segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O magro PIB do segundo trimestre


Semana de 28 de agosto a 03 de setembro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, na última sexta-feira, 1º de setembro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgou o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre. O indicador cresceu 0,2% no segundo trimestre do ano, quando comparado ao primeiro trimestre deste ano, e 0,3% quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Em nota à imprensa, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, festejou o resultado, já que havia declarado que esperava uma queda trimestral.
Mas, há alguns pontos relacionados ao resultado do PIB do segundo trimestre que devemos considerar.
Primeiro, após dois anos consecutivos de queda, este é o segundo resultado positivo do PIB, pois no primeiro trimestre, o indicador cresceu 1% em virtude da safra recorde na agricultura. A coordenadora do estudo foi muito mais comedida do que a equipe econômica ao comentar os resultados. Segundo Rebeca Palis, do IBGE, ainda não é possível afirmar que a economia brasileira está em recuperação. Afinal, o crescimento é sempre bem vindo, mas um crescimento de 1% no primeiro trimestre que se reduz para 0,2% no segundo trimestre significa decrescer!
Segundo, mais importante que o número fechado, é a desagregação deste. Por setores, o resultado se apresentou assim: a agropecuária cresceu 0%, a indústria teve queda de 0,5% e os serviços cresceram 0,6%. O efeito da safra recorde na agricultura foi dissipado. Restaurado o “padrão normal”, a indústria continua apresentando quedas e pressionando o resultado para baixo. Tal constatação é reforçada pela Formação Bruta de Capital Fixo que caiu 6,5%, pela 13ª vez consecutiva e a taxa de investimento que continua baixa, em 15,5% do PIB.
Terceiro, com este resultado, o PIB fecha o primeiro semestre do ano nulo se comparado ao mesmo semestre do ano anterior e, no acumulado nos quatro últimos trimestres do ano, comparados aos quatro trimestres imediatamente anteriores, o PIB foi negativo em 1,4%.
E, por último, segundo o IBGE, se não fosse o crescimento do consumo das famílias de 0% para 1,4% entre os trimestres, não haveria crescimento. Justamente o indicador condenado pela atual equipe econômica ao bombardear a gestão de Dilma Roussef por apostar no crescimento pelo consumo.
Segundo Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, só restou o mea culpa. Disse ele, que, ao contrário do previsto, a retomada da atividade não está ocorrendo pelo investimento e sim pelo consumo. De parte do ministro Henrique Meirelles, nenhuma modéstia. Em sua nota à imprensa, após sair o resultado do PIB, ele reforçou: “As medidas que adotamos para recolocar o Brasil no caminho do crescimento sustentável começam a mostrar seus efeitos. (...)” E se apressou em prometer: “Esta retomada da atividade irá se fortalecer nos próximos meses. Entraremos em 2018 num ritmo forte e constante. Continuaremos a trabalhar para garantir que essa expansão seja longa e duradoura, gerando emprego e renda para os brasileiros”.
O ministro contraria o próprio órgão oficial de pesquisa e fala em retomada da atividade. Infelizmente para a equipe econômica, os primeiros números divulgados para o terceiro trimestre não são promissores. E 2018 com ritmo forte e constante parece cada vez mais distante. Embora o desemprego tenha caído entre junho e julho, de 13% para 12,8%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), foi por meio do avanço das ocupações precárias. De 1,4 milhão de vagas criadas, 819 mil representaram empregos sem carteira assinada e trabalho por conta própria. Outro fato que pode reverter a alta do consumo reside na queda da confiança do comércio e também do consumidor, em agosto, apuradas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, segundo levantamento encomendado pelo Jornal Valor Econômico, o fôlego através do consumo pode ser abortado, pois em 15,2 milhões de domicílios no Brasil, ninguém trabalha, ou seja, em um a cada cinco lares, não há residentes ocupados.
Mais uma vez, nada a comemorar...


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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