quarta-feira, 28 de maio de 2014

Ambiente tumultuado em período de eleições



Semana de 19 a 25 de maio de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

As notícias da semana continuam a confirmar as tendências que temos acompanhado em nossas análises. A economia dos EUA arrasta-se mantendo os temores do Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, que não eleva as taxas de juros, embora mantenha o “tapering” (compra de títulos podres ao ritmo de US$ 10 bilhões ao mês). A situação na União Europeia (UE) piora obrigando a adoção de um afrouxamento monetário (Quantitative Easing – QE) pelo Banco Central Europeu (BCE), o que é esperado a qualquer momento. A crise da Ucrânia, que está longe de encontrar uma solução, apesar da recente eleição do novo presidente, o “rei do chocolate”, continua a ser um agravante. Acrescente-se ainda o acordo Rússia – China que criou uma boa saída para o gás russo e estreitou os laços sino-russos, para infelicidade dos EUA e de sua política no pacífico.
Sem grandes esperanças de uma forte retomada da economia mundial, a situação do Brasil se agrava. A desaceleração do setor automotivo continua. No primeiro quadrimestre do ano a produção caiu 12% e as vendas 5%. A capacidade ociosa chegou aos 30% e os estoques estão no maior nível desde 2008. O mercado doméstico está saturado e o mercado externo oferece poucas possibilidades. As exportações para a Argentina, que representam 80% do total, caíram 26,2%. Para o México, a queda foi de 66% e para a Venezuela foi ainda pior.
A desaceleração estende-se a outros setores. De acordo com a “Sondagem Industrial” divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de produção industrial ficou em 47,3 pontos, em abril, ante 48,8 pontos em março. Neste índice, que vai de zero a 100, valores abaixo de 50 representam queda na produção em relação ao mês anterior. Em maio, a utilização da capacidade instalada foi 71% e, mesmo assim, os estoques cresceram. Em relação aos trabalhadores empregados, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cagede), pela primeira, vez desde 2001, a indústria demitiu empregados em abril tendo reduzido 3,4 mil vagas de empregos formais.
Esta situação reflete-se no índice de confiança dos empresários. Segundo a CNI, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu 1,2% em relação a abril, atingindo 48 pontos, o segundo menor da série histórica iniciada em 1999. Isto foi observado em todos os segmentos e tamanhos das empresas. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre – FGV), em seu Boletim Macro que publica o Índice de Confiança Empresarial, este índice recuou 2,7%, em relação a março. É a maior queda desde 2008. Todos os setores encontram-se na pior situação dos últimos quatro anos. Entre os 72 segmentos estudados a perda de confiança atingiu 77% deles. Segundo Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim, isto é consequência do cenário de baixo crescimento, desaceleração do mercado de trabalho, aumento da inflação e da possibilidade de racionamento de energia. Para o Índice de Confiança de Investimento, também calculado pela FGV, que inclui os setores ligados a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), a queda foi de 6,7%, entre março e abril.
É com este pano de fundo que vai ser realizada na quarta-feira 28, a reunião do Copom, órgão do BC. Quando este artigo chegar às mãos dos leitores a reunião já terá sido realizada e, o que é esperado, decidido: o Copom manterá a atual taxa Selic que é de 11%, assunto que comentaremos em nossa próxima análise.
Como vemos, tanto do ponto de vista objetivo, quanto subjetivo, a situação não é das mais animadoras. Em tal ambiente adverso se vem desenvolvendo a campanha política para as próximas eleições. O que não tem faltado é combustível para a batalha. Desde os escândalos e casos de corrupção que se sucedem e, que o governo tenta toscamente abafar, até os problemas de má gestão de alguns setores. É o caso, por exemplo, do PAC–2, menina dos olhos do governo. Além do atraso de todas as obras, de dezembro de 2010 para cá o orçamento previsto sofreu aumento de R$42,7 bilhões (32,4%).
Este ambiente tumultuado tem sido o caldo de cultura para a gestação das lutas sociais que explodem a cada dia e esta é a realidade que a presidente Dilma terá de enfrentar em sua campanha para a reeleição.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Piketty e a desigualdade



Semana de 14 a 18 de maio de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Caro leitor. Se você ainda não ouviu falar em Thomas Piketty, saiba que, é o economista francês mais comentado do momento. Seu livro recentemente lançado “O Capital no século XXI”, deu a Piketty, nos Estados Unidos, o status de rock star. Mas, qual a novidade que está por traz das suas opiniões? Mesmo não tendo acesso ao livro, que logo será editado no Brasil, a leitura dos comentários nos permite fornecer uma ideia geral do seu conteúdo. Em 970 páginas em francês e 685 em inglês, o economista discute a questão da desigualdade e conclui, com o uso de estatísticas bastante abrangentes, que a tendência geral é de que as sociedades se tornem cada vez mais desequilibradas. A dinâmica da acumulação capitalista, segundo ele, gerará uma espiral de desigualdade fora de controle. Como uma nave sem piloto, o mundo caminha para a tragédia. Ao citar o exemplo dos Estados Unidos, Piketty mostra que os 10% da população de rendimento mais elevado que possuíam 30% a 35% da renda total, passaram a possuir mais de 50% hoje, e mesmo nos países mais igualitários, como a Suécia e a Suíça, esta proporção vem aumentando com o tempo. O acompanhamento das séries de longo prazo, conclui o economista, mostra que a tendência é a de que o rendimento do capital continuará superior às taxas de crescimento e com isto elevará a concentração da renda, a níveis tais que ameaçará o funcionamento das instituições democráticas.
            Desde o início da crise atual que são lançados estudos sobre este tema. A Suécia, por exemplo, país citado nas análises de Piketty, é a nação rica onde a desigualdade cresce mais rápido, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). As estatísticas mostram que desde 1985, considerando um grupo de 34 países ricos, a Suécia se destaca por apresentar alto crescimento da desigualdade. Na década de 90, os 10% mais ricos da população sueca apresentaram uma renda quatro vezes maior que a renda dos 10% mais pobres. Em 2008, este número subiu para seis vezes. Em 2010, a taxa de pobreza registrada na Suécia foi de 9%, o que representa mais do que o dobro do número registrado em 1985.
            O leitor que acompanha esta coluna sabe que partilhamos da ideia de que a acumulação capitalista promove e acentua as desigualdades, através do aumento do fosso que divide os ricos dos pobres. Tal fato é inerente ao próprio processo de acumulação capitalista. Em nossas análises já trouxemos inúmeros exemplos dos artifícios utilizados pelo capital para se expandir e se apropriar de parcelas cada vez maiores da renda, fenômeno há muito tempo discutido pela teoria marxista. O que nos admira é justamente a surpresa de alguns economistas com estas questões que são tão antigas quanto o próprio capitalismo.
            Lembremos alguns exemplos recentes de como os grandes capitais, através da exploração da mão de obra barata, garantem a acumulação. No Vietnã, ocorreu uma onda de protestos causada pela decisão da China em explorar petróleo em águas profundas nas Ilhas Paracel, território de disputa entre chineses e vietnamitas. O curioso, é que, os protestos acabaram prejudicando grandes empresas como a varejista Walmart, a Nike e a Adidas, que tem parte de suas cadeias produtivas sediadas naquele país. As redes já fugiram da China, em virtude do aumento do custo da mão de obra. Estão indo embora de Bangladesh, por causa do acidente gravíssimo em uma fábrica têxtil que matou mais de mil trabalhadores, e também fogem da Tailândia, em razão dos riscos políticos. Resta então explorar o continente africano. A Rede de cartões Visa, já está na África, precisamente em Ruanda, tentando convencer aquela sociedade dos grandes benefícios em obter créditos e utilizar o pagamento eletrônico. A própria China está levando literalmente seu chão de fábrica para a África. Fabricantes de caminhões, calçados, peças para televisores, tubos de aço e têxteis, estão transferindo suas instalações para Uganda, Angola, Zimbabue, Etiópia e Zâmbia, por causa dos baixos custos da mão de obra comparados aos custos chineses.
            Os problemas fundamentais relativos à dinâmica da acumulação capitalista já haviam sido previstos por Marx. Thomas Piketty, agora apelidado de Marx I, propõe, para resolver a trágica acentuação da desigualdade, a adoção de um imposto progressivo mundial sobre o capital.
Com todo o respeito que a obra do autor possa merecer temos de concluir que a montanha pariu um rato.
            Esta é a grande diferença entre ele e Marx, pois para Marx, a superação destes problemas, gerados pela lei geral da acumulação capitalista, está na superação do próprio capitalismo.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Desaceleração compromete governo Dilma



Semana de 05 a 11 de maio de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Na semana passada, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou, em Paris, seu relatório semestral. Os dados confirmam as tendências que temos apontado em nossas análises. As economias dos países desenvolvidos continuam em lenta recuperação e as dos emergentes desaceleram. As estimativas das taxas de crescimento da economia mundial foram corrigidas para baixo, de 3,6%, para 3,4%. Para os EUA espera-se um crescimento de 2,6%, para a zona do euro e o Japão, de 1,2%. A OCDE recomenda manter os juros baixos na zona do euro, por causa do desemprego, da deflação, do lento crescimento e do endividamento público. No caso dos emergentes, para a China, a previsão é de que continuará desacelerando. A taxa de crescimento foi reduzida de 7,8% para 7,5%. Para o Brasil a OCDE prevê uma taxa de 1,8%, com inflação alta e recomendou a elevação dos juros. Tudo de acordo com o manual ou bíblia ideológica oficial.
Educados na mesma escola e rezando pelo mesmo breviário, os BCs de todo o mundo já estão agindo.
O Banco Central Europeu (BCE) já se prepara para o seu afrouxamento monetário (Quantitative Eeasing – QE) que deve acontecer até junho, segundo as análises dos pronunciamentos do seu presidente Mario Draghi. No entanto, a crise da Ucrânia é um complicador para a situação. A fúria americana para isolar a Rússia e todo o ranço secular dos franceses e alemães (ambos derrotados militarmente em batalhas históricas pelos russos) tentam implementar sanções econômicas contra a possível “anexação” de partes do território ucraniano pelos russos. No entanto, os interesses geoestratégicos chocam-se com os interesses econômicos e comerciais das grandes empresas que operam na Rússia. Para não falar da dependência energética da Europa do petróleo e gás russos. Como a Rússia certamente não está disposta a aceitar a presença dos canhões e mísseis da OTAN perto de suas fronteiras, não parece que venha a fazer muitas concessões. Um agravamento das sanções, pelo ocidente, no entanto, poderá ter duras consequências também para a recuperação de toda a eurozona.
Enquanto isso o Federal Reserve (Fed) banco central americano continua o seu “tapering”, redução da compra de títulos podres, na velocidade de US$ 10 bilhões por mês, mas não eleva os juros com medo de derrubar a sofrível recuperação.
No caso do Brasil, a OCDE confirma as nossas previsões. O risco é que a situação venha a se deteriorar ainda mais, por causa do ano eleitoral. Enquanto o governo vacila com sua dúbia política econômica, fruto da confusa ideologia econômica que professa, a oposição ataca com fúria em todas as direções. Para piorar, surgem novas denúncias de casos de corrupção que afetam ainda mais a Petrobras.
A situação interna não é confortável. A desaceleração da produção industrial continua particularmente no setor automotivo. Novas férias coletivas são anunciadas na Ford, Scania, Volvo, International, Iveco, Mercedes Benz, Honda, Hyundai, etc. Segundo a Fenabrave, a queda na venda de veículos foi de 2,1%, no primeiro trimestre, e 5%, de janeiro a abril. As vendas de caminhões da Mercedes Benz caíram 11%, nos primeiros quatro meses. O faturamento da indústria de máquinas e equipamentos caiu 9,5%, no primeiro trimestre, segundo a Abimac, entidade que representa o setor, apesar do aumento de 28% das exportações. Como as importações caíram 3,3% temos o retrato da queda dos investimentos no país. O setor, em março, operou com 75,5% de sua capacidade instalada.
Mesmo com a desaceleração, a inflação continua elevada. Embora o ritmo tenha caído, de março para abril, a taxa anualizada subiu de 6,15% para 6,41%.
Neste quadro econômico adverso, as pesquisas apontam a queda da popularidade do governo Dilma. Enquanto o PT empenha-se em reverter a situação os ministros esforçam-se em desmentir os fatos que comprometem a administração.
Mas, certamente não será com palavras ocas e punhos cerrados, erguidos por mensaleiros posando de heróis, que o PT e o governo Dilma recuperarão sua credibilidade.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mantega garante um ciclo de expansão econômica



Semana de 28 de abril a 04 de maio de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Caro leitor. É incrível o posicionamento contraditório do governo em relação às questões econômicas. Enquanto o mundo se recupera lentamente, os indícios de que teremos um ano ruim, com crescimento baixo, aumentam. Mesmo assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua a sustentar que a inflação ficará na meta, quer dizer, no teto da meta. Enquanto isso, o Boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, antes mesmo da finalização do primeiro semestre, já prospecta uma taxa no limite máximo da meta, indicativo de que no final do ano o teto será ultrapassado.
            Mas isto não é o mais surpreendente. Esta semana, Mantega detonou mais uma pérola. Afirmou que o Brasil está frente a um novo ciclo de expansão econômica. E mais: este novo ciclo, que começará este ano, se estenderá até 2022 e contará com crescimento de 7% ao ano nos investimentos e de 3,6% no consumo. Segundo Mantega, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá a um ritmo médio de 4% ao ano, no referido período.
            Está cada vez mais difícil acreditar nas palavras do ministro. O ciclo econômico, assim definido, teria oito anos de expansão! Seria o tal crescimento sustentado? A nossa última análise frisou que o crescimento médio do PIB dos últimos cinco anos foi de 1,8%. Para sustentar uma taxa média de 4% teríamos que crescer, a cada ano, até 2022, 2% a mais em relação aos índices apresentados nos últimos anos.
            A desaceleração da indústria, no primeiro trimestre, e em especial, do setor automobilístico, é um problema que vem se agravando com o passar do tempo. No primeiro trimestre, a indústria automotiva apresentou uma queda nas vendas de 2,1% e, contando com o mês de abril, esta queda já chega a 4%.
            No setor de veículos pesados, a situação é crítica. Este ano, segundo estimativas das maiores montadoras, as vendas de caminhões cairão entre 5% a 12%. Esta projeção parece bastante otimista, já que no primeiro trimestre, o setor acumula queda de 11% e, considerando o quadrimestre, as vendas recuaram 22%.
            Os fornecedores da indústria automotiva também estão desacelerando. As vendas de aço, por exemplo, irão declinar 7,5%, em abril, segundo estimativas das empresas.
            Os impactos negativos, como frisado na análise anterior, também se estendem sobre o emprego. A MAN, que é líder no setor de caminhões no Brasil, interrompeu a partir de abril, durante cinco meses, os contratos de trabalho de 200 trabalhadores. Desde o final do ano passado que a empresa concede férias coletivas, reduz a jornada de trabalho, além de usar o banco de horas. A fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo está realizando modificações em sua linha de produção e irá reduzir o pessoal empregado. O presidente da empresa, seguindo os passos dos seus concorrentes, lançou um programa de demissão voluntária e a meta é dispensar até 2.000 trabalhadores. 700 trabalhadores já aderiram ao programa.
            O governo, a pedido da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), estuda medidas para melhorar o acesso ao crédito. Segundo o ministro Mantega, a situação deste ramo industrial pode ser resolvida por meio do aumento do crédito ao consumo, pois os bancos, apesar da queda da inadimplência, estão mais rigorosos na concessão de empréstimos. O ministro se queixa que antes “... era possível financiar um carro com 10% ou 20% de entrada. Mas hoje exigem entrada de 50%.” Será que são só estas as dificuldades que entravam as vendas do setor automobilístico?
            Com grande preocupação, analistas já sugerem a existência de uma “bolha automobilística” que estourará a qualquer momento. O setor cresceu bastante nos últimos anos, com a entrada de várias montadoras no país. Além disso, vários subsídios foram dados e o crédito foi facilitado possibilitando um aumento exagerado do consumo.
            Estes dados negam a existência do tal ciclo de expansão. Não se trata aqui, como muitos defendem, de otimismo ou pessimismo. É a observação da realidade objetiva que nos permite chegar à conclusão de que o Mantega continua a viver no mundo da fantasia e, por isso, suas declarações em nada contribuem para a credibilidade do governo.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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