quarta-feira, 25 de junho de 2014

Enquanto a bola rola a economia patina

Semana de 16 a 22 de junho de 2014


Nelson Rosas Ribeiro[i]

A copa do mundo continua atraindo todas as atenções misturando a alegria dos vencedores com a frustração dos derrotados e não dando oportunidade para preocupações com a economia mundial, que continua a se arrastar sem maiores novidades.
A recuperação americana preocupa e o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua projeção de crescimento dos EUA, em 2014, de 2,8% para 2% e recomenda a manutenção das taxas de juros próximas à zero por um tempo mais prolongado. Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo, sugeriu uma elevação do salário mínimo do país, considerado por ela muito baixo, a fim de melhorar a distribuição de renda e estimular o consumo. Por seu lado, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, preocupado com a possibilidade de fuga em massa dos investidores em fundos de títulos, pretende criar “tarifas de saída” para dificultar a retirada desordenada e súbita dos capitais.
A recuperação na União Europeia (UE), também continua em ritmo lento e as preocupações aumentam com o corte do fornecimento de gás à Ucrânia, pela Rússia, decorrente do conflito entre os dois países. A tensão não melhora e as preocupações da UE, quanto às fontes de energia, cresceram com o agravamento da situação no Iraque onde forças sunitas com o apoio do talibã avançam sobre a capital Bagdá e já controlam algumas regiões petrolíferas.
As complicações do mundo desenvolvido, aliadas ao afrouxamento monetário generalizado, encontrando taxas de juros elevadas pelos emergentes, como Turquia, Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul serviram como estimulo a volta dos capitais especulativos a estes países. Os especuladores, que apenas em junho de 2013 haviam retirado de 30 países emergentes US$ 32,5 bilhões, segundo dados do Institute of International Finance Inc., nos últimos 11 meses injetaram US$ 221,7 bilhões nesses mesmos países, incluindo US$ 45 bilhões, só no mês de maio. O excesso de liquidez global faz aumentar o “apetite por risco” dos abutres financeiros internacionais, de acordo com o banco BofA Merrill Lynch.
Na América Latina a grande novidade é o contencioso entre a Justiça dos EUA e o governo da Argentina, após a Suprema Corte ter rejeitado a apelação do governo contra uma decisão que obrigava o país a pagar integralmente a dívida de um grupo de credores participantes de três fundos (NMI, Aurelius e Olifant). Estes fundos não aceitaram o acordo anteriormente assinado por 93% da totalidade dos credores, quando a Argentina, em 2001, declarou um “default” e negociou toda a sua dívida. Temem-se as consequências dessa decisão em outros acordos envolvendo pagamento de dívidas.
No Brasil, apesar de termos passado para as oitavas de final, mesmo com grandes sofrimentos, a situação não anda bem. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), continuou abaixo dos 50 pontos, considerado o segundo pior já calculado até agora. A maior queda verificou-se nas indústrias da construção, transformação e metalurgia.
As estimativas para o crescimento do PIB este ano, feitas pelo mercado, foram reduzidas de 1,44% para 1,24%. Segundo a CNI, a indústria continua acumulando estoques apesar de baixa produção, com especial destaque para o setor automotivo. Também apresentaram mal desempenho os setores de máquinas e materiais elétricos e couros.
Mas, enquanto alguns curtem suas dificuldades, outros continuam acumulando grandes fortunas. No Brasil, segundo o Boston Consulting Group (BCG), a riqueza privada cresceu 5,6%, em 2013, atingindo US$ 1,3 trilhão, pouco menos de 60% do PIB do país. Na América Latina esse crescimento foi de 11,1%, atingindo US$ 3,9 trilhões e no mundo foi de 14,6%, com um montante de US$ 152 trilhões. Segundo o BCG, o Brasil ficou em 24º lugar, com 70 mil famílias milionárias. Em primeiro lugar vem os EUA, com 7,1 milhões de famílias, seguidos pela comunista China, com 2.4 milhões.
E continuamos nós por aqui, pelo menos festejando o São João, curtindo a copa e torcendo pelo Brasil.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Tempos de copa, tempos de crise

Semana de 09 a 15 de junho de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Enquanto a população brasileira assiste, após 64 anos, uma Copa do Mundo de Futebol, sediada no Brasil, a equipe econômica do governo tenta driblar uma crise econômica que se arrasta sem sinais de recuperação. Tanto o ataque quanto a defesa sofrem com as intempéries geradas pelo fenômeno.
            A equipe de defesa já lançou vários antídotos contra a crise, mas nem todos barraram o ataque do adversário. A crise acabou ganhando um aliado: a inflação, que insiste em furar a defesa da política monetária e que se torna cada vez mais resistente, digo, “resiliente”. Há inúmeras explicações para esta resiliência inflacionária. O leitor fique à vontade para escolher uma delas.
            A presidente Dilma, por exemplo, defende que a inflação é cíclica. Segundo ela, há 15 anos a inflação se comporta da mesma forma: até fevereiro ela estaciona, nos meses seguintes cai, e em junho, julho, agosto, ela sobe. Outra visão que ganha corpo é a de que a inflação vai convergir “naturalmente” para o centro da meta, assim que o choque de preços administrados cessar. A partir daí, a inflação tornar-se-ia menos resiliente e o centro de 4,5% seria conquistado.
            É impressionante como todas as desculpas passam longe do diagnóstico dado à inflação. Dentre as citadas acima, a mais utilizada é a de defasagem da política monetária. Segundo a maioria dos analistas, o horizonte de efeito da política monetária é de dois anos, portanto, teríamos que esperar.
            Surpreendentemente, um aliado do governo, o PDT (Partido Democrático Trabalhista), resolveu questionar a estratégia de ataque à inflação. O partido, em uma carta que será dirigida ao governo, proporá novas formas de gerir a política monetária. O deputado Paulo Rubem Santiago, do PDT de Pernambuco, responsável pela elaboração do documento, faz críticas ao baixo crescimento do país e à política de combate à inflação. Segundo a proposta, o Banco Central deveria apenas executar a política monetária e as etapas que a antecedem, seriam da competência do Executivo e passariam pelo Congresso Nacional.
            Segundo o PDT, os adversários de Dilma, o PSDB e o PSB-Rede, estão se aproveitando do errado diagnóstico da causa da inflação, para atacar. O PDT concorda que o baixo dinamismo da economia brasileira, se deve à política de juros altos usada para combater a inflação. Numa visão contrária à da equipe econômica, a política de taxa de juros como forma de combater o consumo, deve ser abandonada, pois esta não atinge a elevação do preço de alimentos provocada por fenômenos climáticos, e tampouco os preços administrados.
            Esta visão é “inovadora” e embola o meio de campo, pois contraria toda a doutrina que embasa as decisões da política econômica, tanto no âmbito nacional quanto internacional. Até agora ninguém tinha tido coragem suficiente para se opor à visão dominante. A carta do PDT deve ser finalizada destacando que a mudança certamente provocará a insatisfação das elites financeiras, mas que a sociedade organizada deve ser convocada para defender uma política monetária que reconduza o país ao caminho do desenvolvimento, estabilidade e crescimento.
            A proposta será submetida à avaliação da presidente e como desagradará a muitos, será provavelmente descartada. O setor financeiro que já reclama da “excessiva intervenção” do governo na economia, vê na política de juros altos uma das principais formas de garantir altas remunerações. É o temor de que a política atual será mantida que leva o setor financeiro a reagir bem às quedas nas intenções de voto da atual presidente, nas pesquisas eleitorais.
            Segundo a última pesquisa do DataFolha todos os candidatos apresentaram queda das intenções de voto. As intenções para a presidente Dilma, por exemplo, recuaram de 37% para 34%. O Ibovespa, termômetro das negociações financeiras realizadas nos pregões da BM&FBovespa, vem apresentando quedas consecutivas. Em junho, por exemplo, comparado a maio, o indicador caiu 19%. Curiosamente, no dia em que a pesquisa foi divulgada o índice avançou 3,04%.
            Tal comportamento deixa muito claro quais os interesses que estão em jogo. E ai daquele que ousar contrariá-los. Neste jogo de interesses, há um único perdedor: a população brasileira.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Taxa de juros e inflação (cá e lá)



Semana de 02 a 08 de junho de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Que relação existirá entre juros e inflação? Que segredos estão escondidos quando se estabelece esta relação?
A ideologia econômica oficial, ensinada nas universidades e praticada fanaticamente pelos economistas e analistas econômicos, concebeu esta espúria relação que passou a ser considerada como uma verdade eterna e imutável. Qualquer aprendiz de economia ou de jornalismo econômico sabe que, para controlar a inflação, manipula-se a taxa de juros. Quando a inflação se acelera deve-se elevar as taxas e quando a inflação desacelera, deve-se reduzi-las. Este mecanismo opera através da ação dos bancos centrais (BCs) de todos os países que estabelecem as chamadas taxas básicas. No caso do Brasil esta taxa é a Selic e quem a manipula é o Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do BC.
Há cerca de duas semanas o Copom, em sua reunião ordinária resolveu manter a Selic em 11%. Lembremos que, em reuniões sucessivas, e durante quase um ano, o Copom subiu a Selic em 3,75 pontos até atingir os 11% atuais. A decisão do Copom significa uma pausa no chamado aperto monetário, que vinha sendo imposto ao país, a pretexto de combater a inflação. A ata da reunião divulgada esta semana dá as explicações para a interrupção: a desaceleração da inflação, a queda da produção industrial e da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o ambiente externo adverso, ou seja, a situação econômica está se agravando.
Mas, não era exatamente isto o que se pretendia? Então, por que a surpresa?
O BC e o governo deveriam estar festejando o sucesso de sua política: a desaceleração da economia e o aumento do desemprego. No entanto, às vésperas das eleições, ninguém se atreve a assumir a responsabilidade por estas consequências.
Qual é então o lixo debaixo do tapete?
Os acadêmicos fazem bonitos discursos sobre diferentes teorias explicativas da inflação, mas na política econômica, só conhecem uma: a lei da oferta e da procura. Os preços sobem porque a demanda é maior do que a oferta, logo, contra a elevação dos preços é necessário reprimir a demanda e para isto os juros são o único remédio na farmácia da teoria neoclássica. A elevação dos juros desestimula os financiamentos ao consumo e aos investimentos e com isso esfria-se a economia. É o que está ocorrendo.
O desesperador é que, apesar de estarem sendo praticadas as taxas de juros mais altas do mundo, a inflação apenas reduziu os seus ritmos, mas continua perto do teto da meta, ou seja, 6.5%.
Os arautos da ideologia econômica oficial estão desesperados. O emérito professor e ex-ministro Delfim Netto, depois de afirmar que a desaceleração da economia “não surpreendeu ninguém, nem ao governo”, admitiu “o que causa estranheza, no entanto, é a resistência da inflação”. A jornalista do Valor Econômico Claudia Safatle, depois de citar o ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo, que reconhece que “já estamos em recessão”, e admitir a estimativa para o crescimento do PIB do ano abaixo de 1%, afirma: “É difícil entender como a inflação resiste no patamar de 6% com uma economia tão fraca, assim como as expectativas de inflação para o futuro também não cedem”.
A teoria econômica oficial, fiel aos seus dogmas, está mais uma vez encurralada. E o pior é que tem a memória fraca. Ninguém se lembra do fenômeno da “estagflação” que atingiu o Brasil no início dos anos 60 e o resto do mundo nos anos 70.
Mas, se o sufoco, por aqui, é o dragão da inflação, no resto do mundo, é o ogro da deflação. Na União Europeia, o BCE, embora resistindo em lançar o seu Quantitative Easing (QE), adotou medidas para elevar a inflação para 2%. O novo pacote do BCE inclui emissão inicial de €400 bilhões, taxas de juros negativas e punição com taxa de 0,1% aos bancos que depositarem suas reservas no BCE, além de estímulos aos bancos que ampliarem seus financiamentos.
Mesmo sem qualquer resultado a teoria se mantém a mesma: cá, aumentam os juros para combater a inflação; lá os reduzem para aumentá-la.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 4 de junho de 2014

O pibinho do primeiro trimestre


Semana de 26 de maio a 01 de junho de 2014


Rosângela Palhano Ramalho

            Caro leitor, a conjuntura econômica brasileira, como há algum tempo já estamos anunciando, continua em má situação. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua reunião da quarta feira da semana passada, decidiu manter a taxa de juros em 11% ao ano. A decisão pela manutenção já era esperada no mercado financeiro, o maior interessado. Continuamos em primeiro lugar no ranking de maior taxa de juros real do mundo. A taxa, que em outubro de 2012 era de 7,25%, sofreu desde então, aumentos consecutivos. O ciclo de alta cessou, segundo o Banco Central, em virtude do fraco cenário macroeconômico e das perspectivas futuras para a inflação, que, embora continuem acima do centro da meta, mostraram arrefecimento.
            O objetivo do governo é derrubar a inflação e, para isso, usa o único instrumento de política monetária que parece conhecer. Os técnicos do governo acreditam que os altos juros altos podem reduzir o crédito e o dinheiro em circulação. As pessoas físicas e empresas tenderiam a diminuir o consumo de bens e serviços, e com isto os preços deveriam cair. É, portanto, objetivo deliberado do governo, diminuir o ritmo da atividade econômica. Segundo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o ciclo de alta dos juros ainda não surtiu em sua totalidade, o efeito desejado sobre inflação. Mas, como era de se esperar, o resultado já foi sentido pela atividade econômica. Juros altos, somados a uma crise mundial ainda não superada, presentearam-nos com 0,2% de crescimento do PIB, no primeiro trimestre do ano, quando comparado ao último trimestre do ano passado. Segundo o IBGE, o consumo das famílias caiu 0,1% e os investimentos, 2,1%. A taxa de poupança diminuiu de 13,7% para 12,7% e a produção industrial recuou 0,8%. Era tudo o que o governo queria! Mas, se isto já era esperado pelo governo, porque o resultado é tratado com desânimo e surpresa?
            O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assumiu que o resultado ficou aquém do esperado, mas o governo pretende reverter o cenário apostando no consumo, já que a inflação vai cair e as pessoas voltarão a comprar. Comprar mais, segundo o próprio governo, não gera inflação? Como comprar mais se as famílias estão endividadas? Segundo o Banco Central, os juros dos empréstimos para pessoas físicas subiram em abril, pelo quarto mês consecutivo. Além disso, uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, concluiu que a parcela média da renda das famílias correspondente às dívidas foi de 30,9%, em maio. E 62,7% dos entrevistados afirmaram estar endividados, frente a 62,3% registrados em abril.
            Mas, estamos a sete dias da copa! Agora vai! Pelo menos é isto que Mantega espera. Mais uma vez, a expectativa será frustrada. O cenário que se desenha para a atividade econômica enquanto ocorrer o evento, é desanimador. As operadoras de cartão de crédito e as operadoras de telefonia, já anunciaram que os impactos produzidos pela Copa serão negativos, por causa dos feriados decretados. A Electrolux e a Whirpool, produtoras de eletrodomésticos, darão férias coletivas no período da Copa. O setor automobilístico certamente não se recuperará, pois a venda de veículos, em maio, não se recuperou e o setor registrou queda de 11%, quando comparado a abril. Além dos números do setor automotivo, todos os indicadores de atividade já divulgados para os meses que compõem o segundo trimestre, são piores do que aqueles apresentados no primeiro trimestre. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) detectou queda do nível de atividade industrial e o Cadastro Geral de Admitidos e Demitidos (Caged) também apurou números fracos para o mercado de trabalho, com queda na taxa de ocupação.
            Diante disso, as projeções de crescimento para 2014, continuam a cair e passaram a oscilar entre 1% e 1,5%. Mantega continua a se esquivar quanto à sua previsão. No início do ano, o ministro projetava um crescimento de 2,5% e agora está sendo pressionado a assumir a queda para 2,3%. Parece que não há saídas para a equipe econômica. Ou assume de fato, o seu pibinho ou reformula o cálculo do PIB como fez o Reino Unido. Por lá as atividades “produtivas” das prostitutas e dos traficantes de drogas, integrarão o novo sistema de contas. Espera-se um impulso de 10 bilhões de libras esterlinas, cifra que elevará o PIB em até 5%.
            Fica a sugestão ao ministro Mantega. Quem sabe assim a nossa riqueza cresce!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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domingo, 1 de junho de 2014

Entrevista do professor Nelson Rosas Ribeiro, coordenador do PROGEB, ao JPB.

No Programa de 20/05/2014 do JPB, na TV Cabo Branco, o Prof. Dr. Nelson Rosas falou sobre o controle dos gastos das famílias na Paraíba. Confira a matéria, clique aqui.

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