quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A crise é séria, mas está terminando

Semana de 16 a 22 de janeiro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

A semana foi pobre quanto à divulgação de dados econômicos, mas rica em relação a acontecimentos.
Começamos com a realização do Fórum Econômico Mundial, em Davos, cidade na Suíça, onde se reuniram cerca de 3.000 participantes, entre chefes de estado dos países mais poderosos do mundo, executivos, banqueiros e acadêmicos. As discussões mostraram a grande preocupação com as incertezas provocadas pela eleição de Trump nos EUA, o Brexit do Reino Unido e as eleições que ocorrerão na França, Áustria e Alemanha, onde o perigo do populismo de direita cresce.
Aproveitando o debate sobre a concentração da riqueza, a ONG britânica Oxfam divulgou dados impressionantes. Usando como fonte o banco Crédit Suisse, a Oxfam mostrou que a fortuna de apenas oito bilionários é equivalente ao total da riqueza possuída por 3,6 bilhões de pessoas, ou seja, mais da metade da população do planeta.
Em Davos o ministro Meirelles procurou vender o Brasil o melhor que pôde afirmando que: “A crise é séria e grave, mas está terminando”. Garantiu que, já no primeiro trimestre deste ano, o crescimento seria sentido e no quarto trimestre atingiria 2%, com dados anualizados e referido ao mesmo período de 2016. Ele não lembrou que, em novembro, o seu ministério previa para o ano, um crescimento do PIB de 2,8%.
Reforçando a defesa do governo que os representa, os empresários também apresentaram um quadro otimista. Luis Carlos Trabuco, do Bradesco, garantiu que o Brasil está em virada e o fundo do poço ficou para trás.
Ainda em Davos a consultoria PricewaterhauseCoopers (PwC) divulgou o resultado de uma pesquisa que mostrou que 57% dos executivos brasileiros acreditavam que o fundo do poço ficou para trás.
Remando na mesma direção o presidente Temer, um pouco mais cauteloso, em entrevista à agência Reuters, reforçou a ideia de que o crescimento dará sinais no primeiro trimestre, mas o desemprego só cairá no segundo.
Apesar de todas estas declarações que pretendem criar expectativas favoráveis, o Fundo Monetário Internacional (FMI) continua a estimar em 0,2% o crescimento do PIB brasileiro em 2017 e o Banco Mundial e o Boletim Focus do próprio Banco Central (BC), mais otimistas, falam em crescimento de 0,5%.
No país, a divulgação da ata do Conselho de Política Monetária (Copom) não trouxe grandes novidades. Apenas confirmou a tendência para novos cortes na Selic, apontando para a manutenção do ritmo de 0,75%. O BC explicitou sua preocupação com a recessão e com os sinais observados de que ela se estenderia ao quarto trimestre de 2016. Contrariando as afirmações do governo, para o Copom, “a retomada deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente”.
Na política a novidade foi a confirmação da candidatura para a reeleição de Maia para a presidência da Câmara, com apoio de vários partidos, inclusive o PSD do chamado Centrão, que caminha para o esfacelamento. Maia contaria ainda com o apoio velado do presidente Temer. Em sua campanha, mostrando-se mais realista do que o rei, Maia promete acelerar, com o regime de urgência, as reformas trabalhista e da previdência.
Envergonhando a nação, a revolta nos presídios, fora de controle, provocou uma reunião do alto comando da segurança pública, envolvendo comandantes das forças armadas, ministros, inteligência, polícias, etc., que terminou na declaração solene e ridícula do ministro Jungmann de pôr as Forças Armadas a disposição dos governadores. Além de ser o reconhecimento da incompetência das forças policiais demonstra a total ignorância do papel e atribuições das Forças Armadas.
A semana foi encerrada com o trágico acidente que vitimou o ministro do STF Teori Zavascki, relator da operação Lava-Jato e que estava na iminência de aceitar a delação premiada da Odebrecht e seus funcionários. A tragédia está provocando grandes suspeitas sobre as causas do acidente e a hipótese de atentado tem sido levantada.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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