quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Brasil em queda: de ministros à economia

Semana de 21 a 27 de novembro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

A pressão sobre o governo Temer continua. Os escândalos políticos proliferam numa imensa rapidez. Caiu o sexto ministro de um governo que tem apenas 6 meses. O desgaste começou quando Geddel Vieira Lima, da secretaria do Governo foi acusado de tráfico de influência pelo ministro da Cultura, Marcelo Calero, que acabou se demitindo por causa do ocorrido. Calero afirma que Geddel o pressionou para liberar uma obra em Salvador, contrariando uma decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Enquanto o escândalo ganhava corpo, o presidente optou, assim como fez com Romero Jucá, em proteger o acusado, que já tem vasta ficha corrida. A demissão, tardia, só veio sete dias após a divulgação do escândalo.
Em desespero, ao dar posse ao novo ministro da Cultura, Roberto Freire, Michel Temer disse que o governo, com a chegada do novo membro “... vai ganhar céu azul, vai ganhar velocidade de cruzeiro e vai salvar o Brasil”. Mas, à sombra do escândalo La Vue, o governo teve que driblar outro. Em pleno domingo e ao lado dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Renan Calheiros, anunciou um pacto com o Congresso contra a anistia ao caixa 2. O Congresso, durante a semana, costurava, com a conivência do governo, a inclusão da anistia ao Caixa 2 entre as 10 medidas de combate à corrupção propostas pelo Ministério Público.
As dificuldades que o governo enfrenta, expõe sua fragilidade. O presidente assumiu com baixíssima popularidade e já foi obrigado a desdizer várias declarações feitas à imprensa. Temer, assim como Dilma, faz as mais sujas negociatas para governar, ao lidar com Ministérios e Congresso altamente corrompidos. E o pior está por vir. O governo brasileiro está acovardado diante da iminente delação da Odebrecht. O fato é que os últimos acontecimentos jogam por terra a ideia simplista de que a mudança de governo produziria automaticamente o paraíso.
E, na economia, apesar de ter nomeado a “equipe dos sonhos”, acontecem as mais retumbantes decepções. Finalmente, esta semana, o Ministério da Fazenda assumiu que em 2016, a queda do PIB será de 3,5% e não de 3%, como havia anunciado. Há três meses, a equipe havia aumentado a previsão de alta do PIB de 1,2% para 1,6%. Hoje, esta alta foi reduzida para 1%. Crédito mais caro, confiança baixa (e não estava alta?) por causa da questão fiscal e até a eleição de Donald Trump foram os argumentos usados pela Fazenda para justificar as revisões.
Novos dados expõem a piora da economia. A Serasa Experian registrou recorde de CNPJs negativados em setembro. 4,6 milhões de empresas encerraram o terceiro trimestre inscritas na Serasa. 93,5% são de micro e pequenas empresas. Os pedidos de recuperação judicial não param de crescer. Entre as grandes companhias, cresceram 11%, entre as médias subiram 30% e, entre micro e pequenas, aumentaram 91,5%.
Os balanços das empresas não confirmam a retomada da economia. De julho a setembro, a receita líquida de 278 empresas de capital aberto caiu 3% comparado ao mesmo período de 2015. E a indústria voltou a demitir, em outubro. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) o setor formal cortou 74.748 vagas. Os setores que mais demitiram foram: construção civil (-33.517 postos), serviços (-30.316 postos) e agricultura (-12.508 postos). O ritmo de eliminação de postos de trabalho acelerou em todo o país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, referente ao segundo trimestre. A ocupação no Nordeste recuou 6,4%, entre julho e setembro.
O cenário é desalentador e o presidente, esquecendo o que disse antes, declarou: “Precisamos estancar a ideia de que bastou mudar o governo que tudo se transformou em um céu azul e claro. As coisas demandam tempo”.
Enquanto os ministros do governo Temer caem, um a um, a economia real dá as mais severas lições à nova equipe econômica, pondo por terra toda a base teórica que a alimenta.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Agora quem caiu foi o mundo todo

Semana de 14 a 20 de novembro de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i] 
           
Há duas semanas escrevemos sobre a queda da taxa Selic. Agora quem caiu foi o mundo das ilusões construído pelo governo na tentativa de enganar os agentes econômicos. O fato está consumado. Diante da queda é preciso encontrar uma desculpa, um culpado, um bode expiatório. Claro que sempre está à mão “a herança maldita” lembrada com insistência pelo presidente Temer, esquecendo que ele próprio e seu partido foram corresponsáveis por ela.
Mas, há outras alternativas. Internacionalmente temos a eleição do presidente Trump nos EUA. O investimento externo está em compasso de espera, o dólar pode continuar a valorizar-se, os juros podem parar de cair, o comércio mundial pode desacelerar. Internamente temos mais alguns elementos salvadores. A lava-jato resolveu investir contra o PMDB na figura de seu grande líder Cabral. (Não aquele que se desviou do caminho das Índias e descobriu o Brasil, mas um outro que desviou R$ 224 milhões dos cofres do RJ encaminhando-os para o seu bolso). O próprio ministério contribui para a desestabilização. O poderoso ministro Geddel Vieira Lima, na defesa de interesses pessoais, intrometeu-se em áreas fora da sua competência provocando a demissão do ministro da Cultura. O pior é que o demitido não ficou calado e saiu atirando, criando mais um foco de desestabilização para a mal falada equipe governante.
Se tudo isto não bastasse, os dados econômicos continuam tornando cada vez mais claro que a tal “recuperação” não começou. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE aponta um recuo de 0,5% no terceiro trimestre, em relação ao segundo. Na visão do Instituto, alguma recuperação só é esperada para o segundo semestre de 2017. No setor imobiliário a crise continua. O prejuízo consolidado das incorporadoras, no terceiro trimestre, cresceu 10 vezes, em relação ao segundo, atingindo R$ 2,099 bilhões. A receita líquida teve uma queda de 40%. Como consequência, o consumo de cimento também caiu desanimando os produtores que, não esperam recuperação nem no próximo ano, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC). A ociosidade das fábricas instaladas no país atinge os 50%. Desanimado o presidente do SNIC declarou: “Continuamos sem enxergar o fundo do poço”, pois, diferentemente de certos economistas, ele sabe que “É preciso que a população volte a ter emprego e renda para ter confiança na aquisição de imóveis”.
O reconhecimento oficial das dificuldades da recuperação foi reforçado com a divulgação, pelo Banco Central (BC), dos dados que mostram que a retomada da atividade será mais lenta que o previsto. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,78% no terceiro trimestre, encerrado em setembro, em relação ao segundo, que já havia caído 0,4%. Este indicador é considerado como uma estimativa confiável do PIB, anunciando, portanto, o que vem por aí.
A difícil situação é agravada ainda pelo câmbio e os juros elevados. Segundo Carlos Antônio Rocca, diretor do Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Cemec), em 12 meses, até julho deste ano, 54,9% das empresas gerou um caixa inferior às despesas financeiras.
Preocupado com a situação e com a alta do dólar o BC entrou no mercado para controlar a “volatilidade” do câmbio, esquecendo que uma das pernas do tripé macroeconômico que ele diz defender, é o cambio flutuante. Aliás, o tal tripé só existe em palavras. Já há algum tempo que continuamos com o “saci macroeconômico”, pois a perna que resta é o controle da inflação uma vez que a outra, a do superávit primário, já foi substituída pelo déficit.
Enquanto isso, os comentaristas econômicos e a “equipe dos pesadelos” do governo são forçados a reconhecer que “a confiança não foi suficiente para tirar o país da recessão”. A estimativa oficial para o crescimento do PIB, em 2017, foi reduzida de 1,7% para 1%, ou menos.
Fazemos nossas as palavras de lamentação da jornalista do Valor Econômico Claudia Safattle “É uma ré e tanto”.
Para o governo e os economistas oficiais, o mundo caiu. Para nós, apenas confirmam-se as previsões.
Afinal!

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 15 de novembro de 2016

A “equipe dos sonhos” assume o pesadelo: crescimento só em 2017

Semana de 07 a 13 de novembro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Em meio à ressaca do resultado das eleições americanas, a economia brasileira continua a arrastar-se. O “evento improvável”, termo cunhado pelo Banco Central brasileiro, provocou efeitos sobre o mercado cambial e a instituição foi obrigada a intervir no “câmbio flutuante” suspendendo os leilões diários de compra de dólares. As bolsas do mundo caíram, mas o discurso moderado de Trump, após o resultado, diminuiu os maus prognósticos lançados inicialmente.
Enquanto isso, no Brasil proliferam más notícias. As vendas do varejo ampliado, (varejo restrito somado às vendas de veículos e material de construção) caíram 2,7%, entre julho e setembro. No segundo trimestre o indicador já havia caído 1,7%. Usando este indicador como prévia para o quarto trimestre, percebe-se que as festas natalinas deste ano serão bem magras.
A indústria automobilística, que opera com apenas 48% de utilização da capacidade instalada, fechará 2016 com o terceiro ano consecutivo de queda nas vendas. E os efeitos nefastos sobre o mercado de força de trabalho continuam. A Embraer está negociando um acordo de ‘lay-off’ para até 2.000 funcionários. A suspensão do contrato de trabalho será entre o período de dois a cinco meses. A empresa já havia anunciado férias coletivas a partir de outubro e a adesão de 1.470 funcionários ao programa de demissões voluntárias.
Portanto, a realidade se impõe. Em passado recentíssimo, a “equipe econômica dos sonhos” se gabava, sem qualquer modéstia, da sua elevada competência para produzir a recuperação econômica, acontecimento que, segundo eles, a equipe anterior foi incapaz de promover. Em junho, um mês após tomar posse, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, falava otimista sobre a quebra do ritmo de queda do PIB: “Esperava-se 0,8%, e caiu 0,3%. O que já é um indicativo de que este brevíssimo período em que nós estamos governando já produziu algum efeito positivo.”
Em setembro, Meirelles já registrava o retorno do “crescimento” econômico: “Agora, tem uma previsão de crescimento substancial. É importante mencionar que o investimento foi o primeiro setor da atividade econômica que reagiu, porque há um sinal claro de que a economia brasileira está crescendo”. O presidente Temer partilha da visão e diz vislumbrar sinais positivos no horizonte. Segundo ele, os “... indicadores de confiança, tanto no agronegócio como na indústria, cresceram enormemente (...). A confiança está crescendo e, quando a confiança cresce, o emprego começa a aumentar”.
Mas, o passeio do governo pelo Fantástico Mundo de Bobby terminou. Os tons dos discursos vêm mudando. Tornou-se insustentável reproduzir uma linda imagem de um cenário econômico tão cinza. Toda a cúpula do governo participou, esta semana, de um seminário de título “Infraestrutura e Desenvolvimento do Brasil”, promovido pelo Jornal Valor Econômico e patrocinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Lá, ao discursar para empresários, Meirelles afirmou que a retomada está mais lenta do que o esperado. Mas há uma boa notícia, “... devemos crescer em 2017, não será crescimento exuberante, mas será sólido”.
O milagre prometido para 2016, só vai rolar ano que vem. O milagre, que vai acontecer, foi apenas adiado. E vai acontecer assim: vai “... haver uma redução estrutural da taxa de juros, a taxa de investimento e crescimento potencial serão aumentados; a política monetária será mais eficaz, os ciclos monetários e dos negócios serão mais suaves e o emprego, salário, lucro e o bem estar das famílias aumentados.” Estas são as novas previsões na bola de cristal do bruxo a serem confirmadas.
O presidente Michel Temer, acuado, disse que os empregos (que segundo ele, já cresciam em setembro) só tornarão a crescer apenas no segundo semestre do ano que vem. E em tom acusatório, reclamou: “Querem que o governo assuma e, dois meses depois, o céu esteja azul. Não é assim, leva tempo”.
Pois é. Em tempos de crise, quem semeia sonhos, colhe pesadelos.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Depois das eleições a vida continua

Semana de 31 de outubro a 06 de novembro de 2016


Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Enquanto o ministro Meirelles, travestido em camelô de luxo, circula em um “road show” pelo mundo tentando vender o país aos “investidores” estrangeiros, o presidente Temer, em mais um ataque de bondades e indo contra a sua pregação de austeridade, libera alguns bilhões para obras inacabadas e gasta meio milhão em uma festa de homenagem a sambistas, onde anuncia o aumento da verba do ministério da cultura que ele tentou reduzir à condição de secretaria. Isto para não falar da farra com os jatinhos da FAB utilizados por vários ministros para passar o fim de semana em suas casas.
Na outra ponta da sociedade a semana foi marcada pela truculência da polícia de São Paulo, bem preparada pelo atual ministro da justiça, contra o MST, com a invasão da Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP). Outras operações foram executadas contra dois acampamentos do Movimento no Paraná e em Mato Grosso do Sul, com prisões de líderes. Temer cumpre o prometido. Outras violências estão a caminho.
Os estudantes que se cuidem.
Enquanto isso continua a repercutir o resultado das eleições municipais que marcaram a derrota esmagadora do PT, o que já era esperado. É lamentável que este resultado não produza nenhuma reflexão entre os petistas que continuam a desperdiçar forças em defesa dos seus corruptos.
Por seu lado, o governo, interpretando o resultado eleitoral como uma vitória sua, acelera a execução de seus projetos. Pressiona o senado para aprovação da PEC 241, carimbada com novo número, e empurra o projeto de reforma da previdência. Sobre esta, o que se discute é o caráter das mudanças que serão propostas, pois se espera muita reação do setor sindical e dos grupos sociais atingidos. Já se fala em “reforma possível”, diante do temor de esticar a corda além da tolerância da população.
Outras interpretações dos resultados eleitorais acirraram as contradições entre os partidos da base do governo e dentro deles. Já começa a disputa pela próxima eleição do novo presidente da câmara disputado abertamente pelo DEM, centrão e PSDB.
Enquanto ferve o mundo político a economia arrasta-se. Os arautos do governo continuam a proclamar o crescimento das expectativas empresariais favoráveis e a lamentar o comportamento da realidade econômica que teima em contrariar as aspirações. Procura-se então esconder os dados. Apesar disso as notícias circulam. A Tendência Consultoria Integrada estima que o poder de compra dos brasileiros vá encolher 7%, em 2016. Grandes companhias de consumo têm estimativas pessimistas para as vendas e reduzem seus investimentos. Embora comentem sobre as expectativas positivas reconhecem a dura realidade. Para Ronaldo Iabrudi, presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA), “No mundo real, no dia a dia da loja não se percebe essa recuperação”. Para Bernardo Paiva, presidente da Ambev, “houve melhora nos indicadores macroeconômicos no curto prazo, mas o consumo ainda está restrito”. Para Abílio Dinis, presidente do CA da BRF, “o ambiente de negócios mostrou-se mais adverso do que o previsto”. A Via Varejo, com as redes Casas Bahia e Ponto Frio “não registra aumento no fluxo de clientes nas lojas”. No Ponto Frio as vendas caíram 21% entre julho e setembro. Neste período a queda na Ambev foi de 4,1% para as cervejas e 8,1% para os refrigerantes.
Para o quarto trimestre, a FGV prevê um fraco desempenho para a indústria e os serviços. As avaliações dos empresários, para outubro, mostram queda de confiança em 15 dos 19 segmentos pesquisados. O Boletim Focus do BC, melancólico, constata que as expectativas positivas construídas ao longo dos últimos meses ainda não tiveram efeito sobre a atividade econômica.
Com efeito, a divulgação feita pelo IBGE, dos dados de setembro, mostrou um acréscimo na produção industrial de apenas 0,5%, em relação a agosto. No entanto, para o terceiro trimestre o resultado apontou uma queda de 5,5%. Meireles já mudou a conversa e agora fala em recuperação apenas em 2017.
Vamos esperar para ver.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 1 de novembro de 2016

A realidade “insiste” em não se ajustar à teoria econômica

Semana de 24 a 30 de outubro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. Não há sinais de retomada do crescimento mundial. Os Bancos Centrais continuam impotentes diante da crise e crescem os debates acerca da utilização dos gastos públicos em substituição às políticas monetárias usadas recentemente. O FMI, inclusive, já vem se manifestando a favor do uso do instrumento fiscal. Mas, antes mesmo da recuperação, Andreas Dombret, diretor do Bundesbank, Banco Central alemão, afirmou que as bases para uma nova crise já estão colocadas, pois os bancos tenderão a compensar a queda das suas margens de lucro com a concessão de empréstimos no modelo “subprime”.
Na economia interna, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram encerrados 39,28 mil postos de trabalho em setembro ante 95,6 mil em setembro de 2015, o que indica apenas uma desaceleração da piora no mercado de força de trabalho. Dos oito segmentos pesquisados, só dois apresentaram saldos positivos: a indústria de transformação com geração de 9.363 postos e o comércio com 3.940. A construção civil fechou 27.591 postos, os serviços 15.141 e agricultura, 8.198 vagas. Já a Pnad Contínua, apurou que no terceiro trimestre, a taxa de desemprego permaneceu em 11,8%, a mesma registrada no segundo trimestre do ano. A estabilidade em 12 milhões de desempregados reflete a face cruel da crise econômica. A taxa não aumentou segundo o IBGE, porque muitos trabalhadores desistiram de procurar emprego e, portanto, não foram computados como desempregados na estatística. Somando todos os inativos (aposentados, afastados por questões de saúde e os que desistiram de procurar emprego), já são 64,6 milhões de pessoas fora do mercado de força de trabalho. O IBGE reforça que a dinâmica do desemprego começou pela queda de vagas com carteira de trabalho assinada, em seguida vieram as demissões e recentemente registra-se a perda do trabalho por conta própria.
Efetivamente, não há sinais de recuperação. Dados do Tesouro Nacional informam que, no ano passado, os investimentos do governo federal caíram a 0,9% do PIB. Entre janeiro e agosto deste ano, comparado ao mesmo período de 2015 a queda continuou. Segundo o Tesouro, os investimentos totais foram de R$ 34,269 bilhões o que corresponderá a 0,54% do PIB no final de 2016. O programa Minha Casa, Minha Vida, apresentou queda dos investimentos de R$ 9,429 bilhões para R$ 5,347 bilhões. No Ministério da Integração Nacional, os investimentos caíram de R$ 2,473 bilhões para R$ 2,105 bilhões e o Ministério dos Transportes manteve o mesmo nível. Economistas entusiastas da PEC do teto dos gastos e o Ministério do Planejamento acreditam que o nível futuro dos investimentos não será prejudicado, afinal de contas, segundo eles, as condições estão sendo dadas para que o setor privado retome os investimentos.
A ideia por trás desta argumentação é a de o governo deve garantir um ambiente propício. Tal condição geraria a melhora da confiança despertando milagrosamente o “espírito animal” dos agentes econômicos que voltariam a investir e consumir. Mas, os postulados teóricos não se vinculam à realidade. Os indicadores de confiança melhoraram, mas a conjuntura real, não. Mesmo assim, esta visão continua sendo amplamente propagada. Os economistas partidários desta teoria, perplexos, comparam os números gerados pelo modelo econômico e os números apresentados pela realidade, e eles continuam a caminhar na direção oposta. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre- FGV), o “... desempenho da economia real continua surpreendendo negativamente apesar da melhoria das expectativas...”. Por isso, o órgão reviu a projeção do PIB para o terceiro trimestre: -0,6% ao invés de -0,3%. E o PIB de 2016 foi revisto para queda de 3,4%. A projeção anterior era de 3,2%.
Quem em sã consciência investirá com a demanda caindo? Que consumidor gastará mais, com o desemprego em alta? Como o Estado contribuirá para o crescimento, se os gastos serão reduzidos? Mesmo assim, somos convidados a esperar.
Na peleja entre a expectativa e a realidade, a realidade continua ganhando de goleada.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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