quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Feliz Ano Novo?

Semana de 26 de dezembro de 2016 a 01 de janeiro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Finalmente 2016 acabou com o brasileiro comemorando, acanhadamente, as festas natalinas. As vendas nos shoppings, que representam 20% das vendas do varejo no país, caíram 3%. A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping registrou este resultado como o pior desde 2005. O resultado era previsível. Além das turbulências políticas, a crise econômica que parece não ter fim, já anunciava um 2016 sombrio mesmo antes de findar 2015. Foi realmente um ano para esquecer. Presidente afastada por impeachment, presidente interino empossado, ministério corrupto, queda de ministros, tráfico de influência, congresso corrupto, operação Lava Jato, delações premiadas, etc. Ainda foi registrada queda da atividade econômica no primeiro e segundo trimestres, alta no terceiro, comemoração da “equipe dos sonhos”, provável queda no quarto trimestre e finalmente o pesadelo da “equipe dos sonhos”. As previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 caíram de -3% para -3,5%, em um cenário otimista, já que a maioria dos analistas prevê queda próxima a 4%. Para piorar, a maior parte das estimativas indica que o crescimento do PIB de 2017 será muito próximo de 0%. O Boletim Focus do Banco Central (BC) estima uma alta de apenas 0,5% e o governo admitiu 1%.
As promessas do governo para 2016, que já foram adiadas para 2017, não serão cumpridas. Sentimos dizer, mas o crescimento será na melhor das hipóteses, entre zero e 0,5%, os investimentos não se recuperarão e o consumo e o emprego também não. E, quando finalmente a PEC do teto dos gastos públicos for implantada e a economia não se recuperar, veremos derrubado o grande mito que relaciona a crise ao descontrole dos gastos públicos. Sinais de que estas nossas previsões se concretizarão estão sendo dados agora. Segundo sondagem do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre­FGV) após alta de 0,4%, em novembro, o índice de confiança da indústria caiu 2,2%, em dezembro. Este recuo nesse mês é incomum já que é um período de sazonalidade. A pesquisa apurou que o nível de utilização da capacidade instalada do setor atingiu 73,9% na média do ano. 26,1% do nosso parque industrial está parado. E não há sinais de recuperação dos investimentos, pois o setor de bens de capital opera com apenas 65,4% de utilização de sua capacidade. Os responsáveis pela pesquisa afastaram uma possível reação dos investimentos no primeiro trimestre de 2017.
Por outro lado, o mercado das parcerias público-privadas (PPPs) encerra 2016 com forte desaceleração. Até meados de dezembro, apenas nove contratos municipais, foram assinados. As PPPs, consideradas a “menina dos olhos” do atual governo envolvem projetos de infraestrutura como saneamento, mobilidade urbana, construção de hospitais e escolas, modernização da iluminação pública. São, junto às concessões, permissões de serviço público, arrendamento de bens públicos e outros negócios público-privados. É por aí que, segundo o suspeito secretário do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, virá a recuperação econômica. Mas, não há sinais de que isto venha a acontecer.
Em relação ao emprego, predomina no mercado de força de trabalho, o desalento. Trabalhadores estão desistindo de procurar trabalho por causa da dificuldade em encontrar ocupação. A FGV apurou que há uma tendência de estabilidade do desemprego. Em outubro, a taxa permaneceu em 11,8%, em virtude da menor pressão da população economicamente ativa, pois parte dela não está procurando emprego. Mas, mesmo diante do cenário sombrio, o governo se esforça em “espalhar” o otimismo como um pó mágico que produzirá efeitos em 2017. Somado a um pronunciamento do presidente, no Natal, o ano foi encerrado com uma propaganda intitulada “120 dias com coragem para fazer as reformas de que o Brasil precisa”. O documento beira o ridículo quando traz como “reformas” já efetivadas, o prontuário eletrônico de pacientes em unidades de saúde, a prioridade na obtenção de moradias às mães de filhos com microcefalia e lança as reformas do Ensino Médio, da Previdência e Trabalhista como se já estivessem aprovadas.
O Ano Novo, apesar das promessas do governo, provavelmente não será tão feliz assim.
Aguardemos.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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