quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A Crise no Brasil e o Mercado Financeiro


Semana de 05 a 12 de novembro de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
           
Em Economia, uma previsão sempre deve ser encarada como a melhor aposta baseada em convicções teóricas particulares. Ou seja, mesmo que a teoria seja a melhor disponível e a análise esteja impecável, ainda assim é possível que as coisas tomem um rumo distinto do previsto. Dito isto, podemos passar ao assunto proposto: as oportunidades de obter ganhos financeiros na atual etapa do ciclo econômico, a depressão. Ademais, tenha-se em mente que aqui trataremos apenas da parcela do portfólio composta de ativos de rendimento variável.
Há algum tempo, antecipamos em nossas análises que a retomada da economia brasileira se dará com base no setor exportador, e isso vem se confirmando. As exportações do agronegócio, por exemplo, renderam US$ 8 bilhões em outubro deste ano, um crescimento de 39,9% frente a outubro de 2016. No acumulado do ano, o setor já obteve um superávit comercial de US$70,18 bilhões. Os demais setores da economia, por sua vez, já respondem aos estímulos recebidos. O IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central do Brasil (BCB), mostrou uma recuperação disseminada por todo o país, com crescimento em quatro das cinco regiões brasileiras, no trimestre findado em agosto: Centro-Oeste (2,1%), Norte (1,7%), Sudeste (0,9%) e Sul (0,1%). É, portanto, seguro dizer que, tudo mais constante, em menos de um ano o país deixará a fase de depressão e passará à fase de reanimação do ciclo econômico.
Com isso, espera-se, daqui em diante, uma valorização persistente da bolsa de valores de São Paulo, movimento que se repete a cada ciclo econômico. Ao passo que, em 04/07/1994, o índice de ações Ibovespa marcava 3.581 pontos, em 08/07/1997, auge do ciclo que se encerrou neste ano, esse mesmo índice chegou a 13.617 pontos. Em seguida, estando em um patamar de 10.000 pontos na fase de depressão do ciclo seguinte, no final de 2002, passa para 73.517 pontos em 20/05/2008. Ou seja, a despeito de parecer ter movimento errático, quando o horizonte temporal são dias, qualquer ativo que represente o conjunto das ações negociadas na BM&FBovespa oferecerá uma rentabilidade elevada e estável a longo prazo.
Se considerarmos que investir na bolsa propriamente dita seria o equivalente ao portfólio do mercado dos modelos de finanças corporativas, qualquer outro portfólio de ações representaria uma redução de diversificação e, portanto, elevação do risco. Contudo, esse aumento de risco poderia ser compensado com uma análise mais minuciosa da situação econômica. Com base nisso, queremos fazer dois alertas.
O primeiro é que esse não parece ser o melhor momento para tentar obter ganhos no mercado de câmbio. A despeito das retomadas de economias emergentes serem caracterizadas por desvalorizações de suas moedas frente ao dólar, outros fatores atuarão no sentido contrário. Em primeiro lugar, com a recuperação da economia estadunidense, o Federal Reserve não só aumentou a taxa básica de juros, como já antecipa mais três elevações em 2018. Além disso, o presidente Donald Trump prepara uma redução de impostos pagos por empresas instaladas no país, o que tornará menos atrativo o investimento estrangeiro direto em países emergentes. Assim, com essas medidas atraindo dólares de volta para o mercado estadunidense, fica difícil medir em que direção se moverá a oferta dessa moeda aqui no Brasil.
Por fim, é oportuno assinalar que grandes empresas brasileiras, com balanços sólidos, mas que tiveram queda no valor de mercado em função de escândalos de corrupção oferecem uma boa oportunidade de obtenção de ganhos. Isso porque elas já trabalham na recuperação da sua imagem e não apenas se utilizando de ações de marketing. A Odebrecht, por exemplo, contratou o advogado Michael Munro, com mais de 25 anos de experiência na implementação de sistemas anticorrupção, como vice-presidente de compliance em maio de 2016, para aprimorar medidas contra a corrupção que já estavam sendo tomadas. Diante disto, dado que empresas como essas, são grandes atores na economia nacional e, por isso, tem uma lucratividade estável, a despeito do seu valor de mercado na bolsa, é de se esperar uma elevação do valor das suas ações, conforme elas consigam atingir seus objetivos de recuperação de imagem.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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