quarta-feira, 7 de setembro de 2016

E agora, quem poderá nos defender?

Semana de 29 de agosto a 04 de setembro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

O impeachment foi consumado. O interino tornou-se efetivo e sem qualquer remorso, fez-se presente à reunião do G-20 em Hangzhou, China. Lá, vendeu a imagem de que o crescimento será produzido por sua equipe econômica e ofereceu o Brasil à China. Após a decisão do Congresso Nacional, um impressionante clima de oba-oba tomou conta do “mercado” e daqueles que creem que foi o governo passado (ou este mesmo, a rigor) quem produziu a crise.
Os empresários, desalentados pela crise, defenderam o impeachment e se apressaram em declarar apoio ao governo e às pretensas reformas que os beneficiarão diretamente. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), sob a regência do seu presidente Paulo Skaf, no mesmo dia em que foi finalizado o processo, lançou uma carta nos meios de comunicação em que afirma: “A confiança está sendo retomada, mas é preciso mais (...). O ajuste fiscal é a mãe de todas as reformas. É hora de, todos juntos, reconstruirmos o Brasil.” E deixa claro sua preferência pelas reformas trabalhista e previdenciária.
Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, grande grupo têxtil do país, espera que a “...confiança que começou a ser recuperada continue crescendo e isso traga repercussões favoráveis na atividade econômica”.
A presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Gisela Schulzinger, afirmou que “Nos últimos meses, começou a luz.” Mas, o setor de embalagens completará, em 2016, três anos consecutivos de queda da produção e talvez só se recupere apenas no quarto trimestre deste ano.
A Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), também declarou seu apoio às reformas, mas sem aumento de impostos. “Sinto que já houve melhora da confiança. Isso é visível nos empresários”, declarou o presidente da Abiquim, Fernando Figueiredo, contudo, disse que a indústria química só se recupera se as outras reagirem.
O presidente do Secovi­SP (Sindicato da Habitação), Flavio Amary, avalia que o “... humor muda a cada dia, as pessoas estão cada vez mais confiantes.” Ingenuamente, crê que a venda de imóveis ocorrem mais se as pessoas acreditam em um futuro melhor.
Obviamente, todas as declarações apontam para o humor, o otimismo, e estes fatores por si só não determinam a retomada. Apesar das melhoras dos subjetivos índices de confiança, a crise continua a se impor com violência. No mesmo dia em que aconteceu o impeachment, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desmentiu categoricamente a ideia disseminada pelo governo de que a economia está se recuperando. No segundo trimestre, o PIB encolheu 0,6%, em relação ao trimestre anterior. Foi o sexto trimestre consecutivo de queda. Neste período, a indústria cresceu 0,3%, os serviços recuaram 0,8% e a agropecuária caiu 2%. E embora o Copom tenha decidido pela permanência da taxa de juros em 14,25%, a atividade econômica não dá sinais de reação. O comércio, segundo a Boa Vista/SCPC, soma queda de 5,1% nos últimos 12 meses terminados em julho. Some-se a isso, o aumento da taxa de desemprego no início do terceiro trimestre de 11,3% para 11,6%.
Enquanto caminhamos na contramão a passos largos para o abismo amparados pela política de austeridade, o Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda ao mundo que políticas “contundentes” sejam usadas para retomar o crescimento global que mais uma vez ficará abaixo da média de 3,7%. A presidente do órgão também alertou para o aumento das desigualdades sociais. A situação é preocupante, já que a atividade industrial caiu em agosto nos Estados Unidos, a segunda queda do ano. Também na Zona do Euro houve queda da produção industrial.
Portanto, a falta de crescimento não é apenas privilégio nosso. Resta saber que superpoder será ativado pelo SuperTemer e sua superequipe para desativar a armadilha do baixo crescimento. O tempo passa.
Continuemos à espera do santo milagreiro.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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