quinta-feira, 6 de julho de 2017

Crescimento zero em 2017


Semana de 26 de junho a 02 de julho de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Em nossas últimas análises têm sido recorrente, as revisões das projeções para o crescimento do PIB de 2017 e 2018. Mas, quem nos acompanha, sabe que, com a atual crise política, não havia perspectiva de recuperação econômica até o final do ano. A taxa de crescimento do PIB, após recuar 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, será nula em 2017. Para 2018, as previsões têm caído a menos de 2%.
O Bank of America (BofA) Merrill Lynch no Brasil, reduziu suas projeções para a expansão do PIB deste ano de 1% para 0,25% e de 2018, de 3% para 1,5%. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) reviu de 0,4% para 0,2% este ano. E o pior é que, segundo a FGV, se não fosse o setor agropecuário que crescerá 9,4% em 2017, o PIB recuaria 0,3% este ano. A instituição também revisou a estimativa para 2018, de 2,4% para 1,8%. O Banco Fator cortou suas estimativas de 2017 de 1% para 0,4% e a de 2018, de 2,1% para 1,4%. A previsão mais pessimista vem da 4E Consultoria. Para este ano, prevê queda do PIB de 0,1% e em 2018, alta de 1,2%. O elevado endividamento de empresas e famílias, a lenta recuperação do emprego e outros indicadores de conjuntura, reforçam a piora dos cenários para estes dois anos.
A Confederação Nacional da Indústria divulgou o índice de evolução da produção industrial brasileira, que subiu de 41,6 pontos, em abril, para 53,8 pontos, em maio. Mas, segundo nota da CNI: “É cedo para dizer que a recuperação de maio vai se sustentar nos próximos meses.” O indicador do número de empregados na indústria subiu de 47 pontos para 48,1 pontos, entre abril e maio, mas como está abaixo de 50 pontos, este número continua a indicar queda do emprego, embora em menor intensidade. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI), apesar de subir de 63% para 66%, se mantém ainda em nível muito baixo.
Para o mês de junho, segundo a CNI, as expectativas da indústria melhoraram, apesar da crise política. Os indicadores de expectativas de compra de matérias-primas, de demanda e de quantidade exportada foram positivos. Mas, o índice para novos investimentos caiu. Já o (Ibre-FGV) divulgou queda de 2,8 pontos do Índice de Confiança da Indústria (ICI) entre maio e junho. A contração da confiança pôde ser vista tanto no Índice de Expectativas (IE) que caiu 3,6 pontos, quanto no Índice da Situação Atual (ISA), que tombou 2,0 pontos. Para o consumidor, a confiança voltou a piorar em junho. A Fundação Getúlio Vargas apurou que o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) registrou queda de 1,9 pontos, neste mês, e devolveu a alta de maio. O (ISA) registrou a terceira queda consecutiva, o que indica pessimismo mesmo antes da crise política.
O Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC) informou que a situação do setor piorará este ano por meio da revisão da projeção para as vendas internas. Esperava-se inicialmente, mesmo antes da crise política, uma queda de 5% a 7%, mas, a entidade acabou de aumentar o intervalo da queda para entre 5% a 9%. De janeiro a maio, as vendas de cimento caíram 8,9% e a ociosidade do setor é altíssima. Segundo o SNIC, o setor poderá fechar o ano com apenas 47% de uso da capacidade instalada.
Uma pesquisa da Fundação Seade apontou que a taxa de desemprego da região metropolitana de São Paulo subiu de 19,6% em abril, para 19,8% em maio. O contingente de desempregados na Grande SP chegou a 2,119 milhões, em maio.
Conforme mostrado acima, o tormento brasileiro vem em bocados, a cada estatística divulgada. E as revisadas previsões oficiais, que já saíam nas entrelinhas, em meio às declarações da equipe econômica, foram agora admitidas, com alto grau de “enrolation”, pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele informou que vai revisar para baixo a previsão atual, de 0,5%, para o PIB de 2017. Segundo ele: “Será um pouco menor que isso, mas certamente será positivo, estará nesse intervalo entre 0% e 0,5%”. E a sua comparação preferida entre o último trimestre deste ano e o último trimestre de 2016 que era de 2,7% também será revista. Segue o “enrolation” ministerial: “Mantemos ainda projeção de crescimento na margem acima de 2% no último trimestre deste ano versus o último trimestre de 2016. Chegamos num certo momento a 2,7%, não mudamos essa projeção formalmente, mas de fato ela tem um certo viés de baixa, mas não é algo que será abaixo de 2%, será acima. Qualquer coisa entre 2% e 2,7% é o que estamos avaliando.” Apesar destas constatações, a retomada do crescimento está ocorrendo, segundo Meirelles. “Há pontos fundamentais para o estímulo econômico: o mercado de emprego começou a melhorar, o desemprego parou de subir no sentido de que já houve criação positiva. Embora não seja um número forte, mostra alguma recuperação. Há ainda a inflação caindo sem perspectiva de reversão, permitindo à autoridade monetária dar mais estímulo à economia. Portanto, há uma série de fatores econômicos que dão sustentação à trajetória de crescimento que esperamos, mas com algum ajuste.”
Certo viés de baixa? Qualquer coisa entre...? Algum ajuste? A fala confusa do ministro da Fazenda só reforça o cenário de crescimento nulo em 2017.
Ou será 0,01%?


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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