quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Freio de arrumação

Semana de 16 a 22 de fevereiro de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O nosso Chicago boy, conhecido como o “homem da tesoura”, agora candidata-se a um novo posto: o de homem da banha da cobra. Esta folclórica figura caminhava pelas feiras livres oferecendo um óleo capaz de curar todos os males do corpo e do espírito: era a famosa banha da cobra. O ministro Levy e seus parceiros (Nelson Barbosa e Alexandre Tombini), que, por acaso, constituem o pomposo Conselho Monetário Nacional (CMN), andam por aí em reuniões, conferências, entrevistas, jantares, a vender sua receita universal para todos os males da economia: ajuste fiscal e aperto monetário. Como consequência da política de austeridade proposta objetiva-se estabilizar a dívida pública e garantir o pagamento dos juros a fim de acalmar “o mercado” e restaurar a credibilidade do governo.
Em sua mais recente aventura, uma palestra para “investidores” em Nova York, o ministro desmanchou-se em promessas. Desculpou o governo Dilma por não ter feito o superávit primário em 2014 (estima-se um déficit primário de 0,6% do Produto Interno Bruto – PIB) afirmando que isto foi um pequeno “deslizamento” (slippage, em inglês, claro) que será corrigido com um pequeno freio de arrumação. Prometeu manter a meta de 1,2% do PIB para este ano, sem recorrer a cortes draconianos nem criar novos impostos. Falou na redução de alguns gastos como consequência de mudanças no seguro-desemprego, abono-salarial e pensão por morte, ressalvando que elas “não vão atingir a vida dos trabalhadores e famílias” (Muito bondoso, o senhor!). Não satisfeito ainda apresentou como argumento para sua austeridade os casos de dois grandes parceiros comerciais do Brasil, EUA e China, que estão também praticando políticas de restrição fiscais.
Parece que mentir virou um atributo dos nossos ministros da Fazenda. O Mantega irritou a todos com as suas e o Levy, mal começou, e já caminha na mesma direção. Primeiro, porque ele esqueceu de dizer que os EUA estimam um crescimento do seu PIB de 2,4%, em 2014, e a China, acima de 7%, enquanto o nosso ficará em torno de zero. Segundo, porque não é verdade que os dois países estão adotando políticas de austeridade. Nos EUA, por exemplo, o Federal Reserve (Fed), seu banco central, avisou que manterá as taxas de juros próximas à zero, ainda por um longo período e a China liberou alguns trilhões de Yuans para estimular sua economia, não satisfeita com os seus 7% de crescimento previstos.
 Qualquer economista sabe que quando uma economia entra em desaceleração restrições fiscais e monetárias empurram-na para o fundo do poço. É exatamente isto que o ministro Levy está fazendo e é revoltante o seu cinismo quando afirma “Todos nós lamentamos que o crescimento desacelerou”.
Onde está a lógica que justifica tais posições? Ficaram todos loucos?
O que inspira esta política econômica é a ideologia econômica dos Chicago boys. Esta foi a teoria que eles aprenderam e, como fanáticos talibãs, a aplicam por todo o mundo. Infelizmente esta é a ideologia dominante nos cursos de economia das universidades brasileiras, fiéis seguidoras das americanas.
Sem nenhuma comprovação empírica eles acreditam que, equilibrando as contas, garantindo ao capital financeiro o pagamento dos seus juros, cria-se a “credibilidade” no governo e, espontaneamente, os “investidores” começam a investir e o país volta a crescer. Só esquecem-se de dizer em que lugar do mundo isto ocorreu. Está aí a Grécia para provar o contrário. Após três anos de austeridade os gregos perderam a paciência e estão virando a mesa revoltados com o desemprego e a estagnação.
O freio de arrumação da política que estão executando agora não atingirá apenas os assalariados. Desta vez, a tesoura também vai atingir o setor produtivo, pois o alfaiate Levy já avisou: acabou o repasse dos recursos do Tesouro para o BNDES e os bancos públicos.
Mais uma vez alertamos nossos leitores. O ambiente internacional continua hostil e internamente aumenta o enceramento de empresas, o desemprego e a desaceleração da atividade econômica com todas as suas consequências.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Afinal, quem ganhou as eleições?

Semana de 09 a 15 de fevereiro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

O clima festivo do carnaval trouxe ao governo um pouco de sossego. Pelo menos por alguns dias as atenções encontram-se voltadas para a folia, enquanto que os resultados econômicos do ano passado ainda trazem uma melancólica atmosfera de fim de festa. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que atua como sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), encerrou o ano de 2014 com queda de 0,15%, em comparação com 2013. Na indústria, os indicadores de emprego mostram o ano passado como o pior desde 2009. A ocupação cedeu 3,2%, as horas pagas caíram 3,9% e a folha de pagamento real recuou 1,1%.
            Para o presente ano, as estimativas dos analistas estão se deteriorando rapidamente. O boletim Focus, do Banco Central, que previa, no fim de dezembro, uma alta de 0,76% do PIB para 2015, atualmente, aponta estagnação da economia. A previsão de inflação saltou de 6,5% para 7,15%. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, descreve o corrente ano como o da “trindade impossível”. Para ele, o ajuste fiscal deverá ser mais expansivo do que o antecipado, o Executivo precisa ter apoio político para realizar os ajustes necessários na política fiscal e trazer a inflação para o centro da meta.
            Para o economista Caio Megale, o governo precisa que todas as medidas sejam aprovadas pelo Congresso sem que sofram alteração, e ainda serão necessários outros impostos. Pelos cálculos do Itaú, os ajustes feitos garantem um superávit primário de apenas 1%. Não é por acaso que um novo pacote para economizar mais R$ 10 bilhões virá até março. De acordo com o ministro do Trabalho, Manoel Dias, serão tomadas medidas na fiscalização nas empresas, redução do gasto com a saúde do trabalho e a formalização de 500 mil trabalhadores.
            Vale ressaltar a visão do professor de economia da PUC-SP, Ladislau Dowbor, que, em entrevista à revista Carta Capital, evidenciou o seguinte: “a visão geral que os desequilíbrios e os entraves ao crescimento se devem a excessivos gastos públicos constitui postura ideológica sem base técnica coerente”. O professor continua afirmando que “o desafio está na redução dos juros, que travam tanto a demanda como os investimentos”. Pelo menos um país, aparentemente, já se rebelou contra programa de austeridade fiscal que lhe foi imposto.
            O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, reafirmou ao Parlamento suas promessas: fim do programa econômico da Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), refeições e eletricidade de graça para os que não puderem pagar, recontratação de funcionários demitidos e aumento gradual do salário mínimo. Essa postura é apoiada por 67% dos gregos. No entanto, a Alemanha continua feroz opositora. Juntam-se ao coro, os governos português, espanhol e irlandês, temendo que seus eleitores possam ser encorajados a copiar o exemplo helênico.
            No campo político, a cada dia, novos depoimentos dos envolvidos na operação Lava-Jato complicam ainda mais a situação do Partido dos Trabalhadores (PT) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, impõe derrotas sucessivas ao governo. Entretanto, pelo menos até agora, o impacto não foi realmente sentido pelo Planalto. A aprovação do orçamento impositivo, obrigação que o governo execute as emendas individuais de senadores e deputados ao Orçamento da União, pode sair sem custo extra para os cofres públicos. Na prática, os valores acrescentados não devem superar a média histórica de execução orçamentária.
            A despeito do péssimo momento econômico que o país atravessa, o lucro dos cinco maiores bancos brasileiros – Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander – cresceu 20%, em 2014. Não há reclamação alguma advinda do setor que navega em águas calmas. Quanto à Caixa, a ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior, assume a presidência, com a missão de avaliar a abertura de capital da empresa.
            Vale lembrar que, durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso de “defesa” e “fortalecimento” dos bancos públicos. Para os eleitores do PT, fica no ar aquela sensação de quem ganhou, mas não levou.



[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Ajuste fiscal sem “recessão e retrocessos”?

Semana de 02 a 08 de fevereiro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. Enquanto assistimos o desmonte da Petrobras, através da escalada de novas denúncias, delações premiadas e finalmente, o afastamento da presidente da empresa, Graça Foster e de toda a sua diretoria, os rumos da economia continuam nebulosos.
A Grécia provocou nova onda de dissidências pela Europa, desta vez, por eleger um primeiro ministro de esquerda que se recusa a continuar implantando as medidas da troika e que prometeu ao povo tratar as “feridas” da austeridade. Mas, o Banco Central Europeu não aceita a proposta de Alexis Tsipras. Ele propôs um acordo com os credores europeus através de um programa de transição até junho, período em que poderia negociar os termos e as condições do pagamento que não comprometam a soberania nacional. Alemanha e Espanha recusam-se veementemente a renegociar. Tal fato não impediu que o premier grego corresse a Europa em busca de apoio. Desde 2010, a Grécia adota medidas de austeridade, mas a economia continua débil apresentando, nos quatro trimestres de 2014, taxas de crescimento do PIB de -3,1%, -0,4%, 0,9% e 1,9%. A situação econômica grega e a instabilidade entre Rússia e Ucrânia, têm tirado o sono dos que comandam a zona de euro, que ainda não mostra sinais de recuperação. Nos Estados Unidos, a recuperação continua cada vez mais incerta. O Institute for Supply Management, que reúne gerentes de compras, informou queda do índice que detecta o termômetro das encomendas, produção e contratação de mão de obra, pela terceira vez seguida. O índice caiu de 55,1 para 53,1, o que ainda representa uma expansão, embora em menor grau.
Em terras brasileiras, só os bancos comemoram. Juntos, Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander lucraram R$ 37,5 bilhões, em 2014, cifra 25,8% maior que a apresentada em 2013. O Banco Safra fechou o ano com lucro líquido de R$ 1,55 bilhão, 13,9% mais que em 2013.
Fora isto, a situação continua preta. Somada ao escândalo sem precedentes na Petrobras, que arrasta para o caos dezenas de empresas, o racionamento de água e energia, é cada vez mais provável. O Boletim Focus já aferia um crescimento de apenas 0,03% para o PIB, mas o Credit Suisse estima que se houver racionamento de energia o PIB poderá cair em até 1,5%. A Consultoria GO Associados, ao considerar o racionamento, apura queda de 1,3%.
A atividade econômica segue lenta. Levantamentos mostram que a indústria pode ter finalizado o ano com o pior desempenho desde 2009, com queda de aproximadamente 3,1%. A indústria automobilística, que fechou o ano com queda de 7,1% nas vendas, continua a se arrastar. Em janeiro a queda foi de 18,8%, se comparada a janeiro de 2013, e em relação a dezembro foi de 31,4%. A Volkswagen vai fechar o terceiro turno na fábrica de Taubaté, em São Paulo, que segundo a empresa encontra-se com alta capacidade ociosa e ainda dará 20 dias de férias coletivas a partir de 23 de fevereiro. A GM abriu um Programa de Demissão Voluntária em São Caetano do Sul e São José dos Campos. A Ford, a Scania e a GM irão parar durante o carnaval. Até a Whirlpool, fabricante de produtos da linha branca, aderiu às férias coletivas em fábricas de São Paulo e Santa Catarina.
Embora o cenário interno se apresente nebuloso, Joaquim Levy, atual ministro da Fazenda, continua empenhado nas atribuições para as quais foi designado. Juntou-se à sua equipe o novo secretário de política econômica. Afonso de Mello Franco, engenheiro civil e doutor em Economia pela Universidade de Chicago, foi muito bem recebido. Segundo o seu amigo José Roberto Afonso, economista pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, ele é “o cara certo no lugar certo”, já que fez um “ajuste fiscal” no prédio onde morava, enquanto atuou como síndico. Pode?
Enquanto isso, Dilma discursa ao Congresso Nacional reafirmando descaradamente que, apesar do reequilíbrio fiscal ser necessário, não promoverá “recessão e retrocessos”. Economistas heterodoxos vinculados à Unicamp lançaram um texto intitulado “Política social e desenvolvimento” em que fazem críticas à nova política econômica. Segundo aqueles que antes apoiaram a reeleição de Dilma, a presidente cedeu aos apelos do mercado e à “fadinha da credibilidade” que promete, em meio à demanda cadente, reacender o espírito animal dos empresários. A quem a digníssima presidente quer enganar?
O purgante e os seus efeitos colaterais já são amplamente conhecidos. A Grécia que o diga.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Teoria e Realidade

Semana de 26 de janeiro a 01 de fevereiro de 2015


Nelson Rosas Ribeiro[i]

Durante todo o ano de 2014, nas nossas análises, acompanhamos a evolução da economia mundial e nacional e identificamos a fase do ciclo econômico atual como a passagem da fase de crise para a fase de depressão. Agora, mais uma vez explicitamos que o instrumental teórico que nos serve de base é a teoria dos ciclos econômicos ou das crises cíclicas de superprodução. Lembramos que esta teoria nos ensina que a economia capitalista se desenvolve em ciclos e que estes ciclos são compostos de quatro fases: crise, depressão, reanimação e auge. Há uma abundante literatura sobre o assunto que, infelizmente, deixou de ser estudada nos cursos de economia por razões puramente ideológicas. Como consequência, os economistas perderam a capacidade de entender os fenômenos econômicos atuais e estão mais perdidos do que cego em tiroteio. A economia renuncia ao seu caráter de ciência e se transforma no mais puro charlatanismo ideológico sem qualquer utilidade a não ser defender o sistema atual.
Neste início de ano, os dados que vão sendo divulgados confirmam as análises que fizemos e que nos permitiu identificar a atual fase do ciclo como de depressão. Este quadro continua a caracterizar 2015, para desespero dos governos e das autoridades responsáveis pela política econômica.
Com exceção dos EUA, onde se observa uma lenta e duvidosa recuperação, o resto do mundo continua em convulsão. Embora o nosso ministro Levy não saiba, os maiores Bancos Centrais (BCs) do mundo, com exceção do Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA, mantêm políticas expansionistas. Servem de exemplos o Q.E. (Quantitative Easing) do Banco Central Europeu (BCE), do Banco do Japão (Boj), do Banco da Suíça, do Banco da China, etc., bem como a redução dos juros da maioria esmagadora dos países (são exceções a Rússia, Venezuela e Brasil).
Por mais que desagrade ao “homem da tesoura” (o ministro Levy), a sua austeridade, está caminhando na contra mão, pois o mundo desenvolvido continua dependente de gigantescos estímulos monetários.
A equipe econômica anterior lutou desesperadamente contra essa situação de crise e utilizou as clássicas políticas keynesianas recomendadas. O ano eleitoral criou dificuldades excepcionais e, para ganhar as eleições, o governo exagerou na dosagem. Foi difícil agradar os banqueiros (juros altos), os empresários (redução de impostos, desonerações) e os trabalhadores (salários, distribuição de renda, criação de empregos) ao mesmo tempo. O caminho escolhido foi usar o Estado, o que levou ao comprometimento do equilíbrio orçamentário e ao endividamento. Era evidente que isto estava ocorrendo. O grande erro foi tentar enganar a todos e não assumir publicamente a opção pela não criação do superávit primário. Como resultado manteve-se o emprego e a renda, os bancos nadaram na abundância e os empresários, a duras penas, sobreviveram, mas o Estado chegou à beira da ruptura.
Para complicar, caíram sobre todos, as fúrias do destino, com a crise das chuvas (e da energia), a ganância da corrupção (com o caso “petrolão”) e o prolongamento da crise mundial.
Neste início de 2015 a situação da economia global continua no impasse, a crise da Petrobras deve agravar-se e atingir empresas em cadeia (setor siderúrgico, construção naval, empreiteiras, etc.), a crise hídrica e do setor elétrico mantém-se e a nova equipe econômica, possuída pela sua ideologia liberal fanática imposta pelo chicago boy Levy, empurra a economia para o fundo do poço.
Não temos qualquer dúvida e alertamos os leitores para o agravamento da situação da economia nacional, neste 2015. Haverá desaceleração da indústria, com possibilidade de fechamento de empresas, desemprego, redução de salários, elevação de juros e queda no consumo. O Banco Central (BC) continuará com sua estúpida elevação da taxa de juros Selic que não vai conter a inflação que estourará o teto da meta, pois os juros altos não fazem chover nem afetam os preços administrados pelo governo.
O cinismo com que o governo Dilma e o PT tentam enganar o povo, escondendo as consequências da política que pretendem implementar, poderá levá-los à desmoralização e a um fim melancólico.
É isto que nos espera nos próximos meses. Preparemo-nos todos!



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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