quarta-feira, 1 de julho de 2015

“A economia... tem desacelerado”

Semana de 22 a 28 de junho de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Finalmente o ministro Levy admitiu publicamente a desaceleração da economia. “A economia, não vou fazer mistério, tem desacelerado”. Mas afirmou logo a seguir: que “isto não é devido ainda ao ajuste.” A declaração ocorreu na terça feira, dia 23, por ocasião do lançamento de um livro sobre gastos públicos e eficiência.
Algumas conclusões podemos tirar destas afirmações. A primeira é que o “ministro da tesoura” sabe que a economia está desacelerando. A segunda é que ele sabe que o aperto fiscal provocará desaceleração e a terceira é que esta nova desaceleração, consequência do ajuste, vai ocorrer. Conclusão final: o ministro, deliberadamente, está empurrando a economia para a mais grave recessão dos últimos anos.
Mas ele não age só. É coadjuvado pelo Tombini, presidente do Banco Central (BC), que ataca por outro lado, o monetário, elevando a Selic, taxa de juros de referência do governo, que já atingiu o recorde de 13,75%. O terceiro personagem que comporá a troika é o ministro Nelson Barbosa. Os três juntos compõem o órgão pomposamente chamado de Conselho Monetário Nacional (CMN). Na semana passada, este Conselho deu sua colaboração decidindo elevar a taxa de juros de longo prazo (TJLP), taxa de referência usada pelos bancos oficiais para financiar investimentos considerados estratégicos. A TJLP passou de 6% para 6,5% com a promessa de que subirá ainda mais. Para aumentar “a credibilidade” da política contra a inflação, o CMN manteve a meta em 4,5% mas reduziu a banda de flutuação de 2% para 1,5% para o ano de 2017. A partir do referido ano a tolerância será entre um mínimo de 3% e um máximo de 6%.
Qual tem sido a consequência da recessão para a receita do Estado? É claro que deveria ocorrer uma queda o que de fato está ocorrendo. O curioso é que o ministro Levy não sabia. Entre janeiro e maio a queda real da arrecadação foi de 2,95% e o governo economizou apenas R$ 6,626 bilhões, o que representa 12% da meta de R$ 55,3 bilhões estabelecida, pelo governo, para o ano. E agora, como cumprir a meta de superávit primário, tão prometida e considerada fundamental para a tal da credibilidade?
Enquanto isso, todas as estatísticas divulgadas continuam a apontar para o agravamento da situação, até mesmo no comércio, atingindo grandes grupos como Marisa, Riachuelo, Renner, C&A, Casas Bahia, Ponto Frio, etc. Isto para não falar que os investimentos em máquinas, em 2013, já haviam sido os menores em sete anos e agora, em junho, o Índice de Confiança da Indústria recuou 4,7%. Feito o balanço dos dados, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) não vê recuperação no segundo semestre e revisou a previsão de crescimento do PIB, em 2015, para uma queda de 1,8%.
Vendo o barco fazer água por todos os lados o ex-presidente Lula desabafou, em uma conferência reservada, conclamando a uma “revolução” no PT e à construção de uma nova “utopia”, depois de denunciar que o PT está velho e abaixo do “volume morto”. Como consequência do discurso do ex-presidente, a direção do PT lançou uma resolução política, no dia 25, conclamando a mudanças na política econômica do governo e atacando agora a figura do Tombini, presidente do BC.
Se já não fosse suficiente a difícil situação da economia, que tende a se agravar, e a permanente hostilidade do “aliado” PMDB, através principalmente das ações dos presidentes das duas casas do congresso, a presidente Dilma agora tem de enfrentar as críticas do seu próprio partido e do velho cacique Lula.
Isso sem falar nas novas linhas de investigação da operação Lava Jato que rondam ameaçadoramente os corredores do planalto.
Enquanto aqui nos afundamos na austeridade no mundo levantam-se mais vozes contra ela. Em uma entrevista ao jornal Valor Econômico, o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, perguntado sobre o Brasil, afirmou: “Em primeiro lugar acho que, em termos gerais, a austeridade não funciona.” O Prof. Mark Reiff da escola de direito da Universidade de Manchester, também perguntado sobre o Brasil, declarou: “A austeridade é um erro. Não existe nenhuma garantia de que os ajustes vão funcionar”.
Mas os talibãs da economia são surdos. Continuarão em frente para o abismo.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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