quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Um 2016 sombrio

Semana de 21 a 27 de dezembro de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Neste último dia do ano, com toda a sinceridade, desejamos a todos os nossos leitores as maiores felicidades e sucessos no ano que se inicia.
Como analistas de conjuntura o rigor científico nos obriga, no entanto, a prevenir e avisar a todos que 2016 não será um ano fácil. As dificuldades que caracterizaram 2015 devem continuar e o quadro econômico deve se agravar, nesse novo ano.
O panorama internacional não apresenta boas expectativas, com a economia da União Europeia (UE) ainda sem definição e importantes mudanças políticas ocorrendo em vários países. De fato, governos de centro direita vem sendo derrotados em sucessivas eleições. É o caso da Grécia, Polônia, Portugal e Espanha, onde os partidos antiausteridade ganharam a maioria dos parlamentos e teme-se que o fenômeno se propague.
Nos EUA, o sinal para o aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed) continua aceso, mas a recuperação segue a ritmos muito lentos. O gigante chinês desacelera e suspeita-se que sua taxa de crescimento não atingirá os 7% almejados, sendo a menor taxa em 25 anos. Além disso, o país é abalado pelo desemprego, fechamento de empresas, etc. o que tem provocado fortes convulsões sociais.
A ameaça do terrorismo do Estado Islâmico (EI) continua a pesar sobre todo o mundo ocidental desafiando as grandes potências militares que lançam toneladas de bombas na Síria e no Iraque, mas, por baixo do pano, financiam os fanáticos através de seus fieis aliados como a Arábia Saudita e a Turquia, a grande compradora do petróleo sírio extraído pelo EI, e contrabandeado através de suas fronteiras. Neste clima não se pode esperar nenhum alento vindo da economia mundial.
Internamente, a situação é ainda pior. Todos os indicadores econômicos apontam para uma deterioração da conjuntura. Estamos pagando o preço da canhestra política econômica anticíclica que transformou o tsunami, iniciado em 2008, em “marolinha”, por alguns anos. A atual política econômica, que tem por base a austeridade fiscal e monetária, sendo uma política pró-cíclica, agrava ainda mais a situação. Tudo indica que a substituição do ministro Levy pelo Nelson Barbosa não provocará grandes alterações. A ideologia econômica dominante não encontra outro remédio senão o aumento dos juros e a austeridade fiscal. Continuamos na contramão do mundo. O pior é que o fanatismo ideológico assume foros de verdade única e natural e as receitas passam a serem repetidas pelos comentaristas e jornalistas econômicos, políticos, TVs, jornais, rádios, etc. O país ajoelha-se diante de dois grandes problemas: a inflação e o equilíbrio do orçamento da nação. A inflação (que não é inflação, mas estagflação) está fora de controle e o Banco Central (BC) já prepara sua carta ao congresso com desculpas esfarrapadas para justificar o seu fracasso e, certamente, ameaçará com o único remédio que a sua primária teoria conhece, “o instrumento clássico de combate à inflação”: a elevação da taxa de juros, que deverá ser mais rigorosa. Isso depois de ter apontado como fatores fundamentais para a perda de controle, o reajuste de 18% nos preços administrados e a depreciação cambial de 30%, fatores que não são atingidos pela taxa de juros.
O equilíbrio do orçamento, pelo lado da receita volta-se contra os menos favorecidos com o aumento de taxas e impostos. Pelo lado da despesa também cai sobre a população ao atingir os orçamentos da saúde, educação, previdência e programas sociais. Ninguém fala no aumento dos impostos sobre os ricos, nem na cobrança dos débitos fiscais das grandes empresas, nem nas taxas de juros que enriquecem o capital financeiro. Para agravar a situação continua o massacre político da presidente Dilma com a ameaça de impeachment a qualquer custo e a utilização de todo tipo de recursos, os mais escusos, visando sabotar qualquer iniciativa do governo para tentar a retomada do crescimento.
Aliando-se à crise, a histeria da direita mais reacionária, que atinge até o nosso Chico Buarque, prenuncia um 2016 de conflitos e ódio.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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sábado, 26 de dezembro de 2015

Mudança na Fazenda

Semana de 14 a 20 de dezembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

A notícia de maior relevância para a economia foi a substituição do ministro da Fazenda. Sai Joaquim Levy e assume Nelson Barbosa. A primeira vista não representa uma guinada na política econômica, mas, de certa forma, um abrandamento do que teria sido proposto por aquele que deixou o ministério. O ajuste continua sendo o foco da política econômica, no entanto, acredita-se que haverá um maior grau de flexibilidade em sua condução. A gota d’água foi a redução da meta de superávit primário que, em função da manutenção integral do programa Bolsa Família, foi abatida, caindo de 0,7% para 0,5% do PIB, o que contrariou o ex-ministro. Com a proximidade das eleições de 2016 e o enfrentamento do processo de impeachment, um corte no programa de transferência de renda seria um tiro no pé nos planos do governo.
Já no plano político, as sucessivas derrotas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi o ponto marcante. Iniciou-se com o cumprimento de mandados de buscas nas casas do presidente da Câmara dos Deputados após a deflagração da operação Catilinárias pela Polícia Federal. Logo em seguida, o Conselho de Ética da Câmara, resolveu pela admissão da representação contra sua pessoa. Depois, o STF pôs um limite à sua conduta autoritária, revogando as decisões de Cunha que embasaram a votação da comissão especial e fazendo com que o processo de impeachment retornasse à estaca zero. Por fim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao próprio STF que ele seja afastado do mandato parlamentar.
A agência de risco Fitch Ratings rebaixou a nota brasileira fazendo com que o país perdesse o status de grau de investimento e se tornasse grau especulativo. O maior temor seria uma fuga de capitais do país, algo que, até agora, é visto com certo ceticismo pelos analistas do mercado financeiro. Como tal situação já estava prevista por aqueles que atuam na área, não houve uma forte flutuação do câmbio.
Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, mostra que, depois de sucessivas quedas, o volume de vendas no varejo restrito apresentou uma leve alta de 0,6%, na comparação de outubro com setembro. A expectativa dos analistas era de um recuo de cerca de 1%. O segmento que apresentou maior destaque foi o de hipermercados e supermercados que registrou alta de 2%, no mesmo período. Mesmo com a quebra da sequência negativa, é pouco provável que a recuperação do varejo venha a se concretizar, em 2016. As expectativas em relação ao próximo ano é de deterioração do setor, bem como do restante da economia. No setor de serviços a crise segue seu curso normal, sem nenhuma surpresa. O volume de serviços prestados no país recuou 5,8% em outubro, na comparação com igual período de 2014.
A principal notícia internacional ficou por conta do Fed, banco central norte-americano, que elevou sua taxa de juros de referência. A decisão pode levar a uma redução do fluxo de dólar para os países emergentes, entre eles o Brasil. Até agora, não houve uma repentina inversão, no entanto, as expectativas giram em torno das próximas elevações que virão no ano de 2016, mais precisamente, da magnitude do afrouxamento monetário que pode ter influência direta no câmbio brasileiro, provocando uma desvalorização da moeda nacional e, consequentemente, tendo um reflexo negativo na taxa de inflação.
Enquanto o cenário econômico se apresenta de forma cada vez mais deteriorada, os políticos continuam a tratar de seus problemas, enquanto o resto do país espera impacientemente. Os jornalistas especializados em política, apontam que Cunha e seus aliados, vale lembrar que entres eles encontra-se o vice-presidente Michel Temer (PMDB), buscam atrasar o início do processo de impeachment para março de 2016, período em que eles consideram que o país se encontraria num verdadeiro caos econômico. A ideia é encontrar a tempestade perfeita para que o afastamento da presidente se concretize. Dentro do próprio PMDB a briga está cada vez mais evidente, Renan Calheiros (PMDB-AL) de um lado e Cunha e Temer do outro.
As eleições de 2016 estão chegando e a briga pelo poder se acirrando. Só com a ajuda de Papai Noel poderá a economia dar algum sinal de melhora, até outubro.
É hora da presidente escrever sua carta ao bom velhinho e torcer para que seja atendida.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Mudança na Fazenda

Semana de 14 a 20 de dezembro de 2015


Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

               A notícia de maior relevância para a econômica foi a substituição do ministro da Fazenda. Sai Joaquim Levy e assume Nelson Barbosa. A primeira vista não representa uma guinada na política econômica, mas, de certa forma, um abrandamento do que teria sido proposto por aquele que deixou o ministério. O ajuste continua sendo o foco da política econômica, no entanto, acredita-se que haverá um maior grau de flexibilidade em sua condução. A gota d’água foi a redução da meta de superávit primário que, em função da manutenção integral do programa Bolsa Família, foi abatida, caindo de 0,7% para 0,5% do PIB, o que contrariou o ex-ministro. Com a proximidade das eleições de 2016 e o enfrentamento do processo de impeachment, um corte no programa de transferência de renda seria um tiro no pé nos planos do governo.
            Já no plano político, as sucessivas derrotas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi o ponto marcante. Iniciou-se com o cumprimento de mandados de buscas nas casas do presidente da Câmara dos Deputados após a deflagração da operação Catilinárias pela Polícia Federal. Logo em seguida, o Conselho de Ética da Câmara, resolveu pela admissão da representação contra sua pessoa. Depois, o STF pôs um limite à sua conduta autoritária, revogando as decisões de Cunha que embasaram a votação da comissão especial e fazendo com que o processo de impeachment retornasse à estaca zero. Por fim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao próprio STF que ele seja afastado do mandato parlamentar.
            A agência de risco Fitch Ratings rebaixou a nota brasileira fazendo com que o país perdesse o status de grau de investimento e se tornasse grau especulativo. O maior temor seria uma fuga de capitais do país, algo que, até agora, é visto com certo ceticismo pelos analistas do mercado financeiro. Como tal situação já estava prevista por aqueles que atuam na área, não houve uma forte flutuação do câmbio.
            Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, mostra que, depois de sucessivas quedas, o volume de vendas no varejo restrito apresentou uma leve alta de 0,6%, na comparação de outubro com setembro. A expectativa dos analistas era de um recuo de cerca de 1%. O segmento que apresentou maior destaque foi o de hipermercados e supermercados que registrou alta de 2%, no mesmo período. Mesmo com a quebra da sequência negativa, é pouco provável que a recuperação do varejo venha a se concretizar, em 2016. As expectativas em relação ao próximo ano é de deterioração do setor, bem como do restante da economia. No setor de serviços a crise segue seu curso normal, sem nenhuma surpresa. O volume de serviços prestados no país recuou 5,8% em outubro, na comparação com igual período de 2014.
            A principal notícia internacional ficou por conta do Fed, banco central norte-americano, que elevou sua taxa de juros de referência. A decisão pode levar a uma redução do fluxo de dólar para os países emergentes, entre eles o Brasil. Até agora, não houve uma repentina inversão, no entanto, as expectativas giram em torno das próximas elevações que virão no ano de 2016, mais precisamente, da magnitude do afrouxamento monetário que pode ter influencia direta no câmbio brasileiro, provocando uma desvalorização da moeda nacional e, consequentemente, tendo um reflexo negativo na taxa de inflação.
            Enquanto o cenário econômico se apresenta de forma, cada vez mais, deteriorada, os políticos continuam a tratar de seus problemas, enquanto o resto do país espera impacientemente. Os jornalistas especializados em política, apontam que Cunha e seus aliados, vale lembrar que entres eles encontra-se o vice-presidente Michel Temer (PMDB), buscam atrasar o início do processo de impeachment para março de 2016, período em que eles consideram que o país se encontraria num verdadeiro caos econômico. A ideia é encontrar a tempestade perfeita para que o afastamento da presidente se concretize. Dentro do próprio PMDB a briga está cada vez mais evidente, Renan Calheiros (PMDB-AL) de um lado e Cunha e Temer do outro.
            As eleições de 2016 estão chegando e a briga pelo poder se acirrando. Só com a ajuda de Papai Noel poderá a economia dar algum sinal de melhora, até outubro.
            É hora da presidente escrever sua carta ao bom velhinho e torcer para que seja atendida.

[i] Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira rclas@hotmail.com; (www.progeb.blogspot)
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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

PIB cai, inflação sobe... BACEN tem a solução

Semana de 07 a 13 de dezembro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor, a economia mundial e a brasileira continuam sem rumo. A crise se alastra e qualquer sinal de recuperação suscita dúvidas. Todas as soluções mágicas dos economistas para resolver os problemas econômicos atuais continuam sem provocar os efeitos esperados. O Banco Central Europeu lançou mais uma: reduziu de -0,2% para -0,3% a taxa de juros das reservas que os bancos comerciais guardam em seu cofre. É uma tentativa desesperada para que as instituições lancem o dinheiro em circulação.
No Brasil, o PIB do terceiro trimestre caiu 1,7%, comparado ao segundo trimestre. A atividade agropecuária recuou 2,4%, a industrial caiu 1,3% e os serviços, 1%. O consumo das famílias desabou em 1,5% e a formação bruta de capital fixo caiu em 4%. Os indicadores mais importantes da atividade econômica mostram queda da demanda e da oferta, com os consumidores adquirindo menos e as empresas ofertando menos. Por mais incrível que possa parecer, muitos tratam a queda generalizada como uma surpresa. Mas em meio a um ajuste fiscal, taxas de juros altas e crise política que só se agrava, há apenas uma certeza, a de que a situação ainda vai piorar muito.
Não há sinal de retomada dos investimentos. O Indicador de Intenção de Investimentos da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) apurou queda de sete pontos, no quarto trimestre de 2015, comparado ao trimestre anterior. O Indicador de Custos Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aumentou 2,9%, no terceiro trimestre, em relação ao segundo. De acordo com a instituição, a alta dos custos tem sido superior ao aumento dos preços dos produtos, o que sugere um menor lucro para as empresas.
O final de ano para o setor industrial será negro. A Mitsubishi, que já havia dado férias coletivas em julho e outubro, resolveu parar por cinco semanas, a partir de 14 de dezembro, em virtude da queda das vendas de automóveis. A Honda, que domina o mercado brasileiro de motocicletas, dará férias coletivas de 18 dias a partir de 21 de dezembro. No acumulado do ano, a produção de motos caiu 15%. A LG demitiu 453 trabalhadores na fábrica de Taubaté. O número soma-se as 285 vagas que já foram cortadas este ano pela empresa por causa da queda da demanda.
O indicador de inflação piorou. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou de 0,82%, em outubro, para 1,01%, em novembro. Foi maior que o esperado, com destaque para a alta do preço dos alimentos. Segundo o IBGE, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 10,48%, em novembro, e o IPCA deve encerrar o ano com alta superior a 10,5%. Para as famílias que recebem até 2,5 salários mínimos, a alta da inflação, em novembro, foi de 1,06%. No acumulado, estas famílias, afetadas pelo aumento das tarifas e dos preços dos alimentos, pagaram 11,2% a mais em seu consumo. Mas o Banco Central tem a “solução perfeita” para o problema. As recentes declarações de seus dirigentes indicam que na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), a taxa de juros irá aumentar, mesmo com a atividade econômica e o consumo descendo ladeira abaixo.
Com o agravamento da situação econômica e política, o governo agora teme que as onipotentes agências de risco rebaixem a nota de investimento do Brasil. A Fitch pode retirar o selo de bom pagador do país até o próximo mês e a Moody’s decidirá em três meses.
E assim, o governo deve encerrar 2015. Refém da falta de crescimento interno e mundial, refém da alta inflação, das agências de risco e o pior, refém de um Congresso Nacional altamente corrompido.
Pior vai ficar!

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Economia e política

Semana de 30 de novembro a 06 de dezembro

Nelson Rosas Ribeiro[i]


Enquanto a crise econômica segue seu curso normal, agravando-se cada vez mais, os acontecimentos políticos desencadeiam-se a uma velocidade espantosa, roubando a cena. Não se consegue prever o que poderá ocorrer no momento seguinte, após a prisão do senador Delcídio, da abertura do processo de impeachment da presidente, por um dos deputados mais corruptos do país, que continua, apesar disso, na presidência da Câmara, sendo, portanto a terceira pessoa na linha da sucessão. E continua ele mesmo, a comandar o processo que implica na sua própria cassação. É um paradoxo digno de um país desmoralizado. E nós apenas podemos assistir impotentes as manobras mais escusas utilizadas por este bandido para impedir sua queda e derrubar a presidente.
A histeria antipetista, alimentada pela total ignorância sobre os processos econômicos, atinge o nível da irracionalidade e coloca no mesmo saco partidos que se dizem democráticos, como os tucanos e o PPS e animais como os bolsonaros da vida e todos os tipos de torturadores e militares saudosos da ditadura. E não me venham com esta conversa fiada de luta contra a corrupção, pois “se gritar pega ladrão... ”.  
O circo está montado e o congresso dirigido por dois processados pela justiça virou um balcão de compra e venda de votos. A política domina a economia e neste ambiente, o país está paralisado. A situação econômica deve deteriorar-se ainda mais. Não é por outra razão que o PSDB tenta a manobra suja de manter o impasse até fevereiro apelando para o recesso do legislativo.
A situação internacional não traz grandes novidades. Apenas a ameaça de que o Banco Central americano (Fed) provavelmente começará a elevação dos juros nos EUA. Por outro lado o Banco Central Europeu (BCE) decepcionou o “mercado” quando não aumentou sua Quantitative Easing (QE) limitando-se apenas a manter a compra mensal de 60 milhões de euros de títulos até setembro de 2016 e cortar a taxa de depósitos em 10 pontos base.
A elevação dos juros pelo Fed, no entanto, terá consequências para a economia brasileira contribuindo para o agravamento da situação que continua a deteriorar-se. O setor automotivo, depois de perder 25% das vendas em 2015, em comparação com 2014, prevê novos tombos na produção. Caem os empregos e as horas trabalhadas na indústria e no comércio, aumenta a ociosidade da capacidade instalada, em novembro, para 74,6%. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre – FGV) afirma que, em 12 meses, até setembro, os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), caíram 7,3% e os investimentos em máquinas e equipamentos tiveram uma redução de 23%. A situação é ainda mais desanimadora quando se observa que o crédito bancário se reduziu 0,1%, em outubro, confirmando a tendência de desaceleração observada anteriormente e particularmente dos bancos públicos que, de uma taxa anual de expansão de 40%, em 2008, caiu para 12,5% agora, em novembro.
A divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central lançou ainda mais água na fervura ao ameaçar com mais elevação da taxa Selic, na reunião de janeiro. E para não restar dúvidas o diretor de Assuntos Internacionais Tony Volpon, que votou por uma alta da taxa na reunião passada, vociferou em uma declaração que o banco tem de dar uma resposta “contundente e tempestiva” como melhor forma de retomar o “processo de reancoragem das expectativas”.
No meio de toda esta confusão 19 entidades empresariais entre as quais a CNI, Abimaq, Abit, Sindipeças, Sinicon, etc., reuniram-se com as seis centrais sindicais nacionais (CUT, CSB, CTB, NCST, UGT e Força Sindical) e aprovaram um documento com sete diretrizes para promover o desenvolvimento e com críticas a financeirização da economia e à política do ministro Levy. Só a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) não assinou.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

‘Plano de fuga’

Semana de 23 a 29 de novembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Pela segunda vez na história do país, um senador no exercício de suas funções foi preso. E de forma inédita, realizou-se uma sessão no Senado para discutir a manutenção ou relaxamento da pena de congressista preso. O Supremo Tribunal Federal (STF) não teve outra opção a não ser emitir a ordem judicial que determinou a prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do governo no Senado, após ouvir a gravação em que o senador citou os nomes de alguns ministros do STF, de importantes políticos, como o vice-presidente da República, Michael Temer (PMDB-SP) e Renan Calheiros (PMBD-AL) comprometendo-os com ações ilícitas. A prisão representa mais um revés para o governo, que perdeu seu principal articulador na casa.
            Ao ritmo das prisões, o governo assistiu o retorno ao caos. Dias antes, a presidente Dilma Rousseff vislumbrava uma melhora no panorama político. As principais votações do ajuste fiscal encaminhavam-se no Senado e parecia que teriam o resultado esperado. No entanto, em menos de vinte e quatro horas o governo viu o retorno da agonia dos últimos meses. A prisão do senador Delcídio (PT-MS) provocou, de quebra, a paralisação política dos trabalhos no Senado. O ajuste ficou mais distante e o clima voltou a ser bastante conturbado.
            Diante do impacto causado pelo evento, a economia passou para o segundo plano. Enquanto a crise política se agrava, a cada nova prisão, a crise econômica continua a sua marcha, sem sinal de que o fundo do poço está próximo. Dados da Pesquisa Mensal de Amostras por Domicílio (Pnad – IBGE) apontam que 11 capitais já apresentam taxa de desemprego maior que 10% e que a média nacional é de 8,9%, no terceiro trimestre. A Ford em Camaçari e a General Motors em Gravataí anunciaram a suspensão do terceiro turno em suas fábricas. A crise passou a atingir até o setor de produtos de beleza, onde houve queda nas vendas reais de 6,7%, de janeiro a dezembro.
            O boletim Focus, publicação do Banco Central, mostrou mais uma rodada de deterioração dos resultados econômicos previstos para esse ano e o próximo. De acordo com os dados, a previsão do IPCA para o final deste ano subiu para 10,33%, e para 6,64%, em 2016, estourando, mais uma vez, o teto da meta. Assim, mesmo com a manutenção da Selic no patamar atual de 14,25%, a perspectiva para o próximo ano é da alta da taxa básica de juros. Os ‘interpretadores das atas’ do Copom notaram a exclusão do termo ‘a manutenção da Selic por período suficientemente prolongado’. Isso significa que o seu aumento no ano que vem passa a fazer parte de um cenário possível.
            Na Europa, a crise dos refugiados e os atentados terroristas do Estado Islâmico continuam a preocupar as principais autoridades econômicas da região enquanto o EI impunemente, se financia com a venda de petróleo no mercado negro. O Iraque não quer ver a destruição de nenhuma refinaria em posse do grupo terrorista. Predomina a esperança de que, após a eliminação dos fundamentalistas, os campos de petróleo retornariam às mãos dos iraquianos. Em Portugal, Antônio Costa, líder socialista, foi nomeado primeiro-ministro. Foi formada uma aliança com três partidos de extrema-esquerda e, da mesma forma como o Syriza na Grécia, o novo governo se apresenta como um oponente das políticas de austeridades. A experiência grega ficou longe de cumprir as promessas de campanha, resta saber agora como se comportará a portuguesa.
            Aqui pelo Brasil, o governo está cada vez mais fraco e debilitado. A série de escândalos envolvendo integrantes do alto escalão do PT não dá trégua. O cerco está cada vez mais perto das principais cabeças do partido. O ex-presidente Lula não deve estar muito ansioso para as próximas fases da operação Lava-Jato. As investigações em torno do seu filho, de seus amigos pessoais e dos líderes do governo estão minando a popularidade do ex-presidente. Pesquisa do Datafolha coloca Aécio Neves (PSDB-MG) em primeiro lugar para as próximas eleições.
            A opinião pública teve força suficiente para obrigar o Senado Federal a uma votação aberta e à manutenção da prisão do senador petista. Entretanto, após o episódio, uma mudez impressionante atingiu os principais líderes da oposição e da situação.
            Quem sabe o que ainda pode vir por ai? Há muito pescoço temeroso da guilhotina.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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