quarta-feira, 11 de julho de 2018

As promessas de um salvador...



                                                     *Charge de Latuff, clique para acessar o perfil do autor.

Semana de 02 a 08 de julho de 2018

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Ainda em 2015, o então vice-presidente do Brasil, Michel Temer, lançou a chamada “Ponte para o futuro”, um documento que apresentava as medidas que ele tomaria, caso fosse o presidente da República. Em seu primeiro ponto, era prometido “construir uma trajetória de equilíbrio fiscal duradouro, com superávit operacional e a redução progressiva do endividamento público”.
Fracasso! Além de não realizar tal feito, uma das formas pelas quais o atual governo busca realizar o ajuste fiscal prejudica a arrecadação e a produção da riqueza futura: o governo está obrigando o principal banco de financiamento de investimentos de longo prazo da economia brasileira, o BNDES, a devolver dinheiro ao Tesouro Nacional para que o governo possa reduzir a dívida bruta do setor público. O total fornecido pelo Tesouro ao caixa do BNDES, em dezembro de 2015, era de R$ 523,7 bi. Já em dezembro de 2016 o valor foi de R$ 439,8 bi, em dezembro de 2017, de R$ 415,9 bi e já estava em R$ 391,9 bi, em março de 2018. Sem esse dinheiro, como a economia irá crescer?
Outro ponto prometido na “Ponte” foi: “executar uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem necessárias, concessões amplas em todas as áreas de logística e infraestrutura, parcerias para complementar a oferta de serviços públicos e retorno a regime anterior de concessões na área de petróleo, dando-se à Petrobras o direito de preferência”.
Este é o ponto mais quente da conjuntura atual. Numa tentativa insana (para não dizer outra coisa desaforada) de cumprir tal promessa, o governo Temer está cometendo um crime de lesa-pátria.
Há 20 anos que a Petrobrás não detém mais o monopólio legal sobre o petróleo e seus derivados (apesar de, na prática, ocupar a esmagadora maioria do mercado). Então, porque outras empresas não entram no nosso mercado? Além de ser uma estatal, que lhe dá a garantia de ter um Estado para salvá-la em momentos de dificuldade e põe um país inteiro como acionista, a Petrobrás tem competitividade para produzir com baixo custo, mesmo em comparação com o mercado mundial. Isto faz com que os preços internos possam ser praticados sem necessariamente seguirmos a cotação internacional do petróleo e, mesmo assim, a empresa obter lucro. Dentre outros fatores, tudo isto “amedronta” outras companhias que queiram entrar no mercado nacional, pois, caso os preços internos sejam baseados na estrutura de custos da estatal, elas não terão rentabilidade suficiente para compensar seus investimentos.
De forma genial, qual foi a saída encontrada pelo governo, tomada a partir de julho de 2017? Elevar os preços internos para que o setor se torne artificialmente rentável para as empresas estrangeiras! Além de alinhar os preços nacionais com a cotação internacional do petróleo e com o dólar, o então presidente da estatal, Pedro Parente (do capeta), resolveu interromper 30% do refino de petróleo e vender parte das refinarias da Petrobrás. Com a demanda mantendo-se constante (ou elevando-se) e a oferta se reduzindo, os preços subiriam. Com a ajuda da nova política de preços adotada, a elevação foi mais forte ainda. Assim, o mercado nacional se tornou lucrativo para as empresas estrangeiras.
O único problema foi que o governo se “esqueceu de combinar com os russos”, ou melhor com os caminhoneiros, que conduziram o país a uma greve geral forçada (que, por exemplo, fez com que a produção industrial caísse 10,9% e os investimentos 11,3%, em maio). Além deles, nós, o restante dos brasileiros, pagamos com boa parte da nossa renda a elevação nos custos com transporte para que as pobres coitadas empresas do naipe da Shell, Total, Chevron (Texaco) e Exxon Mobil pudessem atuar, com lucro, aqui no país.
Sem dúvidas, por esses e outros motivos é que a economia nacional patina: dos 3 milhões de vagas de trabalho prometidas por Temer para 2018, apenas 381,2 mil vagas formais foram criadas nos cinco primeiros meses do ano. Por outro lado, até maio, já foram encerradas 351 mil vagas com carteira assinada. A taxa de desemprego continua em dois dígitos (12,9%).
Fica então a pergunta: o salvador está salvando quem?


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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