quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Economia paralisada e luta pelo crescimento


Semana de 23 a 29 de agosto de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]


                                                                                   

Entra dia, sai dia; entra semana, sai semana e tudo continua na mesma. Isto é o espelho da economia mundial. Nada temos a mudar nas nossas análises. Apenas acrescentar fatos. Para não aborrecer os leitores, referiremos apenas as manchetes.
A Grécia piora e pede mais prazos e redução da penitência que lhe foi imposta: o país afunda na recessão. A Espanha, com o sistema financeiro abalado e problemas sociais insolúveis, adia o pedido formal de ajuda que implicaria em mais restrições. A Itália aumenta o coro dos endividados que apelam ao Banco Central Europeu (BCE). O PIB da zona do euro, que já havia caído 0,2% entre abril e junho, ameaça continuar em queda no terceiro trimestre, configurando uma recessão. O PIB alemão cresceu apenas 0,3% no segundo trimestre, e o Banco Central (BC) do país espera uma piora na situação no segundo semestre. Apesar disso, diante do pânico geral, a Alemanha conseguiu vender €4,083 bilhões em títulos com juros zero. A busca pela segurança empurra os especuladores desesperados a aceitarem esta remuneração. Os EUA continuam indefinidos. A única coisa que continua a crescer entre os analistas é a preocupação com a desaceleração da China. Já se fala na possibilidade de um “pouso forçado” de sua economia e, para complicar, o déficit da previdência social do país contribui para ampliar as tensões sociais.
Algumas esperanças, porém, surgem no horizonte com as promessas do BCE de comprar os títulos dos países europeus endividados e os rumores de mais um “afrouxamento monetário” do Federal Reserve (Fed), banco central estadunidense. Isto foi o bastante para os mega especuladores afiarem suas garras. Fala-se na existência de €60 bilhões de euros já disponíveis para “aplicação” em créditos podres. A roda da ciranda financeira não pode parar. Se algo sair errado, recorre-se aos BCs amigos.
A situação mundial tem repercussões no panorama nacional. A economia rasteja no lamaçal das dificuldades. No entanto, as eleições se aproximam, e urge mostrar ao eleitorado um quadro econômico positivo, uma vez que a onda de greves dos servidores públicos ameaça o prestígio do governo e o ambiente político está tumultuado pelo julgamento do mensalão e pelas mancadas do ex-presidente Lula, que deu para ameaçar ministros dos tribunais superiores de justiça e interferir nas eleições locais do PT (veja-se São Paulo com o caso do Haddad).
A pretendida recuperação da economia encontra dificuldades e os sinais de recuperação são tímidos, apesar dos esforços da equipe econômica do governo. A luta pela redução dos juros continua enfrentando a sabotagem dos bancos. A batalha pela estabilização do câmbio está sendo renhida, mas tem conseguido manter o dólar dentro da faixa de variação desejada ($R1,90 a $R2,10 reais). Novas desonerações fiscais estão sendo preparadas e prometidas, juntamente com outras medidas de estímulo.
Para variar, algumas nuvens negras da inflação pairam no horizonte, o que se reflete no movimento dos especuladores, que tentam se livrar dos títulos indexados à Selic e preferem papéis indexados à inflação. 
Na semana, o governo obteve duas grandes vitórias. A sua política econômica recebeu aplausos quase unânimes dos empresários reunidos na cerimônia promovida pelo Valor Econômico, para o lançamento do anuário “Valor 1000” em São Paulo. Boa parte deles prometeu manter seus programas de novos investimentos para 2013, confiantes nos resultados do governo Dilma.
A segunda veio do apoio dos economistas reunidos na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no 5º Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), em São Paulo. Várias vozes se levantaram elogiando as políticas de contenção dos juros e controle do câmbio praticadas pelo governo e alertando para o meio envolvente mundial hostil ao projeto brasileiro de crescimento.
            E a realidade tem comprovado esta situação. No mundo globalizado, todas as economias estão interligadas e não haverá saída isolada para ninguém. Estamos todos no mesmo barco. Ou nos salvamos juntos ou seremos solidários no naufrágio.


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Os PACs do PAC: as prioridades do governo Dilma


Semana de 13 a 19 de agosto de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]





            Esta semana o governo brasileiro lançou o PAC das Concessões. O Plano de Aceleração do Crescimento, em sua idéia original, buscava cumprir uma promessa de campanha de Lula, denominada por ele de “espetáculo do crescimento”. Lançado em 2007, a previsão inicial de investimentos era de R$ 656,5 bilhões até 2010, com prioridade na infraestrutura. Três anos depois, os levantamentos realizados pelo site “Contas Abertas” revelaram que, de um total de 12.163, só 1.378 projetos foram concluídos nos eixos da infraestrutura, logística, energética e social-urbana. Isto representava 11,3% do previsto. Mas, o governo, no último balanço de 2010, insistiu que 46,1% das ações do programa, previstas para o período de 2007 a 2010, foram concluídas.
            Mesmo diante do notório fracasso, para eleger Dilma, o governo relançou o programa sob a denominação de PAC 2. A previsão de investimento de R$ 1,59 trilhão entre 2011 e 2014 tem o mesmo foco: logística, energia e núcleo social-urbano. Após um ano e meio do início do “novo” programa, o Ministério do Planejamento informou que só 29,8% das ações previstas foram concluídas. Não satisfeito, o governo Dilma passou a fatiar o PAC. Em julho, foi lançado o PAC Mobilidade Médias Cidades. Essa versão, que obviamente está dentro do PAC 2, terá R$ 7 bilhões em financiamentos para projetos de metrô, veículos leves sobre trilhos e corredores de ônibus.
            A novidade do momento é o PAC das Concessões dirigido às rodovias e ferrovias. Mesmo sendo chamado de PAC, distorce totalmente a idéia original, pois todos os investimentos serão realizados pelo setor privado. Eles serão da ordem de R$ 133 bilhões nos próximos 25 anos. Serão transferidos, para a iniciativa privada, 7,5 mil quilômetros de rodovias e 10 mil quilômetros de linhas ferroviárias construídas ou modernizadas.
            A agenda liberalizante foi divulgada, em cerimônia no Palácio do Planalto, para dez governadores e uma multidão de grandes empresários. Dilma afirmou que não está desfazendo o patrimônio público “... para acumular caixa ou reduzir dívida. Estamos fazendo parceria para ampliar a infraestrutura do país...”. A seleção da empresa vencedora dos leilões, no caso das rodovias, dar-se-á pela menor tarifa de pedágio. E fiquemos felizes, pois só vamos começar a pagar esta conta quando 10% das obras tiverem sido executadas. Mas, qual a garantia de que as obras serão efetivamente executadas? Exemplos não faltam. A OHL, empresa espanhola vencedora de cinco dos sete lotes de rodovias concedidas em 2007, que incluem a Fernão Dias e a Régis Bittencourt, até hoje, não tirou suas obra do papel. O Ferroanel de São Paulo está previsto desde o PAC original e jamais foi concluído. No novo modelo, o governo deverá comprar toda a capacidade de transporte das ferrovias prontas, remunerando as empresas privadas que farão a manutenção, e ficará com o encargo de vender o serviço.
            O BNDES financiará as rodovias com juros TJLP mais 1,5% ao ano. Para as ferrovias, a previsão é de TJLP mais 1% ao ano. E mais: cinco anos de carência e até 25 anos de amortização. Nos dois casos, o total financiado pelo BNDES é de até 65% do investimento. A taxa de remuneração já garantida será de 6% a 6,5% ao ano em termos reais.
            Enquanto isso, um levantamento da PUC-Rio mostra que o salário real do professor, este ano, é 8,7% inferior ao que se ganhava em 1998. Não é demais relembrar um discurso da nossa presidente em debate pré-eleições, em 2010: “... Não se pode, (...), estabelecer com o professor uma relação de atrito quando o professor pede melhores salários. Recebê-los com cassetetes ou interromper o diálogo. O dialogo é fundamental no respeito a esta profissão. E o Brasil só irá sair de uma situação de país emergente pra uma situação de país desenvolvido se a gente assegurar qualidade de educação pra os nossos filhos...”.
            Resumindo a argumentação aos limites orçamentários e ignorando os pedidos de reestruturação da carreira docente e melhores condições de trabalho, o governo encerrou as negociações com os professores e fechou acordo com uma entidade que representa apenas 6 das 59 universidades federais em greve. Neste momento crítico, em que vários setores estão em greve, o governo elegeu suas prioridades: faz de conta que não vê, encerra o diálogo e continua a privatizar os projetos públicos através da renovação das concessões da energia elétrica e das novas concessões às malhas rodoviária e ferroviária.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um ano da “nova” política econômica


Semana de 06 a 12 de agosto de 2012


Eric Gil Dantas [i]




O mês de agosto deve ser lembrado como o aniversário das políticas de estímulo ao crescimento do governo Dilma. Há um ano, as duas principais políticas anticíclicas começaram a ser adotadas: o Plano Brasil Maior e a redução na taxa básica de juros, a SELIC.
A primeira parece não ter tido o efeito esperado, pelo menos até agora. A renúncia fiscal deveria ficar em torno de R$25 bilhões, mas cada vez mais setores reivindicaram a extensão das benesses para si. Além das isenções de IPI, desonerações nas folhas de pagamento e incontáveis afagos ao empresariado, nas próximas semanas, o governo deverá anunciar a ampliação das ações, com a simplificação do PIS/Cofins, a redução dos custos da energia elétrica (com a extinção de,pelo menos, três encargos federais) e a ampla concessão de projetos de infraestrutura à iniciativa privada. Esta última contará com o maior pacote, já visto pelo nosso país, de privatizações de rodovias federais, num total de 5,7 mil km.
Mas, para o aniversário do Brasil Maior, não temos muito que comemorar. A indústria chegou até a metade de 2012 com uma queda na utilização da capacidade instalada, que recuou para 80,2% em junho, uma queda de quase 2%, se comparada a igual período do ano passado. Um exemplo é a do setor de motocicletas, setor altamente dependente da renda e do crédito da população em geral. A produção caiu 52,7% em sua comparação anual. Já as vendas tiveram uma queda de 46,2%, também comparado a 2011.
Em relação ao outro aniversariante, a taxa SELIC, referência para as taxas de juros do país, vimos, em artigos anteriores, que a batalha de Dilma para a sua redução não tem tido grandes consequências. Não podemos esperar que esta ação seja realmente efetiva. Lembremos alguns números apresentados em análises anteriores. Três meses de pressão do governo tiveram como resultado a queda do spread bancário, de 11%, para 10,9% no Bradesco e, de 13,5%, para 13,4% no Itaú, mostrando a permanência dos juros altos. O efeito sobre a dívida pública também não foi sentido. Simultaneamente à queda da SELIC, o governo reduziu a quantidade relativa de títulos indexados a ela, ao nível de 1999, ao mesmo tempo em que aumentou o volume de outros títulos públicos que pagam mais.
Do lado da situação internacional, a coisa não está para brincadeira e impede qualquer otimismo sobre a economia brasileira. A França, segunda maior economia da zona do euro, poderá entrar em recessão oficial neste terceiro trimestre. O seu Banco Central já aponta para uma contração de 0,1%.
A Itália também continua a afundar. O setor de estatísticas do governo estimou que o PIB declinou 0,7% no segundo trimestre e foi 2,5% inferior ao do mesmo período do ano passado. Além da Itália, Espanha e Bélgica também anunciaram contrações para o segundo trimestre de 0,4% e 0,6% respectivamente.
Nem a Alemanha, a maior economia do Euro, demonstrou forças para salvar esta zona. A queda da sua produção industrial foi de 0,9%, como consequência da perda de dinamismo da região. Em junho, as exportações alemãs caíram 1,5%, após alta de 4,1% em maio.
Aos pífios números europeus se junta a desaceleração na China. A expansão da produção industrial do país desacelerou no mês passado, tendo o pior ritmo dos últimos três anos. Já a inflação caiu pelo quarto mês seguido, mostrando o desaquecimento interno.
Bem, mas para tudo existe o lado positivo. Toda esta crise na Europa e nos EUA está beneficiando a nossa produção interna, ao menos das Havaianas! A explicação é que as sandálias de borracha se adéquam ao atual orçamento enxuto dos europeus e estadunidenses. No segundo trimestre de 2012, houve um aumento de 53% nas vendas internacionais da empresa, relativo ao mesmo período do ano passado.
            Isto nos faz lembrar aquela velha frase: “Na crise, uns choram, outros vendem lenços”.


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Na crise, todos sofrem


Semana de 30 de julho a 05 de agosto de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




A União Europeia (UE) continua rachando pelas costuras, com os trabalhadores pagando a maior parte da fatura. Nos 17 países da zona do euro, em junho, o desemprego atingiu novo recorde, com 17,8 milhões de desempregados, o que corresponde a 11,2% da população ativa. Os países mais afetados foram Espanha (24,8%),Grécia (22,5%), Portugal (15,4%) e Irlanda (14,8%). A Alemanha, apesar da sua pequena taxa de 5,4%, teve um crescimento do desemprego pelo quarto mês consecutivo. Na França, um em cada quatro jovens de 18 a 25 anos está sem trabalho. Entre os com mais de 55 anos, 45% dos ativos também não encontram emprego. Além da tendência para a redução da renda real das famílias, muitos governos não estão conseguindo conter seus déficits orçamentários, principalmente a Grécia e a Itália.
O ambiente de pessimismo se agravou. O Índice de Confiança Econômica (ESI), divulgado pela Comissão Européia (CE), recuou, de 89,9, para 87,9 pontos, quarta queda mensal consecutiva, ficando abaixo da média de 100 pontos, observada desde 1990. O uso da capacidade instalada nas fábricas caiu, de 79,7% em abril, para 77,8% em julho, muito abaixo da média de 81,4% observada desde 1990.
A situação pressiona as empresas, que deflagraram uma guerra de preços para garantir o escoamento de suas produções. Algumas montadoras chegam a oferecer descontos de até 35%. Apesar disso, as vendas caíram 6,8% no primeiro semestre.
Até os bancos lamentam suas perdas ao verem os seus lucros reduzidos. O BBVA, segundo maior banco da Espanha, teve uma redução de 58% nos seus lucros após absorver as perdas do setor imobiliário. O alemão Deutsche Bank, no segundo trimestre, sofreu uma redução de 48% em relação ao ano anterior. Também em relação ao mesmo período de 2011, o UBS, maior banco suíço, teve uma queda de 58% no lucro líquido. E o HSBC, maior banco da Europa, perdeu 3% de seu lucro, sendo obrigado a fazer provisões de US$ 2 bilhões para indenizar clientes lesados no Reino Unido e de US$ 700 milhões para pagar multas nos EUA.
Os especuladores fogem apavorados dos mercados mais instáveis. Entre janeiro e junho, a saída líquida de capitais da Espanha, por exemplo, atingiu €257 bilhões.
Neste sufoco, todos voltam suas mãos e suas preces para a troikamilagreira: Banco Central Europeu (BCE), Federal Reserve (Fed) e FMI. Por enquanto, nada adiantou, pois o FMI permanece mudo, O Fed apenas manteve os juros e anunciou que poderá tomar medidas extras sem explicar quais, e o presidente do BCE, Mário Draghi, manteve a taxa básica de juros em 0,75% a.a., mas não concretizou as medidas que adotaria para materializar suas promessas de salvar o euro em quaisquer circunstâncias.
O resultado não podia ser outro: as bolsas desabaram por todo o mundo.
Nessa situação adversa, a economia do Brasil enfrenta sérias dificuldades, que podem ser sentidas mesmo com os holofotes voltados para o mensalão, a CPI do Cachoeira, os jogos olímpicos e as eleições.
Comemoramos o melhor julho da história na venda de carros, o que reduziu os estoques das montadoras. Comemoramos também a compra de 20 jatos da Embraer pela Venezuela. Mas, choramos a derrubada dos lucros da Petrobrás no segundo trimestre. Lamentamos também a possibilidade de ter o menor saldo comercial dos últimos 10 anos e a bandalheira nas obras da transposição do rio São Francisco, com a constatação, pelo TCU, de superfaturamento, não cumprimento de prazos, etc. Além disso, o “Programa de Revitalização do Rio São Francisco” não gastou nem 6% do orçamento autorizado, isto é, ficou no papel. Tudo com a conivência do exército, encarregado das obras, do Ministério do Meio Ambiente e das demais autoridades envolvidas. Isto era precisamente o que estava previsto!
Para piorar, estudos feitos na Inglaterra e em outros países estão mostrando que os grandes eventos mundiais como copas e olimpíadas não contribuem para aumentar o turismo, mas para prejudicá-lo reduzindo as receitas.
Era só o que faltava!


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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