terça-feira, 5 de maio de 2015

A crise econômica segue mais forte que nunca

Semana de 27 de abril a 03 de maio de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Alguns defendem que a crise atual é eminentemente política. Que estamos também imersos em uma crise política é verdade, mas não se deve ignorar que esta crise é essencialmente econômica. A crise econômica internacional, o arrocho fiscal, a queda do preço das commodities e a Operação Lava Jato, são fatores que atuam conjuntamente para tornar 2015 um ano desastroso em termos de crescimento. Inúmeras revisões de crescimento do PIB já foram realizadas. Atualmente a previsão é de queda de 1,4%, segundo o Boletim Focus.
E a depender das últimas notícias o fundo do poço será ainda mais baixo.
A Sete Brasil, grande indústria da construção naval, espalha uma crise que se intensifica em virtude da sua participação na Operação Lava Jato. A empresa encomendou 28 sondas a cinco grandes estaleiros, mas a finalização do negócio está comprometida. Desde dezembro do ano passado, mais de dez mil empregos foram eliminados nos estaleiros. Se o cenário não melhorar, mais 30 mil demissões ocorrerão até julho, afirma a entidade representativa dos estaleiros, a Sinaval. A Sete Brasil esperava receber em fevereiro um empréstimo de longo prazo através do BNDES. Foi quando Pedro Barusco denunciou que a empresa participava do esquema de propinas na Petrobras.
No setor de eletrodomésticos a demanda caiu 15%, no primeiro trimestre, segundo a Eletros, associação dos fabricantes de eletroeletrônicos. A Whirpool, que nos primeiros três meses do ano, havia dado férias coletivas a seus trabalhadores agora planeja demitir cerca de três mil operários distribuídos entre cargos de gerência e da linha de produção.
Enquanto isso, o governo segue rigorosamente o seu aperto fiscal. Segundo levantamento de Ribamar Oliveira do Valor Econômico, os cortes atingiram duramente áreas essenciais como a Saúde, Desenvolvimento Social e Educação. Contrariando o discurso de que a tesoura não afetaria os programas sociais, nos primeiros três meses do ano comparados ao mesmo período do ano passado, a presidente Dilma já realizou cortes de 37,6% no Programa Minha Casa, Minha Vida, de 14,9% nos gastos do Ministério da Saúde e de 21% das despesas do Ministério do Desenvolvimento Social. Além destes, o Ministério dos Transportes terá corte de até 40% em seu orçamento.
Reflexos já são sentidos nos ambientes de trabalho. A renda média real do trabalho caiu 3% em março, comparada a igual período do ano anterior, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. A taxa de desemprego aumentou de 5% em março do ano passado para 6,2% em março deste ano. A PEA (População Economicamente Ativa), que representa a procura por trabalho cresceu 0,3% e a ocupação caiu em 0,9%. Cresceu também o emprego informal. Se em março do ano passado, 55,1% do total de postos eram formais, em março deste ano eram 54,8%. Já o trabalho por conta própria, cresceu de 18,8% para 19,4%. Todos os analistas do “mercado” estão felizes com os resultados, pois a inflação, segundo eles, agora tem espaço para ceder. A euforia se justifica, pois, afinal não são os seus empregos que estão sendo sacrificados.
            As péssimas previsões se estendem à economia latino-americana e do Caribe. Segundo o FMI, a economia da região irá desacelerar pelo quinto ano seguido crescendo apenas 0,9%, em 2015.
A Europa continua no marasmo e se a única esperança vem da economia americana, os novos resultados frustram qualquer expectativa. O PIB dos Estados Unidos cresceu à taxa anualizada, apenas 0,2% no primeiro trimestre do ano. Segundo os analistas, os fatores determinantes para a desaceleração da economia americana foram a queda dos investimentos (em 23,1%) e das exportações (que vem caindo por quatro meses consecutivos). Os analistas esperavam aumento de 1% no trimestre. Foi um banho de água fria. No último trimestre de 2014, o PIB havia crescido 2,2% e o “mercado” ansiava por uma taxa de juros maior, já que a economia estava se reanimando.
Pelo visto, os especuladores que aplicam nos Estados Unidos devem fazer o caminho de volta aos emergentes em busca dos ganhos fáceis. E o Banco Central brasileiro, sob a batuta do Tombini, acabou de facilitar a rota aumentando em 0,5% a taxa de juros básica (Selic). São os 13,25% tupiniquins contra no máximo 0,25% nas terras do Tio Sam.
Vence Brasil!

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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