terça-feira, 24 de novembro de 2015

O mundo em frangalhos

Semana de 16 a 22 de novembro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. A novela nacional que trata da troca dos seis por meia dúzia continua. A presidente Dilma Rousseff segue resistindo às pressões do ex-presidente Lula para a substituição do ministro da Fazenda Joaquim Levy por Henrique Meirelles. A demissão do ministro vem sendo cogitada há pelo menos três meses e, na opinião de Lula, só a recuperação econômica será capaz de resgatar a popularidade da presidente, do PT e obviamente, da sua candidatura à presidência da República em 2018. Mas o “candidato” ao cargo é exigente demais. Meirelles, só o aceita, segundo conversas de bastidores, se, sob o seu poder, estiver a indicação de novos nomes para o Ministério do Planejamento e para o Banco Central. Dilma ao que parece, jamais tolerará imposições. Por esta razão, outros nomes são mencionados, como o do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi e Otaviano Canuto, diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Por enquanto, a presidente declara que “o ministro fica onde está” e levou-o a tiracolo para a reunião do G-20.
O quadro de crise continua a se agravar. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) detectou, em 2014, o aumento da desigualdade de renda no Sudeste, embora o indicador nacional tenha apresentado, em relação a 2013, uma leve melhora. O Índice de Gini, medida da desigualdade de renda, caiu de 0,495 para 0,490 (quanto mais próximo de zero menor a desigualdade). A taxa de desemprego aumentou de 6,5% para 6,9%. Estes resultados, segundo os analistas, ainda não refletem os efeitos da recessão.
O grave quadro de crise é perceptível quando se olham os números de 2015. Segundo o Ministério do Trabalho, de janeiro a outubro deste ano, 819 mil empregos formais foram perdidos e segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, a taxa de desemprego subiu de 7,6% em setembro para 7,9% em outubro. O maior patamar de desempregados pertence à indústria. Dados divulgados pela Secretaria da Receita Federal dão a dimensão da crise. A receita com o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas e com a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) caiu 14,79%, em outubro, quando comparada com outubro de 2014. O adiamento ou não pagamento destes tributos indicam que a crise se alastra.
No resto do mundo, enquanto a França investiga e persegue os responsáveis pelos ataques em Paris, os 20 países mais ricos do mundo se reúnem em Antalya na Turquia para discutir os rumos da economia mundial. Graves problemas roubam a cena do encontro deste ano, desde os econômicos (países emergentes em desaceleração, Europa estagnada e incerteza da recuperação americana) até os políticos e de segurança (crise de refugiados na Europa e terrorismo do Estado Islâmico). Diante dos fatos, o G-20 tem dificuldades em traçar alternativas que restabeleçam o crescimento econômico.
Os atentados de Paris podem, segundo o Banco Central Europeu (BCE), influenciar negativamente os já debilitados investimentos e os gastos do consumidor europeu. Crescem então, as expectativas de que o presidente do BCE, Mario Draghi, permita mais estímulos monetários. Já a indústria americana recuou sua produção em 0,2% em outubro. Um mês antes a queda havia sido a mesma. A utilização da capacidade instalada continua a recuar e registrou em outubro 77,5%.
Com as economias mundiais encalacradas, o sistema capitalista parece ter chegado a um ponto de estrangulamento. Um estudo feito pela firma de pesquisas de mercado YouGov encomendado pelo instituto londrino Legatum, detectou que os mais otimistas em relação ao sistema são os indianos. Metade dos entrevistados acredita que “a próxima geração será provavelmente mais rica, mais segura e mais saudável que a última”. O otimismo é menor entre os tailandeses (42%), indonésios (39%) e brasileiros (29%). Os mais pessimistas estão no Reino Unido (19%), Alemanha (15%) e Estados Unidos (14%).
De onde virá a salvação do sistema?

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Terrorismo e lama

Semana de 09 a 15 de novembro de 2015


Nelson Rosas Ribeiro[i]

Esta semana está difícil falar sobre conjuntura econômica por dois tipos de razões. Primeiro porque não há grandes novidades no panorama econômico, nem no Brasil, nem no mundo. As tendências mantêm-se: a economia mundial continua sua lenta recuperação e a brasileira afunda cada vez mais. A única novidade é o discurso de Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, confirmando que eles começarão uma cautelosa elevação dos juros agora, em dezembro. Segundo, porque a cena foi roubada por dois grandes acontecimentos: os atentados terroristas de Paris e o estouro das barragens de contenção de resíduos da usina de mineração Samarco de propriedade da Vale do Rio Doce e da BHP Billigton que provocou um desastre ecológico de consequências catastróficas.
Na conferência do G-20, realizada na Turquia, Vladimir Putin, presidente da Rússia, denunciou que, entre as nações que financiam o EI há membros do próprio G-20 e mostrou fotografias dos comboios de caminhões pipa que transportavam o petróleo que o EI vende para os países vizinhos. Por que ninguém fala do apoio da Arábia Saudita aos terroristas e do ódio insano dos EUA ao governo Assad na Síria? Não dá para acreditar que, de repente, quem apoiou todo tipo de ditadura sanguinária em todo o mundo resolva, de repente, ter alergia ao “ditador” Assad. Ninguém também questiona onde está o dedo do estado sionista de Israel nisto tudo. Não se ouve nenhuma contestação sobre as causas da desordem social e desestruturação dos países da África que empurra milhões de seres humanos desesperados, para a travessia do Mediterrâneo, em frágeis embarcações. Descontados os milhares que encontram a morte nos naufrágios, os sobreviventes criam o já considerado maior fenômeno migratório, depois da segunda guerra mundial.
O outro acontecimento, o estouro das barragens de contenção de resíduos da mineradora Samarco, já está sendo considerado o maior desastre ecológico no Brasil. Não se consegue calcular o tamanho e o tempo de duração da destruição que provocou. E aí também há perguntas sem resposta a começar pela paralisação, no Congresso, do processo de discussão do novo código de mineração, desde 2013. O próprio relator atribui à “interesses privados”, pois as mineradoras não querem a aprovação das cláusulas que obrigam ao tratamento dos resíduos, à contratação de seguros e ao aumento da fiscalização.
Mas há outras perguntas. As empresas não sabiam do risco de rompimento? Onde estão os órgãos fiscalizadores? Há novas barragens sob ameaça? Quem controlará a recuperação das áreas degradadas? Enquanto isso a mineração continua. É preciso garantir os lucros das mineradoras e, da poderosa Vale do Rio Doce.
Apesar do formidável efeito midiático desses dois acontecimentos sobrou espaço nos noticiários para as intrigas políticas que paralisam o país. Prolonga-se o número de equilibrismo do presidente da câmara, Eduardo Cunha, agora defendido pela cúpula do PT e atacado pelo PSDB, que resolveu deixar cair a peteca. O equilibrista continua a prorrogar indefinidamente a decisão sobre o pedido de impeachment como forma de adiar sua queda em busca de uma alternativa.
Enquanto isso, dentro do governo explodiu uma nova bomba: a substituição do ministro Levy pelo Henrique Meirelles, ex-colaborador do governo Lula que o defende com unhas e dentes. Parece incrível que o velho cacique acredite que o Meirelles, nos dias atuais (tempos de tsunami) conseguiria desempenhar o mesmo papel que desempenhou no seu governo (tempos da marolinha).
A pressão sobre a presidente Dilma vem de todos os lados como se o Meirelles tivesse uma proposta diferente da do Levy, apesar deles dizerem que são unha e carne.
Querem trocar seis por meia dúzia.







[i]Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Ponte no papel

Semana de 02 a 08 de novembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

O projeto desenvolvido pelo PMDB e batizado de “Uma Ponte para o Futuro”, chamado por alguns como “proposta Temer”, marcou o ambiente político da semana. O programa mais ortodoxo dos últimos tempos se apresenta com a cara do partido. Na sua eterna posição de “em cima do muro”, os pemedebistas avistam a necessidade de se afastar da política econômica heterodoxa petista, suposta responsável pela crise em que o país se encontra. O documento que causa inveja até ao próprio PSDB, pela sua maior e mais profunda abordagem ortodoxa, traz em seu corpo pontos como a idade mínima de aposentadoria, privatização e salário-mínimo. Como era de se esperar, o documento recebeu apoio dos economistas mais alinhados à direita.
Enquanto isso, os resultados econômicos mostraram a contínua deterioração da economia brasileira. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,82%, em outubro, segundo o IBGE. É a maior taxa de inflação para outubro desde 2002. No acumulado em 12 meses o indicador já aponta 9,93%, enquanto que o acumulado no ano é de 8,52%. O vilão do mês foram os combustíveis, mais caros 6,09%, o que corresponde a 37% da taxa geral do mês. Outra importante pesquisa divulgada pelo Instituto refere-se à indústria. No mês de setembro, a produção industrial brasileira apresentou recuo de 10,9% em comparação com o mesmo mês do ano passado, sendo o 19º mês consecutivo de queda nesse indicador. O resultado coloca por terra a expectativa aventada pelo governo, no início do ano, de que o segundo semestre seria o início da recuperação. O pior é que a situação se apresenta de forma oposta, indicando que a retração vem ganhando ritmo. Nada que não fosse esperado diante de um ajuste fiscal quando a economia já estava combalida.
O natal da indústria, que ocorre em setembro por conta das encomendas para o fim de ano, já aponta vendas abaixo do previsto. As contratações temporárias praticamente não aconteceram. A venda de papelão ondulado, termômetro para a atividade econômica, apresentou retração de 4,47% no mês, ante igual período do ano passado. As montadoras de veículos continuam batendo recorde negativo mês após mês. O que ainda traz um pequeno alento às indústrias é a depreciação do Real frente ao Dólar, o que incentiva as exportações e diminui as importações, levando a uma redução do saldo negativo da balança comercial.
Diante da irresponsabilidade dos últimos anos, o governo se esforça para saber, pelo menos, qual o valor do déficit desse ano. O Ministério da Fazenda divulgou documento informando que as famosas “pedaladas fiscais” atingem o valor de R$ 57,013 bilhões. Se resolver quitar todo o passivo, há a possibilidade de que o déficit fiscal seja de R$ 119,9 bilhões. Vale salientar que no início do ano a previsão chegou a ser de superávit fiscal de R$ 55,3 bilhões. Erraram por pouco. Já o orçamento de 2016 continua entalado. O ministro Joaquim Levy continua a insistir na criação da CPMF enquanto que o congresso não está muito disposto a ter esse ônus em um ano de eleições municipais. Diante disso, o relator do projeto, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), continua com a ideia de cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família.
As investigações da Polícia Federal continuam atingindo os políticos do alto escalão. O ex-presidente Lula tratou de se defender na TV aberta. Colocou em xeque a credibilidade dos delatores e, apesar de sua boa retórica, não foi muito além de palavras vazias. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também tratou de se defender em TV aberta. Em entrevista, contou uma história que deixaria George Orwell e Franz Kafka impressionados. De um jeito ou de outro, construiu uma tese jurídica que minimizaria os danos que pode sofrer, desde que alguém acredite. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também concedeu diversas entrevistas sobre o lançamento de suas memórias políticas. Obviamente, diante de uma crise econômica e política de grandes proporções, ele tratou de se apresentar como o “Grande Presidente” que fez tudo que é certo e nada de errado.
E no meio de tudo isso se encontra a população brasileira, sem representação e sem perspectiva. Será que uma “Ponte” num papel pode ser a solução para todos os nossos problemas?
Tá difícil de acreditar.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Economia brasileira: Dificuldades em dobro

Semana de 26 de outubro a 01 de novembro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Orçamento público descontrolado, orçamento familiar apertado, inflação nas alturas, juros altos, queda das vendas, baixa atividade industrial e dólar em alta são alguns dos fatos que marcam o cenário atual no Brasil. E sem indicação de reversão.
As projeções para a inflação não param de aumentar. O Boletim Focus apurou alta de 9,95% para o IPCA, em 2015, e de 7,3%, em 2016. O “mercado” culpa o Banco Central pela piora das expectativas já que a instituição parece ter deixado de lado o objetivo da “convergência para a meta”. A depreciação cambial, o aumento dos preços administrados e a situação fiscal têm contribuído para a elevação da inflação, segundo alguns economistas. Números divulgados pelo Banco Central mostram que o crédito às pessoas físicas não cresceu em setembro. Com as famílias evitando se endividar, a oferta de empréstimos pelos bancos caiu 0,9% neste mês. Houve queda nos financiamentos de bens duráveis (0,1%) e de veículos (1,1%). No setor produtivo, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apurou uma melhora no Índice de Confiança da Indústria que subiu de 66 em setembro para 67,5 em outubro, aumento de 2,3%. Mas, ainda não há o que comemorar, pois este número é um dos menores da série histórica.
Enquanto isso, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu no Congresso Nacional as medidas de política econômica tomadas em sua gestão. Segundo ele, a concessão de subsídios foi usada para estimular a economia. E assumiu finalmente, que o governo não esperava o prolongamento da crise mundial. Esperavam sim, o fim da crise mundial, em 2013. Como isto não aconteceu, teve que admitir o erro. Mantega ainda alfinetou seu sucessor: “O ministro Levy achava que, em seis meses, faria o ajuste da política econômica. A gente se equivoca.” De fato, a situação de Levy é difícil. Com a pressão de parte do PT no sentido de reverter a política econômica ou demiti-lo do cargo, as últimas tentativas do ministro de implementar o ajuste vão minguando, com o passar dos dias. A CPMF provavelmente não será recriada e as demais medidas andam a passos lentos no Congresso Nacional. E embora o principal efeito das primeiras medidas de arrocho tenha sido a intensificação da recessão, Levy, da Fazenda e Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, eximem-se da culpa, afirmando que a queda do crescimento nada tem a ver com o ajuste.
Com ou sem ajuste, espera-se crescimento pífio também em 2016. E, infelizmente, o alento não poderá vir do exterior. A economia americana continua a apresentar dados que dão como incerta a recuperação. Com exceção das empresas do setor de tecnologia, a indústria americana definha. O crescimento esperado de 3% para os próximos trimestres fracassou quando muitas indústrias registraram desaceleração na produção, nas vendas e nas contratações. Empresas como a Caterpillar, 3M, Monsanto, Biogen, United Tecnologies, vêm apresentando queda dos lucros, o que reforça a recessão industrial. O PIB anualizado do terceiro trimestre foi de 1,5%, segundo o Departamento de Comércio norte-americano. O resultado de 3,9% no segundo trimestre trazia boas perspectivas que se frustraram com o novo número.
A desaceleração dos países emergentes e a fraca recuperação da economia europeia também não darão o reforço necessário para que os Estados Unidos cresçam com vigor, o que é mau para a economia interna.
As dificuldades econômicas brasileiras continuam aliadas às dificuldades políticas. A presidente Dilma enfrenta o resultado de mais uma pesquisa de popularidade divulgada pelo instituo MDA. Embora sua aprovação tenha crescido de 7,7% para 8,8%, entre julho e outubro, a sondagem indicou que o ex-presidente Lula perderia as eleições, tanto nas intenções de voto espontâneas, quanto nas estimuladas. Dilma então tem que enfrentar a arrogância do ex-presidente, que ao ver ameaçada sua chance de retornar à presidência, insiste em lhe tomar satisfação, por serem “vítimas”, ele e sua família de investigações que, segundo o próprio, tem como único objetivo atacar o seu legado.
Pode?

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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