terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O “tapering” do “Fed”



Semana de 16 a 22 de dezembro de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]


Depois do anúncio do Fed sobre o “tapering”, e com a divulgação de um comunicado “dovish”, o mundo pode comemorar o Natal e a passagem do ano em paz, pois os “mercados” estão acalmados.
E nós, humildes mortais, o que temos com isto?
É assim, caros leitores, quem não sabe inglês não entende nada de economia.
O Fed é o Federal Reserve, banco central americano, e o “tapering” é o início do processo de retirada dos estímulos que este banco vinha promovendo nos EUA.
Desde o estouro de 2008, quando a crise chamada de “financeira” teve início, o Fed vem interferindo na economia, abandonando sua posição de aparente neutralidade e despejando descaradamente trilhões de dólares para salvar bancos e instituições financeiras da falência. O pretexto foi o de estimular a economia em crise. Já não se sabe quanto foi derramado, mas as estimativas oficiais apontam números que ultrapassam os US$ 3 trilhões. Nos últimos tempos este derrame passou a obedecer a algumas regras, sendo a mais importante delas o compromisso do Fed de comprar mensalmente US$ 85 bilhões de dois tipos de papeis: US$ 45 bilhões eram destinados aos treasuries (títulos do tesouro dos EUA) e US$ 40 bilhões para os MBS (títulos lastreados em hipotecas). A decisão tomada na quarta feira da semana passada marcou o início da redução destas compras. Em vez de US$ 85 bilhões, o Fed passará a comprar, a partir de janeiro, apenas US$ 75 bilhões, reduzindo US$ 5 bilhões para cada tipo de papel. É o início do processo que é chamado de “tapering”.
Os “mercados” estavam nervosíssimos, pois o Fed já anunciara várias vezes o “tapering”. Finalmente, ele concretizou-se, mas acompanhado de um comunicado “dovish” (de pombo), ou seja, moderado. No comunicado, o Fed não se compromete com nenhum prosseguimento na redução das compras e até admite aumentá-las caso o comportamento da economia dos EUA se altere. Eles analisam três indicadores: a queda do desemprego (meta de 6,5%), a inflação alinhando na meta (2,0%) e a estabilização do crescimento do PIB.
A situação atual dos ativos do Fed já se tornava constrangedora. Em setembro, estes ativos registravam US$ 2,22 trilhões de títulos da dívida pública e US$ 1,38 trilhão em títulos lastreados em hipotecas.
Para aumentar a tranquilidade, o Fed declarou ainda que as taxas de juros baixas (entre 0,0% e 0,25%) continuarão por um longo período.
Apesar de todas estas reservas, os especuladores nos países emergentes continuaram nervosos, o que começa a se refletir no câmbio por estas bandas. O dólar começou a sofrer pressões de alta o que corresponde à desvalorização das moedas locais e, no nosso caso, do real.
O BC no Brasil já está reagindo e prometendo continuar com suas intervenções, mantendo a “flutuação suja” no mercado de câmbio. Com a desvalorização do real, os exportadores festejam, os importadores choram e a inflação sofre pressão de alta para a desgraça geral.
A atitude do Fed pode ter outra leitura. Pode ser considerada como o sintoma de que, para eles, a recuperação da economia nos EUA já começou.
Na Europa, a situação mantém-se estagnada e não são visíveis sinais de mudança de atitude no BCE. Como a situação, na China e no Japão, também se mantém estável, não há grandes esperanças na retomada da recuperação da economia mundial em 2014.
Só o otimista Ministro Mantega prevê o fim do ciclo recessivo no mundo, no próximo ano. Aliás, se depender de sua vontade, o PIB do Brasil crescerá 4% em 2014, de acordo com a proposta orçamentária que foi elaborada. Infelizmente ele está mais uma vez só em sua previsão, pois a própria área econômica do governo trabalha com 3%, o BC com 2,5%, o FMI com 2,5%, a Cepal com 2,6% e o “mercado” com 2.1%. Nestas condições podemos desejar a todos um Feliz Natal, mas, o próspero ano novo dependerá desta loteria de previsões.
Vamos torcer pelo palpite do Mantega.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Primeira previsão para 2014



Semana de 09 a 15 de dezembro de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]



            Na semana passada voltamos a falar do pibinho da Dilma. Porém, a situação brasileira não é nada boa desde o fim de 2008, quando a crise internacional (a marolinha) chegou ao Brasil ainda no governo Lula. O colapso só foi realmente sentido no ano seguinte, quando a economia decresceu 0,3% em relação ao ano anterior. Neste mesmo ano foi criado o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que visava o combate à crise por meio da facilitação das exportações, da compra de bens de capital e da inovação produtiva. Sua operacionalização foi feita pelo BNDES, que financiou (e financia até hoje) as empresas por meio de créditos subvencionados.
            Em 2010, ano de eleição e de reação à crise econômica, houve um soluço e o PIB do país cresceu 7,5%. No ano seguinte, num patamar mais realista, o crescimento registrado caiu para 2,7%. Em 2012, como vimos na análise passada, o crescimento revisado foi de 1%. A projeção é de crescimento de 2,3% para 2013 e 2,01% para 2014.
            Para alguns analistas, os motivos para a desaceleração da atividade produtiva no ano que vem são as desconfianças do empresariado em relação ao cenário econômico internacional. Na China, por exemplo, empresas como Hewlett-Packard, Johnson & Johnson e IBM estão demitindo trabalhadores e reduzindo suas operações, dada a desaceleração econômica do país e o elevado custo com mão de obra.
            Além disto, e para piorar a situação do Brasil, está a promessa de redução da verba destinada ao PSI em sua renovação para o ano vem. Em 2013, o valor total disponibilizado pelo BNDES para o programa chegará a R$ 100 bilhões, dos quais está prevista uma retirada total por parte dos empresários, até o fim do ano, de R$ 80 bi. Para 2014, por sua vez, a previsão é de que ocorra um corte de R$ 25 bi neste orçamento, sendo ofertado “apenas” R$ 75 bi aos empresários do setor industrial.
            Para completar, a renovação do PSI ocorrerá mediante a elevação dos juros cobrados pela instituição financiadora. Por exemplo, a taxa cobrada no financiamento da compra de ônibus e caminhões irá subir de 4% para 6%. Já a taxa para as linhas de inovação e de aquisição de máquinas e equipamentos para pequenas e médias empresas, sairá dos atuais 3,5% para 4,5%. Dentre os fatores que estão por trás desta elevação, o custo mais elevado de capitalização do BNDES é apontado como o mais importante. A mais importante das fontes de recursos do banco é o Tesouro Nacional, que capta dinheiro por meio da emissão de títulos, alguns atrelados à taxa básica de juros. Quando foi criado o PSI, a taxa Selic estava em 7,25% ao ano. Atualmente, depois do ciclo de alta causado pelo complexo de independência adolescente do Banco Central do Brasil, a taxa está em 10%.
            Isto quer dizer que a diferença entre o que o governo paga ao mercado financeiro, por meio do Tesouro, e o que ele recebe dos empresários industriais, por meio do BNDES, chega a 6,5%. Na realidade não é o governo que paga, somos nós, que pagamos com os nossos impostos. Não é à toa que cerca de 42% do orçamento estatal, ou seja, R$ 900 bilhões, são destinados, única, exclusiva e religiosamente, ao pagamento dos juros e da dívida que nunca é paga e continua crescendo.
            Como se não bastasse, existe ainda um temor generalizado e impregnado em todos os países emergentes: a retirada dos estímulos monetários dados pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA. O programa de compra (US$ 85 bi) de títulos podres está com os dias contados. Tanto que já está sendo testado um novo modelo de remuneração do setor financeiro: o Fed. pagaria 0,25% de juros ao ano para que o dinheiro bombeado para os cofres dos bancos fique parado agora nos cofres da instituição federal. O objetivo é “enxugar” os US$ 2,5 trilhões injetados pelo referido programa, ao longo dos anos.
            O problema é que as diversas instituições financeiras internacionais devem repatriar boa parte dos seus capitais ou correr para a segurança da economia americana. Como resultado, teremos uma provável fuga de capitais, seguida pela desvalorização do real frente ao dólar. Isto nos remete novamente ao saci-macroeconômico: com o dólar valorizado as importações ficam mais caras, o que, segundo a teoria oficial, elevaria os preços dos produtos internos. Como resultado, temos a inflação. O remédio para este problema, todos sabem, é a elevação da Selic. Mas, com a elevação da taxa básica de juros há o aumento do custo do financiamento, que por sua vez retrai a atividade econômica, aumenta a dívida e o pagamento de juros.
            Este é o cenário para 2014.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O “pibinho” de novo...



Semana de 02 a 08 de dezembro de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]


            Caro leitor. 2013 não tem sido um ano fácil. A crise econômica continua a provocar estragos e, remar contra a maré, se tornou uma tarefa árdua. O governo tenta a todo custo estimular os investimentos. Desonerações, concessões, Minha casa, minha vida, queda dos juros..., nenhuma das medidas adotadas conseguiu “provocar” a retomada econômica.
            Como já argumentamos em análises anteriores, a presidente Dilma teme ficar conhecida como a gestora do “pibinho”. Mas, o governo não tem bons números para apresentar. A economia cresceu, em 2011, 2,7% e, em 2012, 0,9%. E por falar em 2012, a grande expectativa da última semana era a de que o PIB do ano passado passasse de 0,9% para 1,5% em virtude de uma revisão das contas. Em discurso, a presidente comemorou a mudança e já dava como certo, o crescimento de 1,5%. Numa entrevista a um jornal espanhol, Dilma declarou: “... resolveram reavaliar o PIB, elevando o resultado de 2012, de 0,9%, para 1,5%. Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB...” O Planalto tentou amenizar o engano dizendo que o comentário referia-se a uma projeção, mas o fato é que, ansiosamente, o planalto desejava a esperada revisão. O IBGE finalmente concluiu que os serviços cresceram 1,9% em 2012, ao invés de 1,7%. O impacto final sobre o PIB foi de 0,1%, ou seja, em 2012, com todos os ajustes, crescemos apenas 1%.
            Otimista como sempre, o ministro da Fazenda Guido Mantega, passou a esperar outra estatística. Segundo ele, o PIB do terceiro trimestre iria crescer 2,5%, comparado ao terceiro trimestre do ano passado. Na mesma semana, o IBGE divulgou o resultado do terceiro trimestre: queda de 0,5%, comparado ao trimestre anterior. No desempenho por setores, a agropecuária decresceu 3,5% e a indústria e serviços cresceram apenas 0,1%. Na ótica dos gastos, a formação bruta de capital fixo (indicador dos investimentos) caiu 2,2%, o consumo das famílias, cresceu 1% e o consumo da administração pública subiu 1,2%.
            Se comparado ao terceiro trimestre de 2012, o crescimento foi de 2,2%, contrariando a previsão de Mantega. Mesmo assim, o ministro defende que a economia segue em “crescimento econômico gradual”. Como gradual, se a economia cresceu 0,6% no primeiro trimestre, 1,8% no segundo e -0,5% no terceiro?
            A equipe econômica faz um esforço para não lamentar o resultado e cala-se quando o assunto é relacioná-lo ao aumento da taxa de juros. Qualquer um sabe que, associados aos efeitos da crise mundial, os consecutivos aumentos dos juros afetariam a economia, que apresenta dificuldades em se recuperar. Desde abril, o Copom vem aumentando sucessivamente a taxa de juros, o que, de forma defasada, afetou negativamente a atividade econômica, no terceiro trimestre. Mas o governo, e todos os que aplaudem a política do saci macroeconômico, se negam a falar do assunto. Centrando o fogo contra a demanda, os juros inevitavelmente também acertam a oferta. A queda da formação bruta de capital fixo demonstra isso.
            Segundo alguns analistas a queda de 0,5% no terceiro trimestre, não refletiu todo o feito do aumento da taxa básica de juros. Espera-se um maior impacto nos próximos meses.
            Outra estatística do IBGE, o indicador Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), apurou alta de 0,6% entre setembro e outubro. Dos 27 ramos de atividade pesquisados pelo IBGE, 21 aumentaram a produção. Mas a confiança dos empresários do setor iniciou o quarto trimestre em queda, segundo pesquisas da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ou seja, o destino dos números do quarto trimestre é incerto.
            Os economistas insistem em dizer que o modelo econômico adotado pelo governo (exceto a política de juros) está errado, porque interfere demais na economia e não deixa os agentes econômicos tomarem decisões corretas e seguras. Olhando desta forma, qualquer que seja o modelo adotado, o resultado será o fracasso, afinal de contas não são os economistas, nem os modelos elaborados por eles, que determinarão as decisões dos agentes econômicos e farão o país sair da crise.
            Mas segundo o profeta Mantega, este “provavelmente será o último ano da crise internacional”. Se considerarmos a percentagem de acertos das previsões do ministro, esta é outra que não parece crível.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A ideologia dos juros



Semana de 25de novembro a 01 de dezembro de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]


Já está ficando aborrecido falar de aumento de juros. Confirmando a nossa teoria da transmutação do “tripé macroeconômico” (metas da inflação, câmbio flutuante, superávit primário), no “saci macroeconômico” (metas da inflação), o Banco Central (BC), através do seu conselho de Política Monetária (Copom), em sua última reunião, voltou a elevar a taxa de juros básica Selic, de 9,5% para 10% mostrando que o tabu dos dois dígitos não existe.
Qual adolescente com problemas existenciais, o BC procurou convencer o “mercado” que é independente do governo Dilma. O pretexto para o aumento foi o mesmo de sempre: combater a inflação.
Curiosamente, as elevações sucessivas têm demonstrado que, quanto mais os juros são elevados, mais a inflação se fortalece. Ninguém se dá conta de que este não é o remédio para a doença. O pior é que, esta medíocre solução está fundamentada em uma ideologia econômica que aponta a vulgar “lei da oferta e da procura” como a causa da inflação.  Ou seja: a inflação cresce porque as pessoas estão comprando muito (excesso de demanda). A elevação dos juros provocaria o encarecimento do crédito desestimulando as compras dos consumidores e o investimento das empresas.
Desta vez, aqui em João Pessoa, duas vozes se levantaram em protesto. O presidente da Federação do Comércio (Fecomércio-PB), Marcone Medeiros, declarou que “os juros altos só prejudicam a economia” e que a redução do consumo provoca a diminuição da produção industrial e agrícola. A outra voz foi a do presidente do Conselho Regional de Economia da Paraíba (Corecon-PB), Celso Mangueira, que considerou a situação “preocupante, pois o consumo é a base da dinâmica econômica e as empresas deixam de fazer investimentos”. Disse ainda que “Já tivemos essa situação da Selic elevada e retrai a dinâmica da economia”. Celso alertou que “a taxa de juro tem sido a única ferramenta que o governo tem utilizado na estabilização da inflação”. Sabiamente Celso olhou o problema pelo lado oposto: “A inflação é questão da oferta de mercadoria”.
Com a nova elevação da Selic, mais uma vez a badalada independência do BC mostrou sua verdadeira cara: “independência” significa dependência do capital financeiro o único a exultar de satisfação com os gordos dividendos que embolsará. Agora, os especuladores aguardam ansiosos a divulgação da ata da reunião tentando ler nas entrelinhas qual será a postura do BC nas próximas reuniões. Certamente alguns privilegiados já dispõem das informações desejadas. Como era esperado o BC continua firme na contramão do rumo seguido pelos maiores BCs do mundo.
O Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, mantém suas taxas de juros nos níveis mínimos e ainda mostra disposição para nova baixa. A situação do bloco permanece instável e sem garantias de recuperação. As preocupações têm aumentado diante da ameaça do corte dos estímulos feita pelo Fed, BC americano. As preocupações do BCE aumentaram ainda mais com os problemas que têm surgido nos emergentes, como Índia, África do Sul, Indonésia, Turquia, México, Polônia e mesmo na China. A situação do Brasil também provoca cuidados.
É nesta situação de instabilidade que, no Brasil, estourou a ameaça de julgamento pelo STF, do litígio entre os bancos e os poupadores que se sentiram prejudicados com as correções que foram feitas, como consequência dos vários planos de estabilização: Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991). Caso os poupadores ganhem, estimam-se os prejuízos dos bancos e instituições financeiras em valores que vão dos R$150 bilhões a R$600 bilhões. Até os fundos de pensão teriam prejuízos calculados em R$40 bilhões. O interesse dos bancos é tal que vários lobbies estão sendo mobilizados para pressionar o STF. A última novidade foi uma carta assinada por 27 ex-ministros da fazenda e ex-presidentes do BC apoiando as pretensões dos banqueiros. O STF adiou a discussão para o início de 2014.
Tombini (atual BC) e Mantega (atual ministro) estão entre os 27 assinantes.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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