quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Oração pela recuperação econômica


Semana de 18 a 24 de setembro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Os resultados apresentados pela conjuntura econômica têm gerado grande euforia no mercado, entre membros do governo e economistas. O Banco Central reviu a projeção para o crescimento interno deste ano de 0,5% para 0,7%. No Relatório Trimestral de Inflação, destaque para as “surpresas positivas”, como a recuperação do consumo e a redução do nível de desemprego. Segundo o Ministério do Trabalho, o país registrou, em agosto, o quinto mês seguido de criação de empregos. Foram 35.457 postos de trabalho com carteira assinada, com 23.299 no setor de serviços, 10.721 no comércio e 12.873 na indústria da transformação. A geração de empregos no acumulado do ano foi de 163.417 vagas. Mas, nos 12 meses encerrados em agosto, a perda ainda supera a geração no total de 544.658 vagas.
A depender dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a recuperação econômica não se concretizará. Em agosto, o banco liberou R$ 4,7 bilhões em recursos, queda de 29,7% na comparação com julho. Os pedidos da indústria caíram 45% e os da infraestrutura, 41%. O banco atribuiu o cenário à recessão econômica, mas a redefinição dos objetivos do banco com a substituição da TJLP pela TLP, certamente contribuiu para a queda.
A equipe econômica continua confiante e, embora tenha demonstrado entusiasmo com os últimos resultados, preferiu não arriscar e informou que vai manter a previsão de crescimento para este ano em 0,5%. O chefe maior da equipe econômica, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, resolveu pedir uma ajudinha aos céus e, de olho na candidatura à presidência em 2018, lançou um vídeo que circula no WhatsApp e que foi enviado aos pastores da Assembleia de Deus em Madureira, no Rio de Janeiro. Em tom performático, Meirelles declara: “Nunca houve uma recessão como essa. Nossa meta é fazer com que esse País volte a ter emprego. Por isso, preciso contar com a colaboração de vocês. Me sinto à vontade falando com vocês, porque temos os mesmos valores, a lei de Deus e dos homens. Preciso da oração de todos.” E finaliza: “Outubro, mês da oração pela economia.”
E o ministro não está só. A recuperação se resumiu a uma questão de fé. O coordenador de estatísticas do Ministério do Trabalho, Mario Magalhães, ao comentar os últimos resultados do mercado de força de trabalho, afirmou que a melhora do emprego continuará em setembro e outubro, mas que não pode afirmar o mesmo para os últimos meses do ano. E apelou: “Quem tiver uma vela pode acender, quem tiver uma Ave Maria pode rezar. Não dá para dizer que não vai ser negativo. Em nenhum momento poderemos dizer isso”.
Já o presidente Michel Temer embora pareça necessitar de oração, ainda não a solicitou. Denunciado mais uma vez ao Supremo Tribunal Federal, agora pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça, Temer fez discurso chocho na Assembleia da ONU (Organização das Nações Unidas) e não quis comentar os resultados da pesquisa de sua avaliação pessoal e do seu governo divulgados pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) em parceria com a MDA Pesquisa. Comparada a fevereiro, data da pesquisa anterior, a aprovação do governo caiu de 10,3% para 3,4%, a desaprovação cresceu de 44,1% para 75,6% e a avaliação pessoal do presidente caiu de 24,4% para 10,1%.
Para as eleições de 2018, o fantasma de Lula continua a assombrar o Planalto. Segundo a pesquisa CNT/MDA, o petista lidera em todos os cenários e simulações de primeiro e segundo turno, acompanhado em segundo lugar pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). No cenário principal, em primeiro turno, Lula venceria com 32% das intenções de voto e Bolsonaro ficaria com 19,4%. Na sequência teríamos Marina com 11,4%, Alckmin com 8,7% e Ciro Gomes com 4,6%. No segundo turno, Lula venceria com 40,5% ante 28,5% de Bolsonaro.
Enquanto o cenário político domina as manchetes jornalísticas, novas estatísticas sobre o aumento da desigualdade de renda chamam a atenção. Segundo o World Wealth and Income Database (WID.world), a renda total da população brasileira cresceu 7,2% entre 2007 e 2015 mas, 60,5% desse aumento foi recebido pelos 10% mais ricos. Os 50% mais pobres auferiram apenas 19,1% desse crescimento. Ou seja, enquanto a renda aumentava no período, os pobres ficaram menos pobres, enquanto os ricos tornaram-se mais ricos.
Pelo jeito não há oração que barre a distribuição desigual da riqueza econômica.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Além do fundo do poço


Semana de 11 a 17 de setembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
As tendências de evolução da economia, que temos apontado nas últimas análises, continuam se mantendo. Tudo indica que ultrapassamos o fundo do poço e foi iniciada uma recuperação lenta e penosa. Se a “equipe dos pesadelos” comandada pelo banqueiro Henrique Meirelles não atrapalhar com sua política econômica de austeridade o processo, embora contraditório, deve manter-se.
Os dados confirmam nossas observações. Em nove meses as montadoras criaram quatro mil vagas. A fábrica da General Motors (GM), em Gravataí (RS), pretende criar mais 700 empregos e a MAN (RJ), 300. Com os novos empregos a GM iniciará o 3º turno, passando a operar 24 horas. Na indústria automobilista como um todo, os trabalhadores em layoff e no Programa Seguro Desemprego foram reduzidos à metade, caindo de 12,2 mil, para 6,3 mil, entre julho e agosto.
O Sindipeças, sindicado dos Produtores de Autopeças, está revendo suas estimativas de crescimento neste ano, de 10% para 20%. A ociosidade, que era de 50%, caiu para 34% no início do semestre.
O Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC), na ata da reunião em que reduziu a taxa Selic para 8,25%, assinalou que “já são perceptíveis os primeiros sinais dessa recuperação”. O IBC-Br, Índice antecedente do BC, que é uma estimativa do PIB, apontou, em julho, um crescimento de 0,41%. O BC corrigiu a estimativa de junho, de 0,50% para 0,55%. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV reconheceu que “O PIB está vindo com velocidade um pouco mais forte do que estávamos esperando”. A FGV estima, para 2017, um crescimento do PIB de 0,7%.
Estes dados positivos têm como base o estímulo da agroindústria graças à safra recorde de grãos. As exportações subiram 18,5%, em agosto, em relação a agosto de 2016 e as importações caíram 4% aumentando o saldo da balança comercial.
Outro indicador antecedente, as vendas de papelão, subiram 8,05%, em agosto, em relação ao mesmo mês de 2016 e 7,66% em relação a julho deste ano. Os números não são muito significativos, pois, ao ser feito o ajuste sazonal, os 7,66% caem para 0,61%, e mesmo este número pode significar recomposição de estoques, de acordo com Jairo Lorezatto, diretor da Rigesa, um dos maiores produtores do setor.
Outro dado desalentador é o recuo dos serviços. O volume caiu 0,8%, em julho sobre junho, e 3,2% em relação ao mesmo mês de 2016. E isto graças ao consumo das famílias, pois em relação às empresas os serviços de informação caíram -0,8%, os profissionais e administrativos -2% e os de transportes -0,9%.
Mais um dado negativo é fornecido pela FGV. O indicador de intenção de investimento da indústria elaborado pela entidade caiu 2,8 pontos, no terceiro trimestre, em relação ao segundo. Cerca de 63% das empresas preveem a estabilidade dos investimentos. Ainda no campo negativo, o número de famílias endividadas em São Paulo cresceu 2,8% chegando a 53,4% do total, segundo a Federal do Comércio de Bens e Serviços do Estado de São Paulo (Fecomercio SP).
Estes dados mostram a delicadeza e debilidade da recuperação. Apesar disso são suficientes para o presidente Temer, tentando driblar as denúncias de corrupção que o atingem, trombetear pelos quatro cantos o sucesso de sua administração. E descaradamente acrescentar como obra do seu governo a queda dos juros (ação do BC) e da inflação e até a super safra agrícola (resultado das condições climáticas favoráveis), bem como os saldos da balança comercial (resultado do comércio mundial). Claro que a reversão do ciclo econômico que estamos vivendo, e é resultado das leis objetivas da economia, é atribuída às medidas tomadas pelo seu corrupto ministério. Mais corrupto que na semana passada diante da denúncia do ministro da agricultura Blairo Maggi em consequência da delação do ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa, também do PMDB.
O próprio presidente Temer foi atingido por uma nova denúncia durante a semana e certamente pegará na caneta e no cofre para conseguir o seu engavetamento pela Câmara.
É isso que nos espera além do fundo do poço.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A Criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social


Semana de 04 a 10 de setembro de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

           
Criado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, como o próprio nome já indica, surgiu com o propósito de acelerar o processo de desenvolvimento da economia brasileira. Acelerar o desenvolvimento, por sua vez, necessariamente implica ir além das possibilidades criadas pelo mercado, ou seja, criar condições mais favoráveis para a acumulação do capital nacional do que as que se criariam espontaneamente, pela livre iniciativa. Medidas recentes tomadas pelo governo Temer, contudo, atuarão no sentido de privar o banco do seu objetivo fundamental. A instituição certamente permanecerá nacional, mas dificilmente conseguirá promover o desenvolvimento.
A primeira dessas medidas, que entrará em vigor em janeiro de 2018, foi a extinção da Taxa de Juros de Longo Prazo, TJLP (atual taxa de referência para os empréstimos concedidos pelo banco), para substituí-la pela TLP, a Taxa de Longo Prazo.
Definida trimestralmente pelo Conselho Monetário Nacional, CMN, a TJLP era calculada através da adição de um pequeno prêmio de risco à inflação do período. Com isso, o BNDES oferecia ao capital nacional uma fonte de financiamento bem mais barata do que a que poderia ser oferecida pelo mercado. Certamente que, para fazê-lo, o Estado brasileiro desembolsava recursos, mas é o que se espera na realização de políticas promotoras do desenvolvimento. Já a TLP, deve partir do patamar atual da TJLP, convergindo para uma nova taxa. Essa nova taxa será calculada somando-se a remuneração da Nota do Tesouro Nacional Série B de cinco anos, NTN-B 5 anos, à inflação do período. Com isso as condições de oferta de crédito do banco serão colocadas num patamar muito semelhante ao dos bancos privados, fazendo com que sua ação, do ponto de vista da aceleração do desenvolvimento, seja basicamente inócua.
Para Júlio Gomes de Almeida, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultor do Instituto para o Desenvolvimento Industrial, Iedi, com a TLP “o BNDES tende à extinção”. Já Sérgio Lazzarini, professor do Insper, acredita que a instituição mudará seu perfil, deixando de ser uma instituição financiadora de projetos, para “passar a operar com mecanismos de garantias de crédito”.
Para agravar a situação, o governo vem utilizando o caixa da instituição para cobrir o enorme déficit do setor público. Nos próximos meses, por exemplo, o BNDES deverá realizar uma devolução antecipada ao Tesouro que poderá chegar a R$130 bilhões, estando atualmente com um caixa de ordem de R$176 bilhões, de acordo com o seu balanço financeiro. Descapitalizado, o banco vem perdendo participação no financiamento da Formação Bruta de Capital Fixo, FBCF, da economia brasileira. Nos quatro trimestres encerrados em junho, essa participação caiu ao menor nível desde 2004, ficando em 5,5% do total da FBCF, um número muito baixo se comparado ao pico da instituição, que ocorreu em 2009 e alcançou uma participação de 18%. Esse espaço deixado pelo BNDES, por sua vez, foi ocupado pelo capital estrangeiro. Esses capitais, que respondiam por 11,3% dos financiamentos da FBCF, em 2009, passaram a realizar 29,1% desses financiamentos nos quatro trimestres encerrados em junho.
Enquanto essas medidas vão sendo tomadas, a recuperação econômica do país permanece incerta. Após crescer 1% no primeiro trimestre desse ano, o Brasil cresceu apenas 0,3% no segundo. É oportuno destacar que tal crescimento no segundo semestre só foi possível graças à elevação do consumo das famílias, que contaram com o estímulo de R$44 bilhões em saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, FGTS, fato que não se repetirá na mesma escala. Nessa conjuntura de recuperação econômica errática, o enfraquecimento do BNDES representará a retirada de um dos catalisadores do crescimento fato que, certamente, não deixará de cobrar o seu pedágio e poderá retardar a retomada da economia. Todos sabem que a decisão de investir só é tomada pelos empresários se há boas expectativas de lucro no horizonte.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O magro PIB do segundo trimestre


Semana de 28 de agosto a 03 de setembro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, na última sexta-feira, 1º de setembro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgou o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre. O indicador cresceu 0,2% no segundo trimestre do ano, quando comparado ao primeiro trimestre deste ano, e 0,3% quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Em nota à imprensa, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, festejou o resultado, já que havia declarado que esperava uma queda trimestral.
Mas, há alguns pontos relacionados ao resultado do PIB do segundo trimestre que devemos considerar.
Primeiro, após dois anos consecutivos de queda, este é o segundo resultado positivo do PIB, pois no primeiro trimestre, o indicador cresceu 1% em virtude da safra recorde na agricultura. A coordenadora do estudo foi muito mais comedida do que a equipe econômica ao comentar os resultados. Segundo Rebeca Palis, do IBGE, ainda não é possível afirmar que a economia brasileira está em recuperação. Afinal, o crescimento é sempre bem vindo, mas um crescimento de 1% no primeiro trimestre que se reduz para 0,2% no segundo trimestre significa decrescer!
Segundo, mais importante que o número fechado, é a desagregação deste. Por setores, o resultado se apresentou assim: a agropecuária cresceu 0%, a indústria teve queda de 0,5% e os serviços cresceram 0,6%. O efeito da safra recorde na agricultura foi dissipado. Restaurado o “padrão normal”, a indústria continua apresentando quedas e pressionando o resultado para baixo. Tal constatação é reforçada pela Formação Bruta de Capital Fixo que caiu 6,5%, pela 13ª vez consecutiva e a taxa de investimento que continua baixa, em 15,5% do PIB.
Terceiro, com este resultado, o PIB fecha o primeiro semestre do ano nulo se comparado ao mesmo semestre do ano anterior e, no acumulado nos quatro últimos trimestres do ano, comparados aos quatro trimestres imediatamente anteriores, o PIB foi negativo em 1,4%.
E, por último, segundo o IBGE, se não fosse o crescimento do consumo das famílias de 0% para 1,4% entre os trimestres, não haveria crescimento. Justamente o indicador condenado pela atual equipe econômica ao bombardear a gestão de Dilma Roussef por apostar no crescimento pelo consumo.
Segundo Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, só restou o mea culpa. Disse ele, que, ao contrário do previsto, a retomada da atividade não está ocorrendo pelo investimento e sim pelo consumo. De parte do ministro Henrique Meirelles, nenhuma modéstia. Em sua nota à imprensa, após sair o resultado do PIB, ele reforçou: “As medidas que adotamos para recolocar o Brasil no caminho do crescimento sustentável começam a mostrar seus efeitos. (...)” E se apressou em prometer: “Esta retomada da atividade irá se fortalecer nos próximos meses. Entraremos em 2018 num ritmo forte e constante. Continuaremos a trabalhar para garantir que essa expansão seja longa e duradoura, gerando emprego e renda para os brasileiros”.
O ministro contraria o próprio órgão oficial de pesquisa e fala em retomada da atividade. Infelizmente para a equipe econômica, os primeiros números divulgados para o terceiro trimestre não são promissores. E 2018 com ritmo forte e constante parece cada vez mais distante. Embora o desemprego tenha caído entre junho e julho, de 13% para 12,8%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), foi por meio do avanço das ocupações precárias. De 1,4 milhão de vagas criadas, 819 mil representaram empregos sem carteira assinada e trabalho por conta própria. Outro fato que pode reverter a alta do consumo reside na queda da confiança do comércio e também do consumidor, em agosto, apuradas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, segundo levantamento encomendado pelo Jornal Valor Econômico, o fôlego através do consumo pode ser abortado, pois em 15,2 milhões de domicílios no Brasil, ninguém trabalha, ou seja, em um a cada cinco lares, não há residentes ocupados.
Mais uma vez, nada a comemorar...


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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