quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Os discursos do presidente eleito


Semana de 22 a 28 de outubro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

O processo eleitoral de 2018 foi concluído no domingo, 28 de outubro. Como as pesquisas apontavam, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, venceu o pleito para o cargo de presidente da República. Com 55,13% dos votos válidos, o eleito obteve 57.797.847 votos, contra 44,87% de Fernando Haddad do PT que obteve 47.040.906 votos. Os resultados também chamam a atenção para o alto nível de abstenção: 21,3% dos eleitores não compareceram às urnas, ou seja, 31.371.704 de eleitores.
Consolidado o resultado, o presidente eleito fez uma primeira interlocução, não como de praxe, em espaço público ou na sede do partido, mas em sua sala de estar, por meio do Facebook Live, o tipo comum de “comunicação” utilizada ao longo da sua campanha. A fala foi explicitamente direcionada aos seus eleitores. Sem modéstia, alimentou a posição de salvador de pátria dizendo não querer “...ocupar a cadeira presidencial por um motivo pessoal. Ocupá-la sim para que juntamente com uma boa equipe, boas pessoas ao meu lado, nós pudéssemos ter sim, mais que a esperança, mas a certeza de mudar o destino do Brasil.”
Usando no total, o nome de Deus 8 vezes, e invocando a passagem bíblica “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” deu a entender que o povo brasileiro marchava ignorante para a morte. Mas como o despertar aconteceu a tempo, o povo entendeu “...que sabia para onde o Brasil estava marchando e clamava por mudanças.” E, novamente, sem surpresas, deixou claro quem é o inimigo a ser eliminado: “Não poderíamos mais continuar flertando com o Socialismo, com o Comunismo e com o Populismo e com o extremismo da esquerda.”
Mais uma vez, o agora presidente, desnuda sua intenção. Demonstrando desconhecer noções básicas de história, política, sociologia e de áreas afins e ignorando que as últimas gestões presidenciais não passaram nem perto daquilo que é conceituado como socialismo, comunismo, populismo e extremismo de esquerda, elegeu um inimigo que sequer existe. O tom de seu discurso foi o mesmo da sua campanha.
Pois bem, minutos depois, ao decidir falar para todo o povo brasileiro, o tom mudou. Visivelmente desconfortável ao ler um discurso amaciado, afirmou: “Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade.” E completou: “Liberdade é um princípio fundamental: liberdade de ir e vir, de andar nas ruas, em todos os lugares deste país, liberdade de empreender, liberdade política e religiosa, liberdade de informar e ter opinião. Liberdade de fazer escolhas e ser respeitado por elas.”
Mesmo não fazendo referência aos “supostos inimigos” do Brasil como o fez na live, Bolsonaro destilou ranço nas entrelinhas: “Libertaremos o Brasil e o Itamaraty das relações internacionais com viés ideológico a que foram submetidos nos últimos anos. O Brasil deixará de estar apartado das nações mais desenvolvidas.” Esta foi uma indireta para a prioridade que supostamente se dá às relações para com o Mercosul. “Ressalto aqui que os principais parceiros comerciais da pauta exportadora do Brasil não estão apenas no Mercosul. São a China, os Estados Unidos, a Argentina, a Holanda e a Alemanha”. Portanto, não há o que contestar. Haveria, caso o resultado das urnas fosse o oposto, segundo o próprio Bolsonaro e seus apoiadores repetiram inúmeras vezes. O pleito representa a vontade da maioria.
Mas, o presidente e sua equipe, como já destacado nesta coluna, não enfrentarão problemas triviais. Não haverá soluções mágicas, assim como já foi provado com o impeachment de Dilma Rousseff. O milagre não se fez. Embora se tente demonstrar o contrário, os dados das nossas análises anteriores, mostram que o ciclo econômico segue seu curso e que os problemas sociais não desaparecerão da noite para o dia.
Como cientistas e apoiadores do sistema democrático, o Progeb e seus pesquisadores continuarão a estudar a realidade e a elaborar análises de conjuntura numa perspectiva crítica e resistirá às ameaças à livre manifestação do pensamento.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Um salto mortal ao passado


Semana de 15 a 21 de outubro de 2018

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

As pesquisas apontam para uma vitória expressiva do fascismo-antipetismo nesse 2º turno das eleições de 2018. Criado pelo ódio às diversas faces dos governos do PT (positivas e negativas), o atual movimento de rejeição ao partido somou-se ao contraditório discurso de repulsa ao diferente (de si e de suas crenças e tradições) e ao que está aí (na estrutura política). Além dos fatos concretos motivadores desse sentimento, a grande mídia brasileira cumpriu o papel de inflamar a opinião pública.
Desde as manifestações de junho de 2013, mas, sobretudo, a partir de 2014, vimos a responsabilidade por todos os problemas econômicos ser atirada contra o governo Dilma e sua política intitulada de “irresponsável”.
Como bem sabe qualquer economista que se preze, as economias capitalistas apresentam uma característica básica: a alternância periódica de momentos de aquecimento e desaquecimento da atividade produtiva. No final de 2008, o Brasil foi atingido pela “Crise do Subprime”, originada no mercado financeiro estadunidense. Como reação a isto, o então presidente Lula utilizou-se de políticas econômicas de combate aos efeitos da crise. Ao assumir a presidência, em 2011, Dilma Rousseff manteve e, em alguns pontos, ampliou tais medidas.
O problema fundamental é que, mesmo com o aparente superpoder que o Estado supostamente teria, ele só é capaz de combater os sintomas da crise. Sua causa fundamental, contudo, ele é incapaz de eliminar. Sua ação se assemelha a um analgésico, que inibe os efeitos de uma infecção, mas não combate o mal causador da patologia. Quando o analgésico é utilizado de forma contínua, a tendência é de que sua eficiência se reduza gradativamente, até chegar ao ponto de não mais surtir qualquer efeito. O mesmo pode-se dizer das medidas anticrise adotadas por um governo. O limite da intervenção é o orçamento governamental, que, em períodos de crise, por si só, tende a tornar-se deficitário.
As restrições na intervenção governamental começaram a se manifestar em 2014, ano em que a presidente foi reeleita, derrotando o candidato do PSDB, Aécio Neves. No ano seguinte, no início do seu segundo mandato, Dilma, de imediato, adotou uma política de forte cunho restritivo, e este foi um dos grandes erros no trato da crise econômica. Isto significou que, mesmo sem ter superado a fase crítica de desaquecimento, o Estado não só reduziu a dosagem do analgésico, como tomou medidas para piorar a situação da atividade produtiva. Isto se manteve nos primeiros meses de 2016, quando houve o Golpe.
A partir daí, o bombardeio de críticas à política econômica se intensificou e por todos os lados: além da grande mídia, também entrou no jogo a esmagadora maioria dos partidos políticos, inclusive os que outrora eram aliados. O objetivo primordial era aniquilar o PT e associar toda a desgraça do país a ele. As eleições de 2014 já haviam mostrado que faltava pouco para a direita (agora centro-direita, diante do atual cenário) voltar ao poder do Executivo nacional. Contudo, “esqueceram de combinar com os russos”, quer dizer, com Joesley Batista. No ano passado, o dono da JBS revelou a verdadeira face da menina dos olhos da burguesia, Aécio e o próprio PSDB: seu envolvimento com a corrupção a qualquer custo (inclusive custos com a vida alheia). Com isto, os grandes problemas da “velha política” e do PT também estavam enraizados nos tucanos, ou seja, eles estavam contaminados e seriam carta fora do baralho, como o 1º turno demonstrou.
É neste ponto chave que se dá a reviravolta e a ascensão de uma figura de intelecto duvidoso, que desde 1993 despeja excremento através de palavras ofensivas, mas que conseguiu incorporar parte do clamor social e tornar-se porta-voz dele. Surgiu, então, a figura do “mito” (sic) Jair Bolsonaro. Este, por sua vez, tratou de alinhar-se, também, com as frações da burguesia que detêm o poder no Brasil: os setores financeiro e agrário.
Assim, sem um candidato tradicional capaz de se aproveitar do antipetismo, a elite e seus “peixes-piloto” (a classe média) tiveram que apostar na carta fascista.
 A questão que fica é a seguinte: em que momento deve vir o arrependimento por essa infeliz escolha, tão semelhante àquela feita pela Alemanha ou pela Itália no início do século passado?


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Ela vem aí



Semana de 08 a 14 de outubro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Apesar de toda a agitação eleitoral começo pela economia. Já falamos várias vezes da formação de nuvens carregadas no horizonte. A ameaça de nova crise mundial aumenta. Os avisos surgem de todos os lados com diferentes formulações. Segundo William White, ex-vice-presidente do Banco do Canadá e presidente da comissão de análise econômica e de desenvolvimento da OCDE, uma “Perigosa maré financeira em alta”. White alerta ainda para a desaceleração do crescimento provocada pela política protecionista de Trump e para o perigo que corre o sistema monetário mundial baseado no dólar, resultado da utilização da moeda como arma geopolítica. Finalmente alerta ele que “não está tudo bem abaixo da superfície. Se uma nova crise financeira ocorrer, a recessão subsequente poderá ser ainda mais onerosa do que a última”.
O relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI afirma que “os riscos de uma crise para os mercados emergentes tem aumentado” e que a fuga de capitais, que retornam aos EUA, deve ocorrer em um período de quatro a oito trimestres, diante da elevação das taxas de juros pelo Banco Central (BC) americano. Cita ainda que as tensões comerciais e a elevação das incertezas políticas podem levar a um repentino aperto nas condições financeiras globais.
Para o FMI o ritmo da economia global é menos vigoroso que há seis meses e os riscos aumentaram. O jornal Valor Econômico em editorial, referindo-se ao relatório do FMI, afirma que “o crescimento global começou a fraquejar no ano corrente e deverá declinar um pouco mais nos próximos dois anos”. Em relação ao Brasil o Valor prevê que “terá crescimento abaixo de previsto este ano (1,4% ante 1,8%) ... e continuará sua tendência de voar mais baixo que os emergentes...”.
O nervosismo crescente já é sentido e refletido nas bolsas de valores do mundo e na de Wall Street, como a recente onda de “sell-off” que levou o Índice Dow Jones, um dos principais do mercado financeiro dos EUA, a cair 832 pontos em um dia (quarta feira, 10), a terceira maior queda da história.
No Brasil os números também não são animadores. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) caiu 3,3 pontos, em setembro, pelo sétimo mês consecutivo, situando-se em 91,0 pontos, o menor nível desde dezembro de 2016. O Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) aumentou 1,3 pontos, também em setembro, o que mostra a incerteza quanto ao crescimento da economia e à geração de emprego.
Em São Paulo, a produção industrial recuou 0,9%, em agosto, em relação a julho, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal – Regional (PIM-Regional), divulgada pelo IBGE. Outros estados também tiveram queda: Amazonas (-5,3%) Pará (-1,1%), Espírito Santo (-0,9%), Santa Catarina (-0,7%) e Rio de Janeiro (-0,3%). Segundo o Iedi, isto mostra uma “razoável disseminação do mau desempenho do mês”.
A euforia histérica dos empresários e dos especuladores do “mercado” com a vitória eleitoral do Bolsonaro, no primeiro turno, repercutiu na bolsa de valores elevando o Ibovespa aos 86 mil pontos. O chamado “kit eleições” valorizou-se 19,9%, subindo de R$931 bilhões para R$1,12 trilhão. O kit é um pacote com os papéis da Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, Itaú, Unibanco, Bradesco, Magazine Luiza, Lojas Rener, Cemig, Copel e Embraer. Supõem os especuladores que elas são afetadas pelos resultados das eleições.
A euforia com as boas chances de vitória do militar excita também os especuladores internacionais que, considerando que “o ambiente por aqui é hoje construtivo” se atiram às ações de empresas brasileiras. O ingresso de capitais estrangeiros já chegou a R$2,21 bilhões, em outubro, até o dia 8.
Nesse ambiente de crise iminente caminhamos para o segundo turno sob o risco de afundarmos no fascismo e no obscurantismo de um tosco capitão, reformado pelo próprio exército como incapaz e promovido a líder pelas forças mais reacionárias do país e simbolizando o que há de mais grotesco, primário, clerical e preconceituoso da sociedade.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Os desafios do eleitor brasileiro



Semana de 01 a 07 de outubro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor. O primeiro turno das eleições está consolidado. Um dos piores cenários para o segundo turno, em 28 de outubro, foi materializado. O desafio entre o petismo e o antipetismo, na figura de Fernando Haddad (PT) e de Jair Bolsonaro (PSL) está posto. As chances de vencer o fascismo diminuíram consideravelmente. Voltaremos a assistir, por mais quinze dias, o cultivo do ódio como forma de fazer campanha política. O primeiro passo já foi dado. Responsabilizou-se, de imediato, o povo nordestino por não ter dado a vitória ao inominável no primeiro turno. Em pleno século XXI e num regime democrático, disparates deste tipo são inaceitáveis.
E o que esperar de uma decisão tão polarizada? Ao que parece, o eleitor seguirá com poucas informações para embasar a sua escolha com as discussões novamente centradas em pautas “gerais” pouco claras. Mas, qualquer que seja o candidato eleito, o desafio é enorme.
No âmbito político, terá que conquistar governabilidade no Parlamento e no âmbito econômico, enfrentará uma débil economia em lenta recuperação. O único dado positivo do momento é a queda da inflação, ameaçada nos últimos dias pela alta dos preços administrados (planos de saúde, combustíveis e energia elétrica) e sustentada por longo período pela alta ociosidade da economia. O Centro da Indústria do Amazonas corrobora esta afirmação ao apontar, em setembro, 40% de ociosidade na Zona Franca de Manaus. E isto tem se refletido nas vendas. Segundo o IBGE, as vendas no setor de móveis e eletrônicos chegaram a crescer 7,7% de janeiro a maio, mas desaceleraram para 6,8% em junho e para 5,2% em julho.
Portanto, a nova queda da produção industrial não aparece como novidade. A produção industrial caiu 0,3%, entre julho e agosto, segundo o IBGE. 14 dos 26 ramos industriais consultados apresentaram queda na produção. As maiores quedas aconteceram no ramo de bebidas (-10,8%), derivados de petróleo (-5,7%) e produtos têxteis (-2,4%). O gerente da coordenação de Indústria do IBGE afirma que este resultado é um “sinal de alerta”, já que foram registrados dois meses seguidos de queda.
Outro dado divulgado esta semana acena para a piora das condições de vida do trabalhador. Segundo levantamento da FGV Social, entre o fim de 2014 e o terceiro trimestre de 2018, o Índice de Gini da renda do trabalho, que mostra a distância entre os que ganham mais e os que ganham menos, e que varia de zero a um, sendo um a distribuição perfeitamente desigual, cresceu de 0,5636 para 0,5915. Isto significa que a desigualdade aumentou. E, para piorar o cenário, registre-se que, conforme dados do IBGE, em setembro, o país ainda possui estoque de 12,7 milhões de desempregados.
Neste ambiente turbulento permeado pelas eleições presidenciais, é assim que se apresenta a economia real. O mercado financeiro começou a mandar seu recado aos candidatos. A agência de classificação de risco S&P Global enxerga riscos à manutenção da nota soberana (o selo de bom pagador) que dependerá da forma como o novo governo vai lidar com os desafios econômicos. A julgar pelos interesses do mercado financeiro, já sabemos que seus ganhos estão relacionados à política de austeridade fiscal. Segundo a agência a alta rejeição dos dois candidatos torna a avaliação mais difícil, mas, um “outsider” como Bolsonaro “...aumenta o risco de incongruências ou atrasos em fazer as coisas serem feitas após a eleição”.
Mesmo assim, um dia após a apuração do primeiro turno, que garantiu 46,04% dos votos válidos a Bolsonaro e 29,26% a Fernando Haddad, o mercado entrou em euforia: o dólar despencou 2,49% e foi negociado a R$ 3,761e na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, teve alta de 3,9%. O que os vampiros do “mercado” mais uma vez fizeram foi, potencializar os seus ganhos mediante a possibilidade de vitória de um dos candidatos.
Os fatos que importam no momento e que merecem destaque são defender a democracia e conhecer quais soluções são indicadas para os atuais problemas econômicos (que se agravam à medida que caminhamos para 2019).
Eis os desafios postos ao eleitor brasileiro.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Pessimismo, não! (2)



Semana de 24 a 30 de setembro de 2018


Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Estimado leitor, trago, novamente, este título para a presente coluna. Agora, não é a economia brasileira que traz sinais de perigo, mas a política. Se, em 2014, acreditávamos que havia uma grande polarização no cenário político brasileiro (entre PT e PSDB, “esquerda” e direita), fomos pouco criativos em pensar que não poderia ser pior. O próximo final de semana nos revelará como os principais polos políticos do Brasil, a saber, o petismo e o antipetismo, sairão da disputa eleitoral.
De um lado, estão os fiéis eleitores de Lula, que, para não trair o grande líder, devem votar em Fernando Haddad. Há alguns que ainda acreditam no “Projeto para o Brasil” que o PT diz ter. Contudo, apesar dos inúmeros avanços que, de fato, o país teve na década passada, o atual projeto petista em muito pouco ou quase nada difere daquele realizado por Lula.
Do outro lado, está um “ser” que, pelo discurso ao mesmo tempo simples, agressivo e que toca boa parte dos dogmas da “tradicional” família brasileira, conseguiu atrair para si a maior parte do antipetismo que veio crescendo desde a era Lula.
Duas são as causas básicas para a adesão a esse antipetismo. A primeira é moral e está intimamente ligada à desmoralização que o PT teve que passar (na opinião dos defensores do partido) para garantir sua governabilidade: a adesão orgânica ao sistema político brasileiro e aos seus vícios de funcionamento (leia-se corrupção). A segunda, e principal causa do antipetismo, é, fundamentalmente, econômica.
Para além do argumento que destaca o ódio típico das classes média e alta brasileiras, aqui, concordo com a opinião de Luiz Filgueiras no artigo “A Economia Política do Fascismo” (https://diplomatique.org.br/a-economia-politica-do-fascismo/). A ascensão social anteriormente alcançada (curiosamente, boa parte desta na época do PT) e a atual ameaça de retrocesso do “status social” (fruto da estagnação econômica), tendem a criar, em boa parte da população brasileira, um pavor irracional que abre espaço para uma inimaginável intolerância ao outro (que difere dos padrões normativos da sociedade) e ao que está aí (ao PT e aos seus “aliados” de esquerda). Não que a esmagadora maioria dos seus eleitores tenham, necessariamente, uma posição política ou ideológica fascista. Mas, a linguagem de senso comum e os apelos irracionais e emocionais do discurso contra a insegurança individual (em todos os sentidos) se tornam o canto da sereia e, assim, a adesão ao discurso fascista de Bolsonaro é praticamente automática.
O problema é que esta polarização entre petismo e antipetismo assumiu contornos preocupantes no presente momento. Apesar de existirem outras 11 opções de presidenciáveis, o fanatismo e a irracionalidade parecem predominar. Dentre os que têm alguma chance de vitória, a divisão está bem clara. Na centro-esquerda estão aqueles que, segundo eles próprios, têm um projeto de Brasil que incorpora as demandas sociais das camadas mais baixas. No espectro da direita, temos um racha: a extrema direita, que flerta com o fascismo, e a direita tradicional, mais moderada. Se, por um lado, ambas as frações à direita privilegiam os interesses do “mercado” e das elites tradicionais brasileiras, por outro, elas dizem discordar quanto ao fascismo de Bolsonaro. A rejeição a este, na verdade, junto com o antipetismo, parece ter sido o grande ponto de conexão entre todos os demais candidatos ao longo da disputa eleitoral, incluindo o folclórico Cabo Daciolo.
Por outro lado, de acordo com as pesquisas recentes, teríamos um possível segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, ou seja, petismo e fascismo disputariam o segundo turno das eleições 2018. Agora, peço a reflexão ao prezado leitor desta coluna: dentre estas opções, quem você acha que a direita e as elites brasileiras votariam no segundo turno? E as demais camadas antipetistas, escolheriam quem?
Sem querer pagar para ver, resta-nos ter esperança de que o voto útil, tradicionalmente utilizado no segundo turno, seja trazido para o primeiro como estratégia racional.
Assim, quem sabe, a centro-esquerda (incluindo o PT) concentre suas forças em um candidato que tenha reais chances de vencer o verdadeiro inimigo, o fascismo.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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