sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

A necessária “Nova Indústria Brasil”: um prelúdio...

Semana de 15 a 21 de janeiro de 2024

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Esta semana, enquanto me preparava para escrever sobre as notícias econômicas da semana passada, o governo brasileiro veio e lançou uma política industrial chamada de “Nova Indústria Brasil” (NIB). Ela tem sido vista como uma bala de prata contra a desindustrialização brasileira. Mas, antes de entendermos o contexto dessa medida, vamos repercutir duas notícias da semana passada.

A primeira vem da Alemanha, país onde a economia diminuiu em 0,3%, puxada pela queda nas exportações, nas vendas internas e na produção industrial. Com isso, o país deve ser o de pior performance dentre os grandes em 2023. Além disso, como maior economia europeia, isso também puxou para baixo os dados da União Europeia, que em novembro chegou a três meses seguidos de queda na produção industrial.

A China foi um caso à parte, pois teve um crescimento de 5,2% em 2023. Esse dado é melhor que o esperado pelo governo do país, mas ainda abaixo da média histórica. Segundo os analistas ocidentais, o principal problema está no mercado imobiliário chinês, que está em recessão há três anos. Além disso, devido às sanções e à desaceleração da economia mundial, as exportações chinesas caíram pela primeira vez desde 2016.

Apesar dos indicativos de que a economia dos EUA não está tão mal, os dados internacionais confirmam que 2023 foi um ano de “pouso suave” e isso deve se repetir no começo de 2024. É justamente isto que torna a “Nova Indústria Brasil” necessária neste atual momento.

Não é de hoje que temos destacado a necessidade de o Brasil adotar uma política industrial ampla e contundente. Isso não acontece desde os anos 1980, quando se iniciou a Era da Globalização e a industrialização mundial passou por uma profunda transformação. Agora, mais de 40 anos depois, a organização da produção de mercadorias em escala internacional está sofrendo novas modificações. Isso se dá não apenas em relação ao aspecto geográfico (antes concentrado na Ásia), mas também em relação às tecnologias que guiam o desenvolvimento tecnológico (antes a informação e comunicação). Essa é uma janela de oportunidade que o Brasil deve aproveitar.

O momento é tão crítico que até a vertente da literatura econômica que via a política industrial com maus olhos passou a admiti-la, sob certas condições. Isso pode ser visto em alguns pouquíssimos artigos de jornais que circulam no Brasil, mas, principalmente, nos meios científicos internacionais. É tanto que até o Fundo Monetário Internacional publicou recentemente um texto de lançamento do “Novo Observatório de Política Industrial”, em que serão reunidos dados e documentos sobre o tema.

De acordo com o texto, as medidas adotadas por China, União Europeia e Estados Unidos corresponderam a 48% do total em 2023. As medidas mais adotadas foram os subsídios concedidos às empresas, mas também tiveram restrições às importações e às exportações. Já as motivações variaram entre questões estratégicas de competitividade, mudanças climáticas, segurança nacional e fatores geopolíticos.

O Brasil só agora entrou na disputa. Isto é sintomático, pois representa bem nosso atraso em relação aos países mais avançados, quando o assunto é economia e tecnologia. Reflete bem a nossa própria burguesia e nossos “liberais”, que em grande parte se opõem ferreamente à “intervenção” estatal na economia (o que pode ser visto pelas “opiniões” veiculadas nos maiores meios de comunicação). E isso pode ser um problema.

Como se viu, a Confederação Nacional da Indústria aprovou a “Nova Indústria Brasil”. Não é por menos, pois ela será a maior beneficiada pelas medidas e foi bastante ouvida na elaboração da proposta. A questão é que os industriais brasileiros há muito tempo não têm a mesma força política e, principalmente, econômica que já tiveram. Isso pode pôr em xeque a efetividade das medidas, pois a grandeza da proposta requer participação, também, do Estado e do setor bancário-financeiro. Se o objetivo é garantir o desenvolvimento industrial sob os moldes capitalistas no país, será necessária a participação ativa de todos nesse processo.

É esperar para ver até onde essa política vai na prática, porque na teoria ela parece muito boa. Em breve falaremos mais dela.


[i] Professor do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo Figueiredo, Raquel Lima e Paola Arruda.

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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

O “pouso suave” em ano de instabilidade e eleição

Semana 08 a 14 de janeiro de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            

Somos forçados a começar esta análise ainda falando no fascista Milei. Ele faz questão de manter-se nas manchetes. Infelizmente ainda há pessoas e órgãos de imprensa dando palanque ao canalha, armado em salvador, enquanto ele manda o “Carajo” para o seu próprio povo. Para vergonha geral, o mundo foi obrigado a ouvir, no Fórum de Davos, os impropérios proferidos pelo marginal, que, apesar de economista, não é capaz de distinguir e caracterizar as diferentes correntes econômicas e iguala Keynes, comunismo, socialismo, social-democracia, democracia cristã etc., como se fossem a mesma teoria. Só o grande pensador Milei tem a verdade capaz de salvar a humanidade. E, claro, terminou o seu discurso com um sonoro “carajo”. Coitados dos argentinos que já começam a sentir o tamanho do “carajo” que lhes foi endereçado.

Mas, o Fórum de Davos abriu espaço para outro palhaço, fantoche do belicismo ocidental, o ator Zelensky. Embora de mãos vazias (não conseguiu verbas para continuar o massacre do seu próprio povo), foi cortejado e aplaudido. Apenas o Netanyahu ainda não conseguiu audiência, apesar de todos os crimes que os sionistas vêm cometendo, em Gaza, e das declarações que tem feito contra todas as decisões da ONU, sobre o território. A consequência disto é o agravamento da situação em toda a região, com a expansão do conflito aos países vizinhos. Israel já ameaça a invasão do Líbano, em resposta aos ataques de mísseis que tem recebido de grupos aliados ao Hamas. No mar Vermelho, os rebeldes no Iêmen têm atacado navios, ameaçando a circulação comercial na área, o que já provocou ataques dos ingleses e americanos a instalações no país. O próprio Irã lançou mísseis para os territórios do Iraque e da Síria, alegando atingir alvos militares inimigos. Todo este panorama ameaça as rotas comerciais, que circulam pelo mar Vermelho e Canal de Suez, obrigando a mudança de rotas comerciais para o contorno da África. Temos, portanto, mais uma perturbação para a economia mundial que, todas as organizações internacionais reconhecem que se encontra em situação crítica e preveem para ela um “pouso suave”. O Banco Mundial, por exemplo, em seu relatório Perspectivas Econômicas Globais, prevê que, neste ano, a economia mundial crescerá apenas 2,4%, continuando seu ritmo de desaceleração, pelo terceiro ano consecutivo. A ONU faz estimativas idênticas. O Banco Mundial reconhece que o período entre 2020 e 2024 é o pior em 30 anos.

Temos de levar em consideração este panorama internacional adverso para fazer considerações sobre a nossa economia. Podemos ser atingidos pelas perturbações provocadas pelas guerras e pelo afundamento da economia argentina. O pouso suave externo vai contribuir para o nosso próprio “pouso suave”, que também já teve seu início. Não é uma questão de opinião ou vontade, é uma questão de dados e fatos. O Banco Mundial, para o Brasil, prevê um crescimento de 1,5%, para este ano de 2024. Apesar do endividamento das famílias ter caído, pela primeira vez em 4 anos, a inadimplência bateu recorde, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Isto significa que o consumo das famílias não contribuirá para o crescimento. Por outro lado, os estímulos provocados pelo aumento do salário-mínimo e pelos auxílios, como o bolsa família, perderam seu efeito estimulador.

Outro acontecimento que terá de ser enfrentado pelo governo é a substituição do presidente do Banco Central Campos Neto que, com sua política monetária restritiva, tanto prejuízo nos causou. Espera-se que o governo substitua o sabotador.

Finalmente, há que lembrar que este ano é ano de eleições municipais. Muitas serão as negociações e é preciso consciência na hora de escolher os candidatos. Nada de votar no compadre, amigo ou vizinho. A votação tem de levar em consideração o partido político do candidato. Nenhum voto para qualquer partido de direita ou do centrão. É preciso tirar o apoio que sustenta o Congresso mais reacionário e corrupto da nossa história, para que o presidente Lula possa governar. Basta de chantagens. Agora estará nas mãos dos eleitores.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Raquel Lima, Maria Vitoria Freitas e Paola Arruda.

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sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Lá vem 2024: a esperança pode se renovar

 Semana de 1 a 7 de janeiro de 2024

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

          

Caro leitor, 2024 chegou e já começo o texto desejando feliz ano novo! No ano passado tivemos muitas dificuldades, mas também avanços. Tivemos até que sair do negativo e retornar à estaca zero, tendo em vista alguns retrocessos trazidos pelos governos anteriores. Tivemos também os projetos que afrontaram muitos eleitores de Lula, bem como aqueles que mantiveram os privilégios de classe. Dito isto, vale a pena mencionar três coisas que precisaremos enfrentar este ano.

Para começar, teremos eleições municipais. Pode não parecer, mas os prefeitos de cada uma das milhares de cidades brasileiras têm sua importância no cenário nacional. Para iniciar o raciocínio, pensemos naquilo que chamamos no Brasil de “curral eleitoral”. Essas “localidades” são lideradas por um ou outro grupo de indivíduos que conduzem a cena política. Por isso mesmo, eles têm uma conexão estreita (pelo menos de 2 em 2 anos) com os políticos que atuam em Brasília. Assim, de forma indireta, o pleito deste ano será um termômetro e um fiel da balança para o governo Lula.

A eleição de certos prefeitos e vereadores, mais alinhados ao campo progressista, pode servir para aliviar a pressão que as propostas do governo atual enfrentam no Congresso Nacional. Isto porque, ao compor a base eleitoral dos políticos de Brasília, os políticos locais podem atuar como correia de transmissão entre municípios e a capital do país. Assim, a cobrança feita pela população pode ser mais influente, bem como a prestação de contas. Um deputado federal já pensa duas vezes antes de aprovar um projeto que afete negativamente seus eleitores, sobretudo aqueles mais ligados às redes sociais. Pior será se em sua cidade ou região ganharem políticos que não se alinham a ele.

Um segundo problema que tem atuado para frear os projetos federais, em especial os da área econômica, é o Banco Central, liderado por Roberto Campos Neto. Como se sabe, atualmente o BC goza de autonomia na gestão da política monetária e tem sabotado fortemente a política econômica, ao manter os juros excessivamente elevados. A dita autonomia também inclui a independência dos mandatos do presidente do banco e do presidente do país. Cada um deles passa 4 anos no cargo, mas de forma não sincronizada. Campos Neto começou seu mandato em 2021 e pode sair do cargo em dezembro de 2024. Caberá à Lula retirá-lo, ou não.

A preço de hoje, a saída de Campos Neto é tida como certa. Porém, sabemos que Lula é o mestre da negociação e da conciliação. Ou seja, não me surpreenderia se Campos Neto fosse reconduzido, desde que tivesse mais flexibilidade. Entretanto, a motivação não estaria na figura do atual presidente do BC em si, mas nos acordos que Lula pode firmar com a fração bancária/financeira da burguesia. Seria algo como a “pacificação” dos militares neste começo de 2024, quando Lula retirou da pauta alguns debates que desagradam os milicos. A diferença é que com os militares o governo não ganhou nada, mas com os bancos, talvez.

O último problema abordado aqui é a fase do ciclo econômico mundial, que está em “pouso suave”. Segundo estudos da ONU, a economia mundial deve desacelerar seu crescimento em 2024, quando comparado com 2023. Apesar das expectativas apontarem para uma Europa menos ruim no ano que se inicia, estudos indicam desaceleração nos EUA e na China. Nesse caso, não temos o que fazer no curto prazo. O possível é preparar a estrutura produtiva para quando a economia mundial voltar a crescer com vigor. E isto só acontecerá se forem adotadas as políticas econômicas adequadas, que têm na “neoindustrialização” um grande norte.

O que 2024 já mostra é que agora devemos enfrentar os problemas mais imediatos e remediar os que não têm jeito. Enfim, o ano que se inicia não muda muito em relação aos anteriores, com a diferença de que não temos mais um fascistóide energúmeno na presidência. O problema é que restaram os fascistóides não tão energúmenos andando por aí como se fossem “cidadãos de bem”. Contra estes é que deve ser nossa luta.

Falando nisso, sabe aquele seu amigo, vizinho ou patrão que vai se candidatar a vereador? Antes de mais nada, procure saber qual o partido ou coligação do qual ele faz parte. Se for do centrão, que tal repensar o voto? Além disso, também está no rol de ações possíveis a tradicional campanha de boca a boca, “tal como faziam os fenícios...”.


[i] Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpbwww.progeb.blogspot.com@almeidalmilanezlucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Guilherme de Paula, Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo Figueiredo, Letícia Rocha e Paola Arruda.

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sábado, 6 de janeiro de 2024

Tiramos a cabeça da lama e a Argentina enterra-se até os cabelos

 Semana 25 a 31 de dezembro de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

O fascista Milei, caiu em campo para executar sua política neoliberal. Com dois projetos legislativos enviados ao congresso, começou a destruir a economia argentina, revogando dezenas de leis e regulamentações para “libertar a economia da tutela do Estado”.  Segundo ele, “são leis para abraçar a liberdade”. A primeira lei foi a DNU 70/2023, agora complementada pela “lei de bases e pontos de partida para a liberdade dos argentinos”. Ao discursar na apresentação desta lei, em êxtase, clamou “Viva la liberdad CARAJO”. Desta vez, não podemos acusá-lo de mentiroso. Ele próprio reconhece o tamanho do CARAJO que ele está endereçando ao povo argentino. O choro e o ranger de dentes já começam a ser ouvidos na casa de los Hermanos. Em breve, começaremos a conhecer o conceito de liberdade do ultra neoliberal Milei: a liberdade de baixar o cacete nos que discordam dele. Temos de desejar aos argentinos firmeza e tenacidade nas grandes lutas que terão de travar, e dar apenas mais um aviso: tomem cuidado com “el Carajo” do Milei, que tem um alvo certeiro. Mas, além de lamentar os sofrimentos que aguardam o povo argentino, é bom não esquecer que eles são o nosso segundo maior parceiro comercial e os maiores compradores da nossa produção industrial. A estabilidade no país vizinho é importante para a nossa economia.

Outro comentário internacional, que temos obrigação de fazer, é sobre as guerras. No caso da Ucrânia, não há muito a acrescentar. O impasse arrasta-se com os governos europeus, fantoches dos americanos, lutando para não aumentar os gastos com o apoio militar ao palhaço Zelensky, e os últimos recursos sendo enviados pelos americanos, enquanto os russos aumentam sua pressão.

O caso mais lamentável é o da faixa de Gaza. O massacre continua e parece que vai demorar. A fúria assassina da direita sionista do governo Netanyahu é insaciável. O movimento internacional sionista continua agindo fortemente, explorando o complexo pelo extermínio dos judeus durante a segunda guerra, e acusando de antissemitas todos os que denunciam o massacre. Embora as manifestações e protestos estejam se espalhando pelo mundo, ainda não atingiram o nível de clamor universal. Aumenta a possibilidade de ampliação do conflito com os ataques no Líbano, na Cisjordânia e os atentados terroristas ocorridos no Irã, agora assumidos pelo chamado “Estado islâmico”, onde vejo as digitais de Israel.  

Internamente, não podemos deixar de comemorar as grandes vitórias que conseguimos no ano de 2023 e que já relacionamos nas análises anteriores. Basta lembrar as previsões dos economistas de plantão, no início do mandato de Lula. Seria o fim do mundo, o caos geral, a fuga dos capitais, o isolamento do país, o caminho para nos tornarmos uma Argentina, ou uma Venezuela, a disparada da inflação etc. Tudo saiu ao contrário. O Brasil recuperou o respeito do mundo e passou a ser consultado e cortejado pelas grandes nações, e a participar das organizações internacionais, e dos organismos multilaterais. Contra todas as previsões catastróficas, a economia moveu-se e tivemos um crescimento acima dos 3%, com uma taxa de desemprego das mais baixas dos últimos tempos e uma inflação sob controle. Tudo isto, para não falar da vitória da coalizão, resultado da habilidade do presidente Lula, e do apoio que se tem conseguido, com grandes sacrifícios, no congresso.

Apesar de toda a sabotagem dos parlamentares, que só se movem sob propina, da falta de colaboração do Banco Central, que mantém a taxa básica Selic nos patamares mais elevados do mundo, da ação histérica dos bandos bolsonaristas, que continuam a disseminar fakes e promover todas as ações possíveis para impedir as atividades do governo, e da colaboração precária dos partidos que compõem o próprio governo, mas que só aí estão para obter vantagens, com vistas às próximas eleições municipais. Aliás, esta é possivelmente a questão mais importante do ano, que se inicia.

Prevendo as dificuldades, desejo a todos muita coragem e resiliência necessárias para as lutas deste 2024. Não podemos desperdiçar o capital que acumulamos.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Raquel Lima, Leticia Rocha, Aline Feitosa, e Paola Arruda.


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