quarta-feira, 22 de julho de 2015

À beira da ruptura

Semana de 13 a 19 de julho de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O Banco Central (BC) continua a divulgar os dados que mostram a desaceleração da economia. Em março, a retração foi de 1,53%, em abril, de 0,88%, e em maio a economia cresceu 0,03%. Nos cinco primeiros meses a desaceleração foi de 2,64%. O volume das vendas caiu 0,9%, em maio, em relação a abril, e a confiança dos industriais acompanhou o pessimismo geral. Em julho, o índice caiu 1,7% em relação a junho.
As grandes montadoras do país tiveram uma perda de R$ 13,3 bilhões no faturamento até junho e a indústria de autopeças caiu 15%. A queda nas vendas de caminhões arrastou o setor de implementos para estes veículos que teve uma redução de 40,4% nas vendas.
Segundo os dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a mesma situação pode ser observada nos níveis de desemprego. Em junho, a indústria paulista demitiu 27,5 mil empregados fazendo o nível de emprego cair de 1%, em relação a maio. No ano, o setor industrial fechou 62,5 mil vagas, com uma queda de 2,4%, em relação ao mesmo período de 2014. A Fiesp estima que, em 2015, serão fechados 150 mil empregos na indústria de transformação. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que apenas em junho, foram encerradas 102,6 mil vagas no país e para o ano são estimadas um milhão de demissões.
As micro e pequenas empresas também estão sendo afetadas. Em São Paulo, uma pesquisa Datafolha mostra que 13% delas correm o risco de falência em 90 dias, ou seja, 28 mil delas.
Do exterior também não chegam boas notícias. O governo dos EUA reduziu a previsão de crescimento do PIB, em 2015, de 3% para 2% e a produção industrial da zona do euro caiu 0,4%, em maio, e da União Europeia, 0,3%. Sabendo-se que a China graças à intensa intervenção reduzindo a taxa de juros pela quarta vez e liberando o compulsório pensa conseguir chegar aos 7% de crescimento este ano.
É evidente que, com a recessão, a receita do governo cairia. Só a equipe econômica não sabia e agora está entalada com a verificação que, no primeiro semestre, o superávit no orçamento é próximo à zero. O ministro Levy não sabe o que fazer para economizar os R$ 55 bilhões prometidos (1,1% do PIB) para o superávit primário, o que é considerado praticamente impossível. A Receita Federal já estima que a arrecadação no ano perderá R$ 38 bilhões, atingindo apenas R$ 810 bilhões e o PIB terá uma retração de 1,5%. Impossibilitado de aumentar a receita parece que restará ao “homem da tesoura”, o ministro Levy, a alternativa de aumentar o tamanho da tesoura elevando o contingenciamento das despesas e correndo o risco de paralisar o país.
Apesar de todo este sufoco há uma coisa que não pode ser tocada: a taxa de juros. Continuamos como campeões do mundo jogando em um time em parceria com a Moldávia, Namíbia, Bielorrússia e Quirguistão. O nosso BC, baseando-se na velha e desmoralizada doutrina ideológica dos Chicago boys, continua acreditando, apesar de todas as evidências, que nossa inflação é de demanda e para contê-la aumenta sucessivamente a taxa de referência, a Selic. O BC juntamente com a austeridade fiscal são os grandes responsáveis pela desaceleração da economia.
O agravamento da crise econômica intensifica os conflitos sociais e políticos e as denúncias e apuração das falcatruas investigadas na “operação lava jato”, e outras em andamento, têm acrescentado a esta mistura explosiva perigosos elementos que empurram o país para um impasse próximo à ruptura. As investigações encaminharam-se em direção a dirigentes do PMDB e particularmente aos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros. Também o senador Fernando Collor entrou na lista dos denunciados. E desta vez Lula não escapou. A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu uma investigação criminal contra ele por tráfico de influência em favor da Odebrecht.
Do jeito que vai, “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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