quarta-feira, 25 de outubro de 2017

PIB cai, trabalho escravo sobe


Semana de 16 a 22 de outubro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Dois acontecimentos políticos animaram a semana: a aprovação do relatório pedindo a rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer e a publicação da portaria do trabalho escravo.
A aprovação do relatório do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG), que se manteve como relator graças a uma manobra que permitiu que ele ocupasse uma vaga do PSC, já que o seu partido, o PSDB, o proibiu de relatar o processo. O pedido de arquivamento foi aprovado por 39 votos contra 26, placar mais apertado que o do processo anterior. Agora o plenário da Câmara apreciará o relatório e, certamente, engavetará o processo com a ajuda de mais de uma dezena de bilhões de reais gastos pelo governo na compra de votos, além de nomeações, ameaças, perdão de dívidas e mesmo com a liberação do trabalho escravo, para atender a poderosa bancada ruralista.
O segundo acontecimento foi justamente este. Para ganhar os votos dos ruralistas Temer assinou a portaria 1129 do Ministério do Trabalho, introduzindo alterações no conceito de “trabalho escravo”, mudando a interpretação do artigo 149 do Código Penal que rege a matéria. Além disso, concentrou nas mãos do Ministro do Trabalho o poder de publicar ou não os nomes dos infratores na “lista suja” do trabalho escravo.
A repercussão foi imensa provocando protestos da procuradora-geral Raquel Dodge, que pediu uma imediata revogação da portaria, e de procuradores, juízes, entidades civis, personalidades, artistas, cantores e até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O escândalo teve também repercussão internacional com protestos da Organização Internacional do Trabalho, da ONU e da OEA.
Do lado da economia a situação também não anda muito satisfatória. O Banco Central (BC) divulgou o seu indicador IBC-Br, que representa uma prévia do crescimento do PIB. Para tristeza do governo, que precisa desesperadamente de bons resultados, o indicador apontou uma queda de 0,3% entre julho e agosto, interrompendo uma sequência de números positivos em junho e julho. Comentaristas nervosos apressaram-se a afirmar que isto não é uma reversão de tendência e que em setembro tudo vai melhorar. Os dados do BC já mostravam que o Pesquisa Industrial Mensal (PIM) recuou 0,8%, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) caiu 1% e a Pesquisa Mensal do Comercio (PMC) sofreu uma retração de 0,5%. A utilização da capacidade instalada na indústria caiu de 74,1% para 73,9% e a expedição de caixas recuou 0,7%.
Preocupado, o governo convocou o economista José Marcio Camargo para uma reunião no palácio do Jaburu, juntamente com o ministro Moreira Franco. José Marcio pintou um quadro cor de rosa afirmando que no próximo ano o país estará “vivendo uma revolução” e em um ambiente econômico jamais visto na sua história. Apontou como causa para essa maravilha a reforma trabalhista, a terceirização, a redução dos salários e dos “custos do trabalho”, as taxas de juros e inflação baixas, etc. Claro que não deixou de referir a necessidade da Reforma da Previdência para combater o rombo que, segundo o relatório da CPI da Previdência, concluído agora e apresentado pelo seu relator, o senador Helio José (PROS-DF), não existe. O senador afirmou ainda que “está havendo manipulação de dados por parte do governo para que seja aprovada a reforma da Previdência”.
Menos otimistas que José Marcio, Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento (Iedi) e Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, pensam que a economia só se recupera a partir de 2019 com a retomada dos investimentos na produção industrial. Até lá “estamos patinando e longe de uma plena recuperação”. Para o Professor da UFRJ David Kupfer “a produção industrial neste ano mais oscila que se recupera”. O FMI, ao mesmo tempo em que proclama as boas novas da recuperação da economia mundial, alerta os países em desenvolvimento que a hora é agora, ou perdem o bonde. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) é mais direta e constata que o Brasil transformou-se em um país dependente da venda de matérias primas que correspondem a 63% de suas exportações. A recuperação está mais difícil do que parece.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog