quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Sobre os Padrões de Vida da População Brasileira


Semana de 18 a 24 de dezembro de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

           
Há, hoje em dia, uma série de indicadores que podem fornecer um retrato das condições em que vive a população de um país. Um desses indicadores que é bastante importante para a análise dos padrões de vida de uma população, por sua vez, é o número de pessoas que se encontra em situação econômica ruim ou precária.  No que tange a esse quesito, é seguro afirmar que a economia brasileira não vai nada bem.
De acordo com levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, Ieds, divulgado na segunda-feira passada (18/12) pelo Valor Econômico, o número de pessoas que se encontram abaixo da linha de pobreza e da de extrema pobreza aumentou tanto em 2015, quanto em 2016. O referido levantamento foi realizado com base no cruzamento de dados da “Síntese dos Indicadores Sociais” e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Nele, apontou-se que o número de pessoas em situação de pobreza em 2014, 2015 e 2016 foi respectivamente 43,1 milhões, 48,5 milhões e 52,2 milhões. Isso representa um crescimento de 12,53% em 2015 e de 7,63% em 2016. Já no que tange às pessoas que estão abaixo da linha de extrema pobreza, os números referentes aos anos de 2014, 2015 e 2016 são respectivamente 8 milhões, 9,8 milhões e 13,3 milhões, representando um crescimento de 22,50% em 2015 e 35,71% em 2016. Ambos os números vinham em queda desde 2004 (excetuando-se a elevação de 4% no indicador de extrema pobreza de 2012 para 2013).
No ano de 2017, por sua vez, de acordo com os cálculos do diretor do FGV Social, Marcelo Neri, a tendência do indicador foi novamente revertida. Em entrevista ao Valor Econômico, o diretor aponta queda no número de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza, mas não especifica exatamente a magnitude dessa queda. De toda forma, o cálculo do referido diretor não pode ser comparado ao levantamento realizado pelo Ieds, uma vez que são definidas linhas de pobreza distintas para cada um deles.
Ao passo que o levantamento do Ieds utiliza as mesmas linhas de corte para pobreza e para pobreza extrema utilizadas pelo IBGE e pelo Banco Mundial, o diretor da FGV Social define a sua própria. Um exemplo da diferença que esta definição pode fazer é a discrepância entre os cálculos do número de pessoas que passaram a integrar a população pobre do Brasil entre 2014 e 2016. Quando a linha de corte é a estabelecida por Neri (uma renda per capta mensal de R$223,00), de 2014 a 2016 há um aumento de 5,4 milhões no número de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza. Já quando a linha de corte é a utilizada pelo Ieds, IBGE e Banco Mundial (uma renda per capta mensal de R$387,07), esse número sobre para 9,1 milhões, ou seja, quase o dobro. O que pode estar acontecendo, portanto, é que há uma série de pessoas que estão cruzando a linha estabelecida por Neri, mas permanecendo abaixo da estabelecida pelas instituições supracitadas.
É interessante acrescentar a essa discussão que, de acordo com o Ieds, o aumento da pobreza nos anos de 2015 e 2016 foi um reflexo da deterioração do emprego e da renda. Com base nisso, ao nos voltarmos para 2017, vemos não só uma taxa de desocupação da população economicamente ativa praticamente estagnada (era 11,9% em novembro de 2016 e estava em 12,2% em novembro do presente ano), como também uma deterioração das condições de emprego, com a “pejotização” já mencionada em outras análises nossas.
Ao que tudo indica, portanto, enquanto leva a cabo as reformas tão desejadas pela classe empresarial do país, ao mesmo tempo em que perdoa bilhões em dívidas dos mesmos empresários, o governo Temer condena cada vez mais brasileiros às condições de pobreza e extrema pobreza. Diante disso, há apenas duas explicações para a ausência de manifestações políticas contra o atual governo: ou a população não se importa o suficiente para se opor à política econômica do governo, ou este último finalmente conseguiu convencer a classe trabalhadora de que é ela que deve arcar com todos os custos da crise econômica que afeta o Brasil.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Falta a MP da recuperação


Semana de 11 a 17 de dezembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Pelas notícias que têm chegado as perspectivas para 2018, na economia mundial, são animadoras. Tudo indica que o Produto Interno Bruto (PIB) dos países mais desenvolvidos continuará crescendo, embora a taxas moderadas, apesar de toda a estupidez do governo Trump e das tensões que sua política continua a provocar. É claro que não estamos considerando o “wild card” que seria o lançamento de bombas atômicas na Coreia do Norte ou o desembarque de tropas americanas em mais um país qualquer.
Como esperado, os Bancos Centrais (BCs) do mundo desenvolvido emitiram sinais de que as coisas evoluem normalmente e que a recuperação continua. O Federal Reserve (Fed), BC americano, aumentou mais uma vez os juros em 0,25% passando para a faixa de 1,25% a 1,5%. Agora o Fed estima o crescimento da economia em 2,5%, em 2017 e 2018, e promete continuar a elevação durante 2018. Os BCs europeus, apesar das declarações de tranquilidade e de esperarem um forte crescimento na Zona do Euro até 2020, mantiveram-se mais cautelosos não elevando suas taxas de juros. Apenas anunciaram a redução dos programas de estímulos para os próximos meses. O conselho do Banco Central Europeu (BCE) espera que a economia da Zona do Euro cresça 2,3% em 2018 e pretende manter as compras de títulos até setembro desse ano, mas num valor máximo de 30 bilhões de euros por mês. Os BCs da Suíça e da Noruega mantiveram suas taxas de juros em -0,75% e 0,5% respectivamente e o Banco da Inglaterra (BoE) também manteve os seus em 0,5%.
Este cenário internacional é um grande alento para o governo Temer. Sem credibilidade, acossado pela Justiça, com taxa de aprovação inferior a 5%, responsável pela liquidação das conquistas dos trabalhadores nos últimos 30 anos e pelas reformas contra os interesses do povo, vendendo todo o patrimônio da nação, Temer e as forças que o apoiam, só têm uma salvação: a recuperação da economia nos próximos meses. Se isto não ocorrer, as eleições estarão perdidas.
Depois da destruição da legislação trabalhista, cujos efeitos já começam a ser sentidos pelos trabalhadores, a aposta total agora é a reforma da Previdência que já custou muito dinheiro aos cofres públicos o que ainda não foi suficiente para a compra dos parlamentares cujo preço sobe na medida em que se aproximam as eleições. Desmoralizado por não contar com os votos necessários para a aprovação o governo retirou a proposta adiando o processo para fevereiro. Mais dinheiro será gasto e preparemo-nos para o massacre midiático que sofreremos nos próximos meses, através de todos os meios de comunicação. Além da propaganda do governo e dos partidos teremos de enfrentar a ação unida da “classe empresarial” convocada para o campo de batalha. Temos agora como defensores dos pobres e desprotegidos e no combate aos privilégios, a força do capital representada pelos dirigentes das principais entidades patronais como a CNI, Fiesp, Febraban, Abimaq, Anfavea, Cbic, etc. É comovente ver as inflamadas declarações desses engravatados senhores em defesa dos humildes.
Nesta cruzada eles estão muito bem acompanhados. As três humanitárias agências de classificação de riscos de crédito Moody’s, Fitch Ratings e Standard & Poors Global Ratings já vieram a público declarar que, se a reforma da Previdência não for aprovada, o Brasil terá sua nota rebaixada. O FMI e o Banco Mundial já expressaram suas opiniões no mesmo sentido.
Com toda esta quadrilha a bordo da mesma belonave fortemente armada não é muito difícil saber onde está a razão e a verdade. Desesperado pela recuperação econômica o governo e seus agentes procuram falsificar estatísticas e divulgar notícias que possam alterar as expectativas. Embora haja sinais de recuperação econômica estes sinais são contraditórios. A construção civil, em 2017, apresenta uma retração de 6%, o investimento público não vai ultrapassar os 2%, o menor da história, o varejo simples teve queda de 0,9% e o ampliado, de 1,4%, em outubro, em relação a setembro. A indústria de papelão e embalagens no mês de novembro, em relação a outubro, apresentou uma queda nas vendas de 1,51%. Os indicadores para o 4º trimestre não estão muito famosos.
É preciso avisar ao debilitado Temer que ainda está faltando uma MP da recuperação. Talvez assim as coisas melhorem.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

PIB cresce 0,1% no terceiro trimestre. Há o que comemorar?


Semana de 04 a 10 de dezembro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre foi divulgado no dia 01 de dezembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e apresentou crescimento de 0,1%. Por setores, os resultados apurados foram: alta de 0,8% na produção industrial, crescimento de 0,6% nos serviços e recuo de 3% na agropecuária. Sob a ótica da demanda, os destaques foram para o consumo das famílias, que cresceu 1,2% e expansão de 1,6% da Formação Bruta de Capital Fixo, após 15 trimestres de queda. Mas, a construção, setor que tem peso de 53% na taxa de investimento apresentou retração de 4,7%%, no terceiro trimestre.
Os resultados do PIB brasileiro de 1%, 0,2% e 0,1%, nos três primeiros trimestres do ano, evidenciam três altas consecutivas do indicador, mas por outro lado, deixa claro que o nosso crescimento econômico se dá a taxas decrescentes. Tais resultados têm sido comemorados pela equipe econômica. Apesar da frustração, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, minimizou: “O crescimento do PIB entre julho e setembro, de 0,1% contra o trimestre anterior, pode parecer baixo, mas é forte se analisado por setores. Sem a agricultura, que caiu por razões sazonais, o crescimento foi de 1,1%.” Muito conveniente o seu posicionamento. No primeiro trimestre, o ministro não excluiu da estatística o crescimento de 12,9% da agricultura. Lembre caro leitor, que foi esta atividade, a principal determinante do 1% do primeiro trimestre. Já o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, também pelo Twitter, lamentou: “O PIB do 3º trimestre só não veio melhor porque as importações registraram forte crescimento, o que não deixa de ser boa notícia, pois confirma que a economia doméstica está mais aquecida e é mais um sinal de retomada.”.
Um alento parece ter vindo do crescimento de 0,2% da produção industrial de outubro, primeiro mês do 4º trimestre, frente a setembro. Neste período, 15 dos 24 ramos da indústria pesquisados pelo IBGE elevaram sua produção, com destaque para medicamentos com alta de 20,3% e bebidas 4,8%, que são setores que não tem grande efeito de arrastamento para outros ramos industriais. Ao analisar os resultados, Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), frisou que as taxas positivas não debelaram o baixo nível de produção. Segundo ele: “A recuperação existe, mas ímpeto não. Ainda estamos presos no fundo do poço”.
Por sua vez, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu novamente, a taxa básica de juros de 7,5% para 7% ao ano. Segundo o Copom a decisão foi amparada pelo baixo nível da atividade econômica, que demanda uma política monetária expansionista. Desde outubro do ano passado, que o órgão promove quedas da taxa Selic, mas os efeitos esperados destes recuos ainda não se concretizaram.
O bom senso parece ter passado longe da equipe econômica “dos sonhos”. A tal retomada gradual, mesmo que com taxas decrescentes, é motivo de comemoração. E sem qualquer modéstia, a equipe econômica atribui a ela mesma o “grande feito”.
Vale salientar que o processo econômico é determinado pelo grau de desenvolvimeto das forças produtivas e pelas relações estabelecidas entre os indivíduos que se conectam por meio das coisas. A análise dessas relações permite que os investigadores identifiquem as regularidades do sistema econômico e as estudem. Uma dessas regularidades é a crise. Não reconhecer que este evento é uma lei do sistema capitalista e que as ações de política econômica produzem resultados limitados, parece ser uma característica de todos os gestores de política econômica. Portanto, não serão as equipes do Mantega, Levy, Meirelles, ou qualquer outro, que conseguirão debelar a crise econômica.
Mas, o atual ministro da Fazenda continua a aguardar que a “grande” recuperação que ele acredita ter produzido, o premie em 2019, com a Presidência da República. Com sucessivos pibinhos trimestrais e intenção de voto em 1%, segundo o Datafolha, sugerimos ao ministro que ponha as barbas de molho.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Novos Itens no Bazar do Governo Temer


Semana de 27 de novembro a 03 de dezembro de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

           
Como meio de equilibrar as contas públicas, uma das medidas mais defendidas pelo atual presidente, Michel Temer, é precisamente venda do patrimônio da União no intuito de fazer receita. É como aquele bazar de garagem que o cidadão comum faz, quando enfiou os pés pelas mãos e precisa de um dinheiro extra. Contudo, uma diferença essencial entre ambos é que, no bazar do governo Temer, os itens à disposição não são tralhas que não tem mais serventia, mas sim itens de grande valor desejados por capitalistas nacionais e estrangeiros. Esse bazar, por sua vez, recebeu recentemente um novo item e uma boa promessa: o Fundo Soberano do Brasil, FSB, e as Universidades Públicas.
O FSB, que foi criado com o intuito de servir à realização de investimentos no Brasil e no exterior, podendo também ser usado para a formação de poupança pública, para o combate de crises econômicas e financiamento de ações estratégicas do país no exterior, está com seus dias contados. Entre junho e novembro, o governo já vendeu metade dos recursos do fundo que estavam sob a forma de ações do Banco do Brasil. De acordo com nota divulgada pelo Tesouro Nacional, até maio de 2019, espera-se vender o restante dessas ações e, por fim, extinguir o fundo. Isso reduzirá a participação do governo no BB, que é de 54,4%, para 50,7%.
Já no que diz respeitos às universidades federais, a proposta é transformá-las em Organizações Sociais, OS. Tal medida tornaria possível que elas obtivessem receita privada para sustentar seus gastos. Não é preciso dizer que, uma vez que isso se torne possível, é muito provável que o governo comece a se eximir gradualmente da responsabilidade de financiar tais instituições, embora a educação seja, de acordo com a constituição, um dever do Estado. Como resultado disso, teríamos universidades cujas pesquisas científicas e demais ações estariam totalmente a mercê das vontades do mercado, independente de quais sejam estas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio do bazar, que é obter receita emergencial sem se preocupar com os efeitos futuros, continua em marcha o projeto de refinanciamento de dívidas de empresas com a união, o Refis, agora para micro e pequenas empresas. Para obter um sinal de 5% do valor dessas dívidas, o governo se dispôs a abrir mão de um volume de recursos muito maior. De acordo com um relatório do Banco Mundial, a renúncia fiscal total do programa será o equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto, PIB, ou R$80 bilhões, o que corresponde a mais da metade do déficit fiscal previsto para esse ano, que é de R$159 bilhões.
Com todas essas medidas, que privilegiam empresários e especuladores, em detrimento do restante da população, e que reduzem a capacidade do Estado de estimular a economia, tem-se que os ajustes acabam sendo realizados nos investimentos. Em relação a 2016, o dinheiro destinado ao Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, caiu 40,9%. Nessa queda, a redução de 61,4% dos recursos destinados ao programa Minha Casa, Minha Vida, que faz parte do PAC, teve uma participação expressiva.
É notório, portanto, que o atual governo não consegue enxergar um palmo a frente do seu nariz. Com medidas imediatistas que negligenciam completamente o que ocorrerá futuramente, faz-se caixa para compensar as benesses que são dadas para empresários e especuladores, enquanto a grande massa da população sofre com a perda de direitos trabalhistas e a ameaça de perda de direitos previdenciários. A informação divulgada na quinta-feira passada, 30/11, pelo IBGE, de que os 1% mais ricos do país, em 2016, ganhavam uma renda média 36 vezes maior do que a dos 50% mais pobres, portanto, não interessa ao governo. Para ele, é necessário melhorar ainda mais a situação desses indivíduos abastados.
Para nós a razão para isso não é nenhum mistério. Por que outro motivo os referidos indivíduos financiariam as campanhas eleitorais?




[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Mais uma década perdida?


Semana de 20 a 26 de novembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Enquanto os médicos se esforçam para desentupir o presidente mais rejeitado da história, o STF não consegue entupir o cano da corrupção que cobre o país de lama e vergonha. Agora foi a vez do ministro Dias Toffoli dar sua colaboração com o pedido que engavetou o processo do fim do foro privilegiado que sustenta a impunidade no país. Já não nos abala a divulgação dos novos escândalos de corrupção que acontecem a cada dia. Está caindo na rotina.
Continuamos a nos afogar na lama e praticar uma política econômica suicida, conduzida pela “equipe dos pesadelos” regida pelo maestro Meirelles. Assim vamos perdendo as oportunidades que ainda se apresentam, geradas por uma conjuntura mundial favorável. Esta preocupação ficou explícita no recente “Simpósio de Gestores” promovido pelo Santander, na semana passada.
Vários analistas mostraram-se preocupados com a situação. Rodrigo Azevedo, da Ibiuna, após perguntar “Será que estamos próximos de uma outra grande crise?” acrescentou: “acho que não, mas o melhor da festa pode ter ficado para trás”. Carlos Calabresi, da Garde Asset Management, mostrou preocupação com a injeção de US$10 trilhões, pelos Bancos Centrais (BCs.) no mundo e mais US$ 8 trilhões de dívida soberana e corporativa girando pelo mundo. André Jakurski, da JGP Gestão, destacou as condições favoráveis e grande liquidez e taxas de juros baixos que marcam “uma das expansões mais longas em 150 anos” e que “apesar dos BCs continuarem injetando dinheiro o ar está murchando”.
Essas preocupações coincidem com afirmações que temos feito aqui nesta coluna. O mundo está vivenciando uma complexa recuperação cíclica desde a crise iniciada em 2008. O ciclo completará, em 2018, os 10 anos simbólicos que tem marcado o movimento cíclico desde os anos 70. Será que a nova crise já está a caminho?
A recuperação da economia mundial tem se dado a ritmos moderados puxada pelos EUA. A União Europeia (UE) lentamente vai se somando ao esforço geral. Agora é a economia da França que dá um impulso ao comboio da zona do Euro, enquanto a Alemanha continua “desgovernada” depois da derrota eleitoral da Angela Merkel e do fracasso da tentativa de formar governo com o FDP (liberais) e os Verdes (esquerda).
A situação da China também continua duvidosa. A incerteza é grande e todos aguardam as decisões dos BCs em relação à elevação dos juros e ao fim do afrouxamento monetário (QE) tantas vezes anunciado, mas não iniciado. Há o temor geral do aborto da recuperação. No nosso entender não é abortar, mas sim deflagrar uma nova fase de crise que é inevitável. A questão está em prever o início.
No Brasil, os dados da economia continuam a confirmar o início de uma lenta recuperação. Afundamos tanto que chegado ao fundo do poço é inevitável começar a subir. O índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) fechou o terceiro trimestre com alta de 0,58%. Lembremos que ele já se apresentava positivo no primeiro semestre (1,1%) e no segundo (0,39%). Com isto o Ministério da Fazenda estima um crescimento do PIB de 0,7%, em 2017, embora o BC sugira 0,5% para este valor.
No setor empresarial também há indicadores positivos. Um estudo feito pelo Valor Econômico que envolveu 238 empresas de capital aberto, excluindo Petrobrás, Vale e Eletrobrás, mostrou um lucro líquido de R$13,5 bilhões, um aumento de 30% na comparação anual. Apesar disso, enquanto 144 empresas (60%) melhoraram 78 empresas (32%) ainda mostraram prejuízo.
Na contramão, a orientação “austera” do governo fez com que o BNDES tivesse uma redução nos desembolsos 20% menor que no ano passado (R$55,18 bilhões). O resultado foi o pior desde 2003. As consultas de empréstimos foram 14% menores que no ano passado. Entre janeiro e outubro, na indústria, os desembolsos caíram 49% e as consultas 33%. As causas apontadas são: a grande capacidade ociosa, a baixa demanda e os juros mais elevados das linhas de crédito.
Outro fator negativo que surge no horizonte é o setor agrícola, pois estão previstas safras menores de arroz, feijão, milho, soja, açúcar e álcool. Segundo o IBGE espera-se uma queda de 8,9%. Só na indústria sucroalcooleira 76 unidades não vão operar.
O desafio está posto. E enquanto o governo só pensa na reforma da previdência corremos o risco de ter mais uma década perdida.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A Reforma da Previdência volta às manchetes


Semana de 13 a 19 de novembro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Após consumir todas suas fichas no arquivamento da denúncia da Procuradoria Geral da República, o presidente Michel Temer agora tenta pautar a Reforma da Previdência no Congresso. Mas, o último teste na Câmara, mostrou que o governo não tem os 308 votos suficientes para aprová-la. Então, os esforços foram direcionados para uma “mini-reforma” ministerial diante da “necessidade” de “afagar” os deputados do Centrão que assim, garantiriam os votos necessários. Como o PSDB continua a se esfacelar internamente, a “mini-reforma” começou com o pedido de demissão do Ministro das Cidades, Bruno Araújo, político do referido partido. O troca-troca de ministros deve se estender pelas próximas semanas e a reforma da Previdência, segundo previsão do governo, poderá ser pautada e votada na primeira semana de dezembro. O curioso é que enquanto a população assiste anestesiada o jogo sujo das negociatas políticas, o mercado financeiro passou a “precificar” tais eventos.
A demora na aprovação da Reforma da Previdência e o possível enxugamento do texto que irá à Câmara, abrindo mão de cerca de 60% do valor estimado da economia em gastos, lançaram um sinal de alerta entre os “investidores” e provocou a queda do índice de negociações da Bolsa de Valores brasileira por quatro semanas consecutivas. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que se tornou um homem de um discurso só, afirmou que esta sequência de quedas na Bolsa é “didática” e o presidente da República se apressou em tranquilizar, não o povo, mas os tais “investidores”, afirmando que continuaria lutando pela pauta.
Entretanto, o pedido de demissão do ministro das Cidades acalmou os ânimos e a bolsa de São Paulo fechou em alta, enquanto a cotação do dólar subiu. Segundo analistas do mercado financeiro, há uma “negatividade” pairando sobre o Brasil e desde o fim de setembro, a rentabilidade exigida pelos estrangeiros para correr riscos no país vem aumentando por causa das indecisões sobre o rumo das reformas e devido à mudança dos juros no exterior. Em outubro, estima-se que os “investidores estrangeiros” retiraram US$ 1,4 bilhão das ações brasileiras.
O economista Delfim Netto que vem sendo convidado a participar de jantares com o presidente, assim como Temer, fez ouvido de mercador às conclusões da CPI da Previdência aberta no Senado e reforçou a “necessidade” de realização da Reforma. Em sua coluna semanal publicada no Jornal Valor Econômico e intitulada “Esta é a hora”, desmereceu os esforços e as conclusões da CPI da Previdência no Senado, e elogiou o “adiamento” da apuração das denúncias contra Michel Temer, que assim estará livre para se defender na Justiça só a partir de 1º de janeiro de 2019. Foi então um bom negócio, pois graças a isto o presidente tem a disponibilidade necessária para fazer a Reforma da Previdência e esta, ao eliminar os privilégios de alguns, tornar-se-á mais justa. Delfim Netto, apesar de saber que o sistema econômico se desenvolve em ciclos, finaliza, afirmando cinicamente que a reforma provocará a retomada do crescimento sustentado.
Enquanto as promessas não se tornam realidade, os gestores de recursos financeiros tratam de abastecer os “investidores” com informações sobre a próxima eleição, que certamente impactarão sobre seus futuros ganhos. Nas cartilhas produzidas pelo Itaú e BNP Paribas, intituladas respectivamente de “2018 Elections Guide” e “Brazil: Election Tracker” apresentam-se os potenciais candidatos através de uma pequena síntese de suas biografias, como informações sobre a trajetória profissional, nível educacional e filiação partidária. Além disso, resume-se o posicionamento dos possíveis concorrentes em relação às reformas.
O leitor deve ficar atento às cenas dos próximos capítulos, pois se o mercado financeiro está unindo forças em defesa da aprovação da Reforma da Previdência, só podemos chegar a uma conclusão: os interesses da população de maneira geral serão contrariados.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A Crise no Brasil e o Mercado Financeiro


Semana de 05 a 12 de novembro de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
           
Em Economia, uma previsão sempre deve ser encarada como a melhor aposta baseada em convicções teóricas particulares. Ou seja, mesmo que a teoria seja a melhor disponível e a análise esteja impecável, ainda assim é possível que as coisas tomem um rumo distinto do previsto. Dito isto, podemos passar ao assunto proposto: as oportunidades de obter ganhos financeiros na atual etapa do ciclo econômico, a depressão. Ademais, tenha-se em mente que aqui trataremos apenas da parcela do portfólio composta de ativos de rendimento variável.
Há algum tempo, antecipamos em nossas análises que a retomada da economia brasileira se dará com base no setor exportador, e isso vem se confirmando. As exportações do agronegócio, por exemplo, renderam US$ 8 bilhões em outubro deste ano, um crescimento de 39,9% frente a outubro de 2016. No acumulado do ano, o setor já obteve um superávit comercial de US$70,18 bilhões. Os demais setores da economia, por sua vez, já respondem aos estímulos recebidos. O IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central do Brasil (BCB), mostrou uma recuperação disseminada por todo o país, com crescimento em quatro das cinco regiões brasileiras, no trimestre findado em agosto: Centro-Oeste (2,1%), Norte (1,7%), Sudeste (0,9%) e Sul (0,1%). É, portanto, seguro dizer que, tudo mais constante, em menos de um ano o país deixará a fase de depressão e passará à fase de reanimação do ciclo econômico.
Com isso, espera-se, daqui em diante, uma valorização persistente da bolsa de valores de São Paulo, movimento que se repete a cada ciclo econômico. Ao passo que, em 04/07/1994, o índice de ações Ibovespa marcava 3.581 pontos, em 08/07/1997, auge do ciclo que se encerrou neste ano, esse mesmo índice chegou a 13.617 pontos. Em seguida, estando em um patamar de 10.000 pontos na fase de depressão do ciclo seguinte, no final de 2002, passa para 73.517 pontos em 20/05/2008. Ou seja, a despeito de parecer ter movimento errático, quando o horizonte temporal são dias, qualquer ativo que represente o conjunto das ações negociadas na BM&FBovespa oferecerá uma rentabilidade elevada e estável a longo prazo.
Se considerarmos que investir na bolsa propriamente dita seria o equivalente ao portfólio do mercado dos modelos de finanças corporativas, qualquer outro portfólio de ações representaria uma redução de diversificação e, portanto, elevação do risco. Contudo, esse aumento de risco poderia ser compensado com uma análise mais minuciosa da situação econômica. Com base nisso, queremos fazer dois alertas.
O primeiro é que esse não parece ser o melhor momento para tentar obter ganhos no mercado de câmbio. A despeito das retomadas de economias emergentes serem caracterizadas por desvalorizações de suas moedas frente ao dólar, outros fatores atuarão no sentido contrário. Em primeiro lugar, com a recuperação da economia estadunidense, o Federal Reserve não só aumentou a taxa básica de juros, como já antecipa mais três elevações em 2018. Além disso, o presidente Donald Trump prepara uma redução de impostos pagos por empresas instaladas no país, o que tornará menos atrativo o investimento estrangeiro direto em países emergentes. Assim, com essas medidas atraindo dólares de volta para o mercado estadunidense, fica difícil medir em que direção se moverá a oferta dessa moeda aqui no Brasil.
Por fim, é oportuno assinalar que grandes empresas brasileiras, com balanços sólidos, mas que tiveram queda no valor de mercado em função de escândalos de corrupção oferecem uma boa oportunidade de obtenção de ganhos. Isso porque elas já trabalham na recuperação da sua imagem e não apenas se utilizando de ações de marketing. A Odebrecht, por exemplo, contratou o advogado Michael Munro, com mais de 25 anos de experiência na implementação de sistemas anticorrupção, como vice-presidente de compliance em maio de 2016, para aprimorar medidas contra a corrupção que já estavam sendo tomadas. Diante disto, dado que empresas como essas, são grandes atores na economia nacional e, por isso, tem uma lucratividade estável, a despeito do seu valor de mercado na bolsa, é de se esperar uma elevação do valor das suas ações, conforme elas consigam atingir seus objetivos de recuperação de imagem.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Ainda sobre rombos e recuperação


Semana de 30 de outubro a 05 de novembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Na análise da semana passada abordamos o problema da recuperação lenta e da decretação do fim da recessão pelo Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Agora chamamos a atenção dos leitores, em primeiro lugar, para a própria existência do Codace que representa o reconhecimento oficial de que os ciclos econômicos existem. O fenômeno, que os economistas do governo vivem escondendo, os ciclos econômicos, aparece oficialmente nos jornais. Eles não só existem como até foi criado um órgão para acompanhá-los.
Em segundo lugar, é preciso concluir que não se pode acabar com um fenômeno por decreto. Há que esperar o movimento da economia. O mais que se pode fazer é utilizar a política econômica para acelerar ou retardar o processo. A esse nível, parece que o governo, com seu programa de austeridade, pretende criar os maiores dificuldades possíveis à bendita e lenta recuperação.
Isto é contraditório com a necessidade que tem o Temer de apresentar algum resultado positivo na economia. O que tem sido apontado como resultado nada tem a ver com a ação governamental e da sua “equipe dos pesadelos”.
Os juros voltaram a cair. Desta vez os 8,25% tornaram-se 7,5%, com um corte de 0,75% pelo Conselho de Política Monetária (Copom). Mas, Copom não é governo. Afinal, o Banco Central (BC) é ou não é independente?
A inflação continua em baixa, o que também não é mérito do governo, mas um presente da crise que derrubou o poder de compra da população e das empresas.
Sobrou a queda do desemprego. De fato, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego caiu. Viva! Mas o IBGE também reconhece que o número de empregos formais atingiu o patamar mais baixo da série histórica apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua que é publicada desde 2012. Então o 1,1 milhão de empregos criados no terceiro trimestre foi de trabalhos informais sem carteira assinada. O setor privado, que assina carteira, perdeu 31 mil postos de trabalho. O sucesso no aumento do emprego deveu-se à capacidade criativa do povo que, para não morrer de fome, está “se virando” como pode com atividades marginais. Também neste caso não existe nenhum mérito do governo.
Outro assunto que tratamos na Análise passada foi o rombo de Previdência, agora negado pela CPI do Senado em seu relatório conclusivo. Praticamente o relatório não provocou, até agora, nenhuma reação e a “Reforma da Previdência” continua a ser levantada como necessidade para a sobrevivência do país. E então? Não há relatório da CPI? O próprio Senado vai continuar discutindo o “rombo” que, segundo suas próprias investigações, não existe?
Temos de voltar a bater nesta tecla, pois algo de misterioso existe por trás deste assunto. Antes do tal relatório já tínhamos conhecimento de vários estudos científicos incluindo dissertações de mestrado e teses de doutorado que provavam a falsidade do “rombo”. E agora? O que vão fazer com o relatório e a CPI
Mas, na semana, há um grande acontecimento a comemorar: no terceiro trimestre a produção industrial cresceu 0,9%. Preparem os foguetes. Desde o terceiro trimestre de 2014, com a exceção do segundo trimestre de 2016, o crescimento da produção industrial foi negativo, ou seja, não há crescimento, mas decrescimento. Só agora, em 2017, a tendência se reverteu e a produção industrial passou a crescer. 1,4% no primeiro trimestre, 1,1% no segundo e agora 0,9% no terceiro. Temos uma escadinha decrescente. Qual será a tendência agora no quarto trimestre? Haverá o que comemorar?
E, enquanto sofremos com a dúvida, o governo Temer ocupa-se com as declarações do ministro da Justiça sobre a corrupção no Rio de Janeiro e com o desespero da ministra dos Direitos Humanos por se sentir tratada como escrava ao ser impedida de acumular salários que chegariam a mais de 60.000 mensais. Coitadinha!
Para não falar do “bloqueio das vias urinárias” do próprio presidente.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Não há recuperação sólida e muito menos rombo da Previdência


Semana de 23 a 29 de outubro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Como já era esperado, a Câmara dos Deputados rejeitou, em 25 de outubro, o pedido da Procuradoria-Geral da República, para investigar o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha da Casa Civil e Moreira Franco da Secretaria Geral da República. O parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) que recomendou a inadmissibilidade das investigações, recebeu 251 votos a favor, 233 votos contrários e 2 abstenções. Para manter sua sobrevivência, o governo montou, de novo, um balcão de negócios, que, custou ao país, somando-se às despesas para barrar a primeira denúncia, R$ 25,3 bilhões, segundo cálculos feitos pelo Jornal Valor Econômico. Agora, de forma desesperada, o governo tenta recuperar o tempo perdido com as negociatas.
Mesmo após o tombo da atividade, em agosto, sem explicação até agora, os analistas insistem que estamos em recuperação. Perspectivas favoráveis como juros em queda, inflação baixa e melhora tímida do emprego, foram apontadas pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (Codace/FGV) como razões para decretar o fim da recessão iniciada no segundo trimestre de 2014. Para o Codace/FGV o conceito de recessão significa que a atividade econômica desacelerou em dois trimestres consecutivos, com retração e queda generalizada da maioria dos indicadores econômicos. Por isso, o Codace concluiu que a recessão acabou no quarto trimestre de 2016. No entanto, a recuperação econômica será “gradual, mas sólida”.
Para os mais cautelosos as referências à recuperação vêm sempre acompanhadas de adjetivos como “lenta”, “demorada”, “inconsistente”... Cautela parece ser a melhor opção do momento, pois os dados da atividade econômica continuam dúbios. Embora a Klabin, maior fabricante brasileira de papéis para embalagens e caixas de papelão ondulado, tenha observado melhoras na produção do terceiro trimestre, a indústria de papelão ondulado, registrou em setembro, queda de 0,71% em suas vendas.
Os indicadores relativos à confiança reforçam a crença de que o quarto trimestre começará melhor que os demais. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo apurou alta da Intenção de Consumo das Famílias de 1,4% entre setembro e outubro. Já o Índice de Confiança da Indústria, apurado pela FGV, subiu 1,9% em relação ao resultado de setembro. O Índice da Situação Atual (ISA) aumentou 4,4 pontos e o Índice de Expectativas (IE) caiu 0,4 pontos. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria (Nuci) se elevou em 0,7 pontos, para 74,6%, número que expõe a alta capacidade ociosa da indústria. Mas, a solidez da recuperação econômica só poderá ser concretizada quando a indústria absorver essa elevada ociosidade e passar a realizar novos investimentos.
Abstraindo estes elementos da realidade, a equipe econômica continua a insistir que a recuperação está atrelada à aprovação das reformas, em especial a Reforma da Previdência. Enquanto a PEC da Reforma da Previdência aguarda votação na Câmara dos Deputados, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi constituída no Senado, em abril deste ano, em meio às discussões sobre a proposta. O relator da Comissão, senador Hélio José (Pros-DF), apresentou esta semana, um parecer de 253 páginas onde afirma que o déficit da Previdência Social não existe. “Tecnicamente, é possível afirmar com convicção que inexiste déficit da Previdência Social ou da Seguridade Social. Nesta ótica, são absolutamente imprecisos, inconsistentes e alarmistas os argumentos reunidos pelo governo federal sobre a contabilidade da Previdência Social, cujo objetivo é aprovação da PEC 287”, disse ele. O senador frisa ainda que, para justificar a necessidade da reforma, o governo usa uma taxa de envelhecimento da população exagerada, crescimento do PIB abaixo da média histórica nacional e um déficit que é gerado pelas desonerações, isenções, desvinculações de receitas próprias e vinculadas ao sistema de seguridade social. Os recursos destinados à proteção social estão sendo reduzidos propositadamente e portando o déficit é artificial.
Esta conclusão confirma os resultados apresentados por vários estudiosos do tema e como já desconfiávamos, o governo usa argumentos falaciosos e números manipulados para convencer a população de que este é um purgante necessário, que deve ser administrado o mais rápido possível, se quisermos um brilhante futuro.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Ciclo de Debates 100 anos da Revolução Russa: 1917 - 2017



CICLO DE DEBATES:100 ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSA: 1917-2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA — 06 a 10 de NOVEMBRO DE 2017

INSCRIÇÕES: 
Envie nome e instituição de vínculo para o e-mail: submissaociclo@gmail.com
Estudantes: R$ 10,00 / Professores: R$ 25,00 
(pagamento no local do evento)


Minicurso 
"A filosofia da práxis de A. Gramsci como uma concepção revolucionária"
Ministrante: Prof. Giovanni Semeraro (PPGE-UFF/ International Gramsci Society Brasil)
Dia 06 de novembro das 9h às 12h e das 14 às 18h.
Dia 07 de novembro das 9h às 12h.
Local: AUDITÓRIO I – CENTRAL DE AULAS DA UFPB

PROGRAMAÇÃO CICLO DEBATES: 08 A 10 DE NOVEMBRO DE 2017


DIA 08 DE NOVEMBRO (quarta-feira)

MESA REDONDA: Leituras da Revolução Russa 
Auditório 411 – CCHLA - das 9h às 12h.
  • Rubens Pinto Lyra (UFPB): Kautsky: A Crítica Marxista ao Bolchevismo. O comunismo soviético foi comunista?
  • Nelson Rosas (UFPB): A recepção da Revolução Russa no Brasil
  • José Salles: A Revolução Russa e os comunistas brasileiros.

GRUPOS DE TRABALHO - das 14 às 18h

GT1 - Leituras da Revolução Russa 
Coordenadores: Hélio Ázara/ Rodrigo Freire
Sala 511 - CCHLA

Matheus Vieira Silva.
O estabelecimento da dialética hegeliana como base concreta da Revolução Russa: considerações sobre “História e consciência de classe”. 

Antonio Rodrigues Cavalcante. 
A Revolução Russa: uma leitura da Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado - 1918.

Rodrigo Caldas. 
A estética da Revolução russa

Antonio Carneiro de Almeida Júnior; Claus Magno Germer.
Os Fatores determinantes da desaceleração econômica da União Soviética


GT2 - Teorias da Revolução 
Coordenadores: Luciana Aliaga/ Giuseppe Tosi
Sala 402 – CCHLA

Thiago Lira Alves Agostinho. 
O exercício da hegemonia em Gramsci: elementos para uma teoria da revolução.

Andressa Lima da Silva. 
Revolução Passiva nos Cadernos do Cárcere de A. Gramsci: uma análise da Itália e da França.

Ana Karoline Nogueira de Souza: 
O neoliberalismo e a revolução passiva no Brasil

Laira Rocha Tenca. 
A revolução passiva na Itália e a revolução burguesa no Brasil: um paralelo acerca do processo econômico-social do capitalismo tardio.

Maria Stella D’Agostini.
A Revolução Burguesa a partir do pensamento de Frantz Fanon e Caio Prado Junior.


CONFERÊNCIA DE ABERTURA: 
“A experiência socialista na URSS”
Prof. Marcos Del Roio (UNESP):
Auditório 411 – CCHLA - das 19 às 22h.


DIA 09 DE NOVEMBRO (quinta-feira)

MESA REDONDA Teorias da Revolução 
Auditório 411 – CCHLA - das 9 às 12h.

  • Enoque Feitosa: Marxismo, direito e valores.
  • Hélio Ázara: Filosofia da História: Lógica e Revolução. 
  • Giuseppe Tosi: 100 Anos da Revolução Russa: o Fim dos Ciclos Revolucionários?


GRUPOS DE TRABALHO - das 14 às 18h

GT3 - Marxismo e Direito 
Coordenadores: Enoque Feitosa/ Lorena
Mesa 1 – sala 511 – CCHLA

Alinson Ribeiro Rodrigues.
O Abuso do Direito de Propriedade nos Debates Sobre a Lei Referente ao Furto de
Madeira: A Contribuição de Marx para uma Relativização do Direito de Propriedade à luz da sua Função Social

Amanda Pacífico.
Direito e Poder em Agamben: uma análise marxista

Clauber Barros.
Dialética e direito: uma análise metodológica do objeto em seu processo de transformação

João Vasco Fagundes.
Mercadoria, valor e forma jurídica: algumas reflexões em torno do primeiro capítulo de “O Capital”.

Maria Angélica Albuquerque Moura de Oliveira.
O problema do direito no período de transição pós-revolucionária: um debate a partir de Stutchka e de Pachukanis.

Raquel Falcão.
A questão social e seu enfrentamento na perspectiva marxista.

Lucas Oliveira. 
A “crítica da violência” de Walter Benjamim como crítica do sistema penal: diálogos a partir da criminologia e dos direitos humanos


DIA 10 DE NOVEMBRO (sexta-feira)

MESA REDONDA Revoluções na América Latina 
Auditório 411 – CCHLA - das 9 às 12h.

Daniel Antiquera: Os impactos da Revolução Russa na América Latina: A Revolução Cubana e a URSS.
Rodrigo Freire de Carvalho e Silva: Olga Benário, o comunismo soviético e o Levante Comunista de 1935 no Brasil: considerações em torno de um debate historiográfico.
Luciana Aliaga: Reforma intelectual e moral: o papel da cultura nos processos de revolução popular na periferia do capitalismo.

GRUPOS DE TRABALHO - das 14 às 18h

GT3 - Marxismo e Direito 
Coordenadores: Enoque Feitosa/ Lorena
Mesa 2 – sala 404 - CCHLA

Danielly Pereira Clemente, João Adolfo Ribeiro Bandeira.
Uma análise da crítica marxista à concepção feuerbachiana de filosofia intuitiva: contribuições das teses sobre Feuerbach acerca da liberdade, do ser e do materialismo para o direito.

Heribaldo Lopes Maia Neto.
A materialidade da ideologia: o direito enquanto estrutura.

José Roberto de Araújo Freire.
A Crítica marxiana ao discurso dos direitos humanos em A Questão
Judaica.

Lorena Freitas.
Marxismo e direito enquanto filosofias práticas: a distinção entre práxis e pragma.

Manuela Braga Fernandes.
A questão da verdade em Marx versus o procedimento de sua determinação formal no direito.

Tadeu Luciano Siqueira Andrade.
Marxismo e direito: a linguagem em vidas secas e as relações de poder da sociabilidade capitalista.


GT4 - Revoluções na América Latina 
Coordenadores: Daniel Antiquera/ Fátima Marreiro 
Sala 511 - CCHLA

Isabella Arruda Pimentel, Caroline Bastos de Paiva Borges.
Chile: Uma revolução sem armas? A experiência do governo de Unidad Popular (1970-73).

Maria de Fátima Marreiro.
Comuna de Oaxaca: arquitetura política de uma rebelião mexicana no século XXI. 

Waldir Porfírio.
A influência da Revolução Soviética na Paraíba

Fernanda Peres Maranho.
Agronegócio x Agroecologia: embate fundamental em vista da reforma intelectual e moral no Brasil – horizontes gramscianos.

CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO:
“Gramsci e a Revolução Russa”.
Prof. Giovanni Semeraro (UFF)
Auditório 411 – CCHLA - das 19 às 22h.

Promoção - Grupos de Pesquisa:
Teoria e história dos direitos humanos e da democracia: CCHLA-NCDH-PPGDH/ UFPB. 
Marxismo, Realismo e Direito – CCJ – CCHLA - PPGFIL/ UFPB. 
Materialismo e Modernidade – CCHLA - CCSA - PPGCPRI/ UFPB.
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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

PIB cai, trabalho escravo sobe


Semana de 16 a 22 de outubro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Dois acontecimentos políticos animaram a semana: a aprovação do relatório pedindo a rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer e a publicação da portaria do trabalho escravo.
A aprovação do relatório do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG), que se manteve como relator graças a uma manobra que permitiu que ele ocupasse uma vaga do PSC, já que o seu partido, o PSDB, o proibiu de relatar o processo. O pedido de arquivamento foi aprovado por 39 votos contra 26, placar mais apertado que o do processo anterior. Agora o plenário da Câmara apreciará o relatório e, certamente, engavetará o processo com a ajuda de mais de uma dezena de bilhões de reais gastos pelo governo na compra de votos, além de nomeações, ameaças, perdão de dívidas e mesmo com a liberação do trabalho escravo, para atender a poderosa bancada ruralista.
O segundo acontecimento foi justamente este. Para ganhar os votos dos ruralistas Temer assinou a portaria 1129 do Ministério do Trabalho, introduzindo alterações no conceito de “trabalho escravo”, mudando a interpretação do artigo 149 do Código Penal que rege a matéria. Além disso, concentrou nas mãos do Ministro do Trabalho o poder de publicar ou não os nomes dos infratores na “lista suja” do trabalho escravo.
A repercussão foi imensa provocando protestos da procuradora-geral Raquel Dodge, que pediu uma imediata revogação da portaria, e de procuradores, juízes, entidades civis, personalidades, artistas, cantores e até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O escândalo teve também repercussão internacional com protestos da Organização Internacional do Trabalho, da ONU e da OEA.
Do lado da economia a situação também não anda muito satisfatória. O Banco Central (BC) divulgou o seu indicador IBC-Br, que representa uma prévia do crescimento do PIB. Para tristeza do governo, que precisa desesperadamente de bons resultados, o indicador apontou uma queda de 0,3% entre julho e agosto, interrompendo uma sequência de números positivos em junho e julho. Comentaristas nervosos apressaram-se a afirmar que isto não é uma reversão de tendência e que em setembro tudo vai melhorar. Os dados do BC já mostravam que o Pesquisa Industrial Mensal (PIM) recuou 0,8%, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) caiu 1% e a Pesquisa Mensal do Comercio (PMC) sofreu uma retração de 0,5%. A utilização da capacidade instalada na indústria caiu de 74,1% para 73,9% e a expedição de caixas recuou 0,7%.
Preocupado, o governo convocou o economista José Marcio Camargo para uma reunião no palácio do Jaburu, juntamente com o ministro Moreira Franco. José Marcio pintou um quadro cor de rosa afirmando que no próximo ano o país estará “vivendo uma revolução” e em um ambiente econômico jamais visto na sua história. Apontou como causa para essa maravilha a reforma trabalhista, a terceirização, a redução dos salários e dos “custos do trabalho”, as taxas de juros e inflação baixas, etc. Claro que não deixou de referir a necessidade da Reforma da Previdência para combater o rombo que, segundo o relatório da CPI da Previdência, concluído agora e apresentado pelo seu relator, o senador Helio José (PROS-DF), não existe. O senador afirmou ainda que “está havendo manipulação de dados por parte do governo para que seja aprovada a reforma da Previdência”.
Menos otimistas que José Marcio, Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento (Iedi) e Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, pensam que a economia só se recupera a partir de 2019 com a retomada dos investimentos na produção industrial. Até lá “estamos patinando e longe de uma plena recuperação”. Para o Professor da UFRJ David Kupfer “a produção industrial neste ano mais oscila que se recupera”. O FMI, ao mesmo tempo em que proclama as boas novas da recuperação da economia mundial, alerta os países em desenvolvimento que a hora é agora, ou perdem o bonde. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) é mais direta e constata que o Brasil transformou-se em um país dependente da venda de matérias primas que correspondem a 63% de suas exportações. A recuperação está mais difícil do que parece.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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