quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Terremoto abala os comitês de campanha

Semana de 11 a 17 de agosto de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

A morte de Eduardo Campos não foi apenas uma tragédia terrível do ponto de vista familiar, mas representou um terremoto nos comitês das campanhas para presidente. O assunto ocupou todas as manchetes dos órgãos de comunicação a partir da quarta-feira da semana passada.
Não há como não prestarmos toda a nossa solidariedade aos familiares das vítimas, independentemente da opinião que possamos ter sobre a posição política que representavam. Foi uma grande perda para o país.
As consequências não são apenas ao nível dos sentimentos humanos, pessoais e familiares, mas ao nível político e econômico. As pesquisas de opinião já mostram um novo panorama na distribuição das intenções de voto. A possível candidata Marina saltou para a segunda colocação e, em um segundo turno, ganharia da Dilma. Vamos deixar a poeira baixar e ver se esta tendência se confirmará.
Na economia, a inquietação também se manifesta. O “mercado” especula nervoso e comentaristas transformam esta inquietação em pontos na bolsa de valores. Com Dilma ganhando, a bolsa cai para 40 mil pontos. A vitória de Aécio elevaria a bolsa para 70 mil pontos e com Marina, o resultado seria a manutenção do nível atual de 50 a 55 mil pontos. Como os leitores sabem, o famigerado “mercado” é o eufemismo usado para disfarçar o que há de mais podre no nosso sistema, ou seja, os fundos abutres, os especuladores, os parasitas que vivem de sugar as riquezas do país através de atividades financeiras que não criam nenhuma riqueza.
Esta avaliação do “mercado” é um bom indicador para a recomendação de voto. Se não temos ainda certeza de quem merece o nosso voto, por oposição, poderemos ter a certeza de quem não o merece.
O que agrava a situação da candidata Dilma é o desgaste do poder. A situação do país continua a deteriorar-se com a queda da produção industrial, do Produto Interno Bruto (PIB) e das vendas. O Banco Central (BC) publicou o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) que mostrou uma queda da atividade econômica, de 1,2% no segundo trimestre, em relação ao primeiro. Entre maio e junho a queda foi de 1,48%. O Boletim Focus, também do BC, mostrou uma nova correção para baixo, dos prognósticos de crescimento do PIB, em 2014. As previsões foram corrigidas de 1,63% para 0,81%, diante de uma produção industrial em retração, a cadeia automotiva em queda e o comércio em desaceleração. Com efeito, a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, para junho, mostrou uma queda de 3,06%, no segundo trimestre, em relação ao primeiro. É o pior trimestre desde 2008, ano de impacto da crise que abalou a economia mundial.
Outros indicadores setoriais apontam na mesma direção. O Instituto Aço Brasil (Iabr) que representa a indústria siderúrgica, denunciou a ociosidade do setor acima da média e estimou em 2,5% a queda na produção de aço bruto e em 4,1% a queda no consumo no país, em relação a 2013. Benjamim Steinbruch, presidente interino da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) denunciou a situação “inédita de risco de recessão econômica” no Brasil. Ele estimou em 25% a 30% o recuo dos negócios na indústria e a iminência do desemprego. Em São Paulo, a Pesquisa do Nível de Emprego na Indústria paulista, divulgada pela Fiesp registrou uma queda no emprego de 0,7%, em julho, em relação a junho, o que representa 15,5 mil postos de trabalho a menos. O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp afirmou que, até o final do ano “O panorama de emprego ainda vai se acentuar para pior”.
E não se pode esperar nenhum impulso externo. A economia mundial continua em dificuldades amargando a decepção das vendas no varejo nos EUA, a queda de 0,3% na produção industrial na zona do euro, em junho, o crescimento zero do PIB desta zona, no segundo trimestre em relação ao primeiro, a queda de 0,2% da economia da Alemanha, também no segundo trimestre, a entrada na terceira recessão da Itália e a estagnação da França.
Há outras ameaças de terremotos para a candidatura Dilma!



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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