quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Depois das eleições a vida continua

Semana de 31 de outubro a 06 de novembro de 2016


Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Enquanto o ministro Meirelles, travestido em camelô de luxo, circula em um “road show” pelo mundo tentando vender o país aos “investidores” estrangeiros, o presidente Temer, em mais um ataque de bondades e indo contra a sua pregação de austeridade, libera alguns bilhões para obras inacabadas e gasta meio milhão em uma festa de homenagem a sambistas, onde anuncia o aumento da verba do ministério da cultura que ele tentou reduzir à condição de secretaria. Isto para não falar da farra com os jatinhos da FAB utilizados por vários ministros para passar o fim de semana em suas casas.
Na outra ponta da sociedade a semana foi marcada pela truculência da polícia de São Paulo, bem preparada pelo atual ministro da justiça, contra o MST, com a invasão da Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP). Outras operações foram executadas contra dois acampamentos do Movimento no Paraná e em Mato Grosso do Sul, com prisões de líderes. Temer cumpre o prometido. Outras violências estão a caminho.
Os estudantes que se cuidem.
Enquanto isso continua a repercutir o resultado das eleições municipais que marcaram a derrota esmagadora do PT, o que já era esperado. É lamentável que este resultado não produza nenhuma reflexão entre os petistas que continuam a desperdiçar forças em defesa dos seus corruptos.
Por seu lado, o governo, interpretando o resultado eleitoral como uma vitória sua, acelera a execução de seus projetos. Pressiona o senado para aprovação da PEC 241, carimbada com novo número, e empurra o projeto de reforma da previdência. Sobre esta, o que se discute é o caráter das mudanças que serão propostas, pois se espera muita reação do setor sindical e dos grupos sociais atingidos. Já se fala em “reforma possível”, diante do temor de esticar a corda além da tolerância da população.
Outras interpretações dos resultados eleitorais acirraram as contradições entre os partidos da base do governo e dentro deles. Já começa a disputa pela próxima eleição do novo presidente da câmara disputado abertamente pelo DEM, centrão e PSDB.
Enquanto ferve o mundo político a economia arrasta-se. Os arautos do governo continuam a proclamar o crescimento das expectativas empresariais favoráveis e a lamentar o comportamento da realidade econômica que teima em contrariar as aspirações. Procura-se então esconder os dados. Apesar disso as notícias circulam. A Tendência Consultoria Integrada estima que o poder de compra dos brasileiros vá encolher 7%, em 2016. Grandes companhias de consumo têm estimativas pessimistas para as vendas e reduzem seus investimentos. Embora comentem sobre as expectativas positivas reconhecem a dura realidade. Para Ronaldo Iabrudi, presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA), “No mundo real, no dia a dia da loja não se percebe essa recuperação”. Para Bernardo Paiva, presidente da Ambev, “houve melhora nos indicadores macroeconômicos no curto prazo, mas o consumo ainda está restrito”. Para Abílio Dinis, presidente do CA da BRF, “o ambiente de negócios mostrou-se mais adverso do que o previsto”. A Via Varejo, com as redes Casas Bahia e Ponto Frio “não registra aumento no fluxo de clientes nas lojas”. No Ponto Frio as vendas caíram 21% entre julho e setembro. Neste período a queda na Ambev foi de 4,1% para as cervejas e 8,1% para os refrigerantes.
Para o quarto trimestre, a FGV prevê um fraco desempenho para a indústria e os serviços. As avaliações dos empresários, para outubro, mostram queda de confiança em 15 dos 19 segmentos pesquisados. O Boletim Focus do BC, melancólico, constata que as expectativas positivas construídas ao longo dos últimos meses ainda não tiveram efeito sobre a atividade econômica.
Com efeito, a divulgação feita pelo IBGE, dos dados de setembro, mostrou um acréscimo na produção industrial de apenas 0,5%, em relação a agosto. No entanto, para o terceiro trimestre o resultado apontou uma queda de 5,5%. Meireles já mudou a conversa e agora fala em recuperação apenas em 2017.
Vamos esperar para ver.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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