quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O pau vai quebrar! (2)

Semana de 12 a 18 de janeiro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Em junho de 2011, divulgamos neste espaço uma análise com o título acima. Àquela época fazíamos referência às exigências de austeridade impostas a algumas economias europeias. A insatisfação social com o purgante econômico era crescente e o pau quebrava na Grécia. Medidas restritivas espalharam-se pela Europa. Reduções salariais atingiram a Alemanha, Espanha, Portugal, Irlanda, Romênia, Letônia. Trabalhadores também foram punidos na França, Itália, Bulgária, Polônia e Eslovênia. Embora bastante justificada, a austeridade econômica associada aos efeitos da crise, produziu milhões de desempregados (segundo a Eurostat, em 2014 serão 24,5 milhões de pessoas desempregadas na União Europeia) e baixíssimo crescimento. Para 2014, a Comissão Europeia rebaixou as previsões do PIB dos 18 países da zona do euro de 1,2% para 0,8%. A situação segundo o órgão, não melhorará significativamente: o crescimento de 2015 será de 1,1% e em 2016 de 1,7%. Sem perspectivas, há alguns dias, a Europa cogita implantar seu “quantitative easing”, apesar da insatisfação alemã. O advogado-geral do Tribunal de Justiça Europeu forneceu mais um argumento que favorece a ação. Segundo ele, a adoção de um novo programa de compras de bônus na zona do euro é compatível com o mandato do Banco Central Europeu, que pretende substituir a austeridade por estímulos monetários.
Mas, na contramão do mundo e também da “troika” (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), o Brasil envereda pelos mesmos caminhos da austeridade, que embora não tenha produzido os efeitos prometidos na Europa, perdura como a única via de salvação apontada pela maioria dos economistas.
Além das medidas já anunciadas (aumento da taxa do cheque especial de 6% para 6,7% e do custo da linha de crédito consignado do INSS de 1,83% para 1,99% ao mês), a Caixa Econômica Federal, acabou de elevar as taxas do crédito imobiliário. A partir de 19 de janeiro de 2015, as linhas do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), para imóveis de até R$ 750 mil, e do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) acima deste limite, estarão mais caras.
Enquanto os purgantes são divulgados, a realidade econômica se apresenta cada vez mais adversa. As vendas do comércio varejista crescem 0,9% em novembro em relação a outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, segundo os analistas os dados não indicam uma recuperação e sim uma antecipação das compras de dezembro, em virtude dos preços mais comportados. As lojas de eletrodomésticos e eletrônicos já confirmaram vendas fracas em dezembro. Segundo a Fecomercio, em São Paulo, o recuo será de 21,4% nas vendas na comparação com o mesmo mês de 2013.
O Boletim Focus do Banco Central que previa crescimento de 2,28% rebaixou a taxa para 0,15% em 2014. Ao mesmo tempo, o Banco Mundial também revisou a sua previsão de crescimento do PIB, de 1,5% para 0,1%.
Para 2015, as previsões não ultrapassam 1,5%. E o cenário é cada vez pior. Na esteira do escândalo da Petrobras, está a previsão de milhares de trabalhadores na rua. Empresas em dificuldades, contratos encerrados, obras paradas. Some a isso a divulgação do IPCA. Nosso índice oficial de inflação fechou 2014 com alta de 6,41%. O resultado muito mais perto do teto do que do centro da meta, reforça os pedidos por mais juros. Mais juros, mais desemprego e austeridade! É o que se desenha para 2015.
Enquanto isso, a presidente Dilma, não toca no nome do ministro da Fazenda em seus discursos e emudece à medida que ele toma as decisões. Segundo Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos 1.443 economistas que assinaram durante as eleições um manifesto a favor da presidente, Dilma “capitulou” diante dos mercados. Ajuste fiscal é “desatino” e os “espíritos animais” jamais despertarão diante de um ajuste fiscal. A Europa que o diga.
As principais centrais sindicais já organizam mobilizações nacionais no intuito de manter os empregos e benefícios e os movimentos sociais também. Tentando se antecipar às pressões, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, convocou as centrais para uma reunião no dia 29 de janeiro, para apresentar os impactos das medidas. O ministro já adiantou, vai apenas ouvir, mas não pretende mudar as decisões.
Como quem avisa amigo é, preparem-se: o pau vai quebrar! Mas, desta vez, será por aqui mesmo.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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