quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Pra onde vamos?

Semana de 17 a 23 de agosto de 2015

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

A conjuntura brasileira está um verdadeiro caos. Seja na política ou na economia, os acontecimentos não têm sido nada favoráveis à maior parte dos brasileiros e nem à popularidade do governo.
Quase um mês depois do vice-presidente da República, Michel Temer, ter utilizado frases que irritaram o Planalto, tais como “Crise desagradável” e “É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos”, ele próprio abdicou do papel de articulador político. O motivo apontado seria a pouca receptividade de algumas de suas ações, pelas duas maiores figuras do governo: a presidente Dilma, por exemplo, não o teria convidado para a avaliação das manifestações pró-impeachment de 16 de agosto, e o ministro Joaquim Levy, que tem sido intransigente com as demandas advindas do Legislativo.
No dia 20 de agosto, ocorreram, em 25 estados, as manifestações convocadas por algumas centrais sindicais, partidos e entidades civis. Nelas o governo recebeu o apoio de 190 mil pessoas, segundo os organizadores, ou 73 mil, segundo a PM. Nos cartazes eram vistas palavras em defesa da democracia, manutenção da presidente, agradecimento por políticas de inclusão, etc. Mas nem tudo foram flores. Muitos dos “manifestantes pró-Dilma” (entre aspas, pois, para alguns, a manifestação não era a favor da presidente), embora por razões distintas, expuseram dois temas que têm dado força ao movimento pró-impeachment: a Petrobrás e a política econômica.
Quanto à Petrobrás, mesmo que os manifestantes pró-Dilma (sem aspas) tenham levantado a velha bandeira do “petróleo é nosso”, não se pode deixar de mencionar a Operação Lava-Jato. Segundo a investigação, a corrupção (maior bandeira dos pró-impeachment) foi tamanha que a estimativa das multas para as empresas envolvidas pode chegar a R$ 13 bilhões. A Camargo Corrêa, participante do cartel nas licitações da petroleira, resolveu colaborar com as investigações ao fechar novo acordo para pagar R$ 101,6 milhões e entregar provas que enriquecem o inquérito. Segundo as investigações, existia um “clube VIP” que fraudava as licitações das obras da Petrobrás, composto por Odebrecht, OAS, UTC, Galvão Engenharia, Andrade Gutierrez e a própria Camargo. Posteriormente, este cartel cresceu para um total de 23 participantes.
Em relação à economia, as notícias da semana são pouco animadoras. Eis algumas manchetes: “Setor de serviços no Brasil tem pior primeiro semestre desde 2012”, “Emprego na indústria tem 45ª queda seguida e registra o pior semestre da série histórica”, “Intenção de consumo recua nas cinco regiões e atinge nível mais baixo desde janeiro de 2010”, “Indicador da FGV cai pelo 9º mês e não aponta para o fim da recessão”, “‘Prévia’ indica que PIB caiu mais de 1% no 2º trimestre”, “Mercado projeta primeiro biênio de recessão em 85 anos” e “Total de desempregados cresce 56% em um ano”.
Mas a questão que provoca divergências entre os dois movimentos, pró e contra Dilma, é a política econômica, ou seja, o que o governo faz para melhorar a economia. Para os pró-impeachment, basta que se tenha menos Estado e mais mercado, a velha bandeira neoliberal. Para os “pró-Dilma”, o problema é o Ajuste Fiscal, que, além de diminuir os gastos do governo e elevar os impostos, tem reduzido os direitos trabalhistas e derrubado os investimentos públicos em infraestrutura e moradia. E por falar nisso, o “Partido dos Trabalhadores” vem mostrando novos sinais de “tucanização” (ou simplesmente neoliberalização): o governo pretende arrecadar US$ 6 bilhões, só este ano, caso deem certo as operações de abertura de capital da Caixa Seguridade, BR Distribuidora e IRB Brasil (esta última seria a venda da participação da União no capital da empresa). Além destas, estão na mira do mercado a Caixa Econômica Federal, a Infraero e as lotéricas.
Para piorar a situação dos trabalhadores, um dia antes de suas manifestações, a Ordem dos Advogados do Brasil e as Confederações Nacionais da Indústria, da Saúde e do Transporte haviam emitido a Carta à Nação, segundo a qual “O Brasil se encontra numa crise ética, política e econômica que demanda ações [...] Independentemente de posições partidárias”. Afirmando ainda que “Deve-se [...] reduzir imediatamente o tamanho do Estado”, o texto dá um claro sinal de que, para os patrões, com ou sem impeachment, o importante é que se busque “implementar [...] medidas para melhorar o ambiente de negócios no país”.
Eis o que nos espera...

[i] Doutorando do PPGE/UFBA, Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Seminário Permanente

O PROGEB e o Observatório Econômico convida a todos para assistirem o Seminário a ser realizado na próxima quinta feira, às 15h, na UFPB. Participem!


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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Das crises aos protestos

Semana de 10 a 16 de agosto de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Continuamos sem boas notícias para os nossos leitores, o que não é surpresa. A crise continua e se desenvolverá durante todo o ano de 2015 e 2016. O que nos revolta é a ingenuidade ou má fé das entidades oficiais quando se surpreendem e são obrigadas a admitir o que para nós é obvio. Agora é o Boletim Focus do Banco Central (BC) que já prevê uma queda de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e de -0,5% no próximo. Os dados que mostram a desaceleração são abundantes. A indústria paulista fecha 30,5 mil vagas, em julho, das quais 6.661 foram da responsabilidade da indústria de veículos. No acumulado de janeiro a julho foram 92,5 mil postos de trabalho a menos. A Fiat de Betim, pela quarta vez, dará férias coletivas à parte dos trabalhadores. A Iveco, em Sete Lagoas (MG), deu férias coletivas em junho e agora pretende adotar o “layoff” por 5 meses. Até a linha de montagem do blindado Guarani pode ser paralisada por falta de encomendas do exército. O setor amarga a queda de 43,1% das vendas e 45,4% da produção, neste ano. A Mercedes-Benz comunicou ao sindicato dos metalúrgicos que demitirá a partir de 1 de setembro, cerca de 2.000 trabalhadores. A General Motors também iniciou demissões em sua fábrica de São José dos Campos e os demitidos já ultrapassam os 500, o que já corresponde a 10% do total empregado.
Esta situação reflete-se no comércio varejista que, em maio, havia reduzido de 0,9% seu volume de vendas, em relação a abril e agora, em junho, reduziu 0,3%, em relação a maio. Por outro lado o índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) recuou pelo 8º mês consecutivo caindo agora 3,9%.
Resumindo a situação, as estimativas das consultas do Boletim Focus apontam para uma retração do PIB, ao longo de 8 trimestres, até o primeiro trimestre de 2016. O ano atual pode apresentar a maior queda do PIB nos últimos 35 anos.
É claro que, com tal ambiente dos negócios, a arrecadação dos impostos teria de cair tornando quase inútil todo o esforço fiscal que se vem tentando realizar. No período de janeiro a agosto o governo já registra um déficit de R$ 18 bilhões o que torna difícil atingir a meta de superávit de R$5,8 bilhões até dezembro.
Só os bancos continuam como os grandes beneficiários. Os quatro maiores, Santander, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco terminaram o segundo trimestre com um lucro líquido de R$15,1 bilhões, 17% maior que o do mesmo período de 2014. Só o Banco do Brasil lucrou R$ 3,01 bilhões, resultado 6,3% maior que o do ano anterior.
Avaliando a situação a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota do país de BAA2 para BAA3. É a segunda agência a fazer este rebaixamento sendo antecedida pela Standard & Poor’s. Esta nota é a última antes da perda do tal “grau de investimento” que representa o atestado de bom pagador concedido pelas agências internacionais.
No terreno político a semana ferveu com reuniões e conchavos acontecendo na tentativa de garantir a governabilidade da presidente Dilma. Sucederam-se encontros entre Renan, Levy e um grupo de senadores, entre Lula e Temer, entre Lula e vários ministros, etc. Destes encontros resultou um “acordão” que envolve (segundo as notícias) decisões do TSE, do TC e do STF bem como uma plataforma de propostas a serem votadas no congresso. Entretanto, prosseguem as investigações da lava-jato ameaçando a todos e avançando agora em direção ao ministério do planejamento e às obras das usinas de Belo Monte e Angra 3.
Este foi o combustível para as manifestações “espontâneas” convocadas pelos “movimentos independentes” que dependem de financiamentos da Fiesp, Febraban e de associações de médicos (caso da organização Vem pra Rua). No entanto as palavras de ordem centrais foram a corrupção e o “fora Dilma e o PT”. Apesar do resultado ter ficado aquém do esperado o petismo sente-se encurralado e incapaz de encontrar uma explicação para a corrupção. E é por isso que as denúncias são tão arrasadoras e comprometem a credibilidade da organização e do governo Dilma.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A espera de um milagre

Semana de 03 a 09 de agosto de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Com a avaliação de que a presidente Dilma Rousseff perde as condições para governar o país, Michel Temer, vice-presidente, passa a ser, na visão de líderes políticos, a última garantia de governabilidade. A transição negociada já é a principal solução encontrada para abreviar a saída do governo eleito no ano passado. A tônica dos protestos marcados para o dia 16 de agosto continuará sendo o processo de impeachment e o movimento por novas eleições que tem sido encabeçado, principalmente, por aliados do senador Aécio Neves (PSDB). O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), continua com seus atritos como o poder Executivo. Além da briga com Rodrigo Janot, procurador-geral da República, o novo alvo do peemedebista é o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams.
            Nos últimos dias, os resultados econômicos vêm perdendo espaço para a crise política e o possível afastamento da presidente Dilma. Até mesmo jornais especializados em economia têm dado mais atenção ao desenrolar das discussões em Brasília. Mesmo assim, alguns resultados, nada animadores, foram divulgados. O Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,62% em julho, maior taxa para o mês, desde 2004. No ano, o acumulado é de 6,83%, enquanto que nos últimos doze meses a inflação brasileira avançou 9,56%. Já a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) do IBGE voltou a recuar em junho e caiu 6,3% no semestre. O índice mostrou redução de 0,3% frente a maio e de 3,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado. As montadoras de veículos tiveram queda de 14,9% na produção, em julho. A Marcopolo, fabricante de carrocerias, manterá a redução de jornada por mais três meses. A Volkswagen renegociou acordo de reajuste salarial e congelou os salários dos operários, em Taubaté. O índice de inadimplência da indústria de componentes automotivos cresceu 32,6%, em comparação a igual período do ano passado.
            Não faltam críticas ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e endossado pela presidente Dilma. Para o economista da Unicamp, Pedro Paulo Zahluth Bastos, o governo “não tem como fazer o ajuste que eles haviam imaginado. Os cortes que eles fizeram e continuam fazendo já são maiores do que era previsto e não houve reversão. Ajuste fiscal em meio à desaceleração é contraproducente. O que eles fizeram foi um desajuste fiscal.” e complementa, dizendo que “se a dívida pública for aumentar, é melhor que aumente por um programa de gastos que tire a economia da recessão, do que por um programa de corte de gastos que produza uma recessão”.
            No que concerne à política monetária, a expectativa era a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). A questão central era a utilização ou não do termo “vigilante”, o principal protagonista da decisão. As apostas do mercado financeiro se concentravam na sua aparição, pois indicaria uma política monetária mais dura. Não demorou a tardar e “vigilância” apareceu, o que na linguagem “bancocentralez” é traduzido como a existência de uma possibilidade de nova elevação da Selic. Na visão de analistas do mercado financeiro, o BC apontou o fim de alta do juro, mas continua “vigilante” (obviamente) e preparado para responder a qualquer percalço apresentado pela taxa de inflação.
                        Para concluir, vale a pena apresentar alguns contrassensos do atual momento político brasileiro. Dos 27 senadores que compõem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que irão votar a recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, 13 deles possuem inquérito aberto pelo próprio procurador. O relator da CPI do BNDES na Câmara, José Rocha (PR), teve 69% de todo o dinheiro utilizado em sua campanha doado por quatro empresas que deveriam ser investigadas. José Dirceu, um dos principais nomes do PT foi preso, mais uma vez, com a suspeita de ter continuado recebendo dinheiro ilegal enquanto já cumpria pena por ter sido condenado no escândalo do Mensalão.
            E, por fim, sai Lula, entra João Santana. O marqueteiro do PT é, atualmente, a principal esperança do Partido. Sua grande missão no momento é convencer a todos que as coisas vão melhorar.
            Na falta de ações concretas pelos líderes do partido, vale apelar para todos os possíveis salvadores e continuar a “espera de um milagre”.



[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Mais uma dose amarga

Semana de 26 de julho a 02 de agosto de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. A semana foi coroada por mais um ato insano do Copom (Comitê de Política Monetária). Pela sétima vez consecutiva, o Comitê aumentou a taxa básica de juros que passou de 13,75% para 14,25%. De presente, o consumidor brasileiro deve continuar pagando 48,4% ao ano pelo crédito pessoal e aproximadamente 372% ao ano de juros para financiar o cartão de crédito. Os juros anuais do cheque especial chegam a 241,3%. Estes números foram divulgados pelo próprio Banco Central. Uma verdadeira extorsão. Os bancos agradecem. As projeções dão conta de que os lucros bancários no segundo trimestre serão recordes. Que o diga o Bradesco, primeiro a divulgar os resultados. Com lucro líquido de R$ 4,47 bilhões no trimestre, 18,4% a mais que no segundo trimestre de 2014, o banco comemora, via aumento dos spreads, a má fase da economia brasileira.
O esforço do governo segue no sentido de domar uma inflação indomável. A teoria econômica dominante continua a afirmar que a inflação é de demanda, mas a realidade insiste em não se encaixar no padrão definido nos escritórios dos economistas. Levantamento feito pelo professor Ernesto Lozardo da Fundação Getúlio Vargas e divulgado no jornal Valor Econômico, mostra que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação brasileira, é composto por dois grandes grupos: preços livres e administrados. Os primeiros representam 76% do IPCA e os últimos, os 24% restantes. Segundo o autor, de janeiro a maio de 2015, o IPCA subiu 5,23% em virtude da alta de 3,36% dos preços livres e de 11,21% dos administrados. Só a energia elétrica residencial subiu, neste período, 37,6%.
Mesmo com todos os indícios, a equipe econômica insiste em continuar receitando o mesmo purgante para uma doença que ela própria ajuda a propagar. Desde o início do ano já aconteceram cinco reuniões do Copom e a decisão foi a mesma: precisamos de mais juros pois a inflação é “resiliente”. A taxa passou de 11,75%, em janeiro, para os 14,25% atuais.
A decisão foi recebida com indignação pela Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) que se apressou em afirmar que “... a alta dos juros significa uma verdadeira catástrofe para o já combalido setor produtivo...”. Pois bem. O faturamento líquido da indústria brasileira de máquinas e equipamentos caiu 13,5% em junho comparado a junho de 2014 e 2,9% comparado a maio do ano atual. A utilização da capacidade instalada do setor, segundo a Abimaq, foi 65,3% em junho, 10,4% menor que o verificado em junho do ano anterior e o número de trabalhadores empregados recuou 8,4%.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) acaba de divulgar que o nível da atividade da indústria paulista caiu 1,3% comparado a maio. Dos 20 setores pesquisados, 14 apresentaram queda. Para o segundo semestre, a instituição afirma que o cenário tende a piorar. As vendas de veículos continuam definhando e fecharão julho com queda de 22%. Já a Associação Brasileira do Papelão Ondulado, afirmou que as vendas de papelão cairão 2,5%, em 2015, o que significa produção menor de caixas, acessórios e chapas, essenciais para a produção de embalagens.
A contração da atividade, segundo o Boletim Focus do Banco Central, será de 1,76% e não para de piorar. O Banco Fibra já rebaixou sua projeção de queda de 1,7% para 3,1%. Alheia à realidade, a equipe econômica continua a perseguir seus objetivos por mais incompatíveis que sejam. Enquanto ajuda a minar a atividade produtiva, turbina sua dívida com juros altos e tenta levar adiante o ajuste fiscal. Porém, a queda na arrecadação e o aumento nas despesas geraram déficit primário nas contas do Governo Central de 0,06% do PIB, no primeiro semestre do ano. O compromisso com a nova meta de 0,15% do PIB, para o superávit primário, parece cada vez mais distante. Mas, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, continua na torcida. Com fé, ele afirma que a recuperação começará no último trimestre.
É fé demais!

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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