terça-feira, 4 de outubro de 2016

Aprovem as reformas e o milagre acontecerá

Semana de 29 de setembro a 04 de outubro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Mais uma prisão foi realizada no âmbito da Lava Jato. Pesa sobre o ex-ministro Antonio Palocci a suspeita de receber propina da Odebrecht, entre 2006 e 2013, e interferir em decisões do governo federal. Em meio às prisões das maiores autoridades econômicas da gestão Dilma, o governo Temer tenta gerar uma “onda” otimista e as notícias sobre a “provável recuperação” proliferam.
Em agosto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), houve queda no número de vagas de emprego formal. O saldo entre admissões e desligamentos foi de 33,9 mil vagas perdidas. Houve uma ligeira melhora na indústria de transformação que abriu mais postos do que fechou (6,3 mil vagas). No comércio, a geração não alcançou mil postos e a construção civil, agricultura e serviços, demitiram mais que admitiram. Nos 12 meses encerrados em agosto já foram perdidos 651,3 mil empregos.
O Banco Central divulgou o Relatório Trimestral de Inflação que, segundo o órgão, aponta progressos no cenário inflacionário. Em todos os cenários projetados, há uma tendência de queda para a inflação nos anos seguintes, com possibilidade de cumprimento da meta já em dezembro de 2017.
            Em contrapartida, o mercado de crédito em 12 meses terminados em agosto, caiu em 0,6%. Diante disto, o Banco Central foi obrigado a rever sua projeção de um crescimento de 1%, em 2016, para queda de 2%.
O Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário de Varejo e Serviços, levantado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), atingiu, em agosto, 50,17 pontos, em uma escala de 0 a 100. Esta foi a quarta melhora mensal consecutiva. A confiança dos empresários industriais também subiu pela quarta vez seguida e marcou 51,5 pontos, em agosto, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Embora estes indicadores demonstrem que o “humor” do empresariado melhorou, o alto desemprego, o crédito escasso, a inflação elevada e a piora da renda reforçam as incertezas da retomada econômica. Os únicos setores industriais que registraram aquecimento dos pedidos foram os de cosméticos, chocolates finos e vestuário. Apesar disso a produção industrial do país despencou 3,8% em agosto, em relação a julho. No acumulado do ano a queda já é de 8,2%.
Se os sinais da retomada brasileira são incertos, o Fundo Monetário Internacional (FMI), ressalta que a recuperação da economia global continua fraca. A diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, declarou que as perspectivas mundiais são desanimadoras e sugeriu que os países se abram ao comércio e usem as políticas fiscal e monetária para promover os investimentos.
Para o Brasil, no entanto, a recomendação é a inversa. Segundo uma equipe do FMI, que veio ao país para realizar o diagnóstico anual da economia dos países-membros, a recessão brasileira está perto do fim e as proposições lançadas pelo governo até agora estão corretas. O documento produzido enfatiza que o “... crescimento deve ser retomado gradualmente em 2017.” A retomada do crescimento, conforme o FMI, depende da aprovação da PEC do teto de gastos, da reforma da Previdência e do cumprimento das metas fiscais em 2016 e 2017. Assim, o milagre acontece! “Com esses aperfeiçoamentos no campo fiscal e assumindo que a incerteza vai continuar a cair, o investimento deverá se recuperar o que dará suporte para um retorno gradual para uma sequência positiva de crescimento em 2016”. Fácil!
Mas, os três focos da agenda do governo Temer, a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e a PEC do teto para os gastos públicos, que se tornaram praticamente unanimidade entre economistas e empresários, passaram a incomodar as Centrais Sindicais. Em virtude das polêmicas, o presidente está tentado a abandonar as discussões sobre a reforma trabalhista. O texto sobre a reforma da Previdência ainda não foi fechado e as eleições municipais esvaziaram o Congresso Nacional que por enquanto nada vota.
A apatia parece tomar conta do país. Descrentes e desanimados, mais de 25 milhões de eleitores, 17,58% do eleitorado brasileiro, não compareceu às urnas para votar no primeiro turno das eleições municipais.
Está cada vez mais difícil convencer o povo do imperativo de realização destas reformas, especificamente.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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