quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Onde será o fundo do poço?

Semana de 28 de novembro à 04 de dezembro de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Ainda não chegamos ao fundo do poço, palavras do presidente. Difícil conclusão tirada depois de uma semana agitada, tanto na economia, quanto na política.
Sobre a economia, foram divulgados dados do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), no terceiro trimestre e o resultado foi negativo. O PIB caiu mais uma vez. A queda de 0,8% foi maior do que a do trimestre passado. Foram também divulgados os dados para o mês de outubro que prenunciam como será o quarto trimestre. A produção industrial caiu 1,1%, com destaque para os bens de capital e intermediários, que despencaram 2,2%. A produção industrial recuou para os níveis de 2008, pico da crise. Houve queda de -3% na produção de insumos para a construção civil, de bens intermediários (-1,9%), de alimentos (-3,1%) e de veículos (-4,5%). A utilização da capacidade instalada caiu para 76,6%. Este quadro obrigou à redução dos prognósticos de crescimento. O quarto trimestre é considerado perdido e as previsões para 2017 caíram para um teto máximo de 1%. Para este ano o Bradesco reduziu sua previsão para 0,3%. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) afirmou que o PIB cairá 3,4%, em 2016 e, em 2017, não haverá crescimento.
Este quadro influenciou a decisão do Copom, órgão do Banco Central (BC), que resolveu reduzir a taxa de juros Selic para 13,75% (ainda a maior do mundo) com uma queda de 0,25%, considerada muito modesta pelo “mercado”.
A reação dos empresários é de desespero e o descontentamento com o governo aumenta. Já são contestadas as medidas adotadas, pois elas estão se mostrando insuficientes para a retomada do crescimento que, oficialmente, o governo adiou para o segundo semestre de 2017. O próprio Temer, depois de afirmar que, primeiro é preciso ter esperança e depois confiança, tirou o time de campo e reconheceu finalmente que “Eventuais resultados se darão a partir do segundo semestre do ano que vem”.
O nervosismo no planalto aumentou. O presidente do Senado Renan Calheiros (agora destituído por liminar do STF) também reconheceu que o ajuste fiscal não basta e são necessárias medidas para estimular a economia, pois “o empresariado está desesperado”.
Criou-se uma nova unanimidade nacional: o governo Temer não consegue reverter a crise na economia e a recuperação tarda e, quando vier, será lenta. (Parto difícil esta conclusão que nós já sabemos há muito tempo) Ainda não chegamos ao fundo do poço.
Como diz a contragosto, a colunista do jornal Valor Econômico: “A atividade econômica continua em queda, a receita tributária encolhe e o desemprego cresce”. “A recessão seguirá no quarto trimestre e a taxa de investimento despenca”.
Enquanto todos se surpreendem nós, nesta coluna, comemoramos a concretização de nossas previsões. Mais uma vez acertamos. A restauração da confiança após a queda de Dilma pode ter criado boas expectativas, mas expectativas não recuperam a economia, que continua a caminhar para o fundo do poço. Aguçam-se então as contradições na política e começa a fritura da “equipe dos sonhos” e do super ministro Meirelles, situação comparável à do Levy no governo Dilma.
No Congresso, nas caladas da noite, para salvar a própria pele a Câmara desfigurou o projeto das 10 medidas contra a corrupção, incluindo ainda, por retaliação, o crime de responsabilidade para os membros do poder judiciário. Agravou-se a crise entre o legislativo e o judiciário. O presidente Temer, ao lado dos presidentes da Câmara e do Senado, dá uma apressada entrevista declarando a intenção de impedir qualquer anistia à qualquer crime de corrupção. São convocadas manifestações populares e até autores do impeachment da Dilma, Janaina Cabral e Miguel Reale Junior, fazem pronunciamentos com críticas.
Para culminar, estoura a liminar do Ministro Marco Aurélio do STF, destituindo o Presidente do Senado Renan e a resposta pouco republicana da Mesa do Senado recusando-se a cumprir a decisão.
Degrada-se a economia, o governo se decompõe, aumenta o conflito institucional.
E o presidente Temer para “pacificar a nação” promete ir adiante com as reformas da previdência e das leis trabalhistas.
Amarrem suas barracas que a tempestade promete ser violenta.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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