terça-feira, 26 de abril de 2016

E agora, Temer?

Semana de 18 a 24 de abril de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor, a sorte está lançada! É quase impossível que o Senado Federal reverta a situação política em favor da presidente Dilma. Agora, o vice-presidente, Michel Temer, que no fim do ano passado se auto-ofereceu como aquele que teria “a capacidade de reunificar a todos”, já está compondo o seu governo debaixo do nariz do atual governo do qual ele faz parte. Quero dizer, está tentando compor. Nas possíveis alternativas estão as figuras do seu próprio partido, além do PP e do PSB, que oferecem nada mais que uma série de listados na Operação Lava-Jato.
Vários nomes já estão cotados para os ministérios. Para a Casa Civil, Moreira Franco; Eliseu Padilha, para o Ministério da Infraestrutura; Nelson Jobim, para a Defesa; Cesário Melantonio para o Ministério das Relações Exteriores e para o Ministério do Trabalho e Previdência Social, Roberto Brant. Mas o problema está em quem vai assumir o Ministério da Fazenda. O nome mais cotado deu um grande não a Temer. Armínio Fraga ainda afirmou que o mercado internacional e o impacto do impeachment mascaram a real situação da economia brasileira, que segundo ele, é “dramática”. Restam agora a Temer três opções: Murilo Portugal, atual presidente da Febraban, o senador José Serra e Henrique Meirelles.
O PSDB, de olho em 2018, afinou o discurso de que vai “contribuir” e “ajudar” o novo governo. Este comprometimento “descomprometido” deixa claro que o partido vê, na possibilidade de fracasso de Temer, sua chance de ser o salvador da pátria nas próximas eleições. Fontes próximas ao vice-presidente afirmam que para gerir o gasto público, o mesmo proporá uma Desvinculação das Receitas da União (DRU) ampliada, que trará, por exemplo, a desindexação dos programas sociais da variação do salário mínimo além da reforma da Previdência Social, que flexibilizará o mercado de trabalho. O “pato” então vai ser pago da pior forma possível, pelos trabalhadores, já que os últimos números do mercado de força de trabalho dão a dimensão da crise econômica.
A taxa de desemprego atingiu os dois dígitos, 10,2%, e fechou o trimestre, encerrado em fevereiro, com 10,4 milhões de pessoas desempregadas, o que representa uma alta de 40% no número de desempregados, quando comparado ao mesmo período do ano passado. A situação dos trabalhadores e da economia em geral, ainda vai piorar este ano, mas alguns economistas veem sinais de que o fundo do poço está próximo. Elementos como o recuo da inflação, a confiança estável e a melhoria do setor externo são citados como fatores que trazem em si os embriões da recuperação. O economista Francisco Lopes, por exemplo, indica alta do PIB de 1,6%, em 2017, em virtude do crescimento do setor de bens de capital e do setor externo. Estas opiniões estão ancoradas na teoria dos ciclos econômicos, que prevê a evolução da economia em períodos de elevação e queda da atividade econômica. Segundo esta teoria, em algum momento a economia passará da fase de crise à reanimação e a seguir ao auge. Analistas estimam que esta passagem poderá se dar em algum momento do ano de 2017.
Mas, ainda há um cenário a considerar. Sam Zell, investidor americano que previu a crise do mercado imobiliário nos EUA, afirma que os baixos preços do petróleo, a queda na demanda por importados nos países emergentes, a volatilidade nos mercados financeiros, a deflação, as taxas de juros negativas e as flutuações no câmbio, provocarão em 2017, uma nova crise na América.
Portanto, para os próximos dois anos de um possível novo governo no Brasil, há alguns cenários a considerar: o fracasso total do governo Temer, ao não conseguir em tão pouco tempo recuperar a economia; o retorno da crise mundial em 2017, que enterrará qualquer recuperação que se manifeste internamente. Nestes casos o governo Dilma será responsabilizado pela “herança maldita”. Na terceira hipótese de uma efetiva recuperação econômica em 2017, sem os estragos causados pela economia mundial, o governo Dilma será responsabilizado pela crise anterior.
Em qualquer caso, a presidente Dilma será coroada a mais azarada gestora que o país já teve.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quarta-feira, 20 de abril de 2016

The day after

Semana de 11 a 17 de abril de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
O governo foi derrotado e a Câmara aprovou a continuação do processo de impeachment da presidente Dilma, que agora segue para o Senado, a quem caberá a palavra final. O processo é bastante complicado com a criação de nova comissão e várias votações. Na votação definitiva a maioria de 2/3 deporá a presidente. Antes disso ela terá de afastar-se por até 180 dias enquanto decorrem as apurações finais. Neste caso o vice-presidente Temer assumirá provisoriamente até a conclusão. Se o impeachment não for aprovado a presidente reassumirá o governo. Temos, portanto, um longo processo durante o qual o país ficará parado. Enquanto isso Temer mantém os entendimentos que considera convenientes para constituir o seu possível ministério.
O espetáculo que a Câmara dos Deputados ofereceu ao país foi uma das coisas mais deprimentes de que se tem notícia. Uma vergonha indescritível. O que se pode elogiar é o comportamento das duas torcidas pró e contra Dilma que, apesar de ruidosas, souberam manter uma convivência civilizada não se registrando agressões significativas. Agora, enquanto uns comemoram a vitória e outros choram a derrota o país continua a afundar-se na crise. Os dados mostram a queda nas vendas, o aumento do desemprego, o aumento da inadimplência tanto das empresas como dos consumidores, a queda da produção de cimento e de materiais de construção o que mostra a desaceleração da construção civil, etc. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já revisou para baixo suas estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e para a produção industrial. Calculam que a queda do PIB será de 3,1% e a da produção industrial 5%.
A situação internacional também continua com a mesma tendência. A divulgação do “Panorama Econômico Mundial”, publicação do Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a constatar que a recuperação global é desigual, lenta e está demorando mais que o previsto. Alertam para a situação dos países emergentes e particularmente para a China. Estimam um crescimento da economia mundial de 3,2%, em 2016. O diretor do departamento monetário e de mercado de capitais do FMI defendeu a adoção de juros negativos pelos BCs e de políticas monetárias não convencionais. Afirmou que as medidas adotadas até aqui não foram suficientes e são necessárias “medidas adicionais” sob pena da economia global cair em uma estagnação financeira.  A Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia mostrou que, em fevereiro, a produção caiu 0,8%, a maior queda em 18 meses. Tanto o FMI como o Banco Mundial consideram que a situação política do Brasil dificulta a superação dos problemas que a economia do país enfrenta.
Vive-se agora no país um período de ressaca pós-impeachment. Dentro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), considerada “a casa do impeachment”, o seu presidente Paulo Skaf procura desculpas para justificar junto a setores empresariais descontentes, o envolvimento “inusitado” da entidade que “fugiu aos padrões” e não comenta o custo da campanha que promoveu, sendo acusado de manipulação em função de sua intenção de concorrer ao governo de São Paulo pelo PMDB. A CNI resolveu também entrar na guerra contra o governo enviando carta a todos os parlamentares com a sua posição. E as propostas para uma política econômica alternativa começam a surgir. É claro que todas defendem os interesses dos empresários: rigorosa austeridade fiscal, elevação de impostos, reforma da previdência, flexibilização dos contratos de trabalho, simplificação do licenciamento ambiental, revisão da política de salário mínimo, privatização de serviços públicos, etc.
No lado oposto, as organizações sociais preparam-se para a defesa dos seus interesses voltando a disputar as ruas e preparando manifestações. Aproximam-se, portanto, grandes embates e há rumores inquietantes em Brasília. Especula-se sobre a decretação de um “Estado de Defesa” que seria autorizado pelos “Conselhos da República” e da “Defesa Nacional” e aprovado pelo Congresso. Isto implicaria na suspensão das garantias constitucionais e adoção de medidas de exceção.
Atenção! O golpe branco pode virar vermelho!       

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 14 de abril de 2016

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Mais um ano perdido

Semana de 04 a 10 de abril de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
É penoso falar de economia no momento atual. A nação ferve e os ânimos exaltados colocam em confronto duas opções opostas: “Fora Dilma” e “Não vai ter golpe”. Nesta dicotomia terá de haver um derrotado. Não há terceira solução. Ninguém a quer. A direita “democrática”, enquanto finge que não vê, açula os bolsomineons que ladram como cães raivosos em meio aos apelos ao golpe militar e à restauração da ditadura. O governo joga todos os seus trunfos para sobreviver. Todos aguardam ansiosos o primeiro defunto.
Enquanto isso, a economia segue o seu curso que não é perturbado por maiores interferências, enquanto todos brigam. O governo não tem tempo para governar, ocupado em esquivar-se dos golpes que recebe de todos os lados, e a oposição, enquanto critica o imobilismo do governo, tudo faz para impedi-lo de mover-se.
A vontade que se tem é entrar no debate político e deixar de lado esta fria e apática economia onde nada de novo acontece. No entanto, a função desta coluna é analisar a conjuntura. Não nos resta outra alternativa senão dar conta desta espinhosa missão. Vamos a isso!
 As observações que temos feito em relação à situação precária da economia mundial continuam a se confirmar. As reações são visíveis. Para estimular a economia o Banco Central Europeu (BCE) mantém sua ação de comprar papéis de dívida de corporações. Estima-se que, só de “covered bonds”, títulos de dívida emitidos por bancos, o estoque do BCE já atinge 200 bilhões de Euros, cerca de 28% do total do mercado. Agora, a intenção é comprar também papéis de empresas não financeiras. A Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê um crescimento “decepcionante” do comércio mundial este ano, inferior a 3% em volume. Os dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), da OMC, do Banco Mundial (BM), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE), e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), reuniram-se com a premier alemã Angela Merkel, em Berlim, e concluíram que “o crescimento continua medíocre, frágil e permanecerá abaixo das tendências históricas”. Calcularam que 197 milhões de pessoas estavam desempregadas, em 2015, e mais 3 milhões perderão o emprego nos próximos dois anos. Nos EUA, levando em consideração esta situação e a lenta recuperação da economia americana, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, adiou a elevação dos juros afirmando que “os acontecimentos econômicos e financeiros globais continuam representando riscos”. Com a preocupação de tentar estimular a economia mundial, todas as propostas são bem vindas. Adair Turner, presidente do Institute for New Economic Thinking, centro de estudos fundado por George Soros, propõe a solução conhecida como “helicopter Money” (jogando dinheiro de helicóptero). Os BCs emitiriam notas que seriam distribuídas às pessoas de qualquer forma como, por exemplo, depositando US$ 1.000,00 na conta corrente de todos os cidadãos.
A situação da economia nacional é ainda mais delicada. Os dados são abundantes e preocupantes. Afirma-se o quadro de uma típica fase de crise do ciclo econômico. As montadoras têm, no primeiro trimestre, a pior produção dos últimos 13 anos, de acordo com a Anfavea. No caso dos caminhões, o prazo sobe para 16 anos e, neste setor, só 20% da capacidade produtiva instalada está sendo usada. Espera-se uma queda de 10% na produção de motos e, na de barcos de recreio, a queda já se situa em torno dos 50%. Na construção civil o prejuízo, no ano passado, foi de R$ 2,91 bilhões. A crise estende-se ao comércio e ao setor de varejo. Cerca de 10% das lojas nas cadeias de shoppings estão em situação difícil e aumenta o número de empresas que pediram recuperação judicial ou mesmo falência. No primeiro trimestre os pedidos de recuperação aumentaram 165,7%, segundo a Serasa. A consequência é o aumento do desemprego, queda dos salários e da renda e o empobrecimento da população. Sem demanda, não há vendas, os estuques aumentam e as fábricas param. Por enquanto não surge nenhuma indicação de que tal quadro tenda a se inverter.
2016 é um ano perdido qualquer que seja a solução do conflito político. E é bom rezar para que a economia mundial não entre em nova fase de crise.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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domingo, 10 de abril de 2016

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Crise, política e política econômica

Semana de 28 de março a 03 de abril de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor, esta coluna semanal continuará repetitiva por um longo tempo, pois não há sinais de recuperação da atividade econômica interna. Pelo contrário, todos os cenários só se agravam. Segundo estimativa do Banco Central, a produção industrial este ano recuará 5,8% e o PIB, 3,5%. Estas projeções estão cada vez mais próximas da realidade. Em fevereiro, o consumo de energia elétrica industrial, caiu 7,2% comparado a janeiro, segundo a Empresa de Pesquisa Energética. Para este mesmo mês, dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram a elevada capacidade ociosa da indústria, fechando em 77,6% e a queda de 9,9% no faturamento real das empresas.
As perspectivas sombrias para o ano chegam, de maneira mais intensa, ao mercado de força de trabalho. Em fevereiro, foram fechadas 104,6 mil vagas formais de emprego, conforme pesquisa do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. E, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, a taxa de desemprego passou de 7,6%, em janeiro, para 8,2%, em fevereiro. O comércio e os serviços passaram a acompanhar o ritmo de fechamento de empregos da indústria. O comércio fechou 55,5 mil vagas, em fevereiro, número que somado ao de janeiro chega a 125,3 mil vagas fechadas no bimestre. A faixa de trabalhadores mais jovens, entre 18 e 24 anos, é a que apresenta o maior nível de desemprego (20,8%). Em fevereiro, o rendimento médio real do trabalhador caiu 0,3%.
Com rendimentos e nível de emprego em queda, a crise não se reverterá. A demanda continuará a cair, com impacto negativo sobre as vendas. A atividade varejista vai arrefecer e os consumidores não usarão o crédito para consumir já que não terão como pagar pelo consumo adicional. Evidentemente, o setor produtor não aumentará a produção. O desemprego vai aumentar, os estoques vão subir juntamente com a capacidade ociosa e os investimentos produtivos serão adiados. Há quatro anos seguidos que a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos registra queda nas vendas do setor. Em 2016, a instituição prevê queda de 12% na Formação Bruta de Capital Fixo.
Tal cenário, não foi produzido pela Operação Lava-Jato nem pela crise política.  Todos, sem exceção, deveriam saber disso. Antes mesmo de estes últimos acontecimentos virem à tona, a economia já andava mal. É claro que os dois fatos afetam negativamente a economia. As descobertas da Lava-Jato provocaram a rescisão de contratos com as empreiteiras envolvidas nos escândalos, o que parou obras e gerou desemprego no setor da construção civil. E a crise política engessou quaisquer decisões de âmbito econômico que deveriam passar pelo Congresso Nacional. Porém, atribuir à crise econômica apenas os fatores políticos é, no mínimo, ignorância ou má fé.
O fato é que, desde 2008, o governo tenta minimizar os efeitos da crise econômica que afetou o mundo e o Brasil. Políticas anticíclicas foram utilizadas e por algum tempo, produziram efeitos. Veja-se que, após 2009, o crescimento do PIB foi baixo, mas positivo. Entretanto, o custo veio sobre a forma de déficit público e, para saná-lo, exigiu-se o ajuste fiscal, o que seria a solução de todos os nossos problemas. Na perspectiva de finalmente ter de bandeja as reformas da Previdência, tributária e trabalhista, o setor empresarial vibrou com a contratação de Joaquim Levy. As decisões fiscais somadas à política de juros altos permitiram que a crise mostrasse a sua força.
Mesmo assim, estes fatos não convencem grande parte dos economistas que ainda teima em atribuir, à política econômica, a culpa pela crise. Intervenções heterodoxas, segundo estes, provocaram a quebra da confiança do empresariado e dos consumidores e a economia, diante destas “experiências”, foi lançada ao precipício.
Agora, de mãos atadas, o governo testemunha o afundamento da economia e enquanto a batalha do impeachment convulsiona a nação em uma luta fratricida, todos parecem alheios a uma nova crise internacional que se aproxima.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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sábado, 2 de abril de 2016

ERECO 2016


Participação do Prof. Nelson Rosas na conferência de abertura do Encontro Regional dos Estudantes de Economia (ERECO 2016) com o tema, A teoria dos ciclos e a conjuntura econômica atual no Brasil.


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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Entrevista do Prof. Nelson Rosas no programa Primeiro Plano da TV Manaíra.



Confira entrevista do Prof. Nelson Rosas na TV Manaíra, onde fala sobre temas atuais da economia brasileira. Assista o vídeo.

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