quarta-feira, 25 de maio de 2016

À espera da solução

Semana de 16 a 22 de maio de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

O simples acompanhamento da conjuntura econômica não nos permite vislumbrar mudança significativa na trajetória da economia mundial. Sinais positivos vieram do Japão. O Produto Interno Bruto do país cresceu a uma taxa de 1,7% no primeiro trimestre deste ano, recuperando o recuo ocorrido no quarto trimestre de 2015, de -1,7%. No mais, o mundo segue sem novidades e a situação continua a se arrastar.
No Brasil, as novidades da área política não cessam. Fomos obrigados a assistir enojados, a formação do ministério do governo interino e ouvir o discurso hipócrita de indivíduos dos vários setores da sociedade, que bradavam: agora sim, todas as dificuldades serão superadas.
O que parecia um mero passe de mágica está longe de acontecer e quem achou que as questões políticas estavam resolvidas, se enganou. O governo que mal se formou foi alvo de críticas por priorizar a participação masculina na equipe. Ao tentar se explicar, prometeu a Secretaria “Especial” da Cultura a uma mulher. Depois da recusa de cinco delas, a secretaria foi dada a um homem, Marcelo Calero. Mas, tudo foi desfeito e Temer recuou diante da insatisfação dos artistas pela extinção do Ministério da Cultura. E o Ministério foi relançado.
Outra trapalhada memorável foi a escolha do novo líder do governo na Câmara. O deputado André Moura (PSC – SE), ficha sujíssima, réu por acusação de homicídio, pau mandado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), além de réu da Lava Jato, foi escolhido como líder do governo interino. E, quando achamos que tudo estava acabado, o “digníssimo” Ministro do Planejamento, Romero Jucá, foi pego com a “boca na botija” em uma gravação afirmando que, com a mudança do governo, se realizaria um pacto para deter o avanço da Operação Lava Jato.
Mas, o cenário econômico não mudou. Entre os empresários da construção civil, o clima é de insatisfação. A Sondagem da Indústria da Construção, realizada em parceria pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), detectou no primeiro trimestre do ano, queda na satisfação dos empresários. O índice apurado varia de 0 a 100 e notas abaixo de 50 demonstram descontentamento. Nos primeiros três meses do ano, a satisfação com a margem de lucro fechou em 28,8 pontos e com a situação financeira, em 33,3 pontos. A redução dos investimentos se refletirá no aumento do desemprego no futuro.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou queda de 1,44%, no primeiro trimestre de 2016, na comparação com o fim de 2015. O indicador caiu pela 15ª vez consecutiva. Nos 12 meses encerrados em março, o IBC-Br retraiu-se em 5,26%. A maioria dos analistas prevê queda de 4% do PIB em 2016 e crescimento de 1% em 2017.
Alheio às encrencas políticas e pondo-se na condição de salvador da economia, o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, esforça-se em tentar cumprir sua missão. Com perfil ortodoxo, o que o leva a adotar um projeto bastante semelhante ao de Joaquim Levy, Meirelles quer reduzir a trajetória da dívida pública, fazer a reforma da Previdência e recriar a CPMF. Partidário da visão de que falta confiança em consumidores e empresários, o novo ministro acredita que, com as medidas a serem anunciadas, a confiança retornará e com ela, o crescimento.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho), no relatório “Perspectivas Sociais e do Emprego 2016”, vê recuo dos avanços sociais e aumento dos níveis de desemprego. Já o Banco Mundial em seu “Diagnóstico Sistemático do País”, concorda e alerta que medidas erradas de política econômica podem levar a retrocessos sociais.
Tudo indica que as prometidas medidas salvadoras a serem anunciadas apontarão na direção de uma política de austeridade fiscal. Na contramão do mundo, o austericídio, já tentado por Levy, será retomado.
E quem vai pagar o pato certamente não é o setor empresarial.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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