quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Meirelles promete crescimento econômico para o primeiro trimestre

Semana de 09 a 15 de janeiro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho[i]

O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou o corte de 0,75% na taxa Selic. Os juros no país caíram para 13%. Expectativas de inflação “ancoradas” e atividade econômica se comportando aquém do esperado, foram as justificativas para o corte. Como a maioria dos analistas esperava um corte de 0,5%, a decisão foi recebida com euforia. O presidente Michel Temer, por exemplo, fingindo respeitar a tal “independência” do Banco Central, sem cerimônias, meteu o seu bedelho político elogiando a decisão. E afirmou que, continuando a tendência de queda da inflação, a taxa deve cair mais.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado da inflação para 2016. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano em 6,29%. Ainda houve uma pressão forte dos alimentos que é o grupo com o maior peso no cálculo do índice. As despesas com alimentação aumentaram 8,62%, em 2016. Segundo o IBGE, dos 373 itens pesquisados, 120 apresentaram aumento de preços maior que 10%. O resultado foi melhor do que o previsto. No início de 2016, a previsão era de aumento em torno de 7%, mas a piora da crise interna certamente contribuiu para a redução da inflação ao longo do ano.
Ao elogiar a atitude do Banco Central, o presidente Temer disse acreditar que com a queda da inflação e dos juros, as condições para a retomada do crescimento econômico e criação de novos empregos estão dadas. Dadas, talvez. Concretizadas não. Ao confrontar o discurso com a realidade econômica, somos novamente obrigados a verificar que, segundo os dados da Serasa Experian o movimento dos consumidores nas lojas, em todo o país, caiu 6,6%, no ano de 2016, comparado a 2015. O segmento de veículos, motos e peças, registrou queda de 13%; nas lojas de tecidos, vestuário, calçados e acessórios, a queda foi de 12,6%; as vendas de material de construção caíram 5,4%; nos supermercados, hipermercados, alimentos e bebidas a queda foi de 7% e apenas o segmento de combustíveis apresentou alta de 1,8%. Este é o pior resultado do varejo brasileiro nos últimos 16 anos.
A crise afeta também a saúde financeira das empresas comerciais. A Serasa Experian apurou que os pedidos de recuperação judicial aumentaram 51,2% no comércio e 48,5% nos serviços, em 2016, números maiores que os da indústria que apresentou alta de 24,5% nestes pedidos.
E não há alento no mercado de força de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) projeta que a taxa mundial de desemprego subirá de 5,7%, em 2016, para 5,8%, em 2017. Serão mais 3,4 milhões pessoas desempregadas no mundo. E o pior: a cada três novos desempregados no mundo neste ano, um será brasileiro. Serão, em 2017, 1,2 milhão de desempregados a mais do que em 2016, totalizando 13,6 milhões de pessoas sem ocupação.
Também não há indicações de recuperação dos investimentos. O IBGE apurou uma leve alta de 0,2% na produção industrial em novembro, mas o Indicador IPEA de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que é um termômetro dos investimentos, registrou queda de 1,1%, em novembro de 2016, na comparação com outubro. Espera-se queda dos investimentos de 11,2% no ano passado.
Mas, mesmo diante do desastre econômico interno de 2016 e as perspectivas ruins para 2017, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles foi ao Fórum Econômico Mundial em Davos, e lá, contrariando todas as projeções, mentiu descaradamente. Ele disse que a economia brasileira voltará a crescer já no primeiro trimestre de 2017. Em suas palavras: “... no primeiro trimestre já vamos ver um crescimento. E esperamos que o último trimestre de 2017 apresente um crescimento de 2% em relação ao mesmo período em 2016.” Ou ele está diante de outra realidade ou acredita que uma mentira dita repetidas vezes tornar-se-á verdade. Relembrando Mantega, ministro da Fazenda de Dilma, parece que a mentira é um atributo de todos os ministros que ocupam esta pasta.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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