quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Previsões e realidade


Semana de 17 a 23 de dezembro de 2012


Eric Gil Dantas [i]




Chegamos aos 45 minutos do segundo tempo. Esta é a última análise a ser publicada, em 2012, e já podemos tirar algumas conclusões sobre este ano tão difícil para a economia mundial e para o Brasil.
A primeira conclusão é sobre a confiabilidade das previsões do nosso governo acerca da economia. O Boletim Focus, do Banco Central do Brasil, faz a sua previsão final para o ano de 2012: o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será apenas de 1%. No início do ano esta previsão era 3,3% (ainda bem abaixo dos 4,5% cantados pelo Ministério da Fazenda). Segundo a coluna do Clóvis Rossi, neste último domingo na Folha de São Paulo, a diferença de 2,3% de crescimento do PIB equivale a R$118 bilhões, em dinheiro. Um erro bastante considerável.
Mas o governo já começa a dizer que, em 2013, darão um jeito na economia. Em entrevista ao Valor Econômico, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, explica que o baixo crescimento do PIB, neste ano, foi consequência da “nova matriz macroeconômica”, que combina juro baixo, taxa de câmbio competitiva e uma consolidação fiscal “amigável ao investimento”. Ele ainda afirmou que o custo inicial desta nova matriz já passou, e que agora o país terá sólida base para o crescimento de longo prazo. Aguardemos.
Guido Mantega, em artigo no mesmo jornal, endossou o discurso sobre os bons tempos que estão por vir, neste ano de 2013. O ministro disse que “a era do ganho fácil e sem risco ficou para trás, apesar do choro e ranger de dentes dos poucos que se beneficiavam da situação”, mas que a “revolução” promovida pelo governo, se referindo à nova matriz, leva algum tempo para surtir efeito.
Para inverter a tendência de queda do PIB, em 2013, e desta vez garantir os prometidos 4% de crescimento, a Fazenda reforçou suas medidas de estímulo. Foi anunciada uma nova desoneração tributária, com um custo de R$6,8 bilhões. As medidas são: mais uma prorrogação do IPI reduzido para o setor automotivo, linha branca e móveis e do Reintegra (programa que devolve, sob a forma de crédito tributário ou dinheiro vivo, até 3% do faturamento de exportações de bens manufaturados, como compensação de impostos indiretos cobrados na cadeira produtiva) e a desoneração da folha de pagamento para um novo setor, o varejista.
A segunda conclusão é de que a crise atravessou 2012 e ainda não deu nenhum sinal de quando se encerrará.
De acordo com a ONU, o crescimento global do ano que vem será “medíocre”, de apenas 2,4%, o que será insuficiente para superar a atual crise do emprego. Para a entidade, serão necessários cinco anos até que a Europa e os EUA compensem as perdas de postos de trabalho causadas pela recessão de 2008 – 2009.
Um exemplo da ainda forte crise econômica, na Europa, são duas cidades do norte da Grécia. Por conta do corte de 60% da verba para aquecimento de escolas, todas as escolas destas cidades foram fechadas para evitar que as crianças congelassem. O país enfrentará o sexto ano consecutivo de recessão em 2013, quando a economia deverá encolher cerca de 4%, após uma contração de 6% projetada para 2012.
Mesmo na época de maiores festividades do ano, a crise não dá trégua. O consumo para este final de ano será baixo, principalmente no sul da Europa, de Lisboa a Atenas. A Comissão Europeia divulgou os dados sobre a disposição de consumo da população, que caiu nos 17 países que compõe a região do euro, de 26,9 pontos em novembro, para 26,6.
É dentro deste cenário que o Brasil terá de superar os baixos ritmos de crescimento e atingir o número pretendido pelo Ministério da Fazenda. No entanto, 2013 não parece prometer nenhuma boa surpresa para o país. A serem mantidos os prognósticos atuais, o crescimento permanecerá baixo e as economias do mundo continuarão a patinar.
            Que venha, pois, 2013!


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Novos sinais?


Semana de 10 a 16 de dezembro de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Ao longo dos últimos meses, as notícias do cenário econômico não são muito promissoras. A crise continua a assolar a economia global. As medidas contra cíclicas já esgotaram o vocabulário economês: medidas macroprudenciais, afrouxamentos monetários, operações de swaps cambias reversos, isenção fiscal e política expansionista, dentre muitos outros termos. Este consistente pirão, que já deixou de ser uma mera sopa de letrinhas, vem sendo utilizado para reanimar a enferma produção e distribuição capitalista da riqueza. Os mestres-cucas, que se reúnem bimestralmente para jantar num “edifício cilíndrico com vista para o rio Reno”, são mais de dez presidentes dos Bancos Centrais de países que, juntos, representam 75% do PIB mundial. Esta refeição, que chega a durar mais de 3 horas (a comilança dura muito mais), serve para eles discutirem as futuras ações contra a crise.
            Mas a crise, apesar dos U$ 11 trilhões despejados no “mercado”, desde 2007, não acabou. Por incrível que pareça, nesta semana que passou, as “novas” notícias servem para diagnosticar o velho problema.
            O Japão, por exemplo, que, em 15 anos, havia sofrido quatro recessões, entrou em sua 5ª, com o PIB decrescendo a uma taxa anualizada de 3,5%, no terceiro trimestre de 2012. Junta-se, portanto, aos PIGS. Por falar nisso, após a tarraxada dada pelo governo, a Grécia conseguiu reduzir em 40% seu déficit orçamentário, ou seja, dos 21,5 bilhões de euros que o país gastava a mais do que arrecadava, entre janeiro e novembro de 2011, agora, no mesmo período de 2012, o governo gasta “apenas” 12,9 bilhões a mais. A toda poderosa Alemanha, que é a maior exportadora da Europa, reduziu seu superávit comercial em 9,5%, no último mês de setembro. Na Zona do Euro, a produção industrial caiu 1,4%, entre setembro e outubro de 2012. Na União Europeia o número foi menos ruim: 1%.
            Já na Itália, o que se aproxima são as eleições. O tecnocrata Mario Monti foi colocado como premiê há exatamente um ano. Na ocasião, prometeu curar as mazelas do país e deixar o poder assim que as coisas melhorassem. Não melhoraram tanto quanto queria, mas é hora de partir. Ou não? Até pouco tempo a intenção do atual primeiro-ministro era de sair do cargo após a votação do orçamento de 2013. O problema é que, talvez, ele se candidate ao pleito. O favorito nas pesquisas de intenção de votos é Luigi Bersani, da centro-esquerda. Ele já prometeu que irá manter o programa de austeridade e cumprir os acordos firmados por Monti. Além destes, pasmem, “corre por fora” aquele que tem todas as credenciais para ser um típico político brasileiro: Silvio Berlusconi.
            Os EUA, por sua vez, ainda discutem o que eles chamam de abismo fiscal: aumentar os impostos (receitas) e reduzir os gastos (despesas) de maneira drástica a partir de janeiro de 2013. Republicanos e Democratas ainda não entraram num consenso, se irão manter, ou não, esta proposta.
            Até os Tigres Asiáticos estão sofrendo. Diante da “reestruturação” que está sendo realizada pela empresa Avon, 1,5 mil funcionários, de todos os níveis hierárquicos, serão demitidos no mundo. Os mais prejudicados serão os da Coréia do Sul e do Vietnã, já que a empresa não tem mais planos de manter a produção nestes locais.
            Por outro lado, a China tem dado sinais controversos. O fato isolado de que o superávit comercial deste país tenha recuado 39% poderia causar pânico. Mas, olhando outros elementos, podemos ver que a política econômica chinesa está se voltando para o mercado interno, como tentativa de melhorar a distribuição de renda. Os meios para chegar a tal é que não são muito claros. Graças à antiga estrutura rural e a nova estrutura urbana, por exemplo, o país incluiu na sua pauta de importações, produtos como milho, cevada, arroz e trigo, além da soja. O novo premiê já começou a falar em abertura comercial, que, dependendo de como seja feita, pode acabar com boa parte da produção interna. O fato é que, em novembro de 2012, a produção industrial do país teve seu maior crescimento desde março.
            Até aqui tudo igual. A novidade, não tão nova assim, vem do Brasil. Primeiro, a aparente mudança na política econômica, que deverá dar mais prioridade ao setor produtivo do que ao financeiro. Segundo, o mal estar latente nos setores menos beneficiados pelos programas do governo. E, por fim, a redução dos dias de férias coletivas dados por algumas empresas dos setores beneficiados pelos estímulos. Estes sinais, porém, ainda não podem confirmar a chegada de novos tempos ou apenas inflexões de uma conjuntura.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O PROGEB envia os últimos exemplares de "O CAPITAL EM MOVIMENTO: Ciclos, Rotação e Reprodução" para a UFU- Universidade Federal de Uberlândia e já se prepara para lançar a 2ª edição. Os livros serão usados na disciplina de Economia Politica II.
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Economista não engana capitalista


Semana de 03 a 09 de dezembro de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Aproxima-se o fim do ano e os dados confirmam, mais uma vez, o grotesco erro do ministro Mantega. O Produto Interno Bruto (PIB) do país, que, segundo ele, deveria ter um crescimento de 4,5%, agora está sendo estimado em 1% ou menos. Os cálculos baseiam-se no desastroso terceiro trimestre do ano, que mostrou um crescimento de apenas 0,6%, em comparação com o trimestre anterior. No acumulado de janeiro a setembro, a taxa de crescimento foi de 0,7%, em comparação com o ano anterior. Diante dos dados de outubro e novembro, as perspectivas para 2012 são péssimas.
            E o pior não é isto. Do setor industrial, quem anda salvando a paróquia são os setores extrativos (que exportam as commodities), e o de automóveis, beneficiado pelos grandes estímulos concedidos pelo governo.
            Quando analisamos os investimentos e a indústria de máquinas (bens de capital), o quadro é desolador. Em outubro, a indústria de bens de capital teve a terceira queda consecutiva. Preocupada com a situação, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) preparou um documento “101 Propostas para Modernização Trabalhista”, entregue ao governo, onde se constata que a indústria de transformação, que, em 1985, respondia por 35,8% do PIB, em 2011, contribuiu com apenas 14,6%. A participação nas exportações, que era de 64,5%, foi reduzida para 36%, em 2011. Por outro lado, a situação dos investimentos continua preocupante, pois, em seis trimestres seguidos, eles vêm caindo.
            O debate continua se aquecendo na busca pelos culpados. Todos concordam que a situação internacional está na base de tudo. De fato, como temos demonstrado, a economia mundial se arrasta sem alternativa. O epicentro continua a ser a Europa, onde ninguém encontra uma saída e os prognósticos para uma possível recuperação foram empurrados para 2014. Para a zona do euro, espera-se uma contração de 0,5%, neste ano, e de 0,3%, em 2013, apesar da taxa básica de juros estar no nível mais baixo da história (0,75%).
            Os problemas não se limitam ao mundo desenvolvido. A inquietação social estende-se à Ásia. Em Bangladesh, um incêndio em uma indústria têxtil matou 112 operários, impedidos de fugir, pelos patrões, que fecharam as portas temendo roubo de produtos. O escândalo alertou o mundo para as condições desumanas de trabalho existentes nas empresas que operam sob encomendas de grandes multinacionais como a Wal-Mart, Sears Holdings Corp. e C&A. Como consequência do incêndio, os confrontos com a polícia envolveram 10.000 pessoas e obrigaram ao fechamento de 50 empresas. Na Tailândia, os protestos levaram ao aumento do salário mínimo em sete províncias. A Malásia está sendo obrigada a implementar o seu sistema de salário mínimo em janeiro do próximo ano e em Singapura, que teve a sua primeira greve em 26 anos, os aumentos salariais já inviabilizaram a produção de várias empresas. Na Indonésia, as pressões por aumento salariais provocam o temor da fuga dos investimentos que haviam sido atraídos pelas vantagens da mão de obra barata. Na China, a inquietação social está levando o governo a adotar medidas para melhorar a distribuição de renda interna nas cidades e mesmo no campo com a proibição do confisco de terras pelas autoridades locais, sem indenização aos agricultores.
            No Brasil, o nervosismo aumenta no mercado. A queda dos juros faz cair os lucros dos bancos e o preço das ações. Reduz também a remessa de capitais para as filiais das multinacionais no país, sob a forma de empréstimos, manobra usada para fugir do IOF cobrado sobre operações financeiras de curto prazo.
            Os temores do governo aumentam e novas medidas de estímulo são adotadas. A desoneração das folhas de pagamento é estendida para a construção civil, a TJLP é reduzida de 5,5% para 5,0% e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) foi prorrogado até 2013. A gravidade da situação faz surgir novos comentários sobre possíveis cortes da Selic até o nível de 6,5%.
            O governo está fazendo o impossível para provocar o “instinto animal” dos capitalistas a fim de retomar o crescimento. Conseguirá?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

“Pró-mercado”?


Semana de 26 de novembro a 02 de dezembro de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Seria o governo Dilma, “pró-mercado”? Esta é a conjectura do momento. As últimas ações tomadas pela presidente têm desagradado alguns. A mão do governo na economia tem sido “pesada demais”.
            Empresários do setor privado e, em especial, os parasitas do mercado financeiro, estão insatisfeitos e comparam as ações de Dilma às de Cristina Kirchner. Vamos então a alguns fatos. O governo lançou, em agosto, um pacote para duplicar 5.700 quilômetros de rodovias e construir 10 mil quilômetros de ferrovias. O setor privado será o responsável pelas obras, através de concessões estimadas em R$ 133 bilhões, que se estenderão pelos próximos 30 anos. Será esta uma ação estatizante ou “pró-mercado”? “É um kit felicidade”, disse o empresário Eike Batista, autêntico representante do “mercado”. Aloizio Mercadante, atual ministro da Educação, declarou que o modelo de concessões é um “colesterol bom”, ou seja, aquele necessário ao organismo econômico.
            O governo irá, também, renovar as concessões do setor de energia elétrica, pagando indenização às empresas e promovendo uma redução na conta de luz dos consumidores (que irão deixar de pagar por ativos já amortizados). Será esta uma ação estatizante ou “pró-mercado”? Mas, o valor das indenizações não agradou às concessionárias. Ficou aquém do esperado. A Eletrobrás, que esperava receber R$ 30 bilhões, viu suas ações caírem vertiginosamente, logo depois do anúncio de indenização de R$ 14 bilhões. As negociações continuam e o governo já está revendo o valor das indenizações.
            A última ação do governo foi financiar a construção da hidrelétrica de Belo Monte. O BNDES emprestará R$ 22,5 bilhões, valor que equivale a 78% de todo o investimento. A Norte Energia, consócio responsável pela obra, é formado pela Eletrobras, Chesf, Eletronorte, Petros, Funcef, Grupo Neoenergia, Cemig, Light, J. Malucelli Energia, Vale e Sinobras. Todas estas empresas têm um aporte de R$ 6 bilhões para investir, número que representa apenas 21% de todo o investimento.
            É um negócio da China! Será a ação do BNDES, estatizante ou “pró-mercado”?
            O aporte do BNDES, segundo o diretor de Infra-estrutura da instituição, Roberto Zurli, também servirá para minimizar os impactos sociais e ambientais da construção da usina. Lembre-se, caro leitor, que além dos imensos problemas ligados às questões trabalhistas que já aconteceram no canteiro de obras da usina, a construção prevê um alagamento de uma área de 516 km² em locais próximos a comunidades indígenas. Os protestos contra Belo Monte se espalham no âmbito interno e também no exterior.
            Outro detalhe desta operação é que a maior parte dos financiamentos concedidos pelo BNDES advém de empréstimos feitos pelo Tesouro Nacional. Segundo o Valor Econômico, mais da metade dos empréstimos (51,4%) veio de recursos do Tesouro, liberados graças à Medida Provisória nº 453, de 22 de janeiro de 2009. Como o Tesouro capta recursos emitindo títulos da dívida pública, imaginem onde isto vai parar! O governo paga atualmente 7,25% de Selic e empresta, via BNDES, a 5,5%. Estas operações entre o Tesouro e o BNDES elevam consideravelmente a dívida pública. O IPEA mostra que, em 2007, apenas 0,7% dessa dívida eram representados por repasses ao BNDES. Só neste ano de 2012 (até setembro), o percentual é de 21,7% da dívida líquida. Será esta uma ação estatizante ou “pró-mercado”?
            As críticas crescem entre economistas e operadores do mercado financeiro (estes últimos porque tiveram seus interesses especulativos contrariados). A “mão pesada do Estado” é um problema. Questiona-se o porquê do governo abandonar o tripé macroeconômico, baixando a taxa de juros e intervindo no valor da taxa de câmbio. Por que não deixar o “mercado” trabalhar?
            Por outro lado, os colaboradores do governo insistem que Dilma é “pró-mercado”. Mas, por que será que mesmo tendo suas reivindicações amplamente atendidas, os empresários não investem?
            Também nos Estados Unidos onde já se prepara um novo afrouxamento monetário, o 4ºQE (Quantitative Easing) não se consegue retomar o crescimento.
            Ser estatizante ou “pró-mercado” traduz-se assim numa discussão estéril que levará a lugar nenhum.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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