quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Que venha 2022 e que se vá Bolsonaro

Semana de 20 a 26 de dezembro de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

  

Em tom de retrospectiva e de esperança (quem diria!?), a presente análise pode trazer náuseas para os seus leitores. O motivo? Veremos frases proferidas por integrantes do Executivo Federal em 2021, bem como dados da última semana de dezembro sobre a realidade brasileira. Aos que têm o mínimo de juízo, fica claro que isso é mais do que suficiente para aproveitarmos o ano que se aproxima para uma mudança de rumo, mesmo que liderada por velhos conhecidos do passado.

Os ares de uma nova esperança não estão distantes de nós, pelo contrário. Nossos vizinhos já iniciaram seus processos de rejeição, seja a governos neoliberais ou a governos de cunho “neofascistas” (apesar de ambos estarem bastante interligados). México, Argentina, Peru e Chile elegeram presidentes que, a peso de hoje, são chamados de “esquerdistas”. Claro, ainda longe de uma esquerda de facto, esses governos de centro (talvez centro-esquerda) representam um conjunto de ideias progressistas e que têm um caráter civilizatório muito maior do que os seus antecessores/opositores de direita. Além desses, vale mencionar dois países onde há grande chance de mais “esquerdistas” ganharem em 2022: a Colômbia e, claro, o Brasil.

Começando pelas estatísticas brasileiras, algumas informações se destacam: a inflação dos últimos 12 meses está em 10,74%; o número de mortos por Covid-19 é de 619.000 pessoas; o desemprego ainda atinge 12,9 milhões de pessoas; o rendimento médio real do trabalhador é o menor em 10 anos; dos que estão ocupados, 40,7% estão na informalidade (são 38,2 milhões de trabalhadores); desses informais, 25,6 milhões são trabalhadores por conta própria que vivem de bicos.

Narrando os fatos que levaram a estes números, para além da titica externada nos anos anteriores, por aqui tivemos que passar o ano ouvindo: “Chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até quando?”; “A Amazônia não pega fogo. Você pode jogar um galão de gasolina lá na mata. A floresta é úmida”; “Imprensa de merda. É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado todas”; “Melhor perder a vida do que perder a liberdade”; “A universidade, na verdade, deveria ser para poucos”; “Todo mundo quer viver 100, 120, 130 anos. Todo mundo vai procurar serviço público”; “Deram bolsa pra quem não tinha nenhuma capacidade de saber ler”; “Qual é o problema de a energia ficar um pouco mais cara?”; “Não adianta ficar sentado chorando”.

Para piorar nossa situação, tempestades têm atingido a Bahia desde novembro. São 72 municípios do estado em situação de emergência devido às enchentes. São mais de 430 mil pessoas atingidas, sendo 31 mil desabrigados e outros 31 mil desalojados. O número de mortos chegou a 20. Enquanto mais essa tragédia ocorre no país, o que faz o presidente? Nada, continua suas férias em Santa Catarina. As férias do ano passado custaram R$ 2,4 milhões. As desse ano, para além das cifras monetárias, vão custar as perdas que os baianos até aqui abandonados terão de enfrentar sem o apoio da pátria mãe.

No início do século, o Brasil ensaiou dar um pequeno passo para frente. Hoje, estamos dois passos atrás (Lênin que me perdoe). Para não darmos mais tantos outros, em 2022 é preciso derrotar esmagadoramente aqueles que aglutinam e representam publicamente o pior da sociedade, seja em âmbito nacional, estadual ou municipal. Para isso, é preciso unir todas as forças em torno de candidatos que representem o pensamento progressista.

No caso das eleições para presidente, as pesquisas de hoje indicam que Lula venceria as eleições de outubro de 2022 no primeiro turno. As de amanhã podem indicar Ciro (duvido, mas quem me dera). Quem quer que seja, se representa um real enfrentamento ao fascismo e um projeto decente de redução das desigualdades sociais, que seja feito o esforço necessário para que seja eleito em primeiro turno.

Fascistas, já é hora de passar para o lixo da história! Feliz 2022!


[i] Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Carolina Nantua, Eduardo Oliveira, Maria Cecília Fernandes e Guilherme de Paula. 

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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Estagflação e crise do coronavírus

 Semana de 13 a 19 de dezembro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Nas duas últimas Análises discutimos dois assuntos controversos que caracterizam a situação atual: a estagflação e a crise. O Professor Lucas apontou algumas peculiaridades da chamada “crise do covid” mostrando que ela é uma crise econômica com peculiaridades especiais. No capitalismo as crises econômicas são crises de superprodução. Superprodução de capital sob todas as formas: mercadoria, produtiva e financeira. A sociedade entra em crise por ter criado riqueza demais. Isto não significa que todas as necessidades estejam satisfeitas. Nas condições do capitalismo, só consome quem tem dinheiro e as relações capitalistas de produção se encarregam de produzir uma gigantesca concentração de renda que empobrece os possíveis consumidores.

A crise manifesta-se pelo acúmulo de mercadoria que não encontra consumidores. Com o covid as coisas mudaram e novas características apareceram como bem referiu o Professor Lucas na Análise passada. Isto por si já é inusitado e dificulta o trabalho dos estudiosos. Com este novo tipo de crise surgiu, porém, outro problema: a inflação. Segundo a teoria oficial a elevação dos preços só ocorre quando há uma grande pressão da procura que a oferta não consegue atender. Mas uma pressão de demanda muito forte estimula os empresários a aumentar a produção. Por outro lado, esta demanda é resultado de pleno emprego e salários elevados, ou seja, quando o desemprego é muito baixo. O nosso caso é o oposto. Temos uma grande massa de desempregados, de subempregados, de desalentados e os salários são muito baixos. O número de pobres e miseráveis cresce, a fome se alastra e os empregos informais e de baixa qualidade com baixos salários superam os empregos de melhor qualificação e mais bem remunerados. Apesar disso a inflação continua a disparar. Eis o mistério que o sinistro Guedes e sua equipe de “Chicago oldies” não consegue decifrar.

O Banco Central (BC) comandado pelo Roberto Campos Neto, (neto do conhecido Roberto Campos chamado de Bob Fields nos velhos tempos pela sua subserviência aos americanos) e leitor da mesma cartilha, arranca os cabelos. Aplica a única receita que sua ideologia econômica lhe recomenda: a elevação dos juros. Os documentos do próprio BC reconhecem que as maiores causas da inflação atual, vêm do exterior ou de fatores naturais: preços das commodities (petróleo), crise hídrica, preços da energia, entraves ao comércio internacional, pandemia do covid, etc., sobre os quais os juros não exercem qualquer efeito. Por outro lado, sabem também que a elevação dos juros dificulta o financiamento dos negócios e entrava a retomada da produção. Mesmo assim, na sua demência ideológica prometem continuar a elevação da Selic até “ancorar as expectativas” dos agentes que deixariam de subir os preços. É isto que devemos esperar nos próximos tempos: juros contra o coronavírus, São Pedro e as condições climáticas, o comércio mundial etc.

Passemos então à parte mais chata da nossa análise. O que mostram os dados da semana? Citaremos apenas os que se referem às questões tratadas anteriormente.

As previsões de bancos e consultorias dizem que o BC vai elevar a Selic, dos atuais 9,25 para 11,75% ao longo de 2022 provocando aumento do custo fiscal para o setor público e dificultando empréstimos e financiamentos com consequências negativas para a recuperação da economia. Lembremos que em janeiro a Selic era 2%.

A Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC) estima que o PIB do país em 2022 terá crescimento entre 0,5% e 1% e que o PIB da construção civil cairá dos 7,6% atuais para 2% no próximo. O endividamento dos consumidores chegou a 60% em agosto e tende a piorar. A queda da renda do trabalho chega a -6,5% em 2021 Também na agroindústria, nosso carro chefe, a situação é grave. A FGVAgro divulgou seu índice PIMAgro para outubro mostrando queda na produção de -11,3% em relação a 2020. Estre as causas apontadas estão juros, inflação, covid, aumento de custos de produção, mercado de trabalho fraco. Todos consideram que a inflação continuará a crescer o consumo com a produção a cair e o desemprego aumentar. Eis a estagflação. Juros nela!  


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Alan Gomes, Ana Isadora Meneguetti.

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

As peculiaridades da Crise do Coronavírus

Semana de 06 a 12 de dezembro de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

De uma forma geral, os economistas gostam muito de manual. Isso é um fato! Neles podemos encontrar as descrições e definições mais sintéticas e sistematizadas sobre coisas fáceis e difíceis do cotidiano. Tudo muito bem apresentado e seguindo uma lógica impecável.

Dentre as “coisas de manual” está o entendimento de que o crescimento das economias capitalistas (“economias de mercado” nos manuais) oscila entre fases de maior e menor intensidade. Essas fases são: 1) crise, onde ocorre o desaquecimento da atividade econômica (podendo até ser um decrescimento); 2) depressão, onde a atividade chega ao nível mínimo; 3) reanimação, onde a economia volta a crescer e intensifica-se a criação de produtos, emprego, renda, etc.; e 4) auge, onde a atividade econômica atinge seu pico de crescimento e se preparam as condições para uma nova reversão para baixo. Nesta sequência, isto se repete incessantemente (historicamente, desde o começo do século XIX). Este é um dos traços mais marcantes das economias capitalistas, elas se desenvolverem por meio de um movimento cíclico, chamado de ciclo econômico.

Cada uma das quatro fases citadas tem suas características. Como sugere o título da análise, falaremos apenas das que definem a fase de crise. A primeira coisa é inelutável: as crises no capitalismo são crises de abundância. A produção para porque não tem a quem vender. Com isso os estoques sobem, o desemprego aumenta, os preços caem, a renda também, a falta de confiança se generaliza, os bancos dificultam a concessão de crédito, os juros se elevam e os calotes aumentam. A crise se instala e o caos toma conta...

Certamente, essa abundância não é absoluta, ou seja, a abundância não se refere à totalidade das necessidades sociais. Também é uma característica do capitalismo haver riqueza e miséria ao mesmo tempo. Nas

 crises, os excessos (de produtos, de capacidade produtiva, de dinheiro, enfim, de capital em suas variadas formas) se referem à capacidade de compra da sociedade naquele momento histórico. De um lado, há uma quantidade enorme de riqueza, mas, do outro, não há demanda suficiente para absorver toda essa opulência. Por isso, as crises parecem se manifestar como um desequilíbrio entre oferta, em excesso, e demanda, “em falta”.

A partir dessas descrições, podemos ver as peculiaridades da Crise da Covid-19. Como dissemos algumas vezes nesta mesma coluna ao longo de 2019, a crise econômica já estava começando a se manifestar antes mesmo da Pandemia. Porém, como fator externo à economia e fora da lógica de funcionamento do capitalismo (apesar de, provavelmente, ser um produto deste), o coronavírus veio para “esculachar” os manuais.

A primeira coisa é que as necessárias e indispensáveis medidas de isolamento social para a contenção da contaminação resultaram numa piora muito mais intensa na produção, nos empregos, na renda, nos preços, etc. Do ponto de vista do desequilíbrio entre oferta e demanda, o que antes era uma falta relativa de demanda se tornou, também, numa redução drástica da oferta. Como medida compensatória, os Estados Nacionais passaram a distribuir renda para a população. Isto fez com que a demanda voltasse a ter poder aquisitivo, mas ainda sem haver uma oferta capaz acompanhar. Por isso e por muita especulação, os preços de produtos básicos voltaram a subir (commodities), elevando também os preços de quase todos os outros produtos (inflação no mundo todo). Com o fim das primeiras ondas da Pandemia, a produção foi se “normalizando” em alguns setores, mas não em outros. Por isso mesmo, aquilo que era pra ser um excesso geral de oferta sobre a demanda (uma crise “normal”) foi se transformando em uma demanda aquecida com falta de produtos essenciais para a vida cotidiana (insumos da tecnologia da informação e navios de carga, por exemplo). Não é nenhuma novidade o desmantelo das cadeias produtivas globais. Soma-se a isso o fato de que novas variantes têm causado novas ondas de contaminação, fazendo com que novas medidas sejam adotadas e, novamente, as economias sejam afetadas.

Diante deste cenário, não há mais o que discutir: ou se faz o controle devido da pandemia ou a crise econômica jamais será controlada. A não ser que você seja um jumento de faixa presidencial ou um hipócrita chefiando o ministério da saúde.


[i] Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Nertan Gonçalves, Mariana Alves, Roberto Lucas e Guilherme de Paula.

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Elas chegaram: recessão com inflação = estagflação

Semana de 29 de novembro a 05 de dezembro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Estamos assistindo a “coisa dramática” anunciada por A. C. Pastore: “subida da taxa de juros com economia encolhendo”. O espetáculo provoca os lamentos de todos os economistas oficiais (neoclássicos), incluindo o próprio Pastore, que apoiam a ação do BC de subir os juros para conter a inflação, a única receita que eles conhecem.

Nós já estávamos prevendo isto há mais de 4 meses. Agora todos admitem o fenômeno que julgavam ultrapassado. Mas, vamos aos dados. O leitor nos perdoe pelo aborrecimento. Os indicadores antecedentes do Banco Central (IBC-Br) e do Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro), o PIMAgro, que apresentamos na Análise passada, mostraram-se confiáveis e precisos. Agora, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números que mostram a realidade

Segundo estas estatísticas, no terceiro trimestre do ano, em relação ao segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) (soma de todas as riquezas produzidas no país pela indústria, agricultura e serviços) sofreu uma queda de -0,1%. Como no segundo trimestre o PIB já havia caído -0,4%, em relação ao primeiro, configurou-se o que eles definiram como “recessão técnica”, (a queda do PIB por dois trimestres seguidos). O sinistro da economia, Paulo Guedes, está metido em uma saia justa. A sua recuperação em V configura-se como um voo de galinha. Mas ainda não foi o bastante para ele calar o bico. Como bom falastrão ele já saiu por aí afirmando que “A arrecadação está muito forte o que mostra que o Brasil está decolando de novo”. Além disso chamou de “conversa de maluco” as previsões de baixo crescimento feitas pelas consultorias e economistas. O Ministério da Economia continua mantendo sua previsão de crescimento de 5,1% para 2021 e de 2,1% para 2022 (segundo o Boletim Focus do BC 4,7% e 0,5%)

Mas há ainda outras estatísticas negativos. A agropecuária, que tem sido o carro chefe do crescimento, teve uma queda de -8%. A indústria de transformação caiu -0,7%. A indústria extrativa -0,4%, os investimentos -0,1%, mas o consumo aparente de máquinas e equipamentos caiu -2,6%. Os analistas apontam como possíveis causas a escassez de insumos, a inflação, a elevação dos juros, o mercado de trabalho fraco, as precariedades das vagas de emprego, os salários baixos, a pandemia, a fragilidade das contas públicas, a escassez hídrica os preços das commodities.

Este ambiente adverso provocou uma queda nas expectativas dos empresários. Sobre isto a FGV calcula 3 Índices: o Índice de Confiança Empresarial que caiu 3,3 pontos ficando em 97 pontos (abaixo de 100 indica desconfiança), o Índice de Situação Atual (ISA), com queda de 2,5 pontos e o Índice de Expectativas (IE) que caiu 4,5 pontos.

Como este quadro tende a se manter não são boas as expectativas para o quarto trimestre e, portanto, para o ano de 2021.  O BC já divulgou que vai manter a elevação da taxa Selic mesmo sabendo que isto é mortal para a recuperação econômica, mas ele não conhece outra receita, pois não consta do seu manual de instruções. Segundo a ideologia deles a inflação é provocada pelo excesso de procura e taxas de juros elevadas reprimem os negócios tanto pelo lado de quem compra como de quem vende, ao dificultar os financiamentos. O governo continua sua louca política de criar entraves para a batalha contra o coronavírus, que nos ameaça com a nova mutação Ômicron, tendo o apoio do incompetente bolsominion ministro da Saúde. A campanha política vai se intensificando com o aparecimento de novos candidatos e parece pouco provável uma alternativa diferente da polarização final de Lula contra Bozo ou Moro duas faces da mesma moeda.

As últimas pesquisas têm mostrado a queda na avaliação do governo o que está levando Bolsonaro ao desespero. Ninguém pode prever o que o louco poderá fazer se encurralado. Temos dito aqui que ele é capaz de jogar pedra na lua. A degradação do ambiente econômico agrava muito a situação.

A recessão técnica chegou e com a inflação. Temos assim a tão temida estagflação para a qual nenhuma receita consta no manual. Coitado do Guedes!


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ana Isadora Meneguetti, Carolina Nantua, Guilherme de Paula e Maria Cecília Neres.

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Recortes da conjuntura atual

Semana de 22 a 28 de novembro de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Uma nova mutação do Coronavírus entrou no rol das chamadas “variantes de preocupação” da Organização Mundial da Saúde. Batizada de Ômicron, esta variante foi detectada em vários países do mundo. Pouco se sabe sobre ela, até agora, mas seu potencial perigo está no número de mutações que tem. Porém, ainda não há estudos que comprovem se ela é mais mortal, mais transmissível ou tem resistência às vacinas já desenvolvidas. O que sabemos é que o governo brasileiro não tem seguido as recomendações da Anvisa em relação aos turistas que chegam por aqui. Por exemplo, até hoje, não é preciso do “passaporte vacinal” para entrar no Brasil.

Estar atento a isto é crucial para podermos (tentar) dimensionar a largura e a profundidade do buraco que a Pandemia de Covid-19 está causando nas economias brasileira e mundial. Em outras análises, já falamos inúmeras vezes sobre como as medidas necessárias para combater o vírus desmantelaram as cadeias produtivas. Para além da geração de emprego e renda, isto resultou em desabastecimento de certos insumos básicos e aumento de preços em todo o mundo. Os países onde a inflação mais se elevou nos 12 meses terminados em outubro de 2021 foram Argentina (49,9%), Turquia (19,9%), Brasil (10,7%), Rússia (8,1%) e México (6,2%).

E por falar em inflação, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) e o Banco Central Europeu resolveram manter políticas comedidas contra a elevação dos preços. Segundo os comunicados oficiais, a inflação oficial das regiões não está em patamares alarmantes. Nos EUA os preços subiram 6,2%, enquanto na Zona do Euro a subida foi a maior em 13 anos, de 4,2%. Na interpretação deles, a causa fundamental da inflação atual é o desmantelo causado pela Pandemia. Isto não mudou, apenas ameaça se prolongar para 2022 com o surgimento de novas variantes do Coronavírus. De toda forma, as autoridades monetárias mais importantes do planeta dão sinais claros de que se preocupam mais em resolver os problemas “reais” do que com as “expectativas” dos agentes.

Continuando no tema, o caro leitor deve ter visto o movimento encabeçado pelos EUA e seguido por China, Reino Unido, Japão, Índia e Coreia do Sul para conter o aumento no preço internacional do petróleo. Estima-se que, juntos, os seis países vão por pra jogo entre 65 e 70 milhões de barris que eles têm estocados como reserva estratégica. O motivo? A inflação e a consequente insatisfação da população, que estão aumentando junto com o preço da commodity. Lembrando que no caso do Brasil é pior, pois o preço da gasolina aumenta ainda mais por conta da política artificial de paridade internacional, praticada pelo governo Bolsonaro. A reação das grandes potências foi inútil. A OPEP e os especuladores foram mais poderosos e os preços continuaram a subir nas bolsas de Nova Iorque e Londres.

E por falar em petróleo, saíram os Planos de Negócios propostos pelo governo Bolsonaro para a Petrobrás entre os anos de 2022 e 2026. Duas coisas chamaram a atenção. A primeira é a garantia de uma renda mínima, literalmente, para os acionistas da empresa. Segundo o Plano, enquanto o barril estiver acima dos US$ 40, a empresa vai distribuir para seus acionistas um mínimo de US$ 4 bilhões, ou R$ 22 bilhões na cotação atual. Isso daria para pagar R$ 400 para 17 milhões de brasileiros por pouco mais de 3 meses. Mas esse é só o mínimo. A previsão é de que, entre 2022 e 2026, a empresa pague entre US$ 65 bi e US$ 70 bi aos acionistas, sendo que cerca de um terço seria para a União. O segundo destaque é o processo de ampliação dos investimentos em refinarias, mas não para aumentar a produção de derivados pela Petrobrás. O objetivo é deixar as refinarias prontas, modernas e eficientes para vendê-las a empresas privadas. Naturalmente, empresas como Crédit Suisse, BTG Pactual, Ativa Investimentos e o Banco Safra foram a público elogiar o que o governo Bolsonaro está fazendo com a Petrobrás.

Eis os recortes da conjuntura atual...


[i] Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: lan Gomes, Guilherme de Paula e Ana Isadora Meneguetti.

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