quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Dilma é reeleita. Para onde rumará o país?

Semana de 20 a 26 de outubro de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Após meses de disputa acirrada, em meio a poucas propostas, alguns debates, muitos escândalos e autoacusações entre os candidatos à presidência da República, finalmente a corrida eleitoral acabou. A presidente Dilma foi reeleita para mais um mandato de quatro anos. O embate deixou claro que é impossível que ela se desvencilhe do mito “Lula”, pois segundo a opinião da maioria, em meio a todos os contratempos, foi ele quem, no passado, conseguiu combater a inflação, domou a “insegurança” dos mercados e enfrentou bem o início da crise.
Lula, afinal, foi um homem de sorte. Presidiu o país nos tempos das vacas gordas.
Quando a atual presidente foi eleita para o seu primeiro mandato, revelamos nesta coluna, a herança “maldita” que o governo anterior deixava: dívida pública elevada e cara, inflação em alta, desaceleração econômica, ameaça de desindustrialização, redução do saldo da balança comercial, entre outros. E não é difícil listar agora os problemas intrínsecos a uma nova herança, que se transfere para o próximo mandato, ligados às dificuldades econômicas atuais, tanto internas, quanto externas.
Estes são os números da reeleição: Dilma Rousseff obteve 51,64% dos votos e Aécio Neves, 48,36%. Foi uma diferença de 3,4 milhões de votos. Comparada aos resultados dos pleitos anteriores, esta diferença de votos foi bastante pequena. Tal fato gerou a impressão de que o país está dividido e a presidente é coagida a ser mais específica em relação às ações que tomará em seu novo governo. Embora o cenário econômico pareça não ter sido tão decisivo para o resultado das eleições (afinal de contas, para a maioria da população, termos como “independência do Banco Central”, “superávit primário”, “dívida pública”, “câmbio flexível”, parecem distantes da realidade), obviamente, há uma grande pressão para que o governo divulgue de imediato, quem comporá a sua nova equipe econômica.
No início da manhã do dia 27 de outubro, aproximadamente 15 horas depois do resultado oficial das eleições ter sido divulgado, um dos noticiários do país constatava: “Após reeleição de Dilma, Bovespa tem forte queda de 5,94% e dólar vai a R$ 2,542. Bolsa de Valores de São Paulo opera com 48.857 pontos. Na abertura dos negócios, dólar chegou a disparar 4%...” E mais: “Dilma terá que reconquistar investidores e consumidores, analisa Instituto Internacional de Finanças. Entidade sugere que o Planalto adote uma política fiscal mais dura. A entidade também recomenda que o Banco Central do país seja mais independente para conduzir a política monetária.” A guerra então, está declarada.
Enquanto o noticiário diário passa a ilusão de que é o setor financeiro quem dita todos os rumos da economia, a maioria dos economistas partilha da visão de que, para recuperar o crescimento econômico real (ou seria a credibilidade?), é necessário adotar medidas muito mais austeras de política fiscal para garantir não apenas o equilíbrio, mas o pagamento certinho dos nossos credores, garantir o livre câmbio e manter o combate à inflação de demanda via aumento dos juros, imediatamente! Quem em sã consciência acredita que estas medidas produzirão o crescimento econômico no futuro?
Já respondo. Uma enquete realizada com economistas das melhores universidades do país mostrava antes da eleição, que 65,5% declararam voto em Aécio e 23,8% em Dilma. O resultado não surpreende. Afinal de contas, há muito tempo, o pensamento econômico é quase que totalmente dominado pela crença de que, se deixada livre, a economia “tende” a recompor o equilíbrio automaticamente, uma consequência natural do livre mercado. E esta é a visão que predomina na grande maioria das escolas de Economia. O pensamento econômico é praticamente monopólio deste grupo, denominado de ortodoxos. Aos heterodoxos cabe à visão oposta: a de que o sistema econômico não tende naturalmente ao equilíbrio sendo necessária a participação do governo que ajudaria a alavancar o crescimento econômico. A condução dos rumos da economia será determinada por uma, ou provavelmente por um monstrengo formado pela coalizão destas duas visões.
Enquanto no próximo ano, possivelmente o mundo seguirá na pasmaceira, o governo continuará a usar as mesmas medidas de política econômica, que, como já nos referimos em análises anteriores, acertam ora no cravo, ora na ferradura.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A pasmaceira global

Semana de 13 a 19 de outubro de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Parece que a única pessoa que acredita que a crise econômica mundial acabou é o Armínio Fraga, candidato a ministro em uma eventual vitória do Aécio Neves. Aliás, ele perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado na entrevista na TV Globo, quando debateu com o Guido Mantega e afirmou que a crise, iniciada em 2008, terminou em 2009. E não foi apenas esta mancada. Ele representou muito bem o papel de saco vazio, ou seja, não tinha nenhuma proposta para enfrentar a difícil situação que o país atravessa. Reprisou apenas o chavão da necessidade da “mudança” para lugar nenhum, ou melhor, para trás, prometendo a restauração do tripé macroeconômico e a famigerada “independência” do Banco Central (BC), o que significa entregá-lo aos banqueiros.
Restaurar o tripé macroeconômico significa aumentar a austeridade fiscal, com elevação do superávit fiscal para pagar os juros da dívida; permitir a flutuação livre do câmbio e aumentar o controle da inflação através do aumento das taxas de juros, além de reduzir a meta para abaixo dos atuais 4,5%. Resumindo, isto significa política de austeridade que, com exceção da Ângela Merkel, primeira ministra da Alemanha, é condenada até pelas grandes organizações internacionais consideradas conservadoras como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mesmo os bancos centrais de países como EUA, União Europeia, Japão, China, Suíça, etc., rejeitam estas políticas.
Todas estas organizações reconhecem a situação de impasse em que se encontra a economia mundial que é caracterizada pela desaceleração das economias emergentes e da China, em particular; pelo pessimismo com a recuperação dos EUA e o temor da possibilidade da elevação dos juros pelo Fed (BC americano), diante da ameaça de deflação; pela queda no mercado mundial e nos preços das commodities, até mesmo o petróleo; pela estagnação da União Europeia com ameaça de deflação na zona do Euro e no Japão.
Por mais desagradável que seja esta situação, é assim que se encontra a economia mundial, em uma “pasmaceira global”, o que é reconhecido por todos menos pelo sábio candidato a Ministro da Fazenda do Aécio.
Neste quadro se insere a economia brasileira, pois com o processo de globalização vigente, estamos indissoluvelmente ligados ao resto do mundo. Serve de agravante o estado de dependência em que se encontra a nossa economia, reduzida para a condição de um país primário exportador, situação em que estávamos nos idos dos anos 50, e pela política de abertura implantada pelo governo FHC, com o seu Plano Real, tão elogiado por todos, mas que empurrou o país para trás. E não podemos eximir de culpa os governos do PT por terem continuado as mesmas políticas e impulsionado o processo de desindustrialização da nossa economia.
Hoje dependemos da meia dúzia de commodities para amealhar míseros dólares que precisamos guardar para pagar os juros de uma dívida sem história e que todos sabem que é impagável, pois os próprios credores não a querem receber. Com o excesso de liquidez internacional, eles não encontrariam nenhum outro negócio para aplicar o dinheiro recebido com rendimentos tão elevados como os que nós pagamos.
Como já alertamos em Análises anteriores, a situação da economia do país é muito crítica e temos feito nesta coluna duras críticas à política econômica praticada pelos governos PT. Mas, as nossas críticas são feitas pela esquerda, diante da tosca e inconsequente política Keynesiana praticada pelo governo para enfrentar a crise que, apesar de tudo, tem produzido alguns efeitos, principalmente graças aos programas de distribuição de renda, de elevação do salário mínimo, de aumento dos financiamentos ao consumo, etc. Estas políticas, sabotadas pela ação do BC, que teima em combater a inflação com o aumento dos juros (tratamento aspirina), não têm sido suficientes para reverter a situação atual de aumento do desemprego, queda da produção industrial, queda nas vendas e no consumo, desaceleração no setor imobiliário, etc.




[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Inflação alta, crescimento baixo e a corrida eleitoral

Semana de 06 a 12 de outubro de 2014

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

A última semana foi marcada pela divulgação do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de setembro. O principal indicador da inflação no Brasil apresentou alta de 0,57%, atingindo 6,75% no acumulado dos últimos 12 meses. Esse resultado superou negativamente as projeções de analistas, que previam uma alta em torno de 0,49%. Desta forma, o IPCA estourou mais uma vez o teto da meta (6,5%). No entanto, o governo continua com a previsão oficial para inflação de 6,2%, no final do ano, mantendo-se, assim, dentro do limite de tolerância do regime de metas.
Além disso, o governo também está encontrando problemas com o cumprimento da meta de superávit primário – o dinheiro que o governo consegue economizar para pagar juros da dívida pública. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que o superávit primário brasileiro ficará em 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo da meta oficial de 1,9%. Confirmando a expectativa do FMI, a arrecadação dos tributos federais (exceto a contribuição à Previdência Social) em setembro, apresentou uma redução quando comparado com o mesmo mês de 2013, segundo dados preliminares. Se essa situação se mantiver, será o quinto déficit primário mensal consecutivo neste ano, fazendo com que se torne mais difícil o cumprimento da meta fiscal.
No que concerne ao crescimento do PIB brasileiro, o FMI reduziu suas estimativas, para 2014, de 1,3% para 0,3%. Entretanto, essa redução na expectativa de crescimento não foi exclusividade para o Brasil. Para o mesmo ano, o Fundo cortou a perspectiva de crescimento global, de 3,4% para 3,3%. Além disso, pelas previsões do FMI há 30% de chance da zona do euro enfrentar um período deflacionário e 40% de probabilidade de entrar em recessão. A recuperação da economia foi considerada “fraca e desigual” e o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, afirmou que o crescimento econômico global é “medíocre” na reta final de 2014.
Sinais mais fortes de recuperação são vistos em pelo menos dois países desenvolvidos. De acordo com Blanchard, os Estados Unidos e o Reino Unido “estão deixando a crise para trás e obtendo crescimento decente, embora ambos apresentem crescimento potencial abaixo do que tinham no início dos anos 2000”. A previsão para o crescimento do PIB norte-americano saltou de 1,7% para 2,2%, enquanto que o britânico se manteve estável em 3,2%.
Voltando a falar do nosso país, a corrida eleitoral continua a ditar as oscilações das bolsas de valores. A cada nova pesquisa de intenção de votos divulgada as empresas incluídas no denominado “kit eleição” apresentam alta com um crescimento do candidato do PSDB, Aécio Neves, e movimento contrário com alta da candidata do PT, Dilma Rousseff. Vale lembrar que esse kit já foi denominado de “kit Marina” quando a candidata apareceu em segundo lugar, em diversas pesquisas divulgadas.
Após o primeiro turno das eleições, já podemos falar em um grande vencedor. A maior bancada suprapartidária do Congresso Nacional, os ruralistas, deverão chegar a 273 parlamentares, entre deputados e senadores, de acordo com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Antes da eleição, a bancada contava com 205 parlamentares. A sua principal prioridade é aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que transfere para o legislativo a decisão sobre demarcação de terras indígenas. Coitados dos índios!
Com o fraco desempenho da economia brasileira neste ano, a arma da campanha petista é a taxa de desemprego. Em 2010 a taxa era de 6,9%, atualmente, encontra-se em 4,9%, resultado nunca visto no país. Enquanto que, do lado do PSDB, o alvo deve ser o “7x1”, inflação perto de 7% e crescimento abaixo de 1%, frase cunhada por Armínio Fraga, futuro ministro da fazenda, numa eventual vitória do partido. Não bastasse isso, o depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, colocou o Partido dos Trabalhadores no centro de mais um escândalo de propinas. Há uma forte possibilidade de que acusações de corrupção e desvio de dinheiro público seja o carro chefe da campanha para ambos os partidos.
No fim, mais uma vez, os debates sobre o futuro do Brasil deverão ser colocados em segundo plano.



[i] Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Enquanto a economia afunda, o “senhor mercado onipotente” quer mais

Semana de 29 de setembro a 05 de outubro de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            No momento em que país vivencia a euforia de eleger seus representantes, a economia mundial entra no sexto ano de crise, sem qualquer perspectiva de recuperação. Os sinais dados pelas estatísticas do segundo semestre são cada vez piores. O crescimento da produção industrial da zona do euro desacelerou em setembro. O índice dos gerentes de compras calculado pela Consultoria Markit caiu em toda a região, inclusive na Alemanha. O fraco desempenho das vendas está provocando uma queda ainda maior da inflação, aumentando a preocupação das autoridades com a deflação.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, declarou um tom de luto que a recuperação mundial é mais fraca comparada à que se esperava há um semestre. A lentíssima reanimação associada às baixas taxas de crescimento caracteriza um período intitulado pela instituição como um “novo medíocre”.
            No Brasil, o cenário acompanha a trajetória mundial. Em julho, a atividade industrial, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), recuou pela segunda vez consecutiva. Neste mês, a utilização da capacidade instalada industrial caiu para 79,5% e as vendas recuaram 0,33%. Embora a massa salarial tenha aumentado 0,34%, os responsáveis pela pesquisa frisam que isto foi consequência das férias coletivas conferidas por muitas empresas. A desaceleração é clara quando se observa a evolução dos indicadores mensais, mas o saldo para o setor ainda é positivo: as vendas cresceram 15,78%, as horas trabalhadas 3,55%, o pessoal empregado subiu 2% e a massa salarial cresceu 2,93%. Outro indicador da desaceleração industrial foi a queda do consumo de energia elétrica, já em agosto, segundo a CNI. O recuo foi de 5,1% comparado a agosto do ano passado. Tais resultados indicam que, se houver um crescimento no terceiro trimestre do ano, este será muito fraco e insuficiente para suplantar os maus resultados dos trimestres anteriores.
Para o governo não resta alternativa a não ser tentar estimular o setor produtivo. Segundo o Ministério da Fazenda, após as eleições, serão anunciados novos benefícios para o setor de bens de capital. A estratégia é provocar a renovação do parque produtivo visando o aumento do nível de investimento interno. A depreciação acelerada dos bens de capital é uma das medidas que comporão o documento. Ao comprar máquinas e equipamentos, os empresários poderão abater parte dos custos e pagar menos tributos vinculados ao lucro. Faltou um pequeno detalhe: combinar com o empresariado, que, obviamente, não investirá em época de crise.
Além disso, o Copom já avisou que se o cenário inflacionário piorar, o ciclo de alta da taxa de juros será retomado. Todos sabem que o aumento dos juros desestimula os investimentos e comprime o consumo. Como se espera reduzir os impactos da crise quando se tomam medidas completamente opostas?
Diante do fraco desempenho econômico, também o Banco Central Europeu (BCE) vem intervindo na economia, com um pacote de bondades através da compra de títulos em torno de um trilhão de euros. Mas o “ser supremo” que rege a economia mundial, o “mercado”, não ficou satisfeito com as declarações do presidente do BCE, Mario Draghi, que não deixou claro se a cifra será esta mesma. Os “investidores”, tanto lá como cá, querem saber exatamente o quanto irão ganhar com cada pacote e quando as autoridades titubeiam em seus discursos ou não deixam as regras tão claras, o “mercado” logo lança seu pronto discurso de que há entraves na comunicação.
Por aqui, é a corrida eleitoral que está “desfavorecendo” os ganhos do mercado financeiro. A recuperação da candidata à presidência Dilma Roussef, na última semana antes da eleição, devolveu toda a “marinada” acontecida em agosto. À medida que as pesquisas mostram um fortalecimento da reeleição de Dilma, as “incertezas macroeconômicas” que envolvem a sua nova gestão, acabam por dificultar as previsões de lucro dos “investidores”. Não há como não se indignar diante das prontas exigências do “honorável mercado”.
Além dos esforços para driblar a crise os países têm de prestar contas aos vampiros do capital financeiro. E se os tempos são de crise e eleições, não é difícil imaginar quem serão os ganhadores e os perdedores.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A herança maldita para os eleitos

Semana de 22 a 28 de setembro de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Quem quer que seja o vencedor do pleito que se aproxima terá de enfrentar grandes dificuldades, pois a herança a receber não será das melhores diante do agravamento da situação das economias mundial e nacional.
Internacionalmente, a única esperança que surge é a recuperação americana, embora isto represente dificuldades para os emergentes, submersos pela atual enxurrada dos capitais especulativos. O momento de terror terá início com a elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, que vem sendo prometida para 2015, mas poderá ser iniciada antes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já alertou o mundo para o perigo de que, a aversão global ao risco (uma vez restaurada a confiança na recuperação do gigante), poderá provocar um “aperto nas condições financeiras globais, a reversão nos fluxos do capital, pressões sobre a taxa de câmbio em mercados emergentes e efeitos negativos nos preços das ações”.
O temor já levou a discussão para o G-20 visando criar uma rede de proteção (swapes) de moeda para garantir a liquidez nos mercados.
O Japão continua a sua loucura de entupir o mundo de yenes na tentativa de atingir a meta de 2% de inflação. A continuação da desaceleração na China vem derrubando os preços mundiais dos metais e particularmente do minério de ferro cuja cotação caiu abaixo de US$ 80 a tonelada. A situação já se reflete na possibilidade da demissão do presidente do BC da China, Zhou Xiaochuan.
O agravamento da situação internacional levou o FMI a declarar que os países emergentes estão sofrendo “uma desaceleração ampla e sem precedentes” o que representa uma mudança do padrão e uma ameaça à economia mundial.
Na Índia o premiê Narenda Modi partiu para o ataque, acompanhado por ricos empresários indianos. Saiu em campo com uma campanha para atrair os “investidores” oferecendo as vantagens do país: uma população faminta de 1,2 bilhão de habitantes, uma massa de 13 milhões de jovens que chegam desesperados ao mercado de trabalho anualmente, a redução da burocracia, facilidades tributárias, investimentos em infraestrutura, etc. Tudo para tornar a Índia “um país mais amigável aos investidores”, ou seja, a “próxima grande economia mundial de mão de obra barata”.
Este é o verdadeiro capitalismo da atualidade. Cada governo oferece o seu povo à sanha voraz da acumulação capitalista.
Neste ambiente, por malícia ou ignorância, a oposição aproveita-se para apontar como bode expiatório, a presidente Dilma, a grande responsável por todos os males. E no embalo, pretende fritar na manteiga o ministro Mantega (aliás, já está na frigideira).
Não resta dúvida que a situação do Brasil vem se degradando rapidamente e a semana é rica em acontecimentos. Dados mostram a queda na produção, o aumento da ociosidade da capacidade instalada, a formação de estoques, o aumento do desemprego, da inadimplência das famílias, a redução do consumo e, apesar de tudo isto, a inflação continua a aumentar, coisa que ninguém consegue entender e explicar.
A política econômica anticíclica do governo parece que atingiu seu ponto de esgotamento, sabotada pela estupidez do Banco Central com as elevações consecutivas da taxa Selic, até os 11% atuais. O mais preocupante é que, em relação ao setor industrial, assistimos a continuação do processo de desindustrialização, herança perversa do plano real que ninguém lembra nem quer admitir.
A presente situação é complexa e difícil de ser enfrentada por qualquer candidato vencedor. Certamente será muito agravada com a vitória da oposição se ela cumprir o que vem prometendo: entregar o BC aos banqueiros, restaurar o “tripé macroeconômico”, elevar os juros para combater a inflação, aumentar a austeridade fiscal, reduzir os programas sociais, deter o crescimento dos salários, etc.
Se temos dúvidas quanto aos eleitos e se eles cumprirão as promessas feitas, não temos nenhuma dúvida sobre quem vai cobrar a fatura dos benefícios. O jornal Valor Econômico fez um estudo sobre os 41 grupos econômicos de capital aberto que contribuíram com R$ 325 milhões para as campanhas eleitorais dos vários candidatos. Os 10 maiores doadores contribuíram com R$ 302 milhões, ou seja, 93% do total. A JBS sozinha doou R$ 113 milhões. Dos 10 consultados só o banco Itaú respondeu ao questionário enviado. Os demais se omitiram com diferentes desculpas ou nada responderam. O segundo maior doador foi a Vale, com o desembolso de R$ 50,3 milhões, seguido pela Ambev, com R$ 44,2 milhões e o Bradesco com R$ 29,06 milhões. Outros doadores foram o BTG Pactual com R$ 16,4 milhões, o Itaú, com R$ 12,78 milhões, a Odebrecht com R$ 12 milhões, a BRF com R$ 5 milhões, a Cosan e a MRV Engenharia.
Isto é que é consciência política! Viva a democracia!



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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