNI prevê um valor de 2,1% e o “mercado” já fala em 1,9%.
            A produção brasileira perdeu o fôlego já no início do ano: comparando os quatro primeiros meses do ano de 2012 com o mesmo período de 2011; apenas os setores da agropecuária e do comércio e serviços aumentaram seus empréstimos frente ao BNDES, enquanto os setores da infraestrutura e, principalmente, da indústria recuaram. Na série livre de efeitos sazonais, a utilização da capacidade instalada na indústria vem caindo, mês a mês, desde janeiro de 2012, atingindo seu menor patamar desde outubro de 2009.
            Não é para menos. Os indicadores da atividade econômica estão cada vez piores. As vendas do comércio varejista, por exemplo, recuaram 0,8%, de maio para abril deste ano.
Por outro lado, o déficit da balança comercial da indústria cresceu 20% até maio, chegando a US$ 30,4 bilhões. Já o emprego na indústria nos dá um quadro pior: entre janeiro e maio de 2012, das 14 regiões pesquisadas, nove registraram saldo negativo na criação de vagas. No Brasil, a quantidade de empregos já é 1,1% menor do que no início do ano. A Fiesp estima que, em 2012, a indústria de transformação paulista irá perder 100 mil postos de trabalho.
            Segundo Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, “a crise na indústria é absolutamente global e generalizada, marcada pela sobre oferta de produtos manufaturados”, o que é verdade. O FMI e a OCDE já admitem uma retração maior do que a anteriormente prevista na atividade mundial. A China, por sua vez, terá que enfrentar seu “pibinho” de, no máximo, 7,5%. Este será o menor patamar desde 2008, quando estourou a Bolha do Subprime. O Reino Unido, por sua vez, apresentou sua terceira queda consecutiva no PIB trimestral, que caiu 0,2% em relação ao primeiro trimestre de 2012.
            Não bastassem os 28 milhões de empregos eliminados, os US$ 4 trilhões perdidos na produção desde a quebra do Lehman Brothers e os 48 milhões de desempregados nos países ricos em maio deste ano, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que, se os governos mantiverem suas políticas de austeridade, 4,5 milhões de empregos serão perdidos na Zona do Euro.
            Diante de um cenário devastador, tanto interno como externo, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), que é um indicador mensal calculado pelo governo para o PIB, teve uma retração, entre abril e maio, de 0,02%. Isto nos mostra que, seja pelo tamanho do PIB, seja pelo tamanho do comprometimento do governo com a “economia do conhecimento”, o tamanho do Brasil continua caminhando para um patamar insignificante.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
Share:

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O último peru de Natal


Semana de 02 a 08 de julho de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            As notícias são abundantes e todas confirmam a tendência que vimos apontando em nossas análises de agravamento da crise mundial. A desaceleração da produção industrial se generaliza nos EUA, na União Européia (UE), na China, e até em países como a Alemanha, a Coréia do Sul, Taiwan, etc. A situação é tal que provocou a ação simultânea de quatro dos maiores bancos centrais do mundo, reduzindo suas taxas de juros: o Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Inglaterra (BoE), o Banco do Povo da China (BPoC) e o Banco da Dinamarca.
            Nos EUA, mesmo com as medidas tomadas pelo governo Obama, desesperado para ganhar as eleições, a situação não melhora. O FMI reviu para baixo as suas previsões para o crescimento da economia. Espera-se que as taxas de crescimento do PIB não ultrapassem os 2%. Lembramos que as taxas de juros do Banco Central Americano, o Federal Reserve (Fed), já estão próximas a zero, entre 0% e 0,25%.
            Na China, diante do agravamento da situação, o Banco Central tomou medidas cortando os juros e injetando, em um só dia, 143 bilhões de yuans (US$ 22,6 bilhões) na economia, depois de já ter lançado outros 143 bilhões na semana passada.  
            A União Européia e particularmente a zona do euro, continuaram sendo o epicentro da crise. O BCE, além de reduzir sua taxa básica de juros de 1% para 0,75% (queda de 0,25%), reduziu também outras taxas como a de depósitos, de 0,5% para 0%, e a de longo prazo, de 1,75% para 1,5%. Justificando a medida, o presidente do BCE, Mario Draghi afirmou que a crise da dívida levou a uma desaceleração generalizada atingindo mesmo os países mais fortes. Com efeito, ao ritmo em que a indústria se contrai, o desemprego nos 17 países da zona do euro atingiu o nível recorde com a taxa de 11,1% e 17,561 milhões de desempregados. Seguindo o exemplo, o Banco da Dinamarca reduziu sua taxa para 0,2%.
            Na Itália, o déficit fiscal, no primeiro trimestre, foi de 8% do PIB, superior aos 7% do mesmo período do ano passado. Com as mesmas referências o gasto público cresceu 1,3% e a arrecadação caiu 1%. O primeiro ministro Mário Monti, comprometido a reduzir o rombo até 2013, já prometeu demitir 10% dos funcionários públicos e, logicamente, os sindicatos ameaçam com greves gerais. Por seu lado, a França, para cumprir suas metas de equilíbrio orçamentário terá de fazer cortes violentos o que se contrapõe às promessas eleitorais do seu novo presidente Hollande.  
Mas, o que isto tudo tem a ver como o peru de Natal?
            A questão é que estamos integrados em um mundo globalizado e, como temos dito, estamos metidos igualmente nesta crise globalizada, para o bem e para o mal. A economia brasileira é uma parceira ativa neste processo e, por mais que o desejem, nem o ministro Mantega, nem o governo, nem administradores e economistas juntos podem evitá-la. O máximo que se consegue é amenizar e minorar os efeitos. No entanto, em vez de se procurar defender os interesses dos trabalhadores, se tem protegido os interesses de uma parcela ínfima dos capitalistas que dominam o setor financeiro.
            Os dados mostram que a economia do país está se degradando. A indústria desacelera (a utilização da capacidade instalada caiu para 80,7%, o menor nível desde 2009) as exportações diminuem, a balança comercial reduz os seus saldos, os estrangeiros retiram os capitais do país e os saldos da balança de pagamentos estão comprometidos. O tsunami financeiro acabou e o país deixou de ser o paraíso desejado pelos especuladores travestidos de “investidores”. As ratazanas abandonam o navio quando o “peru de Natal” é retirado da mesa. Segundo o ex-ministro Delfim Netto, o peru era o Brasil com as taxas de juros mais altas do mundo e as facilidades oferecidas ao capital estrangeiro. Com a redução delas e a política de repressão à especulação a farra acabou.
            Em declaração feita durante a semana, o ministro Mantega reconheceu a gravidade da crise e, lembrando a expressão de Delfim, concluiu enfático: “Aqui era ganhar dinheiro sem risco. Aí, de repente tiramos o peru.”
            Só não explicou por que permitiu que o país servisse de repasto para o capital financeiro durante tanto tempo e só agora lhe ocorreu interromper o festim roubando-lhes o peru.


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O “pibinho” vem aí


Semana de 25 de junho a 01 de julho de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]




            Os escândalos de corrupção na política brasileira estão se tornando cada vez mais corriqueiros na imprensa. A quadrilha dirigida pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira tem provavelmente ramificações em todos os partidos. O cinismo do petista Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal e do tucano Marconi Perillo, governador de Goiás, é arrematado com o descaramento do “ilibado” senador Demóstenes Torres, que, redimido, cabisbaixo, solenemente se declara não culpado, afrontando a inteligência da opinião pública.
            Como se não bastasse, ainda somos obrigados a testemunhar as diversas alianças espúrias para as próximas eleições municipais. Democratas, socialistas, trabalhadores, comunistas, liberais, juntos, como se os seus ideais pudessem ser homogeneizados com um dissimulado aperto de mão. Afinal, vale tudo para conquistar o poder. O ex-presidente Lula tem feito um grande esforço para demonstrar isso. Vale impor uma candidatura. Vale posar na foto com Paulo Maluf. Em suas palavras, vale até “morder a canela dos adversários para fazer o Fernando Haddad prefeito de São Paulo”.
            A mais recente demonstração de como se pode mudar de lado de forma instantânea foi dada pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO). A auto-intitulada “representante dos produtores rurais”, antes crítica ferrenha do governo e uma das porta-vozes das mudanças no Código Florestal, rendeu-se ao anúncio do novo Plano de Safra, repleto de favores aos ruralistas, e discursou entusiasmada em defesa da reeleição da “presidenta” Dilma.
            Se da área política nunca esperamos boas novas, da econômica sempre temos a expectativa de que o cenário irá mudar. Mas, cheios de esperança, temos de concordar com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que declarou não haver perspectivas otimistas e nem saída visível no horizonte para a crise atual. E quando olhamos a economia interna nos deparamos com a deterioração do nível de investimentos, que, segundo o Banco Central, crescerá apenas 1% em 2012, frente aos 4,7% de 2011. A previsão inicial do BACEN era de 5%.
            O aumento das vendas de carros, propiciado pela desoneração fiscal, não está produzindo efeitos em outros setores. A indústria de autopeças reclama da inércia do setor. Ao que parece, a queda do IPI está produzindo apenas uma desova dos estoques do setor automobilístico, o que significa que, do ponto de vista produtivo, nada de novo está sendo criado.
            Além disso, os produtos importados estão sugando todo o crescimento do consumo interno. Os importados tiveram, de janeiro a abril, uma participação de 40% no crescimento de 6,9% do consumo interno de bens industriais, segundo o Banco Central. Temendo o “pibinho” no final do ano, em desespero, o governo lança mais um pacote de estímulos, centrado agora em compras governamentais, redução do custo de empréstimos às empresas e corte da TJLP, que caiu, de 6%, para 5,5%.
            No ato da divulgação do PIB de 2010, fato destacado em uma de nossas análises, Dilma exclamou: é um Pibão! Mas o governo logo se pôs a combatê-lo, pois, segundo eles, aquele crescimento era insustentável. Teríamos que crescer a 5%. Frear o crescimento, conter o consumo e reduzir os investimentos e a produção eram as palavras de ordem. O pacote adotado, turbinado pela crise internacional, parece ter sido forte demais e não há medidas que revertam a situação.
            Mas, como se estivesse em outra dimensão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste em afirmar que a economia vai crescer 4% este ano, depois de ficar furioso e chamar de piada a previsão de algumas instituições, que já esperam um PIB abaixo de 2%.
            Afinal, quem ousa afrontar o levantador de PIBs? Enquanto finalizo este artigo, leio que o Banco Central, revisou novamente para baixo a previsão de crescimento do PIB. Segundo o órgão, o crescimento não ultrapassará os 2,05%.
            E agora, Mantega? Já que no Brasil tudo parece ser negociável, o senhor ministro bem que poderia ir ao “mercado”, assim como Cachoeira e os partidos políticos, tentar negociar um “Pibão”, pois, ao que parece, a atividade econômica não obedecerá à sua ordem e produzirá de fato um “pibinho”.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
Share:

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog