quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Dilemas da política monetária


Semana de 21 a 27 de janeiro de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Esta semana, as discussões sobre as decisões de política monetária voltaram à tona. Enquanto no Brasil a reflexão ainda gira em torno da ata do Copom, no Japão outro problema preocupa: a deflação. O fenômeno que persegue o Japão há 20 anos é a permanência de uma taxa de inflação anual baixa e que atualmente gira em torno de 1%.
            Mas o que causa a deflação japonesa? Há algumas especulações. A primeira é a de que existe uma espiral deflacionária, ou seja, os japoneses sabem que os preços irão manter-se baixos e adiam suas compras. Com isto, as empresas vendem menos, o que provoca queda salarial, que por sua vez reduz a demanda. A segunda seria o envelhecimento da população com idade para trabalhar. Mas, o ministro das Finanças japonês logo lançou a solução para o problema: “os idosos deveriam se apressar e morrer”. Resolveria a deflação e principalmente os elevados gastos públicos com os serviços de saúde. A terceira diz respeito ao atraso do Banco do Japão na adoção de afrouxamentos monetários.
            Em meio a uma recessão, o governo e o Banco do Japão resolveram, pela primeira vez, em mais de nove anos, adotar a política de afrouxamento monetário, visando estimular a atividade econômica. Depois de duas reuniões consecutivas, o Banco do Japão elevou o programa de compra de ativos em 10 trilhões de ienes. Aliada a estas compras, o governo japonês pretende aderir ao sistema de metas inflacionárias, para alcançar o patamar de 2% ao ano. (Muito criativos esses japoneses!)
            Enquanto isso, no Brasil, cresce as perspectivas de aumento da inflação. O país, que fechou 2012 com uma inflação de 5,8%, apresentou, além de inflação mais alta, um PIB menor se comparado, por exemplo, às economias do Chile, Colômbia, México e Peru, países latino-americanos que também usam o regime de metas inflacionárias.
            No início de 2013, mesmo com a negociação do governo para o adiamento do reajuste das tarifas do transporte urbano em São Paulo e no Rio de Janeiro, o IPCA-15 (prévia para o resultado do mês) será o maior resultado do mês de janeiro, desde 2003. Outra luta travada pela presidente Dilma, para reduzir a inflação, é garantir a redução da conta de energia elétrica. Em rede nacional, ela anunciou que a redução será maior do que a prometida e a diferença será financiada pelo Tesouro Nacional.
            Mesmo assim, contrariando a maioria dos analistas, o Copom decidiu manter a taxa de juros em 7,25% ao ano. O texto da ata do Copom deve ter deixado de cabelo em pé os adeptos do regime de metas. Após a manipulação feita pelo governo para garantir a meta de superávit primário, em 2012, agora é a vez do Copom admitir inflação acima da meta tanto em 2013, quanto em 2014.
            Outro aspecto da ata chama a atenção. No texto, o Copom afirmou que a política de juros não deve ser usada no intuito de estimular o PIB. Nada se pode fazer para atenuar o problema, pois a limitação atual é do lado da oferta. As ações da política monetária (diga-se a manipulação da taxa de juros), segundo o Copom, é instrumento de controle apenas da demanda.
            Obviamente, a responsabilidade pelo fracasso da política monetária cai sobre a presidente Dilma, que, além de ser incapaz de despertar a voracidade dos empresários para investir, tem que enfrentar as pressões políticas. A presidente marca terreno e diz que seu mandato é de oito anos. Mas, o ex-presidente Lula, nos bastidores, manipula a sua candidatura em 2014, descontente com a forma como Dilma conduziu as renovações das concessões das elétricas e com a indiferença demonstrada por ela durante o julgamento do mensalão. Há rumores de que a relação entre os dois não demorará a “azedar”.
            Deixando de lado as questões políticas, o que continua nos causando espanto é que ninguém cogita que a crise é a grande responsável pelo atual nível da atividade econômica interna.
As tentativas do governo são válidas, mas as políticas monetária e fiscal não serão suficientes para deflagrar os investimentos. A taxa de investimento só crescerá quando os empresários perceberem a reversão desta fase do ciclo econômico.
            Como já dissemos, economista não engana capitalista.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Notícias do PROGEB!

1.Na última semana, o Bacharel em Economia e membro do PROGEB, Eric Gil Dantas, teve seu artigo "Adeus indústria?" já publicado aqui neste blog, também publicado no site da ABIMAQ, como é possível ver no link a seguir: http://www.abimaq.org.br/site.aspx/Imprensa-Clipping-Tendencias-detalhe?DetalheClipping=549

2.O PROGEB contou no ultimo dia 14 de janeiro, com a visita do membro e colaborador externo, Antônio Carneiro de Almeida Júnior, que está fazendo Doutorado na UFPR - Universidade Federal  do Paraná.
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ano novo e nova notícia velha...


Semana de 14 a 20 de janeiro de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            O ano mal começou, e os números referentes a 2012 e as previsões para 2013 já mostram que não teremos grandes mudanças nos primeiros meses que sucedem o réveillon. Porém, isto não é um problema. Na verdade é natural.
            Há algum tempo que falamos aqui nesta coluna semanal sobre as fases pelas quais passam as economias capitalistas. Após uma crise, sempre vem um momento de calmaria, onde impera a desconfiança dos empresários, seguida por uma relativa prosperidade, causada pela retomada tímida do crescimento da demanda. Esta última, por sua vez, desemboca numa fase de crescimento eufórico e certa distribuição de renda. É quando as condições para uma nova crise se instalam, causando novamente falências e demissões.
            Entre 2007 e 2009, o mundo passou por uma fase tão turbulenta que só encontramos comparativo na crise de 1929. Entretanto, como era de se esperar, estamos na fase de “apatia produtiva” a nível nacional e internacional. Até a China, que, por suas precárias condições de produção e de trabalho que barateiam os custos, sempre foi considerado o chão de fábrica do mundo, está vendo seu crescimento atingir os menores patamares em décadas (lá, além da crise, existe a luta da classe trabalhadora por melhor qualidade de vida, com reivindicações de melhoria dos salários e outros direitos trabalhistas).
            O governo brasileiro também vê este momento com cautela. Em 2012, por exemplo, o país dobrou suas reservas em ouro, para pouco mais de 67 toneladas. A Alemanha pretende fazer coisa semelhante, ao tentar repatriar nada mais, nada menos do que 1,95 mil toneladas do metal que estão, desde a Guerra Fria, guardadas nos EUA e na França.
            Contraditoriamente, enquanto uns temem o futuro, outros se aproveitam das suas expectativas. É o que está acontecendo com os famintos (já que se trata do apetite do “mercado”) que detêm os “junk bonds”, ou bônus de alto risco. A causa disto, que também é paradoxal, é a baixa rentabilidade que os papeis atrelados aos juros proporcionam. Assim, já que o retorno de outros ativos é baixo, os especuladores procuram qualquer coisa mais rentável, mesmo que provavelmente podre, para comprar e vender.
            Voltando ao “lado real” da economia brasileira, podemos encontrar algumas explicações para a cautela dos governos e bancos centrais. Em uma pesquisa realizada pela empresa Nielsen, as vendas de uma cesta de bens de consumo não duráveis, por eles selecionada, devem ter um fraco crescimento, de 0,4%, no ano de 2012. Segundo especialistas, este será o mesmo ritmo encontrado no varejo como um todo. Os dados das vendas internacionais também não ajudam. O quantum exportado pelo país no ano passado foi 0,3% menor do que no ano de 2011. Até as importações diminuíram, chegando a cair 2,3%. Como apresentado em relatório da Organização Mundial do Comércio, o Brasil tem significativa vulnerabilidade a flutuações na atividade econômica, isto porque 45% da pauta de exportações brasileiras é composta por produtos básicos, como commodities e minerais.
            Apesar da referida queda nas importações, podemos ver que este indicativo da OMC pode ser ainda pior. Entre janeiro e novembro de 2012, o crescimento nas venda do varejo foi de quase 9%, enquanto que a produção da indústria de transformação diminuiu 2,7%. Fica claro que, se as vendas internas estão aumentando e a produção nacional está reduzindo, a demanda dos consumidores brasileiros está sendo satisfeita por produtos importados, ou seja, os estímulos ao consumo interno estão vazando para o mercado externo. Corroborando com esta tese, de um ponto de vista estrutural, estão os números referentes aos anos de 2005 a 2012, quando as vendas cresceram 76,2% e a produção física industrial local cresceu pífios 8,14% no período.
            Voltando à conjuntura, segundo estudo publicado pela Confederação Nacional da Indústria, a intenção de investir dos empresários no ano de 2013 é a menor desde 2009, quando o PIB do país decresceu 0,2%. O número de empresas que investiram em 2012 (80,2%) foi 8,5% menor do que aquelas que investiram no ano de 2011. O motivo é um velho conhecido: as incertezas em torno de uma demanda fraca.
            O governo, coitado, está tentando inventar alguma feitiçaria que leve os empresários a aflorarem seu “espírito animal” e investirem na produção. Delfim Netto, o Ministro do milagre econômico brasileiro, apoia, com ressalvas, tais medidas. Ou seja, este é um ano novo cheio de notícias que poderiam ser manchete de jornais passados.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Adeus indústria?


Semana de 07 a 13 de janeiro de 2013


Eric Gil Dantas [i]




Como já não é mais novidade para ninguém, observamos, semana após semana, a queda da previsão de crescimento do Brasil no Boletim Focus (pesquisa feita pelo Banco Central do Brasil). A última previsão para 2012 foi de 0,98%. Esperemos o número oficial do IBGE. Já para 2013, mesmo estando ainda em janeiro, uma nova queda de estimativa do crescimento já ocorreu: de 3,4% para 3,2%.
Isto nos mostra que a economia ainda está no “mais do mesmo”, em constante queda e prolongamento da crise, processo já constatado nesta coluna há algum tempo. No entanto, um setor em particular deve ser levado em consideração. No nosso país, este setor já agoniza há décadas, mas sua deterioração se acentua em meio a grande crise econômica. Estamos nos referindo ao setor industrial.
A queda das previsões do crescimento do PIB, para valores inferiores a 1%, neste ano de 2012, tem como principal fator a ser considerado, o tombo da produção industrial. Até outubro, o último dado coletado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) dizia que o faturamento bruto dos fabricantes nacionais havia recuado 2,3% em relação ao mesmo período de 2011. Esta foi a primeira queda observada nesta série desde o tombo provocado pela crise em 2009. Já o nível de utilização da capacidade instalada da indústria de máquinas e equipamentos alcançou o patamar mais baixo em 40 anos, e nove mil empregos foram cortados em 12 meses. Na pesquisa do IBGE sobre a produção física industrial referente a novembro, os bens de capital despontaram como a categoria com maior retração: 1,1% abaixo do mês anterior. No acumulado dos 11 primeiros meses, a queda foi de 11,6%.
Em São José dos Campos, a GM continua com a decisão de fechar sua linha de produção para transferi-la para o interior do Paraná, onde os custos trabalhistas seriam amenizados. Se a demissão for efetivada, 1500 operários perderão seus empregos, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, o que se somará às outras nove mil demissões já citadas na indústria de máquinas e equipamentos.
As atuais políticas governamentais de incentivo econômico estão sendo aplicadas com o intuito de recuperar, principalmente, este setor. O Programa de Sustentação do Investimento (PSI), por exemplo, empresta, via BNDES, a taxas de juros anuais de 3% (até o final do ano passado a taxa era de 2,5%), ou seja, paga para os capitalistas investirem, já que a inflação é maior do que a taxa de juros. Além disto, foi feita a redução do IPI, imposto cobrado para produtos industrializados, que contempla vários setores entre os quais estão os veículos e a linha branca. Os efeitos ainda são marginais. Hoje, a nossa indústria tem o mesmo peso na produção de riquezas do país que tinha em 1947.
Mas, não é só no Brasil que a crise está afetando o setor industrial. Na Europa, segundo o Deutsche Bank, a União Europeia (UE) está com excesso de capacidade de pelo menos 30% na produção de carros e parece inevitável mais fechamentos de fábricas na região.
A Ford fechou, em 2012, uma fábrica na cidade industrial belga de Genk, que funcionava há 26 anos, demitindo 4300 funcionários. A GM, por sua vez, cinco meses antes, fechou uma fábrica da Opel aberta há 50 anos em Bochum, na Alemanha, eliminando três mil empregos. Já a GE está concentrando a maior parte de seus cortes de US$2 bilhões, anunciados em maio, em suas operações na UE.
Com os investimentos diretos, na UE, caindo 10% anualmente desde 2008, o quadro preocupa e coloca em xeque o ritmo de recuperação do continente. Entre 2007 e 2011, os investimentos anuais, nos 27 países da UE, caíram € 350 bilhões. Segundo estudo da consultoria estadunidense McKinsey, esta perda de investimentos deixou de gerar € 543 bilhões em receita para as empresas europeias, entre o ano de 2009 e 2010.
Uma nova conjuntura mundial está criando profundas alterações na divisão social do trabalho, com a indústria saindo dos países onde eram pagos salários razoáveis, para locais com baixos salários, como China, Vietnã e outros países do sudeste asiático.
Nestas circunstâncias, o pós-crise promete ser tão penoso para as populações quanto a própria crise.


[i] Economista e pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Resultados de 2012 e perspectivas para 2013


Semana de 31 de dezembro de 2012 a 06 de janeiro de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Não temos muito a acrescentar sobre os prognósticos para a economia mundial neste começo de 2013. As notícias confirmam a continuação das dificuldades dos países da União Européia com o agravamento provocado pelas políticas de austeridade que continuam a ser adotadas por todos e, particularmente, pelos PIGS. Devemos esperar a continuação da intranqüilidade social e dos conflitos. A teimosia em orientar todos os esforços para garantir os rendimentos do capital financeiro e dos especuladores internacionais continua a produzir seus efeitos desastrosos.
            Nos EUA a situação, embora mais calma, arrasta-se à beira do abismo fiscal para o qual se chegou a um acordo protelatório, com a redução de US$ 650 bilhões, de um total de US$ 7,9 trilhões, do déficit fiscal, que já representa 72% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
            Até os BRICS (sigla que inclui os países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), considerados a salvação da humanidade, encontram-se em dificuldades. Além de contradições internas, pois suas economias, em muitos aspectos, são concorrentes, e de não se constituírem em um bloco econômico, enfrentam problemas internos de inflação, falta de investimentos e agitações sociais. Apenas a China se apresenta com alguma esperança de acelerar seu crescimento.
Isto, sem levar em conta as ameaças de guerra e intervenções militares no mundo árabe, cujas consequências são imprevisíveis.
            Todo este quadro não nos permite otimismo, neste ano de 2013, para a economia mundial.
            Não temos dúvida que esta situação contamina as perspectivas pra a economia brasileira. Em primeiro lugar, temos de lembrar que o fenômeno da globalização não é uma invenção dos economistas. Para o bem e para o mal, ele é uma terrível realidade sem retorno e deve ser levado em consideração nos prognósticos. Alguns políticos e economistas, infelizmente, ainda não criaram vergonha na cara e continuam a tentar enganar a todos. Esquecem que “mais rápido se apanha um mentiroso do que um manco” (Não estou falando só do ministro Mantega).
            O outro fator que temos de levar em consideração é o triste desempenho da economia brasileira, neste sofrido 2012. Para a desgraça da “presidenta”, se o PIB de 2011 foi chamado de “pibinho”, o de 2012, que não deve atingir nem 1%, será chamado de quê?
            Mas não é só isso. O crescimento da indústria, em 2012, será negativo. As estimativas feitas por vários especialistas indicam uma queda em torno de -2,4%. Os investimentos estão paralisados, pois a indústria está trabalhando com capacidade ociosa. A participação dos produtos nacionais, no consumo interno, vem caindo diante da pressão dos importados, bem como na composição das exportações.
            Por seu lado, a balança comercial tem apresentado saldos decrescentes. Em 2012, o superávit foi o menor nos últimos 10 anos, tendo recuado de US$ 29,8 bilhões, em 2011, para US$19,4 bilhões, uma queda de 34,8%.
            Para completar as desgraças, a impossibilidade de se atingir o tão desejado superávit primário, nas contas públicas, já foi admitida. O compromisso do governo era de que a economia seria de 3,1% do PIB, o que corresponderia a R$ 139,8 bilhões. No entanto, até novembro, o governo só conseguiu R$ 82,699 bilhões. Mesmo se considerando as deduções permitidas com os gastos do PAC, ainda faltam R$ 31,5 bilhões.
            Tentando esconder o rombo, o governo, nos últimos dias do ano, realizou uma série de operações contábeis para aumentar as receitas e apresentar outros números. Não é a primeira vez que se utilizam estes recursos. Foram feitas operações envolvendo o BNDES, a Caixa Econômica, as estatais, o Tesouro e o Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização (FFIE), do qual o único cotista é o Fundo Soberano do Brasil (de onde foram sacados R$ 12,4 bilhões, quase zerando esta reserva dita estratégica). Com isto o governo aumentou a receita em R$ 19,4 bilhões, suficiente para “enganar” o “mercado”.
            Será que engana?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Adeus ano velho. Feliz ano novo?


Semana de 26 de dezembro de 2012 a 01 de janeiro de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Começamos desejando um feliz 2013 a todos os nossos leitores!
            Faz parte desses desejos, trazer boas notícias na área econômica, nos dias vindouros. Mas, infelizmente, nesta primeira análise do ano, isto ainda não é possível. A situação é idêntica à do início de 2012: Ano Novo... Vida Velha.
            O réveillontradicional do Rio de Janeiro festejou a chegada de 2013, queimando 24 toneladas de fogos em 16 minutos. Os ruídos dos festejos, certamente, não chegaram à Base Naval de Aratu, na Bahia, onde se encontra a presidente Dilma, descansando. Ela não teve motivos para comemorar, de novo. O final do ano trouxe a má notícia: o PIBinho é uma realidade que se concretizará em 1% ou menos. Pior que 2011. Tadinho do nosso “levantador de PIBs”, o ministro Mantega. Não conseguiu sua façanha. Para nós, isto não é novidade, pois já sabemos que “economista não engana capitalista”.
            Ao constatarmos que a indústria empurrava a atividade econômica ladeira abaixo, também anunciávamos que, pior do que estava, iria ficar. É óbvio que o governo, de sua parte, envidou esforços tentando lutar contra os efeitos da crise. Desonerou uma série de setores, travou guerra contra os produtos importados, reduziu a taxa de juros, manipulou o câmbio, estimulou o setor privado com a renovação das concessões e lançamento de novas, incentivou o crédito através da redução do spreadbancário, etc. A última medida do ano foi a liberação do recolhimento dos depósitos compulsórios de bancos. Aquelas instituições que destinarem recursos financeiros ao Programa de Sustentação do Investimento (PSI), não terão a obrigatoriedade de recolher o compulsório sobre aquelas cifras.
            Com a ajuda das renúncias fiscais e não tendo conseguido reduzir as despesas, em ano eleitoral, o governo amarga o pior desempenho fiscal desde que Dilma assumiu. A meta de economia para o superávit primário que era de R$ 139 bilhões, até agora, está longe de ser atingida. Só foram cumpridos R$ 82,7 bilhões. Para aqueles que defendem a economia para pagamentos de juros, isto é um mau sinal.
            Além disso, os setores estimulados tem apenas reposto os estoques e realmente não estão investindo, ou seja, a demanda maior está sendo suprida pelos produtos importados, fato que não contribui para a economia interna e ainda debilita a indústria nacional, que apresenta elevada capacidade ociosa. Segundo alguns especialistas a saída pode estar nos investimentos públicos em infra-estrutura, que, de forma indireta, estimula o setor privado.
            O governo passou o ano tentando alavancar os investimentos. Não conseguiu. A Formação Bruta de Capital Fixo caiu 5,63%, no terceiro trimestre de 2012, mantendo a tendência negativa que se verificou desde o início do ano.
            A presidente, no programa “Conversa com a presidenta”, quase que de joelhos, apelou aos empresários para que eles “acreditem e invistam no nosso país”. O desespero de Dilma é explicado pelas falácias do fundamentalismo de mercado que gerou a crença de que o intervencionismo “exacerbado” do governo na economia tem inibido os investimentos. Estes excessos trariam incertezas quanto ao cumprimento dos acordos feitos com a iniciativa privada. Acreditando nisto, mais uma vez a presidente clama: “este é um governo [...] que respeita contratos”.
            Todos buscam os culpados pela não decolagem dos investimentos. Uns culpam a própria Dilma que não seria “pró-mercado”. Outros culpam Mantega e suas previsões desastrosas. O ministro que considerou a previsão do Banco Credit Suisse, de 1,5% de crescimento, para o nosso PIB, “uma piada”, logo caiu do cavalo e, otimista, fechou a sua previsão, novamente equivocada, em 2%. Crescem os rumores de que o ministro pode perder seu posto em 2013, mas a presidente garantiu que ele fica.
            Os fatos aumentaram as distâncias entre as previsões da equipe econômica e a tão problemática realidade. O governo cumpre sua missão e continua acreditando que conseguirá despertar o ímpeto animal do empresário que parece estar adormecido. Perseguindo este objetivo, a presidente Dilma, Tombini e Mantega, saudaram o Ano Novo cantando assim:
            ♪♪Adeus ano velho, feliz ano novo. Que o PIB se realize no ano que já chegou... ♫
            Este é o desafio a ser vencido, cujo resultado pode inviabilizar a reeleição de Dilma.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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