quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A pasmaceira global

Semana de 13 a 19 de outubro de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Parece que a única pessoa que acredita que a crise econômica mundial acabou é o Armínio Fraga, candidato a ministro em uma eventual vitória do Aécio Neves. Aliás, ele perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado na entrevista na TV Globo, quando debateu com o Guido Mantega e afirmou que a crise, iniciada em 2008, terminou em 2009. E não foi apenas esta mancada. Ele representou muito bem o papel de saco vazio, ou seja, não tinha nenhuma proposta para enfrentar a difícil situação que o país atravessa. Reprisou apenas o chavão da necessidade da “mudança” para lugar nenhum, ou melhor, para trás, prometendo a restauração do tripé macroeconômico e a famigerada “independência” do Banco Central (BC), o que significa entregá-lo aos banqueiros.
Restaurar o tripé macroeconômico significa aumentar a austeridade fiscal, com elevação do superávit fiscal para pagar os juros da dívida; permitir a flutuação livre do câmbio e aumentar o controle da inflação através do aumento das taxas de juros, além de reduzir a meta para abaixo dos atuais 4,5%. Resumindo, isto significa política de austeridade que, com exceção da Ângela Merkel, primeira ministra da Alemanha, é condenada até pelas grandes organizações internacionais consideradas conservadoras como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mesmo os bancos centrais de países como EUA, União Europeia, Japão, China, Suíça, etc., rejeitam estas políticas.
Todas estas organizações reconhecem a situação de impasse em que se encontra a economia mundial que é caracterizada pela desaceleração das economias emergentes e da China, em particular; pelo pessimismo com a recuperação dos EUA e o temor da possibilidade da elevação dos juros pelo Fed (BC americano), diante da ameaça de deflação; pela queda no mercado mundial e nos preços das commodities, até mesmo o petróleo; pela estagnação da União Europeia com ameaça de deflação na zona do Euro e no Japão.
Por mais desagradável que seja esta situação, é assim que se encontra a economia mundial, em uma “pasmaceira global”, o que é reconhecido por todos menos pelo sábio candidato a Ministro da Fazenda do Aécio.
Neste quadro se insere a economia brasileira, pois com o processo de globalização vigente, estamos indissoluvelmente ligados ao resto do mundo. Serve de agravante o estado de dependência em que se encontra a nossa economia, reduzida para a condição de um país primário exportador, situação em que estávamos nos idos dos anos 50, e pela política de abertura implantada pelo governo FHC, com o seu Plano Real, tão elogiado por todos, mas que empurrou o país para trás. E não podemos eximir de culpa os governos do PT por terem continuado as mesmas políticas e impulsionado o processo de desindustrialização da nossa economia.
Hoje dependemos da meia dúzia de commodities para amealhar míseros dólares que precisamos guardar para pagar os juros de uma dívida sem história e que todos sabem que é impagável, pois os próprios credores não a querem receber. Com o excesso de liquidez internacional, eles não encontrariam nenhum outro negócio para aplicar o dinheiro recebido com rendimentos tão elevados como os que nós pagamos.
Como já alertamos em Análises anteriores, a situação da economia do país é muito crítica e temos feito nesta coluna duras críticas à política econômica praticada pelos governos PT. Mas, as nossas críticas são feitas pela esquerda, diante da tosca e inconsequente política Keynesiana praticada pelo governo para enfrentar a crise que, apesar de tudo, tem produzido alguns efeitos, principalmente graças aos programas de distribuição de renda, de elevação do salário mínimo, de aumento dos financiamentos ao consumo, etc. Estas políticas, sabotadas pela ação do BC, que teima em combater a inflação com o aumento dos juros (tratamento aspirina), não têm sido suficientes para reverter a situação atual de aumento do desemprego, queda da produção industrial, queda nas vendas e no consumo, desaceleração no setor imobiliário, etc.




[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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