quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O ‘Conselhão’

Semana de 25 a 31 de janeiro de 2016

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Após passar mais de ano sem que houvesse encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, ele voltou à ativa em um momento delicadíssimo para o governo. O retorno das atividades no Planalto marca a tentativa da presidente Dilma Rousseff em encontrar meios e alternativas para atravessar as turbulentas crises econômica e política. Neste primeiro momento, a economia assumiu o protagonismo e a reunião que envolveu, de representantes da CUT e MST, até presidentes dos maiores bancos privados do Brasil, resultou numa espécie de pacote de estímulos.
Foi anunciado um pacote de R$ 83 bilhões em novas linhas de crédito que envolve o uso do FGTS e multa rescisória, em caso de demissão sem justa causa, como garantia dos empréstimos consignados concedidos aos trabalhadores, bem como diversas linhas de crédito para micro e pequenas empresas, setor exportador, setor de infraestrutura, entre outros. No entanto, de acordo com diversos analistas, o problema não se encontra na oferta de crédito, mas sim na demanda. Desta forma, o impacto desse novo pacote na economia seria bastante limitado, diante da insuficiência da demanda para utilizar os valores disponibilizados.
Enquanto o governo tenta encontrar uma saída para a crise econômica, os resultados de 2015 não param de quebrar recordes negativos. O déficit fiscal de R$ 114,985 bilhões foi o maior desde 1997 e representou um saldo negativo de 1,94% do PIB. A queda na receita do governo e o ‘rombo’ da previdência, são apontados como os principais culpados pelo resultado. É interessante a observação dos dados apresentados no website da Previdência Social (www.previdencia.gov.br), onde são encontrados os ‘resultados do regime geral de previdência social’. Nessa seção são apresentados os dados referentes à Previdência Urbana, Previdência Rural e a Previdência como um todo. Assim, se percebe claramente o vilão do rombo e seu principal motivo – a Previdência Rural (assistencialismo carimbado como Previdência).
No exterior a dobradinha China-petróleo vem causando dor de cabeça aos mercados de todo o mundo. A Opep e a Rússia tentam ajustar um acordo para que a cotação do barril de petróleo não atinja valores ainda mais baixos. A China continua mostrando fortes sinais de desaceleração e derruba a cotação das principais commodities, inclusive o próprio óleo. Na zona do euro, o Banco Central Europeu continua com suas medidas de estímulos monetários que, até agora, não deram o resultado esperado. O cenário japonês segue o mesmo enredo. Nos EUA, diante dos resultados destoantes apresentados pela economia interna e do agravamento, com mais força, da desaceleração mundial, o Fed (banco central americano) não se compromete com o prosseguimento do movimento de aperto monetário.
No cenário político, as atenções estão voltadas para as eleições dos líderes partidários. O destaque é para o PMDB, onde um embate envolvendo Leonardo Picciani (aliado do governo) e Hugo Mota, representante da ala capitaneada por Eduardo Cunha (presidente da Câmara), terá o desfecho nesse mês de fevereiro. O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP) parece que colocou as barbas de molho e deu uma amainada na sua campanha para se tornar presidente do país. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a ser investigado pelo crime de lavagem de dinheiro pelo Ministério Público estadual de São Paulo, no caso que envolve um tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo. Cada vez mais o cerco está se fechando em torno do ex-presidente e seus familiares.
Por fim, vale citar um trecho da coluna escrita no jornal Valor Econômico pelo ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, Delfim Netto, que ao comentar a polêmica em torno da decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 14,25% discute o protagonismo exacerbado do capital financeiro:
“No Brasil, a prova disso é a taxa de retorno do sistema financeiro. Ela sugere ao idiota industrial, cujo capital está sendo destruído, que tente vender a sua empresa para um idiota ainda maior. E, se tiver sucesso, colocar o que sobrou num ‘fundo especulativo’ protegido pela inflação ou dolarizado. O sucesso, hoje, é virar ‘rentista’ e viver dos juros da dívida do governo...”

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog