quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A semana da vergonha


Semana de 31 de julho a 06 de agosto de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Mais uma semana dominada pelos acontecimentos políticos. Na quarta-feira, 2, a câmara não aprovou a autorização para o prosseguimento do processo contra o presidente Temer no STF. Temos agora um presidente blindado, embora ilegítimo, contestado por 95% da população, acusado de corrupção, que se mantém no poder apoiado por um Congresso corrupto e desmoralizado e por uma classe empresarial reacionária, incompetente e acostumada a sobreviver à custa de favores do Estado.
Encerrado o caso, são feitas as contas de quanto custou tamanha proeza. Os números variam, mas situam-se na casa dos bilhões. Só a liberação das emendas dos parlamentares, refinanciamento das dívidas dos produtores rurais e os royalties da mineração são estimados em uma perda de R$13,2 bilhões para os cofres públicos. Os ruralistas receberam um presente de uma renúncia do governo de R$7,6 bilhões das dívidas do Funrural, além da liberação da exploração de 300 mil hectares da Floresta do Jamanxim. Os empresários caloteiros também foram premiados com as alterações no Refis que provocaram a perda de outros R$14 bilhões da arrecadação esperada.
O país assistiu ao espetáculo deprimente e desmoralizante da montagem de um balcão de negócios que funcionou até dentro da própria Câmara, para a desesperada compra de votos onde tudo era possível. A casa dos deputados transformou-se em um grande mercado. Cada um tinha seu preço com emendas, nomeações, dinheiro.
Triste espetáculo!
No rescaldo agora assistimos a disputa dos partidos pelos cargos. Demitem-se os traidores e nomeiam-se os fiéis aliados. Os partidos racharam particularmente o PMDB e o PSDB.
E o povo a tudo assistiu calado. Não houve mobilização de massas, panelaços, buzinaços. Apenas pequenas escaramuças. Como entender essa passividade?
A classe empresarial está exultante com a esperança de avanço das “reformas”. Para ela “se for mantida a política econômica não faz diferença quem é o presidente da República.” Não há moral, ética, princípios. É pular na garganta da presa. O Estado por um lado e a classe empresarial, por outro. As tais reformas não representam nada mais que a destruição dos direitos e conquistas do povo trabalhador.
Enquanto isso ocorre, a economia continua a se arrastar. Os sinais de recuperação, embora existam, são fracos e contraditórios. A política econômica da “equipe dos pesadelos” contribui para dificultar essa recuperação.
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o único setor que cresceu no primeiro trimestre foi o setor automotivo e isto se deveu às exportações. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou os dados da Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), para o segundo trimestre. Eles mostraram que a produção industrial cresceu 0,9%, na comparação com o primeiro trimestre. Comparando com o primeiro semestre de 2016, o crescimento no semestre de 2017 foi de 0,5%.
O gerente da coordenação da indústria do IBGE, André Macedo, lamentou que a produção industrial ainda não apresenta recuperação consistente. Dos 24 ramos pesquisados, 12 tiveram queda na produção, em junho, contra maio. Só nove tiveram aumento da produção. Os dados do IBGE mostraram que o crescimento foi puxado pela fabricação de veículos. Este segmento aumentou sua produção em 1,17%, de janeiro a março, e 5,8%, entre abril e junho. Os demais setores alternaram entre altas e baixas. O consumo interno tem sido fraco e as exportações deram o grande empurrão. As compras de máquinas e equipamentos continuam encolhendo o que demonstra que os investimentos estão travados diante da grande capacidade ociosa existente, que em média atinge 25%.
Como de costume os bancos continuam a soltar foguetes. Os três grandes bancos privados Itaú Unibanco, Bradesco e Santander tiveram R$26,3 bilhões de lucros, 17% maior que no primeiro semestre do ano passado, embora os financiamentos tenham caído 0,7%. Culpa da queda da demanda, dizem os bancos.
E continuamos aguardando os novos escândalos que se anunciam.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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