quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Não há recuperação sólida e muito menos rombo da Previdência


Semana de 23 a 29 de outubro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Como já era esperado, a Câmara dos Deputados rejeitou, em 25 de outubro, o pedido da Procuradoria-Geral da República, para investigar o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha da Casa Civil e Moreira Franco da Secretaria Geral da República. O parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) que recomendou a inadmissibilidade das investigações, recebeu 251 votos a favor, 233 votos contrários e 2 abstenções. Para manter sua sobrevivência, o governo montou, de novo, um balcão de negócios, que, custou ao país, somando-se às despesas para barrar a primeira denúncia, R$ 25,3 bilhões, segundo cálculos feitos pelo Jornal Valor Econômico. Agora, de forma desesperada, o governo tenta recuperar o tempo perdido com as negociatas.
Mesmo após o tombo da atividade, em agosto, sem explicação até agora, os analistas insistem que estamos em recuperação. Perspectivas favoráveis como juros em queda, inflação baixa e melhora tímida do emprego, foram apontadas pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (Codace/FGV) como razões para decretar o fim da recessão iniciada no segundo trimestre de 2014. Para o Codace/FGV o conceito de recessão significa que a atividade econômica desacelerou em dois trimestres consecutivos, com retração e queda generalizada da maioria dos indicadores econômicos. Por isso, o Codace concluiu que a recessão acabou no quarto trimestre de 2016. No entanto, a recuperação econômica será “gradual, mas sólida”.
Para os mais cautelosos as referências à recuperação vêm sempre acompanhadas de adjetivos como “lenta”, “demorada”, “inconsistente”... Cautela parece ser a melhor opção do momento, pois os dados da atividade econômica continuam dúbios. Embora a Klabin, maior fabricante brasileira de papéis para embalagens e caixas de papelão ondulado, tenha observado melhoras na produção do terceiro trimestre, a indústria de papelão ondulado, registrou em setembro, queda de 0,71% em suas vendas.
Os indicadores relativos à confiança reforçam a crença de que o quarto trimestre começará melhor que os demais. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo apurou alta da Intenção de Consumo das Famílias de 1,4% entre setembro e outubro. Já o Índice de Confiança da Indústria, apurado pela FGV, subiu 1,9% em relação ao resultado de setembro. O Índice da Situação Atual (ISA) aumentou 4,4 pontos e o Índice de Expectativas (IE) caiu 0,4 pontos. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria (Nuci) se elevou em 0,7 pontos, para 74,6%, número que expõe a alta capacidade ociosa da indústria. Mas, a solidez da recuperação econômica só poderá ser concretizada quando a indústria absorver essa elevada ociosidade e passar a realizar novos investimentos.
Abstraindo estes elementos da realidade, a equipe econômica continua a insistir que a recuperação está atrelada à aprovação das reformas, em especial a Reforma da Previdência. Enquanto a PEC da Reforma da Previdência aguarda votação na Câmara dos Deputados, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi constituída no Senado, em abril deste ano, em meio às discussões sobre a proposta. O relator da Comissão, senador Hélio José (Pros-DF), apresentou esta semana, um parecer de 253 páginas onde afirma que o déficit da Previdência Social não existe. “Tecnicamente, é possível afirmar com convicção que inexiste déficit da Previdência Social ou da Seguridade Social. Nesta ótica, são absolutamente imprecisos, inconsistentes e alarmistas os argumentos reunidos pelo governo federal sobre a contabilidade da Previdência Social, cujo objetivo é aprovação da PEC 287”, disse ele. O senador frisa ainda que, para justificar a necessidade da reforma, o governo usa uma taxa de envelhecimento da população exagerada, crescimento do PIB abaixo da média histórica nacional e um déficit que é gerado pelas desonerações, isenções, desvinculações de receitas próprias e vinculadas ao sistema de seguridade social. Os recursos destinados à proteção social estão sendo reduzidos propositadamente e portando o déficit é artificial.
Esta conclusão confirma os resultados apresentados por vários estudiosos do tema e como já desconfiávamos, o governo usa argumentos falaciosos e números manipulados para convencer a população de que este é um purgante necessário, que deve ser administrado o mais rápido possível, se quisermos um brilhante futuro.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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